Não há espaço para erros aqui. Soulblight requer que você avance por níveis gerados proceduralmente sem morrer nenhuma vez. Com uma pegada steampunk, a temática do título explora o conceito de bem e mal que, por sua vez, reflete totalmente na jogabilidade do jogo. Afinal, sobreviver nesse mundo tem o seu devido custo.
O bem e o mal
Na lore de Soulblight, a vida e a morte são duas entidades que viviam guerreando entre si, até ambas as partes notarem que esse conflito era desnecessário e decidem fazer um acordo para cessar fogo. A mística Árvore da Alma, então, foi criada para garantir a parceria das duas entidades. Graças a presença dela, os humanos agora poderiam nascer e morrer naquele mundo.Por milênios, a Árvore da Alma foi protegida com unhas e dentes pela humanidade, mas o tempo passou e ela acabou caindo no esquecimento. A Árvore não aguentou e foi contaminada por uma doença mortal. Para prevenir a destruição da Árvore e o funcionamento correto do ciclo de vida e morte, o protagonista de Soulblight resolve entrar sozinho nos confins da Árvore para destruir de uma vez por todas o mal que assola ela e a humanidade.
A história é, talvez, o ponto mais surpreendente do título. Na maioria dos Roguelikes, a narrativa geralmente não tem muita relevância para a experiência principal e acaba só servindo de plano de fundo para justificar a aventura que o seu personagem está passando. Já em Soulblight, a história recebe a sua devida atenção, apesar de seus honestos altos e baixos.
Assim como na série “Souls”, a maior parte da narrativa é totalmente opcional. A ambiciosa história por trás de tudo é obtida por meio dos “Punch Cards” colecionáveis que o jogador encontra na aventura. Cada um deles conta uma parte da trama do jogo que se completam com os ocasionais diálogos com NPCs para montar o grande quebra-cabeça da história.
No geral, a trama é bem contada, mas peca bastante por ficar em segundo plano e não oferecer nenhum incentivo para que alguém a acompanhe. Por exemplo, ter que escolher entre um item importante ou um Punch Card para levar até a sua “base” estimula que o jogador ignore a história caso deseje se dar bem na jogatina. A aleatoriedade da aparição de Punch Cards nos baús e a falta de personagens carismáticos também podem gerar desinteresse.
Com grandes poderes vem grandes responsabilidades
Apesar de tudo, Soulblight ainda continua sendo um título de sobrevivência. De acordo com as decisões e itens consumidos pelo jogador, diversos status diferentes que tem seus pontos positivos ou negativos podem ser adquiridos. Eles podem diminuir ou aumentar o “nível de poder” principal do personagem e cabe a você conciliar os pontos positivos para compensar os negativos.Em relação aos outros Roguelikes do mercado, Soulblight é um pouco mais punitivo do que o normal. A dificuldade é assídua apesar dos equipamentos obtidos na aventura te acompanharem de volta para a base depois da morte. Porém, para ter acesso a algo que você conquistou antes de morrer, é necessário guardá-los numa espécie de “banco” que só pode ser encontrado na transição entre o começo e o fim dos níveis.
Inicialmente, a exploração dos cenários é bem interessante pois as fases são criadas aleatoriamente todas as vezes que elas são iniciadas. Porém, se engana quem pensa que “qualidade” significa “quantidade”, pois é possível notar muitas falhas de design e repetições recorrentes nos ambientes, além da falta de qualquer interação dinâmica com o cenário. Se isso não bastasse, gastar um tempinho a mais explorando ainda pode te prejudicar gerando o status de “fome” no seu personagem.
Lutar para quê?
Não há dinâmica no sistema de combate de Soulblight. O arsenal de movimentos consiste apenas em quatro movimentos: bater, empurrar, correr e defender. Porém, apesar da simplicidade, aplicá-los nas lutas não é uma tarefa fácil. Os controles são truncados e não respondem nada bem. Também há uma escassez de upgrades e equipamentos que oferecem algo realmente útil para as lutas. Tudo aqui depende do quanto você está disposto a masterizar o combate raso, complicado e punitivo do jogo.Soulblight é um título frustrantemente difícil, mas poderia ser muito mais justo e divertido se oferecesse um leque de possibilidades maior. Os ataques e inimigos são quase sempre os mesmos com poucas diferenciações. A dificuldade punitiva também força que apenas alguns estilos se tornem viáveis. Por exemplo, criar um personagem defensivo é praticamente inútil quando comparado a um que usa a estratégia de “bater e correr”, que é beneficiada pelo sistema de sobrevivência do jogo.
A adição da mecânica de Grip é uma tentativa de facilitar o combate, mas que, ironicamente, acaba gerando o efeito contrário. Em teoria, o Grip deveria “grudar” o seu personagem no inimigo para focar diretamente no alvo e forçar uma luta mano-a-mano, mas combates isolados praticamente não existem no jogo. Quando mais de um inimigo está te alvejando, o Grip simplesmente fica inútil porque te deixa aberto a ataques de todos os outros alvos que não sejam o que você está marcando.
Ao menos o título reconhece que a sua mecânica de combate não é muito polida e oferece uma forma de eliminar os inimigos sem precisar enfrentá-los diretamente. Ser stealth é recomendado para quem não quer passar estresse, mas isso não quer dizer que é uma mecânica bem implementada, pois ela ainda é tão rasa quanto o combate.
A jogabilidade do título só se destaca um pouco graças ao ótimo sistema de “Taints”. Basicamente, eles são buffs imediatos que podem se tornar debuffs negativos caso as condições impostas por eles não sejam cumpridas. Apesar de não ser obrigatório, saber manusear essa faca de dois gumes é a maneira mais fácil de avançar na campanha, além de ser bem divertido e dinâmico ter que adaptar o seu plano de jogo de acordo com cada Taint.
Travando e frustrando
Parece exagero, mas é impossível jogar Soulblight sem que ele comece a ter quedas bruscas de framerate. Chega a ser engraçado pensar que é mais importante se preocupar com o fps minúsculo dos combates do que com os próprios inimigos. Acontece tão frequentemente na jogatina que eu tenho minhas dúvidas se a My Next Games realmente fez algum esforço para otimizar o jogo para o Switch.O design de interface visual do título foi outro fator que só piorou com a versão de Switch. Se os menus já eram confusos o suficiente na versão de PC, imagine na pequena telinha do híbrido da Nintendo. É simplesmente muita informação para pouco espaço. Se não bastasse ser nada nada amigável com os iniciantes, a interface também sobrecarrega o jogador com informações que são jogadas desnecessariamente na sua cara durante toda a campanha. É bem similar a Castlevania 2 (NES) nesse sentido.
As músicas e efeitos sonoros do título também são totalmente esquecíveis. Não há nada que se destaque positivamente ou negativamente. É apenas raso e sem graça. O mesmo vale para o visual dos cenários que apesar de serem criativos, enjoam rapidamente por causa da paleta de cores repetitiva.
Entre a vida e a morte, Soulblight é só mais um meio-termo sem nenhum tempero. Repetitivo, duro e frustrante, não é um exagero dizer que ele parece um jogo de PC truncado dos anos 90 com uma roupagem mais agradável. O Roguelike indie da My Next Games exige muita dedicação para pouca recompensa e a péssima otimização da versão de Switch só pontua ainda mais essa sílaba tônica.
Prós:
- Mundo bem construído;
- Mecânica de Taints é divertida;
- História bem contada.
Contras:
- Queda de FPS constante;
- Interface confusa;
- Jogabilidade repetitiva;
- Falta de diversidade;
- Comandos complicados para um combate raso;
- Curva de aprendizado íngreme e desmotivante.
Soulblight — Switch/PC — Nota: 5.5
Revisão: Vinicius Rutes
Chave para análise cedida pela My Next Games
Chave para análise cedida pela My Next Games