Análise: The Red Strings Club (Switch): um fascinante mergulho por um futuro distópico

Jogo point-and-click único combina três tipos de gameplay e uma história sobre decisões éticas e o futuro da humanidade.

em 30/03/2019
Lançado anteriormente no PC, The Red Strings Club é um jogo curto sobre o futuro, as relações humanas e as influências que nossas atitudes têm sobre o destino. No controle de três personagens bastante interessantes, o jogador terá que lidar com três tipos de gameplay e realizar escolhas éticas complicadas.

Afogando as mágoas


The Red Strings Club é um bar atípico. Em um futuro distópico no qual megacorporações tecnológicas têm grande influência sobre a sociedade, seu dono, Donovan, é um bartender que não utiliza nenhum tipo de implante em seu corpo, mas ainda assim possui uma habilidade incomum: suas bebidas são capazes de tocar intimamente as pessoas, aflorando suas emoções.

O jogador consegue observar o que o cliente está sentindo e, para realçar um aspecto específico, é necessário criar um drink com doses das bebidas que estão no balcão. Essa escolha altera não apenas a disposição dos personagens, como também as informações obtidas nas conversas. E esse aspecto é bastante importante, já que Donovan é também um negociador de informações.

Apesar desse cenário de certa forma lembrar VA-11 HALL-A, o foco aqui não é o cotidiano dos personagens, mas sim uma mega conspiração que promete abalar a sociedade como conhecemos. Por isso, as informações que Donovan procura são focadas em descobrir mais informações sobre esse plano. Isso dá um tom mais definido e direto à narrativa que se apoia, então, em discussões bastante relevantes sobre a humanidade, comportamentos sociais, livre arbítrio e questões filosóficas moralmente ambíguas.

Nesse sentido, é bastante interessante a forma como os personagens, mesmo tendo pouco tempo de desenvolvimento, conseguem ter personalidades chamativas e desenvolver diálogos que levam à reflexão e ao mesmo tempo soam naturais. Essa naturalidade também é reforçada pela excelente tradução em português que utiliza linguagem informal, com gírias e abreviações corriqueiras da fala na medida certa.

Não lutamos sozinhos

Além de Donovan, também temos uma seção em que controlamos Akara-184, uma androide que foi desenvolvida para tomar decisões morais independentes. Com a missão de fazer os humanos felizes, ela precisa escolher implantes genéticos adequados para lidar com seus problemas.


Curiosamente, o gameplay associado a essa parte envolve uma espécie de cerâmica em que o jogador precisa transformar um bloco de biomassa no formato adequado. É necessário controlar a mão direita da personagem, mas a movimentação é um pouco estranha e pouco intuitiva a princípio. Isso é especialmente verdade ao utilizar o touch, já que a mão não segue fielmente as posições tocadas.  Após um pouco de aprendizado, no entanto, não é difícil lidar apesar do estranhamento.

Após completar alguns implantes, uma série de eventos acontece e ela acaba indo para o bar. Lá ela se torna uma importante parceira de Donovan. Além de auxiliar o bartender a compreender seus clientes, ela costuma demonstrar curiosidade sobre o posicionamento ético dele. É ela quem faz as perguntas mais inquietantes do jogo.

Outro personagem fundamental é Brandeis, um hacker de grande habilidade e parceiro de longa data de Donovan. Ele sempre realizou trabalhos variados sem se importar com o contratante, mas, ao mesmo tempo, é nítida sua revolta em relação à sociedade em que vive e seu desejo por mudança. Após descobrir sobre a conspiração, ele começa sua própria investigação.


Ao controlá-lo em um ponto específico do jogo, é possível utilizar sua habilidade de simular vozes de outras pessoas. Tendo invadido uma grande empresa, Brandeis precisa extrair informações importantes dos empregados e fingir ser um deles ao telefone permite obter diálogos diferentes.

Com essas três seções diferentes de gameplay - bartending, cerâmica de implantes e ligações com vozes simuladas -, The Red Strings Club consegue trazer bastante variedade. E, ao mesmo tempo, a jogabilidade é bem integrada com a narrativa, que é claramente o carro-chefe do título.

Um futuro de dilemas morais sobre a humanidade


Em suma, The Red Strings Club traz uma grande discussão filosófica sobre a humanidade e os aspectos éticos relacionados à vida em sociedade combinando três estilos de jogabilidade um tanto diferentes. Além da boa integração entre história e gameplay, existe um grande mérito na forma como os diálogos são construídos fazendo com que tudo soe natural e provoque reflexão sem parecer algo enfadonho.

Apesar de ser um jogo curto, esse aspecto não pesa contra a experiência, que é facilmente recomendável para pessoas que se interessam por esse tipo de discussão e por histórias ambientadas em distopias futuristas.

Prós

  • Discussões éticas bem articuladas que induzem à reflexão;
  • Personagens interessantes;
  • Gameplay variado se integra bem com a história;
  • Tradução em português bem escrita e natural, com bom uso de gírias e abreviações informais.

Contras

  • Seção de cerâmica com a Akara-184 é pouco intuitiva.
Análise: The Red Strings Club - Switch/PC - Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Vinícius Rutes
Análise produzida com cópia digital cedida pela Devolver Digital

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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