Análise: Atelier Lulua: The Scion of Arland (Switch) é competente, sem surpreender

Em seu vigésimo título, a série Atelier volta para o Switch com mais uma aventura no console híbrido.

em 14/06/2019



Logo após comemorar os vintes anos da série com Nelke & the Legendary Alchemists: Ateliers of the New World (Switch), Atelier volta ao Switch com o seu vigésimo título (descontando os spin-offs e ports) de sua série principal, focada nos alquimistas. A personagem da vez é Lulua, uma jovem alquimista atrapalhada que tem mais potencial do que todos imaginam.


Atelier funciona com arcos. Cada um é situado em localidades dentro do universo da série, que se subdividem nos títulos focados em cada personagem. Desta vez, com Lulua, a franquia retoma o arco de Arland com um lançamento direto, já que os outros três títulos situados nessa terra foram portabilizados para o Switch.

A nova alquimista de Arland

Lulua é filha de Rorona, protagonista do primeiro jogo situado em Arland, alquimista que já se tornou reconhecida na região. Agora a sua filha se prepara para seguir seus passos na cidade fronteiriça de Arklys. O sonho da jovem é superar a sua mãe, esta que se tornou uma alquimista de reputação lendária, como é contado em Atelier Rorona: The Alchemist of Arland (PS3) e no port que saiu para o Switch.

A história de Lulua inicia com ela precisando sintetizar uma bomba, a pedido de sua amiga Eva. O gancho inicial ajuda para que Lulua apresente ao jogador as várias mecânicas que compõem o jogo. Logo de início, vemos a exploração, fundamental na série. Nela o jogador deve vasculhar o cenário em busca de matérias-primas que possam ser utilizadas para sintetizar outros artefatos.

Nisso o jogador é levado para o mapa do game, que se inicia limitado, com poucas áreas acessíveis e, ao passo que a história vai se desenvolvendo, novas localidades vão sendo disponibilizadas. Exceto as áreas habitadas por seres humanos, todas as exploráveis são repletas de monstros para batalhar. Os confrontos também são necessários para coletar itens utilizados nos processos de síntese.

Esse início funciona bem como um tutorial despretensioso, apresentando uma pequena parcela dos personagens e conflitos iniciais do jogo. Podemos dizer que o marco inicial do game é logo após uma batalha contra um monstro, o qual Lulua e Eva não conseguem vencer sozinhas e acabam recebendo ajuda da professora de nossa protagonista, Piana, uma alquimista mais experiente e poderosa.

Na volta do perrengue, um livro misteriosamente cai diretamente na cabeça de Lulua, que apenas a jovem alquimista é capaz de ler. As outras pessoas simplesmente veem páginas em branco. E, por meio deste livro, a jornada de Lulua no game será traçada. De início, não irá parecer, mas aos poucos o Alquemyriddle [Alquimenigma, junção de “alquimia” e “enigma” em inglês] vai se tornando o fio condutor para a história do game. Sim, o plot lembra um pouco Harry Potter e o Enigma do Príncipe (2005).

Lulua e o Enigma do Alquimista

Após sermos apresentados ao livro, este vai servir como base para o desenvolvimento da história. Como a franquia sempre se divide em capítulos, cada um corresponde a uma parte do livro. Através deles teremos pistas das quests e side-quests que Lulua deve fazer para avançar em sua jornada.

As principais ficam do lado esquerdo do livro. Enquanto o jogador não as soluciona, a história não avança. Enquanto isso, no lado direito ficam as side-quests. Nestas, aparecem missões secundárias, as quais o jogador pode fazer ao bel-prazer, apesar que muitas delas só se tornam acessíveis ao passo que a história avança.

Ao concluir as todas as missões secundárias de um capítulo, uma segunda aba abre para o jogador. Essa, no entanto, costuma já estar realizada ou com, pelo menos, um dos passos feitos. Isso pois as missões se dividem em duas partes: muitas vezes é necessário encontrar um material específico, lutar contra um certo monstro ou sintetizar um material. Para ajudar, o Alquemyriddle apresenta uma ilustração do local onde o objeto ou ação podem ser encontrados ou realizados.

Mas é preciso atenção às dicas, todas as missões contam com um texto explicativo, e muitas vezes é solucionada com uma ação mais simples. Porém há tarefas mais elaboradas que podem tomar um tempo do jogador para entender, como por exemplo sintetizar um material com características específicas. Mesmo se o jogador sintetizar o dito material, caso o mesmo não atenda às especificações, a história não avançará.

Lulua e a Alquimia Filosofal

Falando em alquimia, a mecânica em Lulua é bem interessante: assim que a alquimista aprende uma receita de síntese, o jogador será capaz de produzir o artefato no atelier. A variedade de coisas que são possíveis sintetizar é grande, desde itens de batalha e comidas, até mesmo acessórios que melhoram os stats de batalha. Entretanto, para produzir armas ou armaduras, é preciso do auxílio de um ferreiro e uma compensação financeira. Há também a opção de comprá-las já prontas a um preço mais elevado.

Aparentemente uma mecânica nova na série é a variedade no processo de síntese. Dependendo do local e horário, os materiais que Lulua recolhe têm efeitos variáveis quando usados, por exemplo: trigo pode ser encontrado em diversos lugares no jogo, mas dependendo de sua procedência o nível varia. Aparentemente a qualidade é randômica nos produtos distribuídos nas fases abertas, enquanto os materiais vendidos costumam ter uma qualidade elevada.

Sempre que volta de uma exploração, o jogador pode olhar os itens recolhidos. Nessas horas é possível averiguar a procedência de cada um. Durante a exploração, os de qualidade superior ganham um brilho quando recolhidos, como uma forma de alertar ao jogador. É bom porque, assim, temos ciência que encontramos um item que pode agregar à síntese, pois há side-quests que exigem que Lulua entregue materiais sintetizados de boa qualidade, o que exige matérias-primas boas.

Mas se engana quem pensa que é apenas a qualidade do produto que importa. Há também os stats de cada receita, que variam dependendo dos produtos. Por exemplo uma bomba simples tem os seus níveis de fogo, gelo, eletricidade e terra. Dependendo dos materiais que o jogador escolher, eles vão aumentando e abaixando, e consequentemente a qualidade da bomba varia. Haverá missões nas quais o jogador deverá sintetizar materiais atendendo a exigências de qualidade nos stats do material, não apenas na qualidade geral.

Nem todos os itens têm quatro níveis. Alguns têm dois, ou até três. O mais importante é a atenção do jogador às necessidades do Alquemyiriddle e dos clientes, pois além das side-quests do livro é possível pegar pedidos nas cidades de Arland e conseguir fazer seu pé de meia.

É possível também estragar as receitas escolhendo ingredientes que não trarão o resultado esperado para a síntese, porém seria interessante se esses “erros” abrissem espaço para o desenvolvimento acidental de novas receitas. É querer esticar o chiclete? Talvez, mas não custa imaginar as possibilidades.

Jornada para ser a melhor alquimista

Como todo RPG que se preze, Atelier Lulua também tem muitas batalhas, que seguem a mecânica de turnos convencional. O time pode ter até cinco personagens disponíveis para luta, três na linha de frente e dois de suporte, mas o game oferece mais do que cinco opções para a formação do time. A única que não pode ser desabilitada é Lulua.

Num geral as batalhas tentam ser desafiadoras. É comum encontrar inimigos chatos de destruir, e por isso é bom manter o estoque sempre atualizado com itens de ataque - bombas, principalmente - e de suporte, como comidas e bebidas para recuperar HP e SP. Importante salientar que apenas personagens na ordem dos alquimistas podem usar itens em batalha. Além disso é interessante equipá-los com gears que podem ser comprados ou sintetizados, garantindo maior poder aos lutadores.

O processo de exploração é fundamental para o bom andamento do jogo, pois sem ele seria um tanto complicado recolher materiais para síntese. A disposição dos itens ocorre de forma randômica e pouco caracterizada, já que os que podem ser coletados brilham de forma indiscreta.

Então fique sabendo que nem todas as coisas encontradas nas fases podem ser coletadas. O jogo funciona num processo de tentativa e erro: se Lulua abaixar próxima a um arbusto não necessariamente este dará o mesmo item, por mais que seja o exato modelo utilizado para outros três itens. Cada fase possui disposições de itens diferenciados, mas à essa altura do campeonato se esperava um cuidado maior com detalhes.

Falando em detalhes, é um pouco estranho como as câmeras do game funcionam. Movimentar a câmera durante a jogatina é um negócio um tanto arriscado. Como certas áreas possuem limite, muitas vezes a câmera começa a fazer zooms que não auxiliam em nada o gameplay ou então começam a tremer até encontrar um ângulo que funcione como programada.

Quanto à movimentação, quando dei os primeiros passos como Lulua cheguei a ter vertigem do quão rápido e estranha eram os movimentos da personagem no cenário. Por sorte é possível ajustar isso nas configurações. Outro ponto que incomoda é que Lulua não é capaz de interagir com muitas coisas, exemplo: ela não é capaz de pular ou sequer subir sobre uma rocha maior. Fica parada como se fosse uma parede gigante. Parece besteira, mas são detalhes perceptíveis.


Outro ponto no game é que o tempo é contado e isso impacta nos inimigos e itens que podem ser encontrados nas expedições. Não é incomum entrar em uma batalha com o cenário iluminado como meio-dia e voltar depois num verdadeiro breu. As batalhas muitas vezes não acompanham a ambientação do modo de exploração, outro detalhe que não passa despercebido.

Apesar disso, Lulua possui uma boa aparência. A estética da série Atelier entrega personagens bem modelados e cenários melhor trabalhados do que no spin-off Nelke. Já a animação não é das mais felizes. Provavelmente por ter uma demanda muito grande, acabou que muitos movimentos são usados repetidamente durante as várias cutscenes do game, o que empobrece em partes a experiência.

Os controles funcionam bem. Como não é um jogo que exige movimentações rápidas, nem combinações de botões para realizar nada, acaba que a jogabilidade simples cai como uma luva. Num geral o game é bem ajambrado e mostra que a empresa tem muita experiência com o modelo de jogos que faz. O desenvolvimento das várias histórias paralelas à principal acontecem de forma natural, agregando ao todo.

Seria bom um pouco mais de cuidado com detalhes durante o processo de desenvolvimento e talvez abrir mais espaço para a exploração, mas ainda assim é um título competente dentro de uma longa série mais do que solidificada no mercado. Talvez haja preocupações em mexer em time que está ganhando, mas sabemos bem que mudanças bem feitas transformam franquias de sucesso em verdadeiras obras-primas.

Prós

  • Gameplay simples e acessível;
  • História bem desenvolvida, incluindo foco nas histórias paralelas;
  • Mecânica de síntese atualizada, trazendo maior complexidade ao jogo;
  • Batalhas desafiadoras na medida certa.

Contras

  • Animações de qualidade duvidosa;
  • Falta de atenção a detalhes nos cenários;
  • Movimentação da câmera problemática em partes dos cenários;
  • Sem localização para o português.
Atelier Lulua: The Scion of Arland - Switch/PS4/PC - Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: André Carvalho
Análise produzida com cópia digital cedida pela Koei Tecmo
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Estudante de Sistemas da Informação que gostaria de aprender todas as línguas existentes, mal sabendo lidar com as duas que já fala. Descobriu seu amor pela Nintendo ao conhecer Super Mario 64 e desde então nunca mais largou os cogumelos, karts e rúpias que encontrou em seu caminho.
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