Análise: Spintires: MudRunner - American Wilds (Switch) é labuta em meio a muita lama

Equipe o seu caminhão, ligue os motores, e saia em uma aventura off-road para entregar cargas em um simulador de terrenos com grande foco em física realista.

em 29/12/2018

Se você é o tipo de pessoa que ama a vida sobre rodas e divide essa paixão com o gosto por games, já deve saber que nem tudo na vida é feito de corridas alucinantes e automóveis cheios de estilo. Grandes motores também podem estar presentes em enormes monstros de carga. Dando continuidade à proposta iniciada em Spintires (PC), a Saber 3D apresenta aos fãs da Nintendo o jogo Spintires: MudRunner - American Wilds, a versão mais completa da sequência do primeiro título.

Para aqueles que ainda não o conhecem, ele proporciona uma diferenciada experiência que testará as habilidades de direção do jogador. O objetivo é percorrer estradas de terra lamacentas, bancos de areia ou matas fechadas, atravessar rios e lagos e até subir por barrancos rochosos para cumprir objetivos, que, por fim, culminam na entrega de cargas de toras de madeira em pontos específicos do mapa. Um ponto importante a citar é que basicamente tudo no game é desbloqueado aos poucos, de acordo com o progresso do jogador, trazendo à tona aquela sensação de dever cumprido em cada etapa, e novidades fresquinhas para a próxima missão.



Para isso, temos à disposição poderosos veículos, em sua maioria caminhões, que suportam todo tipo de terreno. Muitos deles são licenciados, de marcas conhecidas, como Hummer, Ford e Chevrolet. Porém, nem todos são veículos de carga, ou próprios para off-road. Há utilitários que são utilizados para chegar rapidamente até os outros caminhões e oferecer algum tipo de reparo, ou ativar torres de vigia que expandem a visão de uma área do mapa. Há ainda alguns caminhões que são próprios para estradas de asfalto, que podem, por exemplo, ser utilizados para transportar combustível. Mas quem define a estratégia é quem comanda o volante e é possível inclusive realizar as próprias escolhas de veículos disponíveis inicialmente ao se preparar para uma nova missão.

MudRunner funciona no estilo sandbox, com mapas de tamanho considerável, que precisam ser explorados e, além dos objetivos principais, de entregas, há algumas missões secundárias. Apesar de possuir um tutorial bem simples, o modo Desafio é que realmente ajuda a entender os principais conceitos do game, permitindo aos novatos uma maneira agradável de se adaptar à jogabilidade em missões mais curtas e objetivas, antes de ter que cuidar de si mesmo nos grandes cenários que podem ser percorridos livremente no modo Um jogador, ou no Multijogador (até 4 players online). E sim, o game conta com o idioma português brasileiro.


Iniciando a primeira partida, o que me chamou logo a atenção foram os gráficos, tanto por aspectos positivos quanto negativos. Em uma primeira impressão, o que vi na maior parte do tempo foram matas fechadas e estradas de terra, de cores opacas e uma sensação visual de um game que foi muito bonito na geração passada. A vegetação é modelada de forma simples, e pouco variada, com alguns trechos como exceções. A falta de vento também foi um aspecto que pra mim fez falta, e poderia deixar a mata um pouco mais vívida.

Porém, em um segundo olhar, percebi que os veículos são bastante detalhados, e o jogo quebra esse contato com a natureza com pequenas aglomerações de construções em alguns cenários. Elementos como varais, placas de “vende-se” e latas de lixo ajudam a compor a sensação de um lugar vivo, mas infelizmente, o jogo para por aí. Há placas de cuidado com os animais, como alces, mas só consegui encontrar pássaros, voando após usar a buzina. Estamos sozinhos com nossos veículos em meio a uma natureza praticamente sem fauna e com flora limitada.


Os mapas possuem diferenças geográficas, mas faltaram opções climáticas como neve e chuva. A maior parte das texturas são agradáveis aos olhos, e há uma enorme preocupação com a física, que é o grande ponto alto do jogo. O ambiente pode ser alterado de acordo com as ações do jogador: rastros de rodas modificam áreas de terra mais úmida, bem como a própria lama suja os caminhões de forma realista. Até pequenas árvores quando atingidas podem ser derrubadas, ou deixarem alguns galhos agarrados no veículo, enquanto outras mais fortes e com tronco mais grosso causam dano aos caminhões.

Ao sair de rios e lagos, nossas rodas estarão limpas e se sujarão com o passar do tempo, dependendo do terreno à frente. Por outro lado, as animações da água e lama ao redor do caminhão parecem fazer o processador do Switch suar bastante, e o jogo pode perder levemente o desempenho por conta disso em alguns momentos, mas nada tão sério que comprometa a diversão — se você realmente se importa com gráficos, a queda de resolução no modo portátil tende a deixar o jogo levemente embaçado.


A física apurada do game também afeta diretamente o gameplay, e é incrível como é possível diferenciar facilmente o peso de cada veículo e sua dificuldade em transpor terrenos, só pela ação de acelerá-lo ou pela força necessária para mantê-lo no curso, principalmente ziguezagueando ou segurando-o para não tombar. É possível perceber nitidamente as diferenças quando o veículo está ou não carregado, ou em diferentes terrenos, como terra, lama, areia e asfalto, e essa sensação é única para cada veículo. Ao tentar passar pela água, é preciso se preocupar tanto com a direção, quanto com a profundidade, pois afundar muito pode danificar o motor, e acabar até virando o caminhão.

A câmera funciona perfeitamente na maior parte do tempo, fazendo alguns ajustes automaticamente, mas também permitindo ao jogador controle total em 360 graus. É possível utilizar também uma câmera de dentro da cabine, com a curiosa opção de virar o “rosto” para os lados, mas ainda assim, a visão é limitada, e por isso é mais fácil utilizar a câmera normal, de ponto de vista externo. Outro ponto interessante é a animação do piloto dentro do caminhão, acompanhando com exatidão os movimentos realizados no controle. O Rumble HD não foi utilizado de forma expressiva. Eu diria até que parece um rumble normal, mas ainda capaz de lembrar vagamente a tremedeira de um volante.


Existem muitas opções para equipar os caminhões, desde pequenos equipamentos para reparo e galões de combustível, até imensas cisternas, reboques e gruas ou escavadeiras. Guinchos de cabos de aço podem ser fixados rapidamente a diversos lugares, seja para rebocar um caminhão, ou salvá-lo de um tombamento, ou em árvores, para puxar o veículo para sair de um atolamento ou subir uma ladeira mais complicada. Existem situações em que utilizar marcha manual pode ser uma interessante opção para economizar combustível ou deixar a situação ainda mais sob controle. Além disso, o bloqueio do diferencial ajuda na direção em determinadas situações, e usar a tração integral costuma ser essencial em qualquer lugar que não seja asfalto.

Toda a aventura funciona em ciclos de dia e noite, e será preciso ligar os faróis para enxergar um pouco em meio à escuridão. Porém, há dois níveis de dificuldade e as diferenças entre eles são importantes. No modo Casual, é possível pular a noite em troca de uma certa quantidade de combustível, recuperar automaticamente os veículos saltando para a garagem mais próxima, e danificar os caminhões não possui tanto impacto na direção, entre outras mudanças menores. Já no modo Simulação, utilizar o bloqueio de diferencial em superfícies rígidas pode danificar o caminhão, a direção do veículo como um todo é muito mais realista e os troncos precisam ser carregados manualmente nos caminhões


Para isso, usaremos as gruas citadas. Nesse ponto, precisamos parar o caminhão próximo ao tronco, e entrar no modo de operação do braço articulado. Demora um pouco para se acostumar — ao menos para quem não fazia ideia de como funciona um equipamento desses —, e eu senti falta do controle da câmera ao entrar nesse modo, já que a operação precisa dos dois analógicos. Mas é uma experiência interessante, principalmente quando você consegue carregar toda a carga corretamente. Isso soma ainda mais pontos que provam que em termos de simulação esse é um jogo realmente impressionante.

Senti falta de um pouco mais de música também, já que ela está presente somente no momento em que chegamos nas serrarias para fazer a entrega de cargas. No entanto, entendi que isso causa uma imersão maior do jogador com a natureza ali presente, proporcionando a audição do canto dos pássaros e principalmente de seus veículos, pois cada um tem seu ronco do motor e até barulhos na lataria simulados de forma realista, agradando aos mais puristas e apaixonados por essas máquinas sobre rodas.


Por fim, por conta do game ter sido feito com usuários de PC em mente, algumas opções de interface acabam não sendo tão confortáveis no controle. Utilizar o GPS adequadamente exige um bom tempo de prática e entendimento das diversas opções disponíveis, e isso tudo para realizar a simples tarefa de traçar uma faixa vermelha sobre pontos do mapa que desejamos seguir. Apesar do número de pontos ser limitado, esse não é o grande problema, e sim que ao saltar de um veículo para outro, o traçado muda automaticamente, geralmente se embaralhando e precisando ser refeito ou modificado.

Apontar corretamente o local do guincho também não é tarefa fácil, pois nesse caso, é preciso mover a câmera até o ponto desejado ficar em destaque. Uma boa opção seria colocar um cursor de seta, igual na versão do PC. Há jogos no Switch que utilizam essa ferramenta sem nenhum problema, mesmo precisando de ações rápidas. Spintires MudRunner é um game que não apressa o jogador, permitindo-o tomar decisões com calma e tranquilidade a fim de obter o melhor resultado.


Parece ser repetitivo apenas entregar troncos por aí, mas o relevo diferente de cada mapa faz com que o jogador passe por diferentes situações, e precise resolvê-las de formas distintas. O início foi difícil, mas depois de me dedicar um pouco mais ao game e entender suas nuances, eu não queria mais parar de jogar, e passei a criar diferentes estratégias, como deixar caminhões de combustível no meio do caminho dos de transporte, para facilitar o abastecimento, ou rebocar um veículo de carga com outro, para realizar dois transportes ao mesmo tempo.

Se você está cansado de jogar sempre os mesmos tipos de game, deseja ligar o console e descansar um pouco a mente ou gosta de jogos de simulação com física realista, Spintires: MudRunner - American Wilds já possui todas os DLCs lançados até o momento, e é uma experiência calmante, desafiadora e divertida, que pode ser aproveitada sozinho ou em comboio com os amigos online — testei e está funcionando bem. É uma experiência bastante gratificante!

Prós:

  • Ótimo simulador de terrenos, com física apurada;
  • Veículos bem detalhados;
  • Liberdade estratégica para progredir como quiser;
  • Animação de sujeira bastante realista.

Contras:

  • Gráficos no geral não impressionam;
  • Problemas de interface;
  • Não há alterações climáticas.
Spintires: MudRunner - American Wilds — PC/PS4/XBO/Switch — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Arthur Maia
Análise produzida com cópia digital cedida pela Focus Home Interactive

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.