Super Mario Maker 2 (Switch) e o desafio de criar novas trilhas sonoras

Uma análise das abordagens dos compositores na criação de novos temas para jogos consagrados.

em 28/05/2019


Na última semana, o Direct de Super Mario Maker 2 (Switch) apresentou uma novidade interessante: novos temas de fase serão adicionados aos quatro principais jogos do editor e, em conjunto, novas trilhas sonoras criadas pelo compositor original.

Essas novas músicas nos levam a debater se é adequado criar adições como essas a um conjunto consagrado de mais de 20 anos. Se bem elaboradas, essas adições podem trazer uma boa novidade e agradar aos fãs. Porém, se mal feitas, acabam estragando uma experiência positiva na memória de todos os fãs depois de tantos anos.



Neste artigo, será levantado um debate sobre a responsabilidade dos compositores na criação de novas faixas. Essas criações podem tanto ser conservadoras, apelando para a nostalgia dos fãs, ou inovadoras, criando novas entradas de qualidade e respeitando o contexto de cada jogo.

Antes de abordar Super Mario Maker 2 em específico, vamos refletir sobre um remake de tema dentro da franquia do encanador que expressa bem essa responsabilidade de um compositor. Depois, frente a frente, nostalgia e inovação serão comparadas dentro da série Maker para que você possa refletir sobre o tema e saber o que pode esperar no lançamento do próximo mês.

Trilhas sonoras aclamadas 

A primeira faixa apresentada como sugestão para leitura do artigo traz, com certeza, muitas memórias para vários leitores. É o tema Airship de Super Mario Bros. 3 na sua versão para SNES. Pessoalmente, marcou muito minhas experiências com jogos, mas certamente possui um apelo diferente para cada leitor. Se você nunca ouviu, aproveite o momento para apreciar a composição.

A escolha dessa faixa inicial foi difícil: outras, como a música tema de Super Mario Bros. (NES), seriam relevantes para um número maior de pessoas. Porém a intenção aqui é perceber que uma trilha sonora — seja essa apresentada, seja a sua preferida — traz uma memória boa quando apreciada depois de um longo tempo: a nostalgia. Pare e reflita, qual é a sua favorita?

Os temas nostálgicos guardam lembranças que podem ser resgatadas ao longo do tempo em novos jogos. Esse que você ouve foi retrabalhado para a série New do encanador bigodudo em New Super Mario Bros. Wii. Antes de seguir a leitura, ouça por cerca de um minuto o remake e note as diferenças.



Tendo como base a melodia original, inserções de novos instrumentos e dinâmicas tornam o tema menos repetitivo e o encaixam no contexto do jogo de plataforma para Wii. É aí que se insere a responsabilidade de um compositor em fazer esse resgate.

Nesse caso, a melodia original foi criada por Koji Kondo — ninguém menos que o criador do tema de Mario — para o NES. Quando o grupo de compositores da série New trabalhou no remake, tinha nas mãos o desafio de apresentar a muitos fãs do Mario uma nova experiência, podendo criar uma nova página na memória das fases de barco ou estragar toda a magia que as envolve.

Se uma das possibilidades é que se estrague a memória para os fãs, então a melhor opção seria manter o tema idêntico ao original, certo? Também não. Em novos lançamentos, a expectativa da comunidade é que a sensação de carinho e trabalho em cada detalhe do jogo apareça e, nesse caso, repetir temas antigos vai só tornar tudo mais entediante.

Partindo dessa reflexão, a ponderação entre nostalgia e inovação na composição de trilhas sonoras é muito delicada, pois deve, ao mesmo tempo, resgatar uma memória e mostrar as novidades e esforço de desenvolvimento. Se comparado a um título comum, Super Mario Maker 2 deve se atentar a essa análise ainda mais. Isso porque o jogo é, em sua essência, pensado para parecer idêntico ao original. Conforme segue o texto, vamos colocar frente a frente os dois lados da moeda: os temas da série Maker que apelam para a nostalgia contra os mais diferentões e inovadores. No fim, resta que você tire suas próprias conclusões sobre qual das abordagens agrada mais.

O equilíbrio entre nostalgia e inovação

Uma coisa é verdade: podemos ouvir remix do Mario feito até com palitos de dente que fica bom. Fazer tributos a trilhas sonoras do passado traz aquele arrepio na espinha em cada nota que marcou o jogador. Em Super Mario Maker, a maioria dos temas que já existia foi simplesmente reproduzida de forma fiel à original. Porém a existência de compatibilidade entre os cenários exigiu que novos temas fossem criados para o que faltava em cada versão. Por exemplo, o tema da casa fantasma presente em Super Mario World (SNES) teve de ser criado para Super Mario Bros. 3.

Cada nova composição para os títulos antigos deve se inserir naquele contexto, usando o mesmo grupo de instrumentos com os mesmos timbres e mesmas características. Os compositores em Super Mario Maker (Wii U), liderados pelo próprio Koji Kondo, fizeram um belo trabalho nas adaptações e conseguiram, em diferentes temas, trabalhar com maestria tanto na nostalgia quanto na inovação que tratamos. Analisaremos dois temas que trabalham em cada um desses opostos.

O primeiro deles é novamente da fase Airship que, original de Super Mario Bros. 3, foi recriada em Super Mario World. Ouça o tema abaixo e, se você já jogou Mario World, verifique se reconhece algumas melodias:



Se identificou a referência ao tema do castelo de Super Mario World, está certo! A trilha aproveitou da ambientação parecida de ambos para criar um tema semelhante. Ainda, ela herda traços da Airship original que ouvimos no início desse artigo, com a percussão constante e única de fundo. Caso você não tenha identificado, tire um tempo para ouvir o tema original do castelo abaixo e encontre o trecho semelhante próximo dos 10 segundos.



Agora, vamos para outro tema da primeira versão de Super Mario Maker. Dessa vez, para Super Mario Bros. 3, a trilha recriada para a casa fantasma traz um ar totalmente inovador, utilizando até novos instrumentos e efeitos. Tire alguns segundos para ouvir essa outra incrível composição:



Note que, mesmo utilizando um estilo similar ao original em 8 bits, há a inclusão de novos efeitos sonoros com fade-out para dar um ar sinistro ao tema. A dose de referências nessa composição é muito menor, vindo carregada de muito mais inovação sem deixar de ser fantástica.

Por isso, leva-nos a refletir se é realmente necessário se prender às raízes da franquia para que a trilha sonora fique boa ou se basta que o compositor tenha habilidades para respeitar o contexto musical. O importante é que o equilíbrio entre ambos esteja presente, dando novos passos à frente sem nunca deixar de olhar para seu legado.

Uma palinha das novidades

No próximo mês, Super Mario Maker 2 será lançado com muitos novos temas para os mais diferentes cenários. Deserto, gelo, floresta e céu serão adicionados aos quatro principais jogos da série, e o último Direct permitiu ouvir trechos das novas trilhas. Leve em conta toda a discussão levantada e perceba que alguns temas trazem fortes referências, enquanto outros inovam dentro do próprio título. O vídeo abaixo selecionou apenas os trechos com músicas novas no Direct:



Agora você, leitor, já está preparado para comparar cada uma das novas músicas quando estas forem ao ar. Está preparado para viver novas experiências musicais? Deixe nos comentários sua opinião sobre as adições na trilha sonora e qual a sua preferência: temas nostálgicos ou inovadores?

Revisão: Luigi Santana
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Fã de games desde pequeno, quando começou sua jornada com Mario e Zelda lá no SNES. É formado na área das engenharias e trabalha com desenvolvimento de software.
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