Nos últimos anos, o subgênero roguelike deixou de figurar apenas em RPGs para abraçar a maioria das categorias de jogos, tornando-se cada vez mais comum na cena independente, com o objetivo de proporcionar experiências diversificadas e duradouras, ou mais desafiadoras para os jogadores, por conta da morte permanente dos personagens. Porém, o estilo foi tão amplamente utilizado em um curto espaço de tempo, e contando com alguns péssimos exemplos de desenvolvedores que não souberam utilizar a geração procedural de forma coesa para criar mundos interessantes, que esse tipo de gameplay logo ficou saturado, e alguns jogadores ainda “torcem o nariz” quando se informam sobre os próximos lançamentos e descobrem que algum se trata dessa categoria.
Por outro lado, existem também alguns grandes casos de sucesso, como Dead Cells (Multi), The Binding of Isaac (PC) e Enter the Gungeon (Multi). Games que utilizam a geração procedural de forma mais complexa, com os mapas parcialmente criados a mão, e a aleatoriedade dos cenários sendo trabalhada através de regras muito bem trabalhadas, ou focando em uma grande quantidade de elementos, que prendem a atenção do jogador e fazem-no insistir em chegar o mais longe possível na próxima tentativa para descobrir mais sobre o que aquele mundo tem a mostrar. O certo é que todos esses jogos entregam uma experiência única a cada “start” e um gameplay gratificante, recompensando as muitas horas que precisam ser investidas para masterizar nossas habilidades a fim de sobreviver às suas masmorras.
Everspace parece, felizmente, se inspirar no que deu certo, mas com a novidade de fazer o subgênero funcionar dessa vez em um shooter espacial tridimensional. A premissa básica do game é permitir ao jogador explorar diferentes setores de uma galáxia em sua nave, enquanto trava batalhas contra facções hostis e explora diversos ambientes, buscando por combustível e angariando materiais e peças para melhorar suas armas e equipamentos.
No controle de um piloto que está sofrendo com loops de memória, seremos introduzidos às principais características de pilotagem e funções de nossa nave pela inteligência artificial conhecida por EVIH. Além de fornecer informações básicas, essa segunda voz proporciona bons diálogos com o nosso piloto durante o game, sendo uma companhia bastante agradável. Ao longo da jornada vamos entender quem somos, os nossos objetivos e o que existe nas coordenadas que temos como ponto final a ser alcançado, em uma história que utiliza de alguns clichês de batalhas espaciais, mas possui seus méritos, explicando melhor que alguns outros jogos do gênero a questão das mortes permanentes.
Boa parte da narrativa é apresentada em pequenas cinematics, animadas de forma simples, como uma tela pintada a óleo que se movimenta um pouco, mas boa parte dos acontecimentos também são desenvolvidos pelos diálogos com EVIH e com outros personagens do game, em algumas breves cenas utilizando os gráficos do game em tempo real. No fim, a aventura entrega um universo interessante, que ainda que conte com vilões pouco carismáticos, traz batalhas incríveis e muita ação, além de bons motivos para continuar jogando mesmo após derrotá-los e finalizar a missão principal.
Por conta das muitas opções customizáveis, cada jogador poderá personalizar sua experiência de forma intimista, desde que as suas armas e equipamentos preferidos sejam encontrados, ou que você reúna os materiais necessários para criá-los após conseguir a receita. Existem três modelos de câmera, e tanto a vista da cabine quanto a em terceira pessoa são úteis em ocasiões específicas. Das quatro naves à disposição, apenas uma é quase tão manobrável quanto as inimigas, mas mesmo assim perdendo em velocidade. Então nem sempre é fácil acompanhá-los quando realizam manobras evasivas, e portanto, nossa habilidade de tiro e pilotagem deve se unir a bons reflexos e a criação rápida de estratégias.
Através de um sistema bem simples, os materiais podem ser utilizados para criação de novas armas e equipamentos, para melhorar os que já estão em funcionamento e para realizar reparos na nave, além de funcionar como moeda de troca com comerciantes. Quanto mais jogamos, mais estaremos preparados para lidar com as grandes ameaças do game: geralmente as naves maiores e com o escudo e a carcaça mais forte, além de armas poderosas, ou contra um grande número delas. Além disso, grupos neutros podem tornar-se aliados temporários, ou inimigos poderosos, de acordo com as escolhas tomadas durante a jogatina. A morte é parte essencial da experiência do game, e com certeza ajuda a nos fortalecer para a próxima tentativa.
Os gráficos do jogo são agradáveis desde que você esteja a uma boa distância da TV. Infelizmente, se olhar de perto ou jogar no modo portátil os serrilhados ficarão bem aparentes, além de serem facilmente observáveis as explosões super pixeladas. Não seriam questões que incomodariam caso o jogo fosse pura ação, mas tais problemas são visíveis principalmente nos momentos mais calmos, onde a exploração é o foco e precisamos olhar objetos de perto com uma aproximação lenta da nave. Por ser um dos objetivos principais do jogo essa busca por objetos menores, talvez a aparência pudesse ter sido levada mais em consideração, mas não dá pra negar que se tratando de um jogo passado em uma enorme galáxia, o resultado geral está bem aceitável. A trilha sonora é longa e abrangente, contendo canções que combinam exatamente com cada momento da aventura.
Prós:
- Boa variação de armas e equipamentos;
- Controles customizáveis;
- Bastante conteúdo para se descobrir;
- Alternância frequente entre combate e exploração.
Contras:
- Problemas gráficos, como serrilhados aparentes e explosões pixeladas;
- Personagens pouco carismáticos.
EVERSPACE — PC/PS4/XBO/Switch — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Diego Franco Gonçales
Análise produzida com cópia digital cedida pela ROCKFISH Games