Proteja-se da chuva!
A jornada por Rain World acontece em meio a um labirinto que mistura natureza selvagem com um esgoto steampunk, o Slugcat - personagem jogável que lembra um furão - deve sobreviver de todas as ameaças que o inóspito mundo reserva.Logo de início o jogador irá se familiarizar com as mecânicas que são bastante simples, o pequeno ser pode pular, se esgueirar por entre caminhos estreitos, comer, pegar objetos e arremessá-los. Assim que tiver toda ciência do mínimo que se pode fazer no jogo, a rela meta irá se revelar: a exploração.
E não se engane ao pensar que a exploração se limita aos labirínticos caminhos do mundo criado no game, cheios de predadores de diversas cores e aparências, fontes de alimentos e veredas diversas e facilmente confundíveis. Toda e qualquer ação dentro de Rain World é exploratório, a interação entre objetos e cenários, as ações não inicialmente reveladas de Slugcat e as possibilidades de combate ou evasiva dos predadores.
É um jogo que funciona na tentativa e no erro, num processo de aprendizagem que tem como foco a frustração e a constância, pois é preciso desenvolver certa memória para a disposição de objetos e saídas nos caminhos; enquanto estar sempre atento e preparado é básico, já que a disposição de inimigos é aleatória. A cada espaço novo encontrado o mapa mental do personagem é atualizado, para que seja possível se localizar entre um apuro e outro, mas, depois de tanto pelejar e falhar, o mapa será do próprio jogador.
Mesmo em meio a tanta exploração, é preciso estar atento aos ciclos de enchentes, isso pois, como o próprio nome do jogo denuncia: se trata de um mundo de chuvas, verdadeiros dilúvios que regem o modo de vida de todos os seres vivos dessa terra. Para sobreviver a estes ciclos, o jogador deve estar com seu Slugcat bem alimentado e em um abrigo, um espaço pequeno e isolado que autoriza a pequena criatura a hibernar enquanto a protege da chuva torrencial.
Sobreviver a cada ciclo significa que o personagem evolui a cada hibernação, essa constância é determinante para avançar de uma área para outra, ou seja, passar de nível. Não é raro o jogador estar em um ciclo alto e já ter conhecimento suficiente para seguir para outra área, mas o menor deslize pode custar tudo o que já foi construído e, saiba, o jogo faz questão de acabar com todas as suas conquistas com poucos recursos.
Percebeu que a história ainda não foi comentada por aqui? É porque esta, mesmo existindo e sendo um tanto básica, acaba se tornando uma questão bem secundária no que tange a motivação do jogador, já que o privilégio de sobreviver aos inimigos e a cada enchente é preocupação o suficiente para cada rodada.
Tão desafiador que chega a frustrar
É inegável que o jogo possui um esmero em sua produção, os cenários e concepção dos níveis é impecável, tem uma beleza única e bastante peculiar. Os vários labirintos, divididos em áreas, têm identidade e sua comunicação é bem interessante aos olhares que vão além de uma jogatina superficial.Além da animação de qualidade impressionante, a fluidez no movimentos de todos os personagens e cenários é de encher os olhos, a jogatina perde em muito pouco para as artes conceituais. O jogador se sentirá facilmente imerso neste mundo e crerá que os seres animados realmente têm vida para além dos pixels programados e rendenizados pelo console.
Um ponto crucial neste título é como sua dificuldade pode dividir um público facilmente, mesmo sendo dividido (em sua versão mais recente) em três modos de dificuldades, não se trata de um jogo fácil. A fraqueza do protagonista em meio ao úmido mundo é castrante para um jogador que precisa de maiores reforços positivos durante a jogatina.
Enquanto o desafio e experiência de sobrevivência pode servir como tal reforço para os jogadores que se interessam pelo estilo e se contentam com a felicidade de apenas não morrer entre um ciclo e outro. O game até possui alguns elementos que suavizam a dificuldade, mas eles são tão eficazes quanto um pós-sol depois de uma insolação. Ajudam, mas não anulam a sensação ruim.
Um ponto que pode coibir com a frustração são os controles um tanto imprecisos em certos momentos da jogatina, não é difícil para o Slugcat não subir em cenários e relevos com tamanho suficiente para ele escalar, não serão poucos os momentos em que essas imprecisões serão empecilhos determinantes para a sobrevivência de cada ciclo.
As dificuldades se dividem em três: o Slugcat amarelo, a presa; o branco - único disponível na primeira versão comercial do jogo -, onívoro; e o laranja, predador, que não se alimenta de nenhuma frutinha ou seres pequenos. Os labirintos e disposição de alimentos básicos são iguais para os três, porém a disposição e letalidade dos inimigos diverge, para pior.
Rain World é um jogo cheio de armadilhas, há inúmeros inimigos que o jogador poderia jurar de pé junto que são apenas seres inofensivos que coabitam aquele mundo terrível e cruel. Ter os sentidos abertos para cada passo dado é um conselho precioso para aqueles que se aventurarem por esse título.
Por fim, o jogo possui uma trilha sonora simples, porém imersiva, a mesma não desponta, porém não desaponta. Se trata de um jogo bem idealizado, ao mesmo tempo em que é impiedoso e nada auspicioso. Esteja ciente e psicologicamente preparado aquele que se aventurar por entre os perigosos e estreitos caminhos dessa jornada e tente sair vivo para contar história.
Prós
- Jogo com design artístico belo;
- Trilha sonora imersiva e bem composta;
- Level design bem feito;
- Título desafiador a cada segundo.
Contras
- Alto nível de dificuldade que pode ser frustrante para alguns jogadores;
- Controles imprecisos em certas partes do jogo;
- Pouco reforço positivo para engajamento do jogador;
- História e motivação do personagem de caráter secundário.
Rain World - PS4/PC/Switch - Nota: 6.5
Versão para análise: Switch
Análise produzida com cópia digital cedida pela Adult Swin Games