Análise: Tiny Metal (Switch) é divertido, mas não muito surpreendente

Em uma aventura de estratégia baseada em turnos, você deve gerenciar suas tropas e recursos para vencer os inimigos e salvar sua nação.

em 30/01/2019

Cerca de 50 anos após o conflito conhecido como a Grande Guerra Mundial, o mundo ainda sofre com as consequências da devastação e do derramamento de sangue. O cessar fogo chegou, trazendo uma luz de esperança para o povo, mas a atmosfera ainda permanecia carregada com a podridão de seres vivos em decomposição. As poderosas armas utilizadas no conflito causaram interferência em equipamentos eletrônicos, atraso no desenvolvimento tecnológico e deixaram os remanescentes da civilização, que ainda se curavam de suas cicatrizes, lutando pela sobrevivência em numerosos conflitos em busca de recursos cada vez mais escassos. O planeta se tornou apenas uma sombra de sua antiga glória.

Retorno ao campo de batalha

Em Tiny Metal, o jogador participa de uma nova fase dessa história a partir do ponto de vista do Tenente Nathan Gries, um oficial do Reino de Artemisia. A nação é descrita como um lugar de belas montanhas e florestas, que se tornou alvo de vários vizinhos, palco de inúmeras batalhas e que ainda não se recuperou totalmente da guerra, precisando defender constantemente suas fronteiras de invasores.


Após vencer um evento conhecido como “A Batalha de Zeltzer”, um breve período de paz chegou ao povo de Artemisia. Até que um dia, durante o retorno de uma missão diplomática, a aeronave real foi abatida por uma nave de combate não identificada, transformando essa tranquilidade temporária em tristeza e revolta. Com o Rei dado como falecido, e o herói da nação e mentor de Nathan desaparecido, coube a ele e sua equipe procurar por pistas de onde o avião teria caído, e a resposta encontrada foi a isolada e misteriosa nação Zipang: um Xogunato composto por vários clãs, onde os mais influentes controlavam o poder.

Mais uma vez Artemisia precisa recorrer às armas, e Nathan, responsável pela unidade de defesa costeira, recusou-se a desistir de procurar por pistas do Rei e do coronel Lindberg, entrando em conflito direto com as forças zipanesas. Durante a campanha, ele encontra aliados, descobre inimigos e passa por diversas situações cheias de reviravoltas, em uma história que se esforça para alcançar um certo nível de complexidade, tornando-se interessante, porém previsível. Muitos clichês utilizados são facilmente identificados, principalmente por quem geralmente acompanha animes. Sobre os personagens, a maior parte é bem carismática, com roupas espalhafatosas e estilos únicos que representam sua facção.


Um game bastante oriental, em que o desenvolvimento da narrativa é forçado em longos, e muitas vezes desnecessários diálogos, através de caixas de texto que ocorrem entre as missões, como também acontece na maioria dos RPG’s japoneses. Ao menos os desenvolvedores tiveram a sensibilidade de colocar opções para rolamento automático do texto — que não está disponível em português — ou pular rapidamente esses intervalos para os jogadores que não estão interessados na história. Se os barulhos que acompanham os textos forem muito incômodos, uma dublagem em japonês pode ser ativada nas opções. As imagens são estáticas, mas as feições dos personagens são alteradas de acordo com o diálogo, o que ainda assim não significa que todas as ocasiões são perfeitamente representadas.

Aquele que controlar o dinheiro controlará o poder

Por outro lado, naquilo em que o jogo propõe como seu ponto forte, que é o gameplay, ele se sai bem. É possível identificar uma forte inspiração em Advance Wars (GBA), com diversas mecânicas iguais ou parecidas, mas Tiny Metal ainda assim possui sua identidade própria. Entre os elementos em comum com o título do Game Boy Advance podemos citar a captura de edifícios para aumentar os recursos e “fábricas” (quartéis-generais) para poder criar novas tropas — e também aeroportos. Também o estilo de combate onde conseguimos ir aprendendo qual unidade é mais eficaz contra qual naturalmente, o fato de cada uma delas ser na verdade um grupo e ir diminuindo de acordo com o dano recebido e os objetivos simplificados: derrotar todos as tropas inimigas ou capturar sua base.


Teremos à disposição unidades terrestres de infantaria, veículos e blindados, além de aeronaves. Infelizmente, a água no game serve apenas como delimitador de movimento, já que as unidades terrestres não passam por ela, e não existem navios e/ou submarinos. Exceto em casos isolados, como com os Snipers e STRIKER (lança-foguetes), que conseguem acertar adversários a uma determinada distância. A grande maioria das tropas ataca somente dos espaços laterais os inimigos, considerando-se as posições vertical e horizontal, sempre ignorando as diagonais.

Trata-se de uma limitação estranha para um jogo todo construído em 3D — que aliás possui excelentes opções de visões de câmera, todas isométricas —, mas talvez a explicação venha da mecânica de combate, que lembra também um pouco uma outra série de estratégia conhecida pelos nintendistas: Fire Emblem. Em Tiny Metal é possível visualizar antes mesmo de realizar o ataque a porcentagem de dano que será causada ao inimigo, bem como a chance de causar um acerto crítico. Atacar o adversário sem derrotá-lo significa receber dano de volta.


Por conta disso, muitos fatores devem ser levados em consideração: atacar por trás uma unidade causará mais dano que pela lateral, e que ainda é melhor do que frente à frente. Mas o ataque normal não é a única opção. Existe um movimento chamado Assault, que faz sua tropa tomar o lugar do inimigo sempre que ela sobrevive ao ataque, e outro chamado Lock On, propicia que mais de uma unidade possa focar em um mesmo inimigo para um ataque conjunto. Elas podem ser utilizadas estrategicamente a fim de superar certos problemas, como derrotar rapidamente uma unidade inimiga mais resistente ou impedi-los de capturar alguma estrutura.

Outro ponto importante a ser considerado ao movimentar nossas tropas são os diferentes tipos de terreno: um barranco ou uma floresta tendem a proporcionar uma melhor cobertura, e portanto um aumento na defesa da infantaria durante o combate, mas veículos não sobem encostas e não se movem na mesma velocidade em meio a árvores. Tropas podem ser curadas em pontos já dominados, em troca de dinheiro e de um pouco da pontuação da missão. Cada ícone de unidade no mapa, na verdade, representa um grupo delas. A quantidade varia de acordo com o tipo. Como exemplo, o grupo de atiradores de elite é composto por apenas dois deles. Enquanto a maioria dos veículos e helicópteros são grupos de três, a infantaria básica consiste em dez soldados e aviões e blindados maiores são na verdade apenas uma unidade isolada. Perder parte daquele grupo significa uma menor eficiência na próxima vez que entrar em combate.


A inteligência artificial do game é bastante capaz, e dificulta nosso avanço sempre, sem desistir ou se entregar, proporcionando um ótimo desafio. Algumas missões precisarão ser repetidas, e irá parecer que o inimigo tem vantagem, já que eles conseguem juntar recursos rapidamente, mas basta entender como ganhar terreno e assim capturar os edifícios de cada mapa para se sobressair. Como já foi dito, as unidades são aprimoradas em batalhas ou capturando esses pontos, por consequência melhorando seus atributos, mas isso funciona apenas para cada missão específica, reiniciando na seguinte. Porém, existem unidades especiais, os heróis, que permanecem com seus aumentos de patente nas missões posteriores caso tenham sobrevivido até o final da atual, mas eles apenas podem ser chamados através de edifícios específicos.

Muitos dos terrenos encontrados no mapa são prédios, fábricas, e outros tipos de construção. Apenas unidades de infantaria podem capturá-los, e o número de soldados que compõem aquele grupo no momento definirá quantos turnos serão necessários para tomá-los. Se estiverem 100% saudáveis, com dez soldados de infantaria por exemplo, geralmente precisarão de duas rodadas. Obviamente, os inimigos poderão atacá-los, impedindo que a tomada ocorra como planejado, e aí está a questão principal do game: apesar de ele ter essas diversas camadas estratégicas, como terreno, administração de recurso financeiro e a busca estratégica pela captura de pontos no mapa, no fim das contas, geralmente quem ataca primeiro fica com a vantagem, e quem consegue rapidamente ter controle sobre esses pontos que fornecem recursos, irá gradualmente vencer a batalha, tornando a experiência mais rasa do que deveria ser a princípio.


A campanha principal consiste basicamente em ir de missão em missão, sendo que todas possuem o mesmo objetivo, enquanto desbloqueia novos tipos de unidade e acompanha a história. É possível encontrar nos mapas algumas pistas que levam a missões secundárias, mas fora isso e a dificuldade gradual não há variação na jogabilidade. Apesar dos problemas, o game é bastante desafiador e divertido, e cada partida custará um bom tempo livre e bastante atenção para ser finalizada. Há ainda a possibilidade do aumento de desafio após terminá-lo, através do New Game +. Infelizmente, e também surpreendentemente, acessar esse modo mais difícil requer que apaguemos o save principal do jogo, o que não faz sentido em um hardware moderno como o Switch.

Uma guerra fofa

Apesar da história pesada, e de ser um game que se leva bastante a sério, a escolha de arte gráfica utilizada no game deixa tudo muito leve e engraçado. A técnica de low poly, que utiliza modelos em 3D propositalmente menos detalhados, e está presente também em jogos como Horizon Chase Turbo (Multi) e State of Mind (Multi), acaba deixando o visual do game simples e bonito, além de colorido, mas os soldados e até veículos ficam parecendo brinquedos interativos. Há também belas animações que ocorrem a cada ataque, mas que podem ser desativadas para acelerar a partida. Apesar de a geografia dos mapas ser diferente entre cada missão, o que representa na prática diferentes obstáculos a serem ultrapassados, os elementos são sempre os mesmos. Não há variação climática ou qualquer característica que diferencie por exemplo um país do outro, o que é uma pena.

Outro ponto divertido é relacionado aos efeitos sonoros. As frases de cada tipo de unidade são engraçadas, lembrando clássicos do gênero de estratégia em tempo real como a série Command & Conquer. Os demais barulhos de tiros, explosões e movimentação de veículos foram muito bem escolhidos, e a trilha sonora, apesar de contar com poucas canções, é muito bonita e cumpre seu papel. O game conta até mesmo com duas cinematics. A primeira aparece ao esperar um pouco na tela principal, enquanto a segunda apresenta a missão final da campanha. Esses vídeos possuem uma ótima qualidade, e mostram um pouco mais de ação, fazendo-nos imaginar como seria o game se sua mecânica principal não fosse por turnos.

A cavalaria chegou

Além da campanha, Tiny Metal conta ainda com um modo chamado de Skirmish, em que é possível jogar contra até três adversários controlados pela CPU em mapas únicos e geralmente espelhados, com os dois lados possuindo os mesmos recursos. Esse modo dá sobrevida ao jogo, e varia levemente a jogabilidade, já que mais uma vez, a inteligência artificial é muito bem balanceada. E eles não se juntam para acabar com você. Pelo contrário, podem se atacar de forma bastante capaz, aproveitando oportunidades, e tentando impedir qualquer adversário de obter vantagem. Existem também menus com informações diversas, como uma enciclopédia, que pode ser útil para revisar as informações já adquiridas até o ponto que estiver na jogatina.


Porém, recentemente o game recebeu uma grande atualização de conteúdo, aumentando a campanha principal em mais cinco missões, que conseguiram deixar a história um pouco mais interessante, e dá vontade de saber um pouco mais sobre o futuro dos personagens. Além disso, a grande novidade dessa atualização foi a implementação de um modo player versus player online. Durante a análise, eu consegui testá-lo apenas uma vez, mas é bem fácil de se criar uma sala, escolhendo um mapa e definindo opções para abrir um lobby e esperar por um adversário, ou acessar uma sala já aberta caso esteja disponível. O modo funciona apenas para dois jogadores, e infelizmente, tem um ponto baixo, que é poder ver o cursor do adversário na vez dele. Aumentar o tempo disponível para cada turno, que por padrão é de um minuto é muito importante, mas totalmente possível nas opções. Já a conexão funcionou perfeitamente, lembrando que é preciso ter uma assinatura do Nintendo Switch Online para poder utilizá-lo.

Bandeira Branca

Nem tudo é perfeito em Tiny Metal, mas ele também possui suas virtudes. O carregamento inicial é bastante extenso, demorando geralmente em torno de um minuto. Em mapas maiores, o game pode sofrer ocasionalmente com queda na taxa de quadros por segundo, principalmente em modo portátil. Mas ainda assim, ele me entreteu bastante nas 50 horas que passei com ele. Superar os desafios do game, especialmente as últimas missões, gera uma sensação de realização e de dever cumprido. Para quem ainda se preocupa com o fator replay, é possível conseguir medalhas de bronze, prata e ouro, de acordo com a pontuação em cada missão, e agora com o modo multiplayer dá para chamar um amigo e ver quem é o melhor comandante estrategista. Além do mais, o game foi feito com carinho e atenção a detalhes, recebeu conteúdo extra gratuito e é super divertido e fácil de aprender a jogar. Se eu pudesse, gostaria de ter esculturas colecionáveis de cada tipo de soldado em casa. São muito adoráveis!


Prós:

  • Divertido e desafiador;
  • Possui uma boa quantidade de conteúdo;
  • Boas opções de incentivo a rejogabilidade;
  • Bela direção de arte, trilha e efeitos sonoros.

Contras:

  • Muito diálogo;
  • Sofre com o problema de first-move advantage;
  • Carregamento inicial demorado;
  • Não há muita variação na jogabilidade ou cenários de batalha;
Tiny Metal — PC/PS4/Switch — Nota: 7
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: André Carvalho
Análise produzida com cópia digital cedida pela Unties

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