Análise: ToeJam & Earl: Back in the Groove (Switch) é feio como um alien, mas extremamente divertido

A diversão simples e descompromissada do jogo original está de volta nesta aventura que conta com algumas decisões duvidosas e visual terrível.

em 28/02/2019

Se você acha que vai encontrar em ToeJam & Earl: Back in the Groove um jogo de ação ou uma aventura com uma história profunda, esqueça! Os alienígenas loucões são paz e amor e só querem encontrar as peças perdidas de sua nave quebrada. Então, não espere por armas de fogo ou espadas mágicas, aqui você no máximo vai jogar uns tomates na cara de um dentista maluco que quer te anestesiar.


Também não espere por uma trilha sonora orquestrada ou um rock pesadão. O som aqui é um funk com batidas e guitarras cheias de swing e muito slap bass. E se isso tudo ainda não o convenceu, também pode abrir uns presentes cheios de surpresas como patins com foguetes, asas de anjo ou, quem sabe, um estilingue para facilitar na hora de jogar aqueles tomates.

Esse jogo é uma viagem

Está começando a entender a atmosfera desse título estranhíssimo? Toejam & Earl: Back in the Groove tem muitos problemas, mas é diferente de tudo o que há no mundo dos games hoje em dia. Trata-se de um jogo que aposta todas as suas fichas na fórmula do antigo sucesso do Mega Drive, que esbanjava carisma com todo seu humor totalmente sem sentido. Se você alguma vez já experimentou o primeiro da série, lançado no distante ano de 1991, sabe do que estou falando. Back in the Groove é uma produção do HumaNature Studios e conta com o envolvimento de um dos designers do original, Greg Johnson. O novo game chega ao Switch graças a uma campanha de financiamento coletivo de sucesso, que começou há alguns anos.

A ideia é a seguinte: os dois alienígenas estavam dando um rolê com duas amigas, mas acabam sofrendo um acidente com sua espaçonave e caem na Terra. Só que o planeta azulão não é exatamente como o conhecemos. Na verdade, a doideira é tanta que a "Terra" é uma porção de estranhas ilhas flutuantes que devem ser acessadas através de elevadores — ou caindo, se for para o andar de baixo. Nesse cenário bizarro, a trupe de aliens deve andar a esmo à procura de todas as peças quebradas da nave, para assim poderem retornar ao seu planeta natal. O conceito é ridículo de tão básico, mas funciona!


Com mais de 25 anos de história, ToeJam & Earl até ganhou duas sequências. Porém, o sentimento de exploração do primeiro título nunca foi replicado do jeito certo. Sempre fui um grande fã da ideia de vasculhar os "andares" de T&E atrás de presentes, elevadores e peças da espaçonave, e só fui ter uma sensação parecida ao esmiuçar as masmorras do primeiro Diablo no PC, no final da década de 90. A comparação parece meio esdrúxula, mas é a mais pura verdade: desvendar aos poucos os mapas criados de forma aleatória — encontrando novos inimigos, passagens secretas e loot pelo caminho — sempre foi o ponto forte dos dois jogos.

Visual chocante, no mal sentido

A primeira impressão que Back in the Groove passa é assustadora, tenho que admitir. O visual do jogo está anos-luz de ser apelativo ou atraente. Lembro da arte em pixels dos dois primeiros títulos da série e tenho certeza absoluta que este também merecia um tratamento parecido. Enquanto os antigos contavam com todo o charme de seus sprites em 16-bit, este apresenta um visual genérico, com animações completamente desajeitadas e que parecem flutuar pela tela.

A mistura do 3D dos cenários com os sprites 2D em cores chapadas parecem não combinar. Além disso, a interface de usuário é um desastre: poluída, confusa, cheia de opções e botões desnecessários ou mal posicionados. Até mesmo para pausar a partida é necessário confirmar após apertar o start! É uma lambança.

Entretanto, por conta das possibilidades proporcionadas pelo 3D dos mapas, agora a câmera é um tanto mais desprendida da ação. A visão normal já é consideravelmente mais inclinada, apresentando mais a profundidade do cenário e ajudando na navegação. Para facilitar, ainda há um botão exclusivo que faz o personagem dar uma espiada a sua volta, abrindo ainda mais o campo de visão por alguns segundos.

Um dos maiores destaques da série sempre foi a trilha sonora regada a muito funk raiz. Aqui não é diferente. As músicas são extremamente agradáveis e se encaixam perfeitamente ao clima do game. Além de alguns temas facilmente reconhecíveis, ainda há várias músicas originais que mantém o legado de muito swing nas batidas e baixos marcados.

Mesma fórmula, mas com novidades

A fórmula consagrada (pelo menos para os fãs da franquia) continua a mesma. O jogo pouco explica, tampouco mostra o caminho para o jogador. A proposta é justamente aprender na prática, explorando cada um dos estágios gerados de forma aleatória a procura das benditas partes da nave. Pelo caminho, encontramos os mais diferentes e bizarros tipos de personagens, que tanto podem ajudar na jornada como tentar atrapalhar a missão dos nossos protagonistas esquisitões.

O mesmo vale para os presentes coletados durante o percurso. A princípio, não sabemos o que tem dentro, mas na base da tentativa e erro (ou pagando um sabichão para descobrir o conteúdo), somos apresentados a diversas vantagens e desvantagens que os embrulhos podem proporcionar. O grande segredo do progresso (e da diversão) do game está nesses presentes: podemos encontrar desde asas de anjo para voar por aí, até uma nuvem negra que joga raios nas cabeças dos heróis, causando dano. Os presentes adicionam uma camada importante de diversidade e alternativas para a jogabilidade que pode ser um tanto repetitiva.

Mas essas já eram características marcantes no primeiro título da série. A primeira diferença a ser percebida nesta nova entrada é a velocidade do gameplay. A ação está muito mais rápida e dinâmica e os mapas mais compactos, com muito mais coisas acontecendo. No primeiro ToeJam & Earl, cada andar levava um bom tempo até ser explorado por completo. Aqui, em poucos minutos já vimos tudo e mais um pouco das fases. É uma decisão interessante, que deixa as partidas mais animadas e atuais, claramente mirando um novo público.

Os cenários quase vazios do original agora dão vez a mapas abarrotados de árvores, placas e casas, que podem ser chacoalhadas na busca pelos presentes. Parece uma tentativa de injetar objetos de interesse mais frequentes nos cenários, mas acaba por deixar o visual extremamente poluído e diminui consideravelmente a sensação que cada encontro era capaz de proporcionar antigamente. São tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, que encontrar uma criatura interessante simplesmente não tem mais o mesmo peso.

Os inimigos continuam funcionando da mesma maneira, com suas ações limitadas a empurrar os heróis para os precipícios ou simplesmente atingi-los até acabar com suas energias. Já os terráqueos amigos estão muito mais participativos e úteis. E a graça é, justamente, encontrá-los e descobrir as vantagens que eles oferecem — pagando-se um preço, é claro. No meio dessa zoeira toda, ainda há um divertido minigame rítmico e uma breve fase bônus de progressão lateral, que também ajudam a diversificar o gameplay. Ambos minigames podem entregar presentes, XP e dinheiro, que nunca são demais durante as partidas.

Extraterrestres evoluídos 

Outras novidades marcantes são as opções de personagens jogáveis e o novíssimo sistema de níveis. Os já consagrados ToeJam e Earl agora dividem os holofotes com duas alienígenas cheias de atitude: Latisha e Lewanda. Além destes, outros protagonistas podem ser desbloqueados durante o jogo. Cada um deles possui diferentes características (velocidade, vida, capacidade de carregar presentes, etc.) que conferem não apenas personalidade, mas também diferenças na própria jogabilidade.

Durante a jogatina somos agraciados com pontos de experiência para as mais diversas ações, e de tanto em tanto pode-se subir de nível e melhorar um pouco as citadas habilidades. É um leve elemento de RPG e evolução que adiciona uma camada extra de profundidade na hora da exploração dos andares. É uma pena que as alterações sejam muito sutis, servindo muito mais como um incentivo do que uma melhora realmente prática para os heróis.

É importante ficar atento às características dos personagens também na hora de se preparar para os andares mais elevados da aventura. Normalmente a dificuldade fica bem mais acentuada depois do décimo estágio, então saber aproveitar os diferenciais de cada extraterrestre se torna fundamental. Confesso que a agilidade de ToeJam me parece imbatível em qualquer ocasião, então fica a dica.

Fixo, solo, aleatório e cooperativo

Diferentemente da versão de Mega Drive, na qual era possível escolher o modo aleatório/randômico logo de saída, em Back in the Groove é obrigatório jogar o modo fixo primeiro. Mas como as partidas são rápidas, esse não chega a ser um problema e se presta bem como um teste para preparar o jogador. O modo aleatório é como um rogue-lite e é a cereja no bolo do novo game. A cada nova partida todos os elementos são redistribuídos pelos mapas de forma randômica, com passagens secretas totalmente novas  que acabam por aumentar o fator replay consideravelmente.

E tudo fica ainda mais divertido e engraçado quando compartilhamos os Joy-Con com um amigo para uma partida cooperativa. Exatamente como no ToeJam & Earl original, os heróis aparecem juntos na mesma tela a princípio. Porém, ao se separarem, a tela se divide em duas horizontalmente, deixando cada jogador explorar de forma individual os mapas. O jogo também oferece a possibilidade de jogadores entrarem nas partidas através do serviço online da Nintendo, a qualquer momento.

ToeJam & Earl pode ser extremamente repetitivo se aproveitado sempre de forma solo, mas dividir as maluquices aleatórias com os amigos deixa a experiência sempre fresca e divertida. É um perfeito exemplo de como o Switch é uma excelente máquina para um multiplayer descompromissado, tanto na mesma tela quanto online. É uma pena que o desempenho seja problemático no console híbrido da Nintendo: presenciei alguns bugs estranhos, muitos loadings e quedas de frames constantes.

O groove voltou, mas precisa afinar

ToeJam & Earl: Back in the Groove me deixou com sentimentos contraditórios. Me diverti pra caramba com cada partida que joguei, mas é impossível não reconhecer seus inúmeros defeitos. Trata-se de um jogo de outra época, com uma pegada muito mais relaxada e descompromissada, que não deve agradar a todos. Além disso, o visual deixa muito a desejar. Se tivermos mais um título da série no futuro, torço pela repetição da fórmula, mas também por um tratamento em pixel art para os simpáticos terráqueos e extraterrestres. De qualquer forma, o DNA do primeiro game está aqui, quase intacto. Há um elemento casual extremamente prazeroso em ToeJam & Earl. E se você é fã dos antigos, vai se sentir em casa.

Prós

  • Diversão simples e descomplicada;
  • Co-op com tela dividida ainda é o melhor jeito de aproveitar ToeJam & Earl;
  • Trilha sonora sensacional;
  • Aleatoriedade dos mapas aumenta consideravelmente o fator replay.

Contras

  • Visual feio, com uma mistura de 3D e 2D que não combina muito bem;
  • Excesso de personagens e poluição visual de forma geral;
  • Interface de usuário exagerada e confusa;
  • Diversos bugs estranhos e problemas de desempenho que mostram a falta de acabamento do game.
ToeJam & Earl: Back in the Groove — Switch/XBO/PS4/PC — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
 Análise produzida com cópia digital cedida pela HumaNature Studios
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Comunicador e colecionador. Já foi Sega kid e Nintendo kid, agora é retro "kid". Está no Twitter em @carloscirne e faz vídeos no YouTube no canal CirneStuff.
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