Análise: METAGAL (Switch) se inspira em um grande clássico, mas não possui o mesmo charme

O game combina erros e acertos, entregando uma experiência nostálgica e divertida, mas rasa.

em 18/04/2019

Algo muito bem-vindo em jogos independentes é quando desenvolvedores reinventam produtos já conhecidos do público, trazendo uma mistura de nostalgia e frescor de novidade. Infelizmente, isso é algo que nem todos conseguem alcançar. METAGAL é, indiscutivelmente, um título com forte inspiração na série Mega Man. Ela aparece na história, nas mecânicas e na jogabilidade. Porém, a Retro Revolution, desenvolvedora do jogo, parece ter experimentado pouco em seu game e, onde eles se diferenciam, o fizeram perder o charme característico do Blue Bomber da Capcom.

Aquela velha história...

Tudo começa quando o laboratório do Dr. Ray é invadido pelo exército do vilão Creeper. No passado, o cientista trabalhou para o general, mas quando percebeu suas más intenções, fugiu de seu país e criou várias filhas robô, vivendo pacificamente com elas. Quando Creeper o encontra, há uma certa resistência, mas com a ajuda de uma antiga e poderosa criação de Ray, denominada GAL.0X, o vilão consegue raptar as outras GALs e o seu criador, para então modificá-las e adicionar suas forças ao seu esquadrão.


Quando o ataque ocorreu, a robô conhecida como Meta não estava no laboratório. Ao chegar no local, ela recebe uma “ligação” do professor, que a ensina a liberar o seu poder interior, tornando-se uma combatente e a última esperança da família e do mundo. Agora GAL.00, também conhecida como METAGAL, deve passar por diversos locais, enfrentando o exército vilanesco e libertando as irmãs, até conseguir salvar Dr. Rey das garras de Creeper.

Parece que vimos algo parecido anteriormente, não é mesmo? Metagal não inova nessa parte, e ainda perde mais um pouco por ter apenas quatro chefes iniciais, ao invés dos seis do primeiro Mega Man ou os oito que se tornaram padrão da série. As cutscenes são bem simples, feitas com gráficos do próprio jogo. O ponto alto fica para as piadinhas, cutucando outros games sobre como o Dr. conseguiu se comunicar ou sobre a armadura sexista da heroína.



Que deselegante!

Antes de iniciar, somos apresentados a um menu, e ao dar uma olhada nele, não encontrei uma opção que considero importantíssima em jogos estilo Mega Man, que é a possibilidade de customizar os botões do controle ao seu próprio gosto. METAGAL possui uma tela bem feia ensinando a usá-los e, durante o game, eles são precisos, mas não confortáveis. Utilizar o dash com dois toques pra frente proporciona alguns erros acidentais, que seriam facilmente resolvidos com uma alteração da função para um dos botões de ombro. Apenas para citar, há também um botão específico para ataques especiais, que neste caso não chega a incomodar, mas pode causar estranheza a quem se acostumou com a série da Capcom.

Outra falha do menu de opções é que as barras para controlar o volume da música e efeitos sonoros são super imprecisas quando utilizadas com os direcionais e o analógico. Curiosamente, você pode utilizar o touch screen para melhor precisão. É algo que a maioria dos jogadores nem vai testar, mas resolvi citar porque não costumo encontrar jogos com o menu de opções tão mal otimizado. Outra prova disso é que, ao selecionar a opção de alterar a linguagem, o jogo reinicia automaticamente, antes mesmo da escolha. Bizarro!



Engrenagens e nostalgia

A impressão inicial foi bem ruim. Mas depois vieram algumas boas surpresas. A fase inicial começa já na saída do laboratório, e funciona como um tutorial, apresentando as principais mecânicas, alguns inimigos, e dando o tom do que é o jogo. Ele possui muitos elementos dos primeiros Mega Man, lá da época do “Nintendinho”, sem rolagem automática de tela, e com algo que faltou em Mega Man 11 (Multi), que é aquela “parada no ar” que o personagem faz ao transitar entre quadros do cenário e, principalmente, nas portas.

As quatro fases liberadas depois possuem uma irmã GAL (de .01 a .04) em cada como chefe, e diferentes temas. Após derrotá-las e conseguir suas armas, é interessante voltar nelas para coletar melhorias escondidas, já que algumas dessas áreas só podem ser acessadas com o uso das armas dos chefes — o que as torna semi-lineares. Depois, há mais quatro estágios até finalizar o game. Apesar de no geral o jogo ser curto, as fases possuem um bom tamanho e um ótimo level design. Há armadilhas variadas e inimigos bem posicionados. Há também mecânicas diversas e um bom nível de desafio, que vai aos poucos sendo superado quando você se acostuma a utilizar corretamente seus recursos e se adequa aos controles.



Uma mecânica única de METAGAL, que é bastante interessante, e também ajuda muito a lidar com a dificuldade do jogo, é que você pode coletar engrenagens em diversos pontos das fases. Geralmente, há poucos checkpoints e, caso você morra, costuma precisar voltar bastante em cada fase. As engrenagens podem ser utilizadas, de acordo com a decisão do jogador, para duas funções: voltar o mais próximo possível do lugar onde morreu ou curar um pouco a vida de GAL.00. Dependendo da situação, e de onde foi o último ponto de verificação alcançado, você pode utilizar o recurso estrategicamente para alcançar o seu objetivo mais facilmente.

Infelizmente, uma das fases iniciais já repete o tema do estágio de tutorial, que é novamente repetido nos cenários finais. Essa falta de variação de ambientes e fundos traz uma sensação de falta de criatividade que desanima um pouco a jogá-lo novamente, mesmo que o jogo entregue boas motivações para isso: após terminá-lo, você pode jogar com as outras quatro GALs, o que traria um bom fator replay, pois cada uma possui suas próprias habilidades e melhorias. Porém, de uma maneira geral, os personagens do game não são tão carismáticos: nem os mocinhos, nem os vilões.



Os inimigos comuns preenchem satisfatoriamente as fases, mas enquanto as batalhas contras as primeiras chefes são criativas e divertidas, as lutas finais na fortaleza de Creeper não empolgam da mesma maneira. Em tudo há uma sensação de poderiam ter feito um pouco mais. O jogo conta com belos gráficos em pixel art, mas repete o mesmo cenário em três fases. Possui uma trilha sonora empolgante, mas a fonte utilizada nos textos parece um pouco desfocada. Sempre que você encontra um elogio para o game, olha para o lado e vê um defeito também.

Salvando o mundo

METAGAL conta com vários pontos positivos e negativos. O game realmente traz a sensação de estarmos jogando algo próximo dos primeiros titulos de Mega Man, mas com gráficos um pouco mais polidos e modernos. Apesar de curto, ele é divertido. Apesar de não se arriscar muito, criou uma boa mecânica em substituição a contagem de vidas, que funciona de maneira primorosa. Por fim, apesar de não ser nem de longe a melhor experiência encontrada na loja do Switch de acordo com sua proposta, o game ainda entrega uma boa experiência de gameplay e uma quantidade de conteúdo bastante justa quando se nota o acessível valor cobrado por ele na eShop.


Prós:

  • Controles precisos;
  • Level design inteligente e desafiador, apesar da semi-linearidade das fases;
  • Mecânica baseada em engrenagens substituiu com perfeição o datado sistema de vidas;
  • Personagem levita no ar ao passar pelas portas (um movimento clássico e sempre muito bem vindo);
  • Belos gráficos em pixel art;
  • Trilha sonora agradável e bem ajustada ao tema do jogo.

Contras:

  • História pouco adaptada em relação à encontrada no material de inspiração;
  • Menu de opções feio e mal otimizado;
  • Não há possibilidade de remapear os controles, que possuem opções desconfortáveis;
  • Personagens não muito carismáticos;
  • Sensação de que a criatividade terminou em algum momento, pois cenários são repetidos e boss battles finais não empolgam tanto quanto as primeiras.
METAGAL — PC/PS4/PSVita/XBO/Switch — Nota: 6.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: André Carvalho
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ratalaika Games

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