Análise: Tales of Vesperia: Definitive Edition (Switch) é um JRPG imersivo e notável

Um dos episódios mais aclamados da franquia chega ao console da Nintendo em uma aventura extensa e envolvente.

em 30/01/2019

Tales of Vesperia é considerado um dos melhores (se não o melhor) título da franquia de JRPGs por ter personagens carismáticos, um visual belo e por apresentar melhorias nos sistemas clássicos da série. Lançado originalmente para Xbox 360, o jogo recebeu uma edição melhorada para PlayStation 3, porém essa última nunca saiu do Japão, mesmo com os apelos dos fãs. Isso mudou agora com Tales of Vesperia: Definitive Edition, remasterização da versão mais completa do título, que traz todo o conteúdo do JRPG de PS3 com melhorias técnicas e outras poucas novidades. O jogo chega ao Switch e é uma ótima oportunidade para conferir esse episódio emblemático da franquia.

Personagens cativantes em uma jornada envolvente

A prosperidade do mundo de Terca Lumireis se mantém por meio de uma tecnologia mágica chamada blastia. Esses dispositivos oferecem todo tipo de vantagem, como a possibilidade de usar feitiços ou até mesmo criar barreiras contra monstros. Nesse contexto, acompanhamos Yuri, um rapaz que vive na capital do império. Quando uma blastia de seu bairro é roubada, ele decide sair da cidade em busca do ladrão. Pelo caminho, ele encontra outros aliados e descobre que o furto faz parte de algo muito mais sério e complicado. Aos poucos, os heróis se envolvem em uma trama complexa, culminando em questões que envolvem o destino do mundo.

A trama de Vesperia segue o roteiro padrão dos JRPGs de um grupo de heróis que precisa salvar o mundo. O maior destaque do jogo nesse aspecto são os personagens carismáticos e suas relações: acompanhamos um grupo de desajustados que aos poucos constroem laços valiosos e amadurecem. Os heróis têm personalidades distintas, às vezes até mesmo conflitantes, e a diversão é ver eles interagindo e superando suas diferenças. As Skits, tradicionais conversas opcionais que são marca da série, ajudam a construir os heróis com diálogos muito divertidos. Claro, há vários clichês, porém o texto divertido e a trama com várias reviravoltas nos fazem esquecer esses detalhes. No fim, é muito cativante acompanhar os heróis — me envolvi bastante nos seus dramas e vitórias.


Um amplo mundo para explorar

Tales of Vesperia oferece uma experiência mais clássica da franquia, com exploração de  calabouços, cidades e mapa múndi nos moldes tradicionais, ao contrário dos títulos mais recentes que experimentaram outras ideias nesses aspectos. Não que isso seja um problema, pelo contrário: é muito divertido explorar um grande mapa repleto de localidades e atividades. Os calabouços apresentam pequenos puzzles que ajudam a diversificar um pouco o andamento, mesmo que essas áreas sejam bem lineares.

O mundo de Terca Lumireis é vibrante com locais memoráveis e cultura bem construída. Vasculhar todos os cantos é incentivado pela presença de muitas missões paralelas, personagens, itens e mais. Um problema vem do fato de que o jogo não te dá ferramentas para acompanhar o progresso de missões adicionais e, para piorar, muitas delas têm condições completamente arbitrárias para serem iniciadas — deixar de revisitar locais em momentos específicos da trama pode significar não ver alguma cena legal ou não iniciar uma linha de história.


Um detalhe que pode incomodar é o andamento: a jornada de Yuri avança a passos lentos, com inúmeras cenas de conversa que nem sempre desenvolvem as coisas. Sendo assim, são necessárias várias horas para que a história de fato comece a ficar interessante e envolvente. O mesmo acontece com os sistemas de jogo: eles são introduzidos aos poucos, fazendo com que o início seja um pouco enfadonho por causa da simplicidade. Pode parecer estranho levantar esse tipo de questão em um RPG que dura 50 horas ou mais, no entanto acredito que isso poderia ser remediado com um pouco mais de agilidade no início.

Estratégia e ação nas batalhas

O combate em Vesperia acontece em tempo real, lembrando um jogo de luta. Se movimentando em um plano horizontal, os heróis desferem ataques normais, técnicas especiais Ars, defendem e pulam, sendo possível andar livremente pela arena ao segurar um botão. Controlamos um personagem e o restante do grupo é guiado pela inteligência artificial ou por outros jogadores no multiplayer local.

Nas horas iniciais estão disponíveis poucos ataques e técnicas, no entanto a gama de opções vai se expandindo conforme avançamos. A Superação (Overlimit), por exemplo, permite atacar indefinidamente por algum tempo e desferir técnicas finalizadoras. Já o Golpe Fatal (Fatal Strike) possibilita receber certas recompensas ao derrotar inimigos de maneiras específicas. Há um pouco de personalização com habilidades que podem ser aprendidas por meio dos equipamentos, como um movimento de esquiva, escudo contra ataques e melhoria de atributos.


O combate de Vesperia tem cadência mais lenta em comparação com os Tales mais recentes, principalmente por causa das regras e limitações. Atacar de qualquer jeito não é uma boa por causa de vários detalhes: os personagens ficam vulneráveis depois de sequências de ataques, inimigos conseguem interromper os heróis facilmente e os pontos de técnicas especiais podem acabar muito rápido. O foco é golpear no momento certo, aproveitando as aberturas dos inimigos, o que traz uma camada tática ao combate. Contudo, não deixa de apresentar a ação frenética de sempre, com muitos ataques estilosos e feitiços coloridos.

Para alguns, principalmente para aqueles que estão acostumado com os sistemas dos jogos mais recentes que são focados em combos e esquivas, o combate de Vesperia pode ser um pouco enfadonho e até mesmo difícil. Com o avançar da aventura, novas mecânicas aparecem e ele fica mais interessante — chega um momento em que conseguimos encadear várias técnicas especiais em sequências impressionantes. Particularmente acho as mecânicas de Vesperia um pouco datadas, principalmente em comparação com Tales of Berseria, mas de qualquer maneira ainda é um combate divertido e frenético, com a dosagem certa de agilidade, estratégia e experimentação.

Muitas novidades na versão definitiva

Lançado inicialmente para Xbox 360, a Definitive Edition é uma adaptação com algumas melhorias da versão para PlayStation 3 exclusiva do solo nipônico. Na parte técnica, a única alteração foi o aumento de resolução dos gráficos. O jogo já era visualmente bonito na versão original e essa se característica se mantém na edição definitiva — isso se dá por causa da direção de arte cartunesca com uso de cell shading, que remete ao visual de animes. A música, produzida pelo veterano Motoi Sakuraba, tem várias composições enérgicas com teclados e guitarras, sendo destaques os temas de batalha.

Uma grande quantidade de conteúdo inédito, como chefes, missões, inimigos, técnicas especiais e calabouços, está presente na Definitive Edition. Além disso, há ligação com o filme animado Tales of Vesperia: The First Strike ( alguns personagens do longa estão presentes no jogo). Uma das minhas adições preferidas são várias roupas para os heróis, as mais legais referenciam outros Tales e franquias da Bandai Namco. Claro, só vai notar essas diferenças quem jogou original.

Por fim, foram incluídos novos heróis jogáveis. Flynn, que no original podia ser controlado em alguns poucos momentos, passa a ser um membro permanente do grupo. Já a pirata Patty é uma personagem completamente nova, com ataques baseados em sorte. A adição dos dois é natural, com participação integral nas cenas de história e nas conversas opcionais, por mais que dê para notar que não há tanto impacto da presença deles na trama.


A nova dupla de heróis e decisões da produtora criaram uma situação problemática na dublagem. A Bandai Namco aproveitou as vozes em inglês do original e fez novas gravações para o conteúdo inédito. O problema é que nem todos os dubladores retornaram, fazendo com que alguns personagens tenham duas vozes diferentes — um exemplo claro é o protagonista Yuri. O resultado ficou bem estranho e destoante, principalmente em momentos em que a troca acontece várias vezes em uma mesma cena. É uma pena esse tratamento da produtora, já que a dublagem em inglês é ótima. Por sorte, essa versão conta com o áudio japonês original, que não tem nenhum desses problemas.

A versão para Switch está competente e roda bem tanto no modo portátil como no docked. A ação é mais fluida nas batalhas, já fora delas a taxa de quadros é menor — em locais com muitos elementos, como a cidade de Halure, a queda na fluidez é bem notável. Além disso, no modo portátil alguns lugares ficam claramente mais borrados e levemente estranhos por causa da resolução reduzida. São detalhes que podem incomodar, porém a experiência não fica comprometida. Por fim, todo o texto de Vesperia está integralmente adaptado para o Português Brasileiro.


Um clássico que merece ser revisitado

Tales of Vesperia: Definitive Edition é mais um daqueles JRPGs para aproveitar por dezenas (ou até mesmo centenas) de horas. A jornada pelo mundo de Terca Lumireis é bem envolvente por causa da presença de personagens carismáticos e com bom desenvolvimento, um sistema de batalha empolgante e uma quantidade extensa de conteúdo. Algumas características do jogo podem parecer limitadas ou datadas, afinal fazem mais de dez anos desde o lançamento original, no entanto o título envelheceu bem e oferece uma experiência divertida. Com muitas qualidades, Tales of Vesperia: Definitive Edition é um JRPG que vale a pena conferir.

Prós

  • Elenco de personagens cativante e bem construído;
  • Aventura extensa, com um mundo repleto de conteúdo;
  • Sistema de batalha ágil e com mecânicas envolventes;
  • Áudio e visual ótimos, com gráficos em cell shading que envelheceram bem.

Contras

  • Dublagem em inglês inconsistente;
  • Andamento da trama lento em alguns momentos;
  • Alguns trechos com visual pobre no modo portátil.
Tales of Vesperia: Definitive Edition — Switch/PS4/XBO/PC — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Vinícius Rutes Henning
Análise produzida com cópia digital cedida pela Bandai Namco
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é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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