Análise: Nelke & the Legendary Alchemists: Ateliers of the New World (Switch) é confuso, mas diverte

O RPG de nome gigante traz uma fofa protagonista responsável por transformar uma aldeia em metrópole, e mesmo divertida, a pressão dessa função pode alcançar o jogador.

em 25/04/2019



Famosa no Japão, a série Atelier comemora seu 20º aniversário com a chegada do spin-off Nelke & the Legendary Alchemists: Ateliers of the New World (Switch), e acredite, o nome é tão grande quanto o conteúdo que o game carrega.


Para aqueles que não sabem, a franquia Atelier consiste em diversos games do gênero RPG, os jogos principais focam nos alquimistas - uma classe de personagens do jogo - que consistem em uma mistura de magos, feiticeiro e artesãos, em suma, são pessoas capazes de sintetizar, usando o jargão do jogo, coisas desde comida até armamento.

A série é bem consolidada no Japão, porém só começou a ser localizada para o ocidente em seu sexto jogo, lá em 2005. A franquia aposta mais em jogos para PlayStations e os portáteis da Nintendo, mas agora mais um game chega ao console híbrido.

Esse é o primeiro game de uma possível nova série spin-off, na qual diversos personagens dos jogos originais fazem participações especiais, e é também o primeiro da franquia a misturar os elementos de RPG com a mecânica de simulação de cidades.

Ela não é política, é gestora

Nelke é uma aristocrata que acabou de sair da academia, apesar de apaixonada pelo trabalho dos alquimistas, descobriu que essa não era a sua vocação, por isso ela focou em se tornar uma boa gestora governamental. O lorde da nação - que, coincidentemente, é o pai dela - mandou-a para a provincial Westwald, cidade fronteiriça pouco desenvolvida. Nelke, junto de sua fiel criada, Misty, se torna a responsável por transformar a cidade socioeconomicamente, tornando-a em uma metrópole comercial.

Com poucos minutos de gameplay já somos apresentados a uma penca de personagens e a pacata história do jogo vai ganhando a sua forma. Uma característica da franquia é possuir tramas bastante leves e engraçadinhas, até mesmo problemas são levados de forma branda. Para os entendidos de animes, a história leva como base o gênero slice-of-life (pedaço-da-vida, em tradução livre); que tem maior foco na rotina e interação social dos personagens, sempre com um humor leve.

Aos poucos as funções de Nelke são explicadas, de início, é preciso construir pequenas mercearias e lotes para cultivo de produtos primários como trigo e, depois de finalizadas, o jogador deve escolher os aldeões que ficarão responsáveis por cuidar de cada lugar. Cada estabelecimento só pode receber um único personagem trabalhando, enquanto os agricultores podem cuidar de mais de um lote, porém a quantidade produzida de cada produto acaba sendo comprometida.

Se engana em pensar que Nelke foi para Westwald apenas para pôr suas habilidades como gestora pública em prática: seu interesse maior pela vila veio de um rumor que a poderosa Árvore de Granzweit, criação do poderoso Mago de Granzweit, estaria nos arredores da aldeia. E com foco em encontrar essa poderosa árvore, que não se sabe se é apenas folclore ou um artefato mágico perdido, Nelke se dá, nos dias de folga, um tempo para realizar expedições para investigar as florestas que cercam a cidade.

Essas investigações fazem parte de uma mecânica bem encaixada no game, pois quebram com a rotina do simulador de cidades, o que pode trazer um ânimo aos jogadores mais sedentos por ação. Nas investigações, o jogador deve percorrer um caminho e coletar itens que podem ser usados como matérias-primas de novos produtos na cidade, e sobreviver às batalhas contra monstros que podem surgir em seu caminho. 

Depois de concluir uma rota, Nelke pode enviar alguns personagens para os caminhos já desvendados para que as matérias-primas que não podem ser cultivadas na cidade sejam recolhidas e levadas para abastecer os estoques da aldeia, sem comprometer as produções e nem sobrecarregar Nelke em suas expedições solo.

É em uma das primeiras expedições que encontramos Marie, a protagonista do primeiro jogo da série Atelier, ela aparece desferindo bombas que sintetizou. Estranhamente ela foi parar nas florestas de Westwald, aparentemente um mundo que ela desconhece. Depois de trocar um papo com a nossa protagonista, Marie decide ficar na cidade por um tempo e gerir um atelier enquanto não encontra um meio de voltar para seu mundo.

Os ateliers, que dão nome à série, são os estabelecimentos nos quais os alquimistas criam receitas para sintetizar produtos diversos; que podem ser desde alimentos mais elaborados, bebidas com propriedades de cura ou até mesmo armas e produtos para construção.

Nelke, por outro lado, é responsável por manter o estoque de produtos abastecido, para que os alquimistas sempre tenham matéria-prima para realizar as sínteses dos produtos finais que serão vendidos nas diversas lojas que serão abertas na cidade. 

Ninguém disse que seria fácil

Como é esperado, gerir uma cidade inteira não é nenhum jogo de videogame. Nelke não precisa apenas manter controle do bom andamento das funções exercidas por cada personagem, como também precisa tomar decisões dos fundos arrecadados em cada turno, além de precisar cumprir pedidos diversos; a fim de desenvolver e manter a sua aprovação com os cidadãos.

Proximidade com os habitantes não se resume a um bom desenvolvimento econômico da cidade: Nelke precisa interagir com os outros personagens para desenvolver laços de amizade mais fortes, para assim poder desbloquear novas ações no jogo.

Há uma aba de pesquisa dos alquimistas, mecânica muito explorada na série, na qual é preciso reunir uma quantidade específica de alguns materiais e dinheiro para encaminhar o desenvolvimento de novos artefatos que só podem ser criados dessa forma. Certas pesquisas só podem ser habilitadas se a protagonista possuir certos níveis de proximidade com os alquimistas designados para tal pesquisa.

E Nelke precisa tomar tempo de seu feriado para interagir com os habitantes, para assim se tornar mais próxima deles. E uma coisa que se torna complexa depois de algumas partidas é gerir o tempo disponível nos feriados da governadora de Westwald, pois cada interação com personagem consome dois espaços de tempo, e é importante lembrar que os feriados, em tese, foram destinados especialmente para realizar as expedições em busca das relíquias do mago.


As investigações nesse jogo parecem uma fuga da relativa monotonia da mecânica principal do game, que se limita a apenas designar funções a cada um dos personagens, o que pode agradar aos jogadores que gostem do estilo de game de construção de cidades, mas quem tem um interesse por RPGs mais ativos, pode se sentir um pouco entediado.

E o pouco frescor de ação se limita às batalhas com monstros que surgem durante as rotas, essas são, assim como quase tudo no game, muito simples e rápidas, e, ouso dizer, chegam até a serem fáceis demais. O jogador precisa se esforçar, com muita vontade, para perder uma luta contra monstros neste game; pois não somente os lutadores têm ataques fortes o suficiente como os artefatos de batalha têm grande poder.

Um ponto que também poderia ter sido melhor desenvolvido é a interação com as investigações, que são praticamente nulas. Há apenas as possibilidades de correr e aceitar ações específicas para usar utensílios como uma pá ou rede para insetos. Tirando isso, é tudo no automático, seria bacana se os jogadores pudessem realmente percorrer a rota e procurar as matérias-primas.

Mesmo sendo um jogo bastante divertido e intuitivo, não é difícil se perder enquanto joga o modo principal. Isso pois, em pouco tempo, uma quantidade enorme de personagens aparecem e é preciso não somente direcioná-los às suas tarefas, mas manter atenção aos resultados de produção e vendas de uma crescente quantidade de itens.


Sim, é isso o que se espera de um jogo desse tipo, mas falta (ou eu ainda não encontrei) funções que possibilitem aplicar filtros na busca de itens. Foram inúmeras as vezes que fiquei revirando as listas em busca de itens específicos; já que os mesmos são organizados ao bel prazer dos desenvolvedores, que escolheram dividi-los em bens de consumo e materiais de construção e, além disso, esses ainda se subdividem em ordem de desbloqueio.

Ou seja, imagine você coordenando oito - para mais - alquimistas diferentes, pensando nos itens a ser sintetizados dentro das requisições e metas do jogo e ainda precisando cuidar para que haja material suficiente para uma produção fluida, que não impacte negativamente no comércio e, consequentemente, nos fundos da cidade.

No entanto, a cada turno de dia útil é feito um balanço da gestão; então o jogador recebe infográficos de ganhos e do que está em falta. É bastante intuitivo e organizado, quase o oposto da disposição dos itens estocados.

O Atelier no Switch

O jogo que recebemos no console híbrido é bonito dentro de sua estética, bastante comum nos RPGs japoneses, com os diálogos sendo representados pelos sprites em 2D e, em alguns momentos, animações em 3D. Nem todos os personagens foram modelados em três dimensões, mas os que foram têm uma boa aparência. Todo mundo possui aquele visual avantgarde típico dos animes.

No geral o jogo não possui gráficos esplendorosos, nem uma estética muito diferenciada, mas nem por isso o trabalho da equipe de arte deixa de agradar. É satisfatório ver a cidade se desenvolvendo paulatinamente com o desenrolar da história. Os controles são simples, um tanto diferentes para quem está mais acostumado com a movimentação de games de aventura, mas nada que uma rodada ou outra não resolva.


É um jogo que vai agradar àqueles que se interessam pela mecânica de construção de cidades, mais comum em games mobile, além de trazer uma história leve com aquela sensação de anime interativo. Mesmo com os mil nomes nada convencionais, o jogador aprende a se guiar apenas com a imagem referencial. Importante avisar que o game não possui legendas em português.

Num todo, é um jogo bem pensado, cheio de conteúdo e feito para comemorar os vinte anos da série com os apreciadores do gênero e da franquia. Talvez não seja o melhor jogo para servir de porta de entrada para a série, mas isso não significa que se trata de um game sem graça.

É divertido e, mesmo que o jogador se sinta sobrecarregado com a quantidade de coisas a se fazer, lembre-se que é só ir salvando as rodadas, se a água bater no pescoço (o que pode acarretar em um game over) é só voltar quando tudo ainda estava bem e usar a sabedoria para melhor cuidar de sua cidade.

Prós

  • Gameplay simples e intuitiva;
  • Vasta quantidade de conteúdo;
  • Mecânica de desenvolvimento de cidades bem concebida;
  • Modos de batalha presentes para quebrar a monotonia.

Contras

  • A história pode se tornar um pouco cansativa para jogadores apressados;
  • Estética e modelagem dos cenários têm aparência simplória perto dos personagens;
  • Organização dos itens é um tanto confusa;
  • Mecânica do jogo pode acabar parecendo repetitiva para alguns jogadores;
  • Sem localização para o português.
Nelke & the Legendary Alchemists: Ateliers of the New World - Switch/PS4/PC - Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Vinícius Rutes
Análise produzida com cópia digital cedida pela Koei Tecmo
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Estudante de Sistemas da Informação que gostaria de aprender todas as línguas existentes, mal sabendo lidar com as duas que já fala. Descobriu seu amor pela Nintendo ao conhecer Super Mario 64 e desde então nunca mais largou os cogumelos, karts e rúpias que encontrou em seu caminho.
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