Na semana passada, tivemos histórias envolvendo o anime, os jogos de Game Boy e até uma fantasia de Carnaval que não deu muito certo. Agora, continuando a sessão nostalgia, chegou o momento de conhecermos os relatos de mais quatro membros de nossa equipe.
Giba Hoffmann — Redator
A febre Pokémon foi parte integrante da minha infância. Foi no longínquo ano de 2000 que de repente me vi transformado, meio que da noite para o dia, em um fã fervoroso da franquia. Meu primeiro contato com Pokémon, no entanto, já tinha acontecido um pouquinho antes. Em 1999 eu já assistia ao anime esporadicamente no programa infantil da Record. Era mais um desenho como todos os outros — não acompanhava desde o início, e acho que o que mais me interessava era o “estilão” de anime, o qual eu curtia demais. Nessa fase, tudo que me lembro é de ficar boladaço com a despedida do Butterfree!Foi apenas em 2000, quando consegui emprestada uma preciosa fita VHS contendo os primeiros episódios da série gravados em ordem cronológica, que eu realmente me vi fisgado pelo mundo de Pokémon. O início da jornada de Ash me fascinou completamente: aquele desenho não era apenas sobre mandar o adorável Pikachu meter o choque na Equipe Rocket, mas sobre acompanhar, de perto e desde a estaca zero, a jornada do cara em busca de seu sonho.
Me diverti demais com os perrengues de Ash pra sequer sair de Pallet. Mas o melhor mesmo era o arco na Floresta de Viridian, que mostrava cada passo incerto do garoto em busca de montar sua equipe e melhorar como treinador. Era uma história que parecia “aberta” — um mundo que chamava não apenas para assistir, mas para brincar e imaginar.
O avanço da “pokémania” ajudava a completar os ares mágicos da experiência. Por onde você andasse, das bancas de revista às icônicas "lojas de R$ 1,99", o que mais se via eram produtos estampados com sua temática. Nessas alturas eu já colecionava os cards e tazos da Elma Chips, o álbum de figurinhas, a revista Pokémon Club e as miniaturas que vinham na tampa do Guaraná Antarctica, voltados pra ficarmos apenas nos produtos oficialmente licenciados.
Eu já curtia games antes disso, sendo que algo que me interessava em especial era a história por trás dos jogos. Eu era o cara que queria todas as informações sobre a origem e as relações entre os "bonecos" do Mortal Kombat, aquele que buscava descobrir o que tinha acontecido com o Adam pra ele não estar em Streets of Rage 2 e saber se era verdade que o Sonic era um "porco-espinho" transformado pelo Robotnik.
Com a chegada da “pokémania”, todos aqueles badulaques eram muito mais do que propagandas ou colecionáveis de algo que eu gostava: era o universo do jogo invadindo o meu mundo real. De repente, todo mundo — não só meus amigos que curtiam games, mas uma galera que até então nunca se via conversar sobre isso — conhecia e sabia sobre os tipos e espécies, os nomes de cada criatura, os golpes e seus efeitos, os nomes das cidades, líderes de ginásio e insígnias.
O sonho de realizar minha própria jornada veio concretizado não pelo cobiçado Pokémon Red, mas quando tive a oportunidade de finalmente jogar meu próprio Pokémon Yellow (GBC), presenteado (após intensas negociações) pela minha avó junto a um Game Boy Color aptamente amarelo. A jornada iniciou-se com o indefectível Pikachu (lamentavelmente nomeado “PIKA”) e um Pidgey (chamado “TORNADO”).
Apesar de curtir a chegada dos ilustres Squirtle, Bulbasaur e Charmander, o que eu mais queria era ter o Jolteon (“JOLT”), o próprio exemplar de meu bicho favorito. No meio do caminho, uma Clefairy (“ROSINHA”) capturada em Mt. Moon foi se destacando, e os quatro se tornaram o time que garantiu minha primeira vitória na Liga Pokémon (ao lado de Venusaur (“BULBA”) e Blastoise (“TORTUGA”), que tiveram que tirar o atraso na Victory Road, após uma certa desequilibrada nos níveis de poder dos bichos). Um momento inesquecível da minha “carreira” nos games!
Assim é que Kanto acabou sendo, para mim, muito mais que “apenas” o palco do primeiro jogo do que se tornaria um de meus subgêneros favoritos, o JRPG. Foi um lugar mágico que intensificou uma das coisas mais bacanas da infância: o esfumaçamento da linha que divide o real e o fantástico. A história que parecia jogo e o jogo que permitia viver minha própria história!
Paulo Vinícius — Redator
Meu primeiro contato com Pokémon e com Kanto foi um pouco tardio — apenas em meados de 2008 e 2009. Tudo começou na escola, visto que os colegas de classe apenas comentavam sobre o fenômeno que se espalhava pelo ambiente escolar por meio de figurinhas, jogos e programas de televisão. Como eu não queria ser excluído do meio, tornou-se hábito chegar em casa após a aula e assistir aos episódios da Liga Índigo, que eram transmitidos na Rede TV na época.O interessante é que eu não sei dizer ao certo quando eu me tornei fã. O processo foi tão natural que, quando percebi, meu quarto estava cheio de produtos da marca e de desenhos dos monstrinhos que eu rabiscava enquanto assistia ao anime. Um dos marcos que tenho, inclusive guardado comigo até hoje, é o álbum de figurinhas Pokémon de 2009, impulsionado pelas aventuras de Kanto na televisão e pela curiosidade em saber quantos outros monstrinhos havia nesse curioso mundo — já que na época não era tão simples saber o que era anunciado pela Nintendo no Japão.
Era sempre incentivador acompanhar o desenho enquanto eu juntava a minha mesada para comprar mais figurinhas para trocar com os colegas. Nem sempre os Pokémon que apareciam evoluíam, como o Bulbasaur de Ash, por exemplo, então cada vez que um monstrinho do álbum aparecia era fácil saber suas informações. Com isso, quando percebi, eu conhecia o nome de todos os 151 Pokémon e minha paixão pela franquia só crescia a cada dia.
Após alguns anos, tive a oportunidade de jogar Pokémon Leaf Green (GBA). Bulbasaur sempre foi um dos meus Pokémon favoritos, então nunca fez muito sentido escolher o Charmander e Fire Red como a grande maioria faz. É difícil lembrar do meu primeiro time nos jogos, visto que eu joguei as versões para Game Boy Advance várias vezes, sempre variando a formação da equipe. Entretanto, a única certeza que tenho é que Pikachu estava neste time pioneiro, pois a influência de Ash me fez treinar um famigerado ratinho amarelo.
Enfim, são tantas boas memórias que é realmente complicado selecioná-las em poucos caracteres. O carisma de Kanto e sua apaixonante maneira de nos fazer esquecer dos problemas da nossa realidade, mesmo que temporariamente, merecem meu respeito e encanto, principalmente após inúmeras memórias positivas que, sem dúvidas, guardarei com zelo.
Daniel Morbi — Redator
Lá pelo fim dos anos 90, uma familiar recém-chegada do Japão presenteou eu e minha irmã com uma esquisita lembrança do país: uma pelúcia de um bichinho amarelo sorridente, com duas bochechas vermelhas, orelhas compridas e rabinho em forma de raio. Como não fazíamos ideia do que ele era, o chamamos de “monstrinho” por muito tempo. Foi o começo daquilo que se tornaria minha mania pelos próximos anos.Pouco depois, a onda Pokémon chegou ao Brasil, nosso monstrinho virou o Pikachu e fui completamente tomado por essa febre. Foi só assistir a alguns episódios do anime e já me sentia amigo do Ash na sua jornada para se tornar o Mestre Pokémon. A partir daí, queria tudo que tivesse alguma relação com a franquia. Colecionava vários bonequinhos, tinha o clássico boné do Ash e até uma Pokédex de brinquedo. Ainda tenho muitos desses itens, inclusive o Squirtle que meus pais me deram de Natal e que me fez acreditar que Papai Noel realmente sabia do que eu gostava.
Mas a coisa mais importante que a série me trouxe foi o amor por jogos. Já fissurado pelos monstrinhos, ganhei um Game Boy Color com o Pokémon Azul. Foi o primeiro console e o primeiro game da minha vida. Mesmo sem entender muito bem a história em inglês por causa da idade, explorar Kanto com os Pokémon que tanto adorava e poder vivenciar situações do anime, como as batalhas de ginásio e disputas contra a Equipe Rocket, já era suficiente para mim. Sentia-me empoderado, como se estivesse mesmo em uma aventura, o que me fez ir mais além neste louco mundo dos jogos.
Como em qualquer jornada, houve momentos de dificuldade. Lembro-me do momento em que cheguei em Rock Tunnel, no caminho para a cidade de Lavender. A caverna completamente escura me deixou muito confuso. Lembre-se que eu não sabia nada de games na época. Achei que o jogo tinha aumentado a dificuldade e queria que eu passasse pelo túnel no breu. Fiquei dias tateando meu caminho e administrando a energia dos meus Pokémon. Quando meu Blastoise estava quase sem PP, tinha dificuldade para dormir, literalmente. Meu primeiro jogo também foi o causador da minha primeira situação de estresse. Ao sair milagrosamente da caverna, meus amigos falaram da existência do HM Flash e fiquei com a maior cara de tacho.
Aliás, ao relembrar essa época, percebo o quão importante foram os amigos nessa experiência de jogo. Acho incrível que alguns macetes ー como o passo a passo para encontrar o MissingNo. e clonar itens, ou desconectar o Cabo Game Link no meio da troca para duplicar Pokémon ー chegaram a mim na base do boca a boca, em uma época que internet ainda era coisa de outro mundo. Também adorava ir na casa de colegas que tinham a versão Vermelha para conseguir os monstrinhos exclusivos desta edição.
Depois da segunda geração, comecei a me afastar da série. Tinha aquela mentalidade que já era muito grande para gostar de Pokémon, mas, no fundo, a cada título anunciado, surgia a vontade de voltar a jogar. Na realidade, essa vontade aparece até hoje. Com Pokémon Let’s Go retornando à minha querida Kanto, é o momento perfeito para viver o sonho de ser um Mestre Pokémon novamente. É o jogo que o Daniel dos anos 90 sempre quis jogar. Devo isso a ele. Eu e meu “monstrinho” ainda temos muitas aventuras juntos!
Lucca Torres Montero — Diretor de Podcast
Quando falam em Kanto, não tem como eu não pensar no saudoso anime dos anos 90. Acredito que assim como eu, boa parte dos fãs de Pokémon foram introduzidos nesse maravilhoso mundo através do desenho que contava a história de Ash. Me lembro de assisti-lo quando ia dormir na casa do meu avô junto de meu irmão. Às 22h, sintonizava a TV a cabo no “45”, que era o número do Cartoon Network, e sentava com meu irmão ao lado do meu avô, que aguardava o término de Pokémon para ver, logo depois, Pernalonga e Patolino, que ele adora tanto.Ao ver o primeiro episódio, logo pensei: que mundo mágico! O sonho de toda criança era viver no mesmo mundo de Ash Ketchum, e, na época, por ter apenas um Super Nintendo, eu não sabia que aquele anime que eu gostava tanto, que idolatrava e defendia com unhas e dentes, vinha de um jogo portátil da Nintendo.
No entanto, quando adolescente, pude finalmente “colocar as mãos” em um jogo do Pokémon, que meus amigos tanto falavam na escola. E como sou muito nostálgico, quis começar pelo “Pokémon Red”, o primeiro jogo da franquia, mesmo sabendo que existia uma versão colorida e mais atual. Sendo assim, finalmente eu me encontrava em Kanto, agora livre para explorar qualquer lugar.
O jogo me encantou de uma maneira inacreditável. Mesmo não sendo muito fã de batalhas em turnos, me senti o Ash em sua jornada para se tornar um Mestre Pokémon, e ao mesmo tempo conseguia entender de onde o anime pegou algumas ideias de episódios, como, por exemplo, o navio S.S Anne, que tem um episódio do anime.
Nessa mesma época, eu já estava por dentro daquela famosa creepypasta na internet sobre a cidade de Lavender Town, a qual, inclusive, eu não tinha coragem de ouvir a música original. Porém, numa bela noite jogando Pokémon Red, eu cheguei na temível cidade de Lavender e tive que enfrentar meu medo. Eu sobrevivi, mas quando os primeiros acordes da música começaram, fiquei arrepiado, mas ao mesmo tempo curioso para ouvi-la!
Ao jogar Pokémon Red, eu sempre ficava me perguntando por que o anime era daquele formato “episódico”, que logo percebi que me enjoava tanto. Sonhava em ver um novo anime de Pokémon focado na jornada de Red, até que finalmente a Nintendo atendeu o pedido de seus fãs e fez um desenho com episódios curtos baseados na jornada personagem. Eu estava realizado!
Com o Pokémon GO chegando em 2016, meus sentimentos pela franquia afloraram. Era muito prazeroso ver pessoas que você nunca iria imaginar que iriam viciar na franquia, ao ponto de saberem o nome de quase todos Pokémon (minha mãe foi um caso). A última vez que vi algo parecido foi no auge do anime do Brasil, quando existiam as “caçulinhas” com brindes de Pokémon.
Vai ser incrível voltar para Kanto em Pokémon Let’s GO, andar em todos aqueles lugares que visitei em Pokémon Red e poder passar apuros em Lavender Town novamente!
Na próxima semana, vamos continuar ouvindo as memórias de nossa equipe sobre Kanto. Enquanto esperamos, porque você, caro leitor, não compartilha conosco aqui nos comentários as suas histórias relacionadas a essa região tão marcante? Conte-nos suas experiências com Kanto!
Revisão: Vinícius Fernandes