10 Pokémon baseados na mitologia e folclore japoneses

Vira e mexe podemos encontrar seres e monstros em animes e games que se parecem com os amados Pokémon, isso porque a referência de criação pode ser a mesma: o folclore japonês.

em 11/05/2019

Nesses mais de 20 anos de Pokémon, pudemos ver monstrinhos dos mais diversos com inspirações que jamais imaginaríamos. A maioria dos Pokémon é inspirada em animais, isso com certeza, mas há também monstros baseados em objetos do dia-a-dia, minérios, plantas e, como o título dessa matéria já acusou: seres mitológicos e folclóricos.


Assim como nós temos o Saci, a Cuca, Boitatá e muitos outros seres que povoam histórias Brasil afora, os japoneses também os têm. O folclore japonês se baseia muito na natureza e nos espíritos, e a cultura pop adora se valer deles para suas histórias. Um bom exemplo é a franquia Yo-Kai Watch, que lembra bastante a série Pokémon, mas essa é totalmente focada nas criaturas do imaginário japonês, enquanto os monstrinhos de bolso podem ter inspirações diversas para serem adaptados ao mundo das pokébolas.

Nessa singela lista separamos dez Pokémon e suas possíveis origens, de como uma ou mais lendas japonesas influenciaram no surgimento daquele monstrinho nos games.

Meowth 

O Pokémon mais querido da Equipe Rocket não é mascote da gangue por acaso. Isso pois a base para a criação de Meowth é o Maneki-Neko (招き猫), aquele gato vendido nas lojas que está com a patinha direita para o alto. Acredita-se que esse animal é um amuleto para prosperidade e sorte, assim como uma prevenção para possíveis percalços.

A sua possível origem vem do conto de uma cortesã amante de gatos. Ela possuía um apreço enorme por um gato-tartaruga, o qual carregava para cima e para baixo. Um dia, quando ia para o banheiro, seu gato começou a agir de forma estranha, não a largava por nada e miava alto. O dono do bordel, pensando que ele a estava atacando, sacou sua espada e o matou. Nisso a cabeça do gato voou e seus dentes fincaram em uma cobra venenosa que estava escondida próxima ao banheiro.

A mulher ficou bastante sentida pela morte de seu amado gato. Em uma tentativa de aliviar a dor da cortesã, o dono do bordel pediu para o melhor escultor fazer uma belíssima estátua do gato na mais fina madeira. A cortesã ficou tão feliz com a bela estátua que pode recuperar a sua alegria. Como a estátua era tão bonita, todas as pessoas que a viam queriam uma igual. Pouco depois, cópias começaram a ser comercializadas. E assim conta-se o surgimento do Maneki-Neko.

Meowth, assim como a estátua, aparece comumente com a patinha para o alto e carrega uma moeda dourada, além de sua pelagem ser praticamente da mesma cor que aparece na estátua.

Exeggutor


Assim como o Pokémon, a lenda do Ninmenju (人面樹) se trata de uma árvore cujos frutos possuem rostos humanos. Acredita-se que esses frutos, ou rostos, não são capazes de falar, mas conseguem rir. Quando um ser humano ri para os eles, estes vão fazê-lo de volta. Quando riem forte demais, acabam caindo da árvore. Reza a lenda que são doces e azedos. A origem do conto é chinesa e possivelmente surgiu do contato dos chineses nas viagens mercantis na Rota da Seda.

Espeon 

A origem de Espeon vem de duas lendas que se convergem. Espeon foi baseado em Nekomata (猫又), um espírito de gato com duas caudas e poderoso, um tipo de Bakeneko (化け猫), um espírito de gato mais comum.

Os gatos são animais muito comuns no Japão e povoam o país junto dos humanos. Sua presença na cultura japonesa é muito forte e isso inclui suas lendas. Quando os gatos vivem uma vida longa, acredita-se que eles começam a desenvolver poderes sobrenaturais e se transformam em yōkai (seres místicos que podem ser considerados apenas fantasmas ou até mesmo monstros, porém não necessariamente seres que buscam praticar o mal).

Os gatos já transformados ganham a capacidade de andar em suas patas de trás e conseguem crescer ao tamanho de um ser humano adulto. Acredita-se que são capazes de se transformarem em várias coisas, incluindo em pessoas, além de falar os idiomas dos humanos. Para aqueles que se interessarem em ver essa lenda contada de forma fofa em animação, o filme Pom Poko (2003) do Estúdio Ghibli é uma boa pedida, apesar de não contar a história dos gatos, é possível ver guaxinins com poderes muito parecidos.

Já o Nekomata é uma variante mais poderosa de Bakeneko, só que se trata apenas dos gatos mais velhos, maiores e com as caudas mais longas. Quando se transformam sua cauda se parte em duas. Estes seres são comumente vistos andando em duas patas traseiras e falando as línguas humanas.

Enquanto os Bakeneko não necessariamente atacam seus donos, os Nekomata os fazem sem pestanejar. Os mais perigosos dessa espécie são encontrados nas montanhas, muitas vezes de tamanhos gigantescos. A animação Princesa Mononoke (1997), também do Estúdio Ghibli, mostra essas e outras lendas.

Espeon possui a aparência dos Nekomata, além de sua história de evolução se aproximar muito com o processo evolutivo do Eevee, um Pokémon normal, para um psíquico.

Whiscash 

Assim como Espeon, Whiscash é uma representação muito clara da lenda, ainda mais porque Ōnamazu (大鯰) se trata apenas de um peixe-gato gigante, que ficou no imaginário popular japonês como o causador dos terremotos.
Apesar de inicialmente os tremores de terra serem creditados a dragões que viviam no fundo do mar, aos poucos, os peixes-gatos gigantes começaram a tomar a culpa pelos desastres naturais. Aparentemente, era comum nos jornais aparecem ilustrações do ser marinho nas reportagens sobre os abalos sísmicos.

E a causa pela qual o peixe se tornou conhecido pelos terremotos foi graças ao comportamento atípico da espécie antes de um Eles começam a chafurdar nos fundos dos lagos ou mares com maior força. Assim, o peixe que chamamos de bagre aqui no Brasil se tornou o símbolo dos terremotos; seja como causador, ou aviso.

O nome de Whiscash na versão japonesa é Namazun (ナマズン) que significa peixe-gato em japonês, com um ene a mais no final. O Pokémon também é do tipo Terra com o a capacidade de produzir terremotos ligada às suas características.

Jynx 

O Pokémon com uma origem bastante controversa, principalmente para o público estadunidense da franquia, já que em suas primeiras versões Jynx possuía pele totalmente preta e muitos associaram ao blackface de Jim Crow. Aqui no Blast temos um artigo sobre o tema.
Porém, a aparência de Jynx se aproxima muito da lenda da Yama-uba (山姥), literalmente bruxa da montanha. São conhecidas como velhas que vivem nos montes e se transformaram em monstros. Disfarçam-se como bondosas senhoras que oferecem cama e abrigo para os andarilhos desavisados. Quando os seus convidados estão dormindo, elas se transformam em bruxas horríveis e atacam as pessoas para comê-las.

Acredita-se que esses seres têm origem de velhas senhoras que foram jogadas por suas famílias nas montanhas para morrer. Estas, por desespero ou vingança, possivelmente, começaram a comer carne humana e praticar magia negra, consequentemente se transformando no yōkai.

Muitos atribuem às Yama-uba um visual próximos aos de Jynx: roupas avermelhadas, cabelos claros e pele escurecida, provavelmente associada às peles das pessoas que ficam descobertas em locais extremamente frios. Tanto que Jynx possui poderes de gelo, além dos psíquicos.

Froslass 

Apesar da origem de Froslass também poder ser creditada à inspiração para Jynx, a proximidade é maior com a lenda da Yuki-onna (雪女), a mulher de gelo. Froslass aparece como um fantasma, de pele alva e olhos violeta, assim como a mulher da lenda. Isso sem contar que seu corpo lembra muito um kimono.

As Yuki-onna são encontradas nas montanhas frias do Japão. Muitas caçam seres humanos, congelando-os com seu sopro e então devorando suas vidas. Algumas delas acabam se apaixonando e casando-se, porém como não envelhecem, nem entram em contato com água quente, os maridos acabam descobrindo sua identidade e assim o casamento é desfeito.

Há entradas nas Pokédex que contam até mesmo lendas sobre a origem dos Froslass: “Lendas das terras nevadas contam que uma mulher que ficou perdida na montanha congelada renasceu como Froslass.”

Gastly 

A inspiração para Gastly vem de Sōgenbi (叢原火 ou 宗源火), uma cabeça flutuante rodeada de fogo. Sōgen era um monge japonês que vivia no templo de Midu-Dera, em Kyoto, porém não era nenhum exemplo.: Ele roubava as oferendas dadas aos deuses, vendia-as e guardava todo o dinheiro para si.

Por anos, seus atos seguiram sem parada. Ao morrer, seu espírito ressurgiu do inferno para pagar por seus pecados. Logo após a sua morte, foi dito que a cabeça de Sōgen, coberta por chamas, foi avistada flutuando os arredores de Midu-Dera.

Ghastly, no entanto, é dito como um ser praticamente feito de gás, tanto que ele se desintegra em um dia de ventania. Porém, ambos possuem muitas semelhanças: cabeças fantasmagóricas flutuantes.

Mawile 

Apresentada na terceira geração Pokémon, Mawile é baseada na história da Futakuchi-onna (二口女), literalmente, “mulher de duas bocas”. Acredita-se que essa lenda ocorra com senhoras casadas, em casas nas quais haja um homem ou mulher extremamente mesquinho. A aparição do yōkai é uma forma de punição pela extrema avareza.

Há duas histórias para essa lenda. A primeira é a de um homem avarento, que de tão mesquinho nunca quis casar-se, para não ter que alimentar outra pessoa. Um dia, ele conheceu uma mulher que jamais se alimentava. O homem imediatamente casou-se com ela, pois mesmo não comendo, ela era uma boa trabalhadora. Ele nunca esteve tão realizado.

Porém, isso não impediu que seu estoque de arroz diminuísse cada vez mais. Ele não imaginava o motivo, pois nunca vira sua mulher se alimentar. Um dia, fingiu que ia trabalhar e ficou para espionar sua esposa. A mulher soltava seu cabelo, que revelava uma segunda boca na parte de trás de seu crânio, com lábios e dentes horripilantes. Seus cabelos tomavam a aparência de tentáculos e juntavam pedaços de arroz e alimentavam a segunda boca da mulher.

O homem, horrorizado, tentou se divorciar da mulher, porém ela soube do plano antes que ele pudesse se concluir. Ela prendeu seu marido em uma banheira e o levou para as montanhas, porém o homem conseguiu fugir e se esconder em um local no qual ela jamais o encontrou.

Uma segunda história é a de uma madrasta malvada que jamais alimentava sua enteada, enquanto sobrava comida para alimentar sua filha biológica. A enteada foi emagrecendo e adoecendo até morrer de fome. Quarenta e nove dias depois a madrasta sentiu fortes dores de cabeça, a parte de trás de sua cabeça abriu em uma boca, que soltava gritos horripilantes até ser alimentada, e a voz era a mesma da enteada morta. Desde então, a madrasta precisava alimentar suas duas bocas e sempre sentia as dores da enteada que matara.

As Pokédex sempre alertam que a aparência fofa de Mawile é dúbia, assim que baixar a guarda, sua poderosa boca devora o desavisado.

Drowzee 

O Pokémon psíquico tem como base o devorador de pesadelos Baku (獏), monstro quimérico de origem chinesa. É descrito como um ser com a cabeça de elefante, corpo de urso, olhos de rinoceronte, rabo de boi e patas de tigre. Apesar de sua aparência monstruosa, a entidade é considerada uma das divindades protetoras dos humanos.

Acredita-se que o Baku vagueia pelo mundo afugentando espíritos maus e yōkai dos humanos e, sempre que encontra um sonho ruim, o devora. Quando uma pessoa acorda no meio da noite de um pesadelo, é porque o Baku o devorou. O ser é creditado com tanto apreço que era comum o seu ideograma ser bordado nos travesseiros, como garantia de uma boa noite de sono.

Reza a lenda que sua aparência foi um acontecimento, pois no final da criação do mundo, os deuses pegaram partes de animais que sobraram e juntaram para criar o amigável ser. No Japão a sua aparência é a de uma anta, animal que foi batizado com o mesmo nome, já que é semelhante ao monstro.

Drowzee não é tão bonzinho quanto a sua origem, como descreve a Pokédex: “Põe seus inimigos para dormir e então come seus sonhos. Eventualmente passa mal por comer sonhos ruins.” E, em Pokémon Stadium (N64) a sua referência é até mesmo confirmada: “Acredita-se que descende do lendário monstro, Baku.” O fofo Munna também é baseado nessa lenda.

Ninetales 

Apesar do amor por Pokémon, muitos tiveram o primeiro contato direto com a Kyūbi-no-Kitsune (九尾の狐), a raposa de nove caudas, através da famosa série Naruto. Também conhecida como Tamamo-no-Mae (玉藻前), é conhecida como um dos yōkai mais poderosos de todo o folclore japonês, não apenas pelos seus poderes, como também pela sua astúcia e sede por poder.

Sua origem data mais de 3,500 anos na China. Não se sabe ao certo sobre sua vida, mas acredita-se que ela era uma poderosa feiticeira que foi se transformando em uma raposa branca com nove caudas. Sempre disfarçada de uma bela mulher, ela percorreu por diversas dinastias e reinados, sempre ao lado dos governantes, usando de seus disfarces para produzir o que havia de mais sórdido e pecaminoso.

Ela se refugiou no Japão por volta dos anos 700 D.C. e ressurgiu como um bebê na beira de uma estrada. Crescendo, ela era vista como uma jovem bela e sempre bem cuidada, extremamente inteligente e irresistível. Não havia quem não se apaixonasse por ela à primeira vista, tanto que se tornou servente e depois consorte do imperador.

Pouco depois de assumir a sua posição como consorte, o imperador ficou extremamente doente. O famoso Abe no Seimei, reconhecido onmyōji (classe cuja tradução se aproxima de um xamã) leu a sorte do governante e resultou em mau presságio. E mesmo após os mais célebres monges e sacerdotes convocados para rezar, a doença não curou.

Lendo a sorte por uma segunda vez, Abe descobriu que a causa da doença era a consorte Tamamo, pois ela era uma kitsune disfarçada. Abe então decidiu realizar o mais poderoso feitiço para poder salvar a vida do imperador, feitiço esse que nenhum espírito mau aguentaria participar. Tamamo foi chamada para fazer parte do ritual. Relutante, foi persuadida por acreditar que sua participação traria influência política.

E ela participou, vestida lindamente, Tamamo fez sua parte de forma correta, porém no final do ritual, ela sumiu. E a corte entrou em pânico. Pouco depois chegaram rumores do desaparecimento de mulheres e crianças nas províncias próximas e então a caça à raposa foi iniciada.

Foi montado um exército com poderosos guerreiros, incluindo Kazusanosuke e Miuranosuke, os mais célebres do reino, para matá-la. Porém os poderes mágicos de Tamamo a garantiam uma fuga sem problemas. Numa noite, Miuranosuke sonhou com uma linda menina chorando e dizendo “Amanhã eu perderei a minha vida para você. Por favor, salve-me.” Apesar de negar, no dia seguinte, o exército encontrou Tamamo no Mae e duas flechas de Miuranosuke acertaram a raposa, uma em seu flanco e outra no pescoço e Kazusanosuke cortou-lhe a cabeça com sua espada. Assim como o sonho descrevera.

Mesmo morta, a sua maldade não cessou. O imperador dias depois morreu, sem herdeiros. Uma crise de sucessão se instaurou nos impérios, o que resultou nas Guerras Genpei, que levaram ao fim do período Heian e o início do xogunato no Japão. Como se não bastasse, o espírito de Tamamo no Mae assombrou uma enorme rocha que matou todos os seres vivos que a tocavam. Não estranhamente, quando um Vulpix evolui para Ninetales, adquire a capacidade de aprender ataques do tipo Fantasma.

Essas são algumas lendas que criaram base para o surgimento de alguns Pokémon na série, o mais interessante é como as histórias impactaram no desenvolvimento dos monstrinhos que nós podemos capturar nos consoles.

Você imaginou que essas histórias fossem inspiração para os Pokémon? Já imaginou se tivessem Pokémon com base no nosso folclore?

Revisão: André Carvalho

Fontes:
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Estudante de Sistemas da Informação que gostaria de aprender todas as línguas existentes, mal sabendo lidar com as duas que já fala. Descobriu seu amor pela Nintendo ao conhecer Super Mario 64 e desde então nunca mais largou os cogumelos, karts e rúpias que encontrou em seu caminho.
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