Em meio a muitas polêmicas relacionadas à qualidade do port, principalmente por conta da análise técnica realizada pela Digital Foundry, ARK: Survival Evolved chegou ao Nintendo Switch em novembro de 2018. Essa versão sofre desde então com esse estigma de “injogável”, o que é um pouco de exagero. Os problemas estão lá, e são verdadeiros, mas devemos lembrar que um game é uma soma de fatores que vai muito além da parte gráfica e de otimização, mesmo que realmente seja triste quando esses pontos importantes estão tão abaixo da qualidade mínima aceitável. A questão é que, como qualquer produto, ARK no Switch possui seus pontos positivos e negativos.
O game está no momento em sua versão 1.2.0. A atualização melhorou levemente algumas questões visuais, mas não o suficiente para torná-lo mais atraente. Infelizmente ele continua bastante serrilhado, borrado e com baixa resolução, e muitos elementos gráficos, como parte da vegetação, foram sacrificados na versão. Há problemas também em caixas de colisão e em efeitos climáticos. Um exemplo é a chuva. Se você entra em uma cabana, o game demora para desligar as partículas de água e elas “te seguem” por um pequeno período dentro da construção. Lá dentro, mesmo com a porta aberta, não é possível ver a água caindo do lado de fora, e ao sair, novamente o jogo demora para se atualizar à nova situação.
O loading inicial é realmente extenso, tornando incômodas todas as ocasiões de início de jogatina. Se você já joga ARK em alguma outra plataforma, qualquer comparação faz do Switch a mais feia delas. Inclusive, não é a versão mais bonita nem mesmo quando se fala apenas de dispositivos portáteis, pois nos smartphones o resultado visual agrada mais aos olhos. Por outro lado, o framerate no híbrido da Nintendo é bastante estável, e aparentemente, nesse sentido ele vence em relação a outros consoles. Até o momento, esse é um dos ports mais infelizes de jogos multiplataforma a desembarcar no Switch, e sobre isso não há muito o que discutir.
Porém, se você não se importa muito com gráficos ou não abre mão de jogar no seu Switch e está curioso sobre as mecânicas do game, eu posso lhe dizer que ARK é um jogo para se amar ou odiar — eu gostaria de descrevê-lo como um Minecraft (Multi) com esteroides, mas menos focado em construção. A comparação a seguir pode parecer injusta, mas assim como em The Legend of Zelda - Breath of the Wild (Wii U/Switch), seu personagem acorda em um mundo estranho, sem roupas, armas ou ferramentas, e você precisa descobrir como prosperar e sobreviver.
Porém, ao contrário do jogo da Nintendo, onde a área inicial funciona como um mini tutorial, é mais focado em combate e o objetivo final está visivelmente claro, em ARK você está realmente solto para sair por aí e fazer o que quiser, em uma proposta mais voltada à sobrevivência, crafting, doma de criaturas e experiência multiplayer. Apesar de o jogo ter um final, ele não é forçado como objetivo em nenhum momento, bastando ao jogador descobri-lo sozinho, ou com os amigos, em meio a diversas outras opções de objetivos pessoais que podem ser perseguidos.
Se existe um ponto onde ARK falha, é em não ser nada intuitivo. Você pode colher frutas de plantas, mas você não vê frutas em nenhuma planta. O resultado é sempre aleatório e uma mesma planta pode fornecer frutas diferentes em uma mesma colheita. Outro ponto que pode exemplificar essa questão é a possibilidade de domar algumas bestas do jogo. Essa é uma mecânica importantíssima, vital para locomoção e para sobrevivência, mas nenhuma das duas formas de realizá-la faz muito sentido.
Felizmente, há um menu com algumas dicas básicas, e através dele eu fui descobrir que precisamos alimentar as bestas para domá-las, com algumas dificuldades dependendo da forma escolhida. Porém, a parte mais sem noção é que você oferece os alimentos pelas costas do animal. Quem pensou que isso seria uma boa ideia? Só pra finalizar a comparação, enquanto Link consegue derrotar inimigos apenas ateando fogo em mato seco, em ARK você pode acender uma fogueira em uma cabana de palha e nada de ruim acontecerá.
Fatores como saúde, stamina, fome, sede e até o peso devem ser administrados pelo jogador. Você não pode simplesmente carregar o que quiser pra todo lado. Cada objeto, ou grupo deles, possui um peso específico, e ao alcançar os limites suportados pelo seu avatar, ele poderá até mesmo não conseguir pular ou se locomover. Isso pode ser resolvido de diferentes maneiras, seja construindo locais para guardá-los ou passando parte dos itens para seus pets. O clima é outro fator que deve ser levado em consideração. Frio ou calor demais pode ser um problema, e existem até animais que conseguem entorpecer nosso personagem, dificultando a visão por alguns instantes. À noite as coisas ficam bem escuras, então vale a pena ter algumas tochas ou um lugar para se abrigar.
Armas e ferramentas podem se desgastar, mas desde que você possua os materiais disponíveis, será possível repará-las. Já qualquer tipo de material biodegradável irá estragar com o tempo. Essas transformações baseadas no mundo real tornam a experiência relacionada a itens e fabricação em ARK interessante. Quando você luta, caça, trabalha ou cria alguma coisa, sua experiência aumenta automaticamente. À medida que sobe de nível, poderá investir em uma série de atributos para melhorar o personagem, e alguns pontos são disponibilizados para se ter acesso a mais tipos de criações.
De forma bastante abrangente, é possível criar desde itens arcaicos e de extrema sobrevivência como clavas e tochas, até evoluir o suficiente para ter acesso a tecnologia futurista. Tudo que é interativo no game possui seu próprio inventário, portanto, é possível manter vários pedaços de madeira em uma fogueira por exemplo para economizar espaço. Apesar de a vegetação estar bem limitada devido ao port problemático, a fauna da ilha é incrível e diversificada, contando com muitos dinossauros e outros répteis, anfíbios, pássaros, mamíferos e peixes. São mais de 80 criaturas ao todo. A maioria das quais pode ser montada após domada, ajudando no transporte por terra, água e mar.
Elas também serão vitais para alimentação e em combates, e como existem gêneros, a reprodução é uma forma de ter acesso a mais criaturas. Um ponto interessante é que as diferentes bestas selvagens interagem com o jogador de formas também diferenciadas. Alguns apenas vivem suas vidas e não se incomodam com sua presença até serem atacados, enquanto outras são extremamente agressivas, e entrar na sua área sem estar devidamente preparado é morte certa. Algumas criaturas podem ainda nos roubar alguns alimentos. Quando atacadas, algumas fugirão, enquanto outras irão revidar com todas as suas forças, em uma batalha até a morte.
Para prosperar na enorme ilha em que nos encontramos, precisaremos lidar com todas essas dificuldades sabendo que o jogo ainda conta com um sistema de morte permanente. Toda vez que você é derrotado, terá a escolha de renascer em um ponto aleatório do mapa, ou caso tenha criado e posicionado alguns itens específicos no mapa, como um saco de dormir, será lhe dado a opção de renascer neste local. Porém, todos os itens que estavam no seu inventário serão perdidos, a menos que encontre o corpo de sua vida anterior no local da morte. Neste caso é possível recuperá-los. É engraçado que quando são animais carnívoros que nos matam, o máximo que você encontra no local é uma bolsa, e não mais o corpo.
Um outro ponto que me incomodou no game são os controles. A adaptação das muitas opções do teclado de um computador para um controle de videogame não parece uma tarefa simples, sendo que neste caso alguns botões ficaram com até 3 funções diferentes. Usar o chat pode ser facilmente contornado com um serviço de voz, seja lá qual for o de sua preferência. Porém, interações com os pets por exemplo, como dar comandos básicos para eles, são extremamente imprecisas e difíceis de serem executadas. Não era algo que deveria ser tão complicado visto que é feito através de uma roda, em que você só precisa mover o analógico na direção desejada. Alguns menus possuem opções de interação por botões incomuns em outros jogos, e irão exigir algum tempo de adaptação do jogador.
A melhor forma de se aproveitar ARK com certeza é no multiplayer, se possível com os amigos. Para se jogar online é preciso uma assinatura do Nintendo Switch Online, mas eu cheguei a testar uma sala e aparentemente está funcionando muito bem. Uma boa oportunidade é juntar a turma para jogatinas locais, em qualquer lugar, e sem precisar de internet, proporcionado pela tecnologia disponível no híbrido da Nintendo. Eu acabei jogando sozinho mesmo, e senti falta de pessoas para dividir tarefas, histórias e experiências. Por fim, eu sei que muitas pessoas estão certas de relacionar o valor do jogo aos seus problemas, afinal games são investimentos bem caros, principalmente para nós brasileiros. Por isso gostaria de deixar claro que essa análise não leva em consideração ou faz juízo de valor sobre o preço cobrado pela publisher do game.
Já deu pra perceber que a proposta geral de ARK: Survival Evolved é a de um game grandioso, e apesar de seus problemas, ele é enorme em conteúdo, com muitas boas ideias que tem potencial para divertir bastante o jogador. Sua trilha sonora é muito bonita, e traz à tona a sensação da aventura épica e inesquecível. Você criará sua própria história, com desafios que vão desde o básico da sobrevivência até batalhas épicas contra outras tribos em servidores pvp ou contra monstros lendários disponíveis em lugares específicos do mapa. Quando eu disse que o game é do tipo ame ou odeie, quer dizer que quem amá-lo terá com o que se entreter por muitas e muitas horas, e para quem odiá-lo… bem, existem outros jogos muito interessantes por aí.
Prós:
- Conteúdo extenso;
- Framerate estável;
- Ótima trilha sonora;
Contras:
- Sérios problemas de adaptação gráfica;
- Carregamentos muito extensos;
- Controles desconfortáveis;
- Algumas mecânicas importantes são pouco intuitivas;
ARK: Survival Evolved — PC/PS4/XBO/IOS/Android/Switch — Nota: 6.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: André Carvalho
Análise produzida com cópia digital cedida pelo Studio Wildcard