Análise: Lyrica (Switch) oferece um sopro de vida nova a poemas chineses antigos

Jogo de ritmo atualiza clássicos poemas chineses com estilos modernos de música em uma experiência amigável para iniciantes do gênero.

em 28/03/2019

Desenvolvido pelo RNOVA Studio e publicado pela COSEN, Lyrica é um jogo de ritmo com um conceito peculiar. A maioria de suas músicas é baseada em poemas chineses antigos, mas atualizados através de estilos modernos como pop, hip-hop, jazz e baladas românticas. Com essa proposta de popularização e valorização da cultura chinesa, o jogo oferece um funcionamento um tanto similar a seus concorrentes, mas com uma clara preocupação em garantir que pessoas que não têm tanto costume com este tipo de game possam apreciá-lo.

Ritmo, história e desafios


Lyrica possui três modos de jogo: Músicas, História e Desafio. No primeiro deles, o jogador tem uma lista de canções disponíveis para jogar livremente, procurando bater seus recordes. Cada uma funciona como uma fase em que é necessário tocar nos círculos que aparecem na tela no ritmo correto, indicado pelo timing de uma circunferência brilhante e, em muitos casos, por um cursor que se movimenta automaticamente. Há uma boa variedade de ritmos, que vão desde baladas românticas lentas a canções agitadas em ritmo de rock ou hip-hop. Todas são bastante charmosas e é perceptível (mesmo para quem não tem costume com a língua) que elas carregam traços de tradição.

Após terminar uma música em qualquer uma das dificuldades (fácil, normal, difícil ou mestre), o jogador consegue uma pontuação de acordo com sua performance. Além de servir como um medidor de habilidade, esses pontos também são utilizados para aumentar o seu nível no jogo, desbloqueando novas canções e personagens (que servem como skins para o menu). O sistema é bem pensado para incentivar o jogador a tentar várias músicas diferentes, já que jogar a mesma música várias vezes não oferece mais pontos. Apenas a maior pontuação conta.


Outra forma de desbloquear músicas é através do modo História. Nele, o jogador tem uma imagem com alguns blocos escondidos, que precisam ser destravados completando uma canção com uma determinada tarefa, como, por exemplo, manter um combo de acertos (notas boas ou perfeitas) em 60% da fase ou errar menos de 15 notas.

Após completar a tarefa, o jogo libera um novo trecho da narrativa em formato de visual novel. Ao final da imagem, há sempre uma música nova, que será adicionada à lista do primeiro modo quando o jogador completá-la cumprindo a sua missão específica. A partir daí, um novo quadro de história é aberto e o ciclo de desbloqueios continua.

Por fim, o modo Desafio é similar ao História, forçando o jogador a cumprir tarefas específicas, mas nele não é possível selecionar a dificuldade da fase e também não há as recompensas de história. É um modo pensado para pessoas que querem ser incentivadas a cumprir mais desafios planejados ao invés de testar sua habilidade de forma mais livre no modo Músicas.

Pequenos detalhes fazem a diferença


É perceptível que, de forma geral, Lyrica se preocupa bastante em garantir conforto para jogadores que não estão acostumados ao gênero rítmico. Em primeiro lugar, ao iniciar o título, há um simples tutorial para explicar o seu funcionamento básico. Mas além disso, uma característica fundamental para que o jogo seja amigável a novatos é a impossibilidade de receber game over durante uma música. Dessa forma, é possível aproveitar uma jogada completa antes de tentar novamente (ou optar por uma dificuldade menor), aprendendo os movimentos que são necessários e/ou mais simples para completar os desafios.

Pessoalmente, considero o título mais fácil do que o comum para o gênero. Enquanto me atrapalho todo em outros jogos e me frustro em suas dificuldades mais altas, o nível difícil de Lyrica é bastante acessível e me mantive nele para a maior parte das missões de história. Além da questão já citada da ausência de game over, outro fator que contribui para essa facilidade é a janela de oportunidade (ou seja, o tempo em que é possível obter uma nota perfeita) maior do que o usual, reduzindo a necessidade de reflexos extremamente ágeis na maioria das músicas.


É interessante também o paralelo que é estabelecido entre a história e o tema principal do jogo, conectando poesia clássica e música moderna. Nela vemos os personagens Chun e Yang tentando se estabelecer enquanto músicos e enfrentando uma série de desafios e, em paralelo, trechos da vida dos poetas Li Bai e Du Fu. Conforme avançamos, esses quatro protagonistas e as pessoas que eles conhecem se tornam peças fundamentais de uma narrativa sobre a arte, as dificuldades da carreira artística e a valorização do legado cultural. Tudo contado de uma forma bem simples, mas coerente e bem amarrada.

Outro detalhe que chama a atenção é a forma como a letra das músicas é integrada no gameplay. Alguns dos círculos apresentam os caracteres chineses e, ao tocá-los no tempo correto, são iluminados e se mantém por um curto período de tempo na tela. Há também alguns trechos em que eles fazem parte do background em círculos escuros ou momentos em que a movimentação exigida corresponde à escrita dos caracteres. Todos esses elementos adicionam charme às fases através de um feedback visual atrativo.


Apesar da importância atribuída às letras das canções e da presença de vários elementos do jogo em inglês, a descrição das músicas é estranhamente omissa em relação a uma possível tradução do que está sendo cantado. Outra escolha duvidosa é a presença de algumas músicas japonesas que, apesar de estilisticamente similares, não parecem possuir nenhuma relação com a temática geral.

Mas o único ponto que realmente incomoda é o fato de que o jogo está restrito ao modo portátil do Switch. Durante as músicas o jogador precisa utilizar a tela de toque e não há opções alternativas para o controle. Apesar de que certamente o touch é a melhor forma de controle para o jogo, teria sido interessante oferecer outras opções para o jogador apreciar o título enquanto o Switch está no dock.

Um jogo rítmico para todos

Lyrica é um interessante jogo de ritmo com uma temática de valorização da cultura chinesa através de músicas modernas que resgatam o brilho de poemas antigos. Além de valorizar as suas letras através da integração visual delas no gameplay, o jogo foi claramente pensado para ser de fácil acesso a iniciantes do gênero.

Mas, apesar da menção específica à facilidade com que o título pode ser convidativo a iniciantes, é importante ressaltar também que há dificuldades maiores e desafios que podem ser verdadeiramente interessantes mesmo para as pessoas que já têm costume. Com isso, acredito que qualquer um com interesse em jogos rítmicos provavelmente se divertiria com ele, a não ser que a seleção de músicas não agrade seus gostos particulares.

Prós

  • Músicas charmosas que modernizam bem clássicos da literatura chinesa com estilos como jazz, pop, balada romântica e hip-hop;
  • Gameplay pensado para simplificar a entrada de novatos ao gênero rítmico sem eliminar completamente os desafios e dificuldades mais altas para veteranos;
  • Integração da letra no gameplay tem um aspecto charmoso;
  • História simples, mas coerente e bastante adequada.
Contras
  • Não é possível jogar com o Switch ligado ao dock devido à necessidade de tocar a tela.
 Análise: Lyrica - Switch/Android/iOS - Nota: 9
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: André Carvalho
Análise produzida com cópia digital cedida pela COSEN
Siga o Blast nas Redes Sociais

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Você pode compartilhar este conteúdo creditando o autor e veículo original (BY-SA 3.0).