Há quem, em 2018, ainda diz que os novos jogos da Big N são fáceis. Uma das formas mais simples de refutar esse tipo de comentário é mostrar a genialidade (e a dificuldade) de Donkey Kong Country: Tropical Freeze ao resgatar a essência de games como Donkey Kong Country (SNES) e ao conseguir inovar em diversos aspectos positivamente. Essa aventura, lançada originalmente para Wii U, ganhou espaço no Nintendo Switch este ano com algumas novidades — mas que não são necessariamente o grande destaque.
Fica, vai ter bolo (de banana)
A história começa com a chegada de novos inimigos com uma temática de animais árticos, prontos para “dominar” o habitat de Donkey Kong e companhia. As cutscenes são muito bem feitas e há um grande cuidado expressivo nas personagens, muito semelhante ao trailer de anúncio de King K. Roll para Super Smash Bros. Ultimate. Com todo o cenário montado, a temática tropical versus a influência gelada é a pauta principal dos cenários do game, criando uma nova perspectiva do que já estamos acostumados a ver na série.
De fato, alguns os jogos de plataforma atuais não são exatamente o que eram antes, sejam eles 3D ou 2D, principalmente se comparados à qualidade de alguns aspectos dos games das décadas de 80 e 90, cabendo o “renascimento” deles nos últimos anos para algumas franquias, incluindo a série Donkey Kong. Felizmente, Donkey Kong Country: Tropical Freeze é um dos melhores e mais polidos jogos do gênero que tentam resgatar os apegos nostálgicos, mas sem esquecer de criar novas ideias e melhorar o desempenho gráfico de acordo com a atualidade.
Como na versão para Wii U, Tropical Freeze mantém muitos aspectos positivos de Donkey Kong Country Returns (Wii) e adiciona mais possibilidades e novas opções de jogatinas. Com uma resolução mais alta, como é mostrado na comparação entre as versões pelo canal Digital Foundry, é possível uma visão mais ampla do cenário e um aperfeiçoamento de pequenos detalhes e de texturas notáveis. Já que a versão do Wii U só foi capaz de exibir o game em 720p, o salto para 1080p no Switch, quando está no modo dock, realça a estética maravilhosamente bem e mostra o magnífico trabalho da direção de arte.
Além do mais, as telas de carregamento, os famosos ‘loadings’, são mais rápidos na nova versão. Tudo isso contribui para uma melhoria de desempenho extremamente positiva, sem contar uma nova oportunidade de explorar Tropical Freeze on the go para os consumidores que não compraram o game no Wii U.
Outro aspecto louvável de Donkey Kong Country: Tropical Freeze é a soundtrack. É incrível como os desenvolvedores conseguiram realizar novamente uma qualidade acústica memorável como nos seus antecessores, com uma breve menção ao querido Donkey Kong Country 3: Dixie Kong’s Double Trouble! (SNES). A qualidade artística desse game é elogiável em todos os aspectos, restando ao Switch a honra de receber um port que valorizou ainda mais o trabalho dos criadores.
Sem medo de ser difícil
Entretanto, isso é proposital, ou pelo menos me passou essa impressão. Cada personagem jogável possui uma forma exclusiva de jogar, sendo eles Donkey Kong, Diddy Kong, Dixie Kong e Cranky Kong — e Funky Kong, que falaremos especificamente sobre ele logo abaixo. A primeira aparição jogável de Dixie foi em Donkey Kong Country 2 de Super Nintendo, mas Cranky Kong nunca foi um personagem jogável até a chegada de Tropical Freeze.
Quando o assunto é sobre o cuidado na elaboração das fases, o minecart precisa ser mencionado. As fases que possuem o famigerado carrinho de mineração são bem desafiadoras, além de serem visualmente bonitas. Infelizmente não há muitos animais amigáveis dos jogos antigos, como Enguarde, o peixe-espada, e Rattly, a cobrinha saltitante, apenas Rambi, o rinoceronte, está presente nessa versão.
Além disso, há interações do primeiro plano com o fundo do jogo diversas vezes, principalmente quando o jogo disponibiliza barris que devem ser acionados no momento certo para coletar peças de quebra-cabeça ou letras restantes para formar o anagrama KONG. Tudo isso mescla uma visão totalmente positiva do gênero plataforma 2.5D, principalmente pelo cuidado dos desenvolvedores em esconder segredos minuciosamente em cada fase.
Os chefes, a princípio, parecem simples e pouco memoráveis. No entanto, para a minha surpresa, cada animal que enfrentei durante a jogatina me surpreendeu, visto que a sequência de ataques e a indução pouco lógica do que fazer durante a batalha fez com que eu tivesse algumas tentativas falhas antes de efetuar corretamente o comando contra o chefe, gerando aquela boa sensação de desafio concluído no final.
Já no modo cooperativo, em que os jogadores podem dividir os Joy-Con, a dificuldade continua a mesma (talvez até mais difícil). Como as ‘vidas’ são divididas e há uma dependência do outro jogador para que tudo flua como esperado, a interação entre os jogadores é bastante positiva, mesmo que no modo portátil isso se torne mais difícil pelo tamanho da tela.
Contudo, há problemas nesse modo cooperativo. O jogador que domina a câmera não tem problemas de acompanhamento, mas o coadjuvante sofre ao se deparar, várias vezes, fora da tela e impedido de explorar certas áreas sem a companhia do outro. Além do mais, os jogadores não podem trocar de personagem tão facilmente, o que pode quebrar um pouco a diversão em dupla e frustrar alguns jogadores, mesmo que o modo funcione na maior parte do tempo relativamente bem.
Além da dificuldade normalizada no game, os jogadores têm o desafio de conseguir os coletáveis para completar o jogo em 200% — o que não é nada fácil. As famosas letras KONG estão presentes, além de peças de quebra-cabeça e moedas que podem ser trocadas na loja. Também há passagens secretas para fases especiais, exigindo dos jogadores um cuidado extremo para que vasculhem cada porção do mapa a fim de encontrar os segredos escondidos.
Ao conseguir coletáveis, como completar peças de quebra-cabeça, há murais de especiais desbloqueáveis prontos para mostrar ao jogador as artes conceituais e as figuras em 3D de diversos personagens do game. É um recurso interessante e recompensador para quem está disposto a completar o game para descobrir tudo o que está escondido em Tropical Freeze.
Também há moedas especiais de trocas, que podem ser utilizadas em lojinhas específicas para comprar apetrechos auxiliares, como mais vidas. Esses acessórios opcionais são ótimos para balancear um pouco a dificuldade do game, mas o custo versus benefício dos mesmos devem ser pesados pelo próprio jogador, visto que a ajuda frequente desses recursos pode se tornar cara e, às vezes, desnecessária.
Squawks está de volta, mas não como estávamos acostumados a ver |
Um Funky Mode mamão com açúcar
Mesmo falando em como o jogo é hardcore, a versão para Switch tem um facilitador para o público mais casual — o Funky Mode. A maior novidade desta versão do jogo é esse modo com Funky Kong, um macaco bem mais, digamos, estiloso e carismático. Quando você salvar o jogo pela primeira vez, será perguntado se deseja jogar no modo original ou no modo funky, sendo esse segundo uma maneira totalmente 'pendente' de jogar, reduzindo a dificuldade drasticamente graças aos movimentos do novo macaco jogável.O peso e o modo de jogar parecem muito com Donkey Kong, porém ele pode rolar para sempre como se tivesse um parceiro Kong com ele, dar um salto duplo, diminuir a velocidade de descida usando sua prancha de surfe ‘flutuando’ no ar e também ficar parado em espinhos cravados sem sofrer danos, protegido pela sua prancha. Como se não fosse o suficiente, o jogador terá cinco corações para jogar ao invés do padrão dos outros macacos de dois corações cada, permitindo que você receba muito mais danos antes de retornar ao seu último checkpoint.
Felizmente você não é obrigado a assumir esse modo “mamão com açúcar” o tempo todo. A qualquer momento na tela de seleção de níveis você pode mudar e jogar com Donkey Kong se desejar. Entretanto, você terá um pouco mais de vida do que se estivesse jogando no modo original, estando em um “meio termo” de modos. Por isso, certifique-se de qual tipo de desafio você está buscando para evitar chateações.
De fato, o Funky modo é uma excelente adição. Não há interferências para os jogadores que estão acostumados com os desafios da série Donkey Kong e também há um auxílio para aquele público casual que não consegue progredir em jogos muito difíceis — já que não podemos esquecer que crianças também jogam DK e companhia. Logo, se você quer um bom desafio, posso te assegurar que ele ainda está em Tropical Freeze.
Em síntese, o resgate dos clássicos da franquia em uma versão definitiva para o Switch é apreciável, principalmente pelo contexto e pela direção de arte impecáveis nessa “nova velha” aventura dos primatas queridos da Nintendo. Mesmo com alguns problemas de acompanhamento de tela no modo cooperativo e sem muitas novidades desde a versão para Wii U, é uma aventura extremamente recomendável, seja sozinho ou dividindo um Joy-Con, e com uma ótima dosagem de dificuldade. Tudo isso foi polido ao máximo para o console híbrido, resultando em uma perfeita dosagem de muita macacada e de dezenas de horas atrás de colecionáveis para usufruir o game ao máximo.
Prós
- Preservação do estilo clássico de Donkey Kong;
- Animações e quadro de desempenho elogiáveis;
- Dificuldade acentuada e pronta para oferecer bons desafios;
- Telas de carregamento mais rápidas;
- Funky Mode interessante para novatos e para jogadores casuais;
- Recomendado para jogatinas multiplayer;
Contras
- Poucas novidades para um port e sem atrativos para quem já comprou o game para Wii U;
- Trocas de personagens dificultadas no modo cooperativo;
- Eventuais problemas de acompanhamento da tela no modo cooperativo.
Donkey Kong Country: Tropical Freeze - Wii U / Switch - Nota: 9.0Versão utilizada para análise: Switch
Análise produzida com cópia do game comprada pelo próprio redator