Análise: Trüberbrook (Switch): uma ótima ficção científica germânica dos anos 60

Raramente point-and-clicks apresentam um estilo visual e narrativo tão bem quanto Trüberbrook faz com a Alemanha de 1967.

em 16/04/2019

Trüberbrook é um point-and-click que se passa em uma pequena cidade da Alemanha (que tem o mesmo nome que o jogo), em 1967, durante a Guerra Fria. Enquanto as grandes potências estão ocupadas com a corrida espacial, o físico americano Hans Tannhauser ganha férias gratuitas em que poderá terminar os textos do seu doutorado com tranquilidade.

Enredo quântico

Tudo vai bem até a primeira noite: o jogador, controlando Hans, conhece alguns dos moradores de Trüberbrook, mas logo vai para o seu quarto no único hotel da cidade. Porém, no meio da noite, algum ser estranho invade o quarto de Hans e rouba os seus principais textos sobre física quântica! Por mais que o jogo não seja de terror, essa parte causa calafrios em qualquer acadêmico, imagina só perder o TCC / dissertação / tese assim?!


De qualquer forma, logo Hans se encontra com Greta Lemke, uma paleontologista muitíssimo interessada em descobrir mais coisas sobre antigas civilizações que já viveram ali e, é claro, investigar os mistérios de Trüberbrook (porque, afinal, nenhuma cidade pequena pode existir numa ficção científica sem isso).

Após uma conversa inicial, ambos percebem que deveriam unir esforços nessas investigações e, então, a história se desenvolve em cinco capítulos, concluindo de maneira satisfatória (no caso, sem proporcionar uma grande catarse, mas fechando bem o enredo construído), possibilitando finais alternativos, como é de praxe em jogos desse gênero.

Evitando spoilers, eu ainda preciso salientar que no caso de Trüberbrook a real riqueza está na experiência de jogá-lo. Em outras palavras, ao invés de sacrificar jogabilidade e qualidade audiovisual em troca de um enredo que “prende” excessivamente o jogador, focando toda a recompensa no final do jogo, Trüberbrook entrega uma ambientação excelente, diálogos muito bem escritos e dublados, assim como mecânicas e puzzles interessantes.

Resolução dos desafios

Existe algo meio universal entre os point-and-clicks que é a bizarrice dos meios utilizados para se chegar a algum fim, ou, em termos de gameplay, os objetos usados para resolver os puzzles. Trüberbrook não é exceção. Um exemplo disso pode ser visto logo no primeiro capítulo, em que você deve conectar alguns fios elétricos soltos: após achar um “massageador”, você deve trocá-lo por uma vara de pescar, usar ela para pescar um abridor de lata no rio para então arremessar ele em uma armadura de metal e, por fim, vestir a armadura e conectar os fios manualmente.


Como não há um raciocínio lógico pressuposto nesses casos, a tarefa do jogador é explorar, interagir e conversar sobre tudo. O jogo sabe que isso pode ficar chato e, por isso, com o toque de um botão você pode dar destaque a todos os objetos na tela que são relevantes. Particularmente, acredito que os objetos se destacam naturalmente no cenário, porém, considerando que o jogo já é naturalmente algo casual, esse recurso não me parece uma trapaça.

No entanto, nem todos os puzzles operam dessa maneira. O meu favorito acontece quando os dois personagens estão em uma caverna e devem desbloquear uma porta enorme. Em cima dela há cinco luzes, e o jogador deve explorar com o seu cursor, sem nenhum auxílio do jogo, a parede escura da caverna. Fazendo isso, ficarão evidentes cinco desenhos de civilizações diferentes, e é necessário interagir com cada um deles na ordem certa para poder prosseguir com o jogo.

Em casos como esse, a participação do jogador é extremamente recompensadora e o trabalho lógico e dedutivo é muito interessante. Infelizmente, em alguns casos vi muito potencial, mas a execução deixou a desejar, como o interrogatório que não é intuitivo e a possível repetição dilui muito a experiência.


Experiência imersiva

Ao terminar a minha jogatina e pesquisar um pouco sobre os desenvolvedores, senti a impressão de que teria aproveitado ainda mais o meu tempo em Trüberbrook se eu conhecesse mais sobre a cultura germânica, porém, em nenhum momento deixei de entender algo, apenas deixei de absorver alguns elementos muito valiosos.

Um detalhe que pode causar opiniões divergentes é o visual do jogo. De fato, as animações são condizentes com um estúdio indie, mas a variedade existente contribui muito com a narrativa. O modelo tridimensional dos personagens também me agradou, com uma estética bem situada na época dos anos 60, o que é ainda mais salientado pelo sotaque dos dubladores, assim como a personalidade e vestimentas dos locais.

Porém, o cenário é o que mais chama atenção, principalmente pelo fato de que ele foi feito totalmente à mão!



Concluindo, acho que o jogo corre o risco de ser mal avaliado pelas limitações do seu gênero, mas se você encarar essa jogatina como uma leitura interativa de uma curta ficção científica, tenho certeza de que gostará de Trüberbrook. Essa proposta é ainda melhor no Switch, podendo jogar deitado na cama umas duas ou três vezes antes de dormir.

Prós:

  • História curta, mas bem desenvolvida;
  • Dublagem excelente e com ótimos sotaques;
  • Estilo visual do jogo é muito interessante

Contras:

  • Quedas ocasionais de framerate no modo portátil;
  • Alguns puzzles deixam a desejar.
Trüberbrook - Switch/XBO/PS4/PC - Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Pedro Franco
Análise produzida com cópia digital cedida pela Headup
Siga o Blast nas Redes Sociais

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Você pode compartilhar este conteúdo creditando o autor e veículo original (BY-SA 3.0).