Análise: Hard West (Switch) traz estratégia por turnos em um Velho Oeste sobrenatural

Com um port competente chegando ao Switch, o título da CreativeForge não reinventa a roda, mas consegue apresentar ideias novas e interessantes ao gênero.

em 10/04/2019

Hard West é um jogo de estratégia em turnos que pega emprestado o estilo de gameplay tático consagrado pela série XCOM, mas agregando uma boa dose de originalidade que o faz se destacar. Lançado originalmente em 2015 para PC, o título desenvolvido pela polonesa CreativeForge Games chega ao Nintendo Switch numa versão extremamente competente e generosa, contando com a adição da expansão Scars of Freedom.

Sangue, ouro e pólvora na encruzilhada

A história de Hard West começa com Warren e seu pai (posteriormente chamado de "O Coveiro") tentando sobreviver aos tempos difíceis do Velho Oeste americano. Entretanto, não demora para as coisas ficarem realmente terríveis com a chegada de um homem soturno que aflige a família com uma maldição, separando-os. A mistura de western com elementos sobrenaturais é uma das coisas mais interessantes do título, e essa história sombria e melancólica ajuda a fortalecer o clima de tensão.


O tema de desesperança constante do Velho Oeste pode não ser cativante para todas as pessoas, é verdade. Para mim, foi exatamente essa pesada temática de sangue, ouro, pólvora e maldições infernais que mais destacou Hard West de uma infinidade de games do gênero. O título é dividido em cenários/capítulos que são independentes na forma de jogar, mas interligados ao amarrarem a narrativa geral e seus diversos personagens.

Distribuindo armas e cartas de baralho

Diferentemente de XCOM, em que o jogador contava com um sistema de recrutamento para substituir seus soldados caídos, em Hard West você vai ter poucos personagens para controlar, chegando ao máximo de quatro por vez. No entanto, não se trata de uma campanha contínua em que cada nível conquistado pelos recrutas faz você ficar mais forte. Aqui, cada cenário é um recomeço, com quase tudo zerado. Isso quer dizer que cada morte tem um peso absurdo sobre o resto do capítulo, mas pouco importa para o restante do jogo.


Ainda assim, é importante administrar seus combatentes, organizando seus equipamentos e distribuindo entre eles as cartas de poker que servem para melhorar as estatísticas e dar novas habilidades especiais aos cowboys. E esse é mais um ponto positivo para Hard West: além dos combates táticos interessantes, o título também conta com toques de RPG e aventura entre uma missão e outra.

Em todos os cenários o jogador é obrigado a viajar pelos mapas e lidar com elementos exclusivos, o que deixa a jornada sempre fresca. Em um capítulo o problema proposto pode ser a busca por ouro em sítios de mineração; em outro, o gerenciamento de suprimentos do grupo entre as viagens. Em alguns casos, determinadas pessoas precisam ser encontradas e interrogadas para a continuidade da história. Ou seja, o game está sempre tirando o jogador da zona de conforto, o que é ótimo.


Quem precisa de sorte?

Na hora das batalhas a grande sacada de Hard West é o seu sistema de Sorte, que serve tanto para usar as habilidades dos personagens como para calcular quando os tiros vão acertar. Quanto mais Sorte, mais chance de desviar do chumbo inimigo. Mas a cada desvio — ou a cada uso de habilidade especial — a barra diminui. Dominar o tempo certo de usar (ou deixar de usar) a Sorte é um elemento crucial para ter sucesso nas missões, além de ser um sopro de ar fresco para esse estilo já um pouco batido de gameplay.

Essa proposta deixa os resultados muito menos dependente de, bem, sorte. Parece confuso, mas com o tempo se pega o jeito e os combates ficam muito mais estratégicos, diminuindo consideravelmente a importância das métricas de porcentagem que são comuns neste tipo de jogo. Desta forma, é possível ter mais controle sobre os resultados ao simplesmente analisarmos os dados dispostos na tela, uma boa notícia para quem gosta de calcular cuidadosamente seus movimentos de ataque e defesa.


Sou um fã de longa data da série XCOM. Hard West conseguiu amenizar a falta de um jogo da série no Switch e ainda ofereceu obstáculos interessantes. Até mesmo em uma dificuldade mediana e sem alterar os modificadores disponíveis — que, diga-se de passagem, podem ser bem interessantes —, o game tem altos graus de desafio. As escoriações de batalha e maldições podem seguir na campanha, alterando as estatísticas dos personagens e potencializando a sensação de risco constante.

É claro que isso tudo se encaixa no clima angustiante do universo de Hard West e, assim como existem os aspectos negativos, vantagens igualmente sombrias também ajudam o jogador na jornada. Se quer uma aventura mais acessível, é só colocar o jogo no modo fácil e desfrutar do excelente gameplay e da narrativa sombria com mais tranquilidade. Além da campanha principal que conta com oito capítulos cobrindo as histórias de vários anti-heróis e suas desventuras, o Switch também recebe a expansão Scars of Freedom, que adiciona mais algumas horinhas de diversão ao pacote.

Antes de assinar, leia as letras pequenas

Hard West tem uma direção de arte curiosa, que utiliza cel-shading para criar um ambiente sombrio, mas visualmente bem poluído. No Switch, o título sofre em alguns momentos com algumas engasgadas, é verdade, mas este nunca foi um jogo conhecido pelo desempenho exemplar, nem mesmo em sua versão de PC. No geral, o game rodou de forma tranquila tanto em modo portátil quanto na TV, e nenhum problema chegou a atrapalhar a minha diversão.

O que atrapalha um pouco, no entanto, é a interface de usuário confusa e com uma fonte muito pequena. Fica claríssimo que a IA não foi desenhada para um console doméstico. Controlar o cursor e todas as possibilidades do jogo com os direcionais e botões do Switch é bem desajeitado, e as letras pequena dos textos (apenas em inglês), também não ajudam. Isso fica ainda mais evidente nos mapas, menus e lojas do game. Hard West também peca na falta de uma opção de salvamento em meio às missões — algumas bem longas —, mas aí já é reclamar de barriga cheia.

Era uma vez no Switch

É cada vez mais clichê dizer que um jogo é "perfeito para o Switch". Entretanto, no caso de Hard West, é verdade. Mesmo que o game da CreativeForge não seja uma excelência em design, o ritmo cadenciado de gameplay e a estrutura em missões curtas favorecem muito à jogatina no híbrido da Nintendo. Soma-se a isso o fato de ser um port extremamente competente no Switch, com uma história interessante e com várias ideias que trazem originalidade ao estilo XCOM de jogabilidade. É, sem dúvidas, uma ótima opção para os donos de Switch que gostam de jogos de estratégia por turnos.

Prós

  • Atmosfera sombria misturando western com terror, é bem interessante;
  • Mecânica de Sorte deixa o jogo menos dependente das probabilidades, favorecendo a estratégia;
  • O sistema de cartas, que dão habilidades especiais aos personagens, é mais uma sacada bacana;
  • Com a campanha principal e a expansão Scars of Freedom, Hard West no Switch entrega muitas horas de diversão.

Contras

  • Interface de usuário fora das batalhas poderia ter sido melhor adaptada para o Switch;
  • Cenários visualmente poluídos podem ser confusos na hora de posicionar os personagens;
  • Falta de uma continuidade na formação dos personagens entre os capítulos tira o peso de algumas decisões.
Hard West — Switch/PC — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch
Análise produzida com cópia digital cedida pela Forever Entertainment 

Comunicador e colecionador. Já foi Sega kid e Nintendo kid, agora é retro "kid". Está no Twitter em @carloscirne e faz vídeos no YouTube no canal CirneStuff.
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