A estrela cadente
A história começa com o estudioso Deckard Cain, vasculhando textos antigos na catedral de Nova Tristram, em companhia de sua sobrinha Léa. Ele fala sobre o fim dos tempos e sobre o conflito eterno entre os exércitos da luz e das trevas, que batalham incessantemente nos Campos da Eternidade. Em meio à sua preocupação com as profecias, e decidindo que é hora de avisar o mundo do iminente retorno dos senhores do inferno, um astro em chamas cai exatamente na construção, e Cain desaparece na enorme cratera que se abre no local.De acordo com a classe escolhida para jogar, há uma motivação diferente por parte de nossos personagens. Porém, o destino é o mesmo: todos se encaminham para Nova Tristam, ao saber de um meteoro, ou de uma estrela cadente, que fez com que os mortos se levantassem de suas tumbas e começassem a atacar os cidadãos. O que quer que seja que caiu naquele local, despertou isso, e durante a jornada através de cinco atos e diversos capítulos, vamos descobrir que nosso herói é parte essencial da trama, e uma esperança para a humanidade, seja contra os senhores do inferno, ou contra outros tipos de males.
Uma estrela cai na catedral de Nova Tristam, e mortos começam a levantar de suas tumbas e atacar os cidadãos |
É o velho clichê do escolhido, utilizado por muitos RPG’s de ação. No entanto, foram criadas diferentes visões de mundo para cada classe, que resultam em variadas personalidades, e isso é trabalhado em pequenos detalhes no game, como diálogos e cutscenes. Ao mesmo tempo que todas acabam se moldando à trama geral, funcionando da mesma forma na história — por exemplo, todos são chamados de Nefalem —, já é uma evolução em relação a outros jogos, que geralmente possuem o protagonista sem falas ou com várias classes que só possuem diferenças maiores no gameplay.
Outro ponto importante da narrativa é o que eu considero parte da “fórmula Blizzard”. Na maioria de seus jogos, e isso é muito do que faz a história da série Diablo interessante, existe um conflito entre o bem e o mal, mas a trama não gira somente em torno desse ponto. Há o mal absoluto, mas nem sempre há o bem incorruptível — no caso de Diablo III ele existe, mas é questionado por quanto tempo será assim —, e no meio de tudo isso, existe o cinza, com personagens tomando decisões humanas de acordo com suas necessidades, visões ou pretensões. Reviravoltas, estratagemas, traições, e diversos outros aspectos da natureza humana são trabalhados de forma a gerar lições através de interpretações do jogador — além disso, eu adoro saber as histórias de vida dos NPC’s.
Nosso herói se encaminha à cidade, em busca de respostas sobre a catástrofe e sua repercussão |
De servos da luz a sacerdotes sombrios
O Switch recebeu a versão mais completa e atualizada do jogo para consoles, trazendo além da expansão Reaper of Souls, que adiciona o último ato da história, o pacote de conteúdo Ascensão do Necromante. Por isso, temos sete classes disponíveis para expurgar o mal de Santuário. Além do Sacerdote de Rathma, que foi minha classe principal, eu joguei o máximo que consegui com as outras, a fim de ter uma noção de como funciona cada uma e qual tipo de jogador vai preferi-la. São elas:- Bárbaro (a): uma classe bem básica, baseada em ataques físicos. Seu atributo principal é a força, que o transforma em um poderoso atacante. É o típico guerreiro, para jogadores agressivos que preferem bater forte e não se preocupar muito com a estratégia.
- Cruzado (a): outra classe baseada em força. Porém os cruzados fazem mais o papel de tanque, pois possuem uma forte defesa e um bom controle dos inimigos ao redor, através de seus poderes da luz.
- Caçador (a) de Demônios: o demon hunter se assemelha aos arqueiros de outros jogos. Além dos ataques a distância, ele conta com diversas armadilhas e boas habilidades de movimentação. Seu principal atributo é a destreza.
- Monge (monja): as classes baseadas em destreza possuem uma velocidade superior às outras. Se o seu perfil é atacar rapidamente, mas a uma distância menor, o monge será a sua escolha. Ele também faz muito bem o papel de suporte, sendo capaz de curar os aliados quando em um jogo multiplayer.
- Feiticeiro (a): a primeira das classes baseadas em inteligência. Pode invocar poderosas criaturas da natureza, ou feitiços devastadores para derrotar seus inimigos.
- Arcanista (a): a classe mais próxima do conceito de mago. Sempre implacável, conjura poderosas magias elementais que causam muito dano nas hordas de inimigos. Cada classe usa um tipo de poder diferente para os ataques secundários. No caso do arcanista, seu Poder Arcano possui uma regeneração super rápida, acima das outras classes.
- Necromante: a terceira classe baseada em inteligência. Versátil, pode evocar um exército de mortos, ou criaturas sinistras para batalhar ao seu lado, usar cadáveres espalhados no campo de batalha em suas magias ou drenar rapidamente a vida de seus inimigos para preencher a própria.
As sete classes, com conjuntos de equipamentos que podem ser recebidos na 15º temporada |
O mal nunca dorme (afinal, dormir não dá XP)
Ao finalizar a campanha, saiba que o jogo está apenas começando, pois ainda há muito o que se fazer. Deixando para trás o modo história, é possível entrar no modo aventura, continuando com o mesmo herói, no mesmo nível, e com os mesmos equipamentos, mas agora com maiores possibilidades. Através de caçadas — missões específicas realizadas nos mapas do jogo, que podem ser derrotar uma quantidade de monstros, alguns chefes, salvar reféns ou ajudar NPC’s — é possível conseguir incríveis recompensas, além de deixar o personagem ainda mais poderoso. Após alcançar o level 70, o Nefalem continua evoluindo, através do recurso chamado Excelência, que é usado para melhorar atributos específicos.Nesse ponto do jogo, já é normal estar acostumado à maioria das mecânicas mais simples, como por exemplo os NPC’s de funções específicas, tal qual o ferreiro, a mística, o joalheiro, e os comerciantes, além dos três companheiros que podem nos ajudar diretamente nas batalhas. Entretanto, novas possibilidades aparecem: um novo comerciante venderá itens definidos aleatoriamente, em troca de uma moeda específica, e até mesmo um velho inimigo voltará com uma nova missão, trazendo novas possibilidades para tornarmos o nosso guerreiro cada vez mais forte.
Além das caçadas, podemos nos aventurar também por fendas. Um NPC abrirá um portal para estes locais, que neste caso, terão um tempo específico para derrotarmos uma certa quantidade de inimigos. Executada a missão, o guardião da fenda aparecerá. Este é um monstro muito poderoso, que ao ser derrotado deixará cair excelentes recompensas.
Batalhas contra chefes são pontos altos do game |
Falando em níveis de dificuldade, Diablo III conta com 17 deles, iniciando em Normal e terminando em Suplício XIII. Ao criar um herói, temos a escolha de participar ou não de uma temporada. Cada temporada traz uma série de missões específicas, que quando completadas, darão acesso a um conjunto de equipamentos da classe do jogador, além de alguns itens cosméticos.
Atualmente o jogo está em sua décima quinta temporada — continuando a ordem iniciada em suas outras versões, como a de PC e outros consoles. Ao finalizar uma temporada, o herói e tudo o que foi conquistado é migrado para as condições normais. Em cada temporada é obrigatório começar com um novo herói do zero, e as recompensas só podem ser recebidas com o primeiro personagem que atingir as condições. Ao jogar multiplayer, heróis de temporadas só podem se juntar a outros heróis de temporada.
Fendas testam os limites dos jogadores, além de funcionarem como o modo competitivo do game. |
Desde o lançamento do jogo pra PC em 2012, foram realizadas diversas atualizações e melhorias, e felizmente, temos a melhor versão de Diablo III até o momento, que conta ainda com a possibilidade de ser jogada em qualquer lugar. São inúmeros equipamentos, de diversos tipos de qualidade e raridade, muitas habilidades, ativas e passivas, que podem ser combinadas de acordo com a as preferências do jogador e também com melhorias obtidas por atributos de equipamentos lendários, além de monstros e mapas diversos, incluindo algumas boas surpresas que só aparecem de vez em quando — não tem o mapa das vacas, mas ainda assim espere por algumas bizarrices engraçadas.
Além de poder jogar onde quiser, é possível dividir os Joy-Con para dois jogadores, usar amiibo para abrir portais que trazem demônios poderosos, mas com drops interessantes, reunir os amigos para uma jogatina local se cada um tiver o seu Switch, jogar até quatro pessoas no mesmo console, além de contar com os cosméticos baseados na série The Legend of Zelda, como o pet Cucco, uma moldura de personagem com a Triforce, e um conjunto de transmogrificação — uma alteração apenas visual dos equipamentos — do Ganondorf.
Todos os recursos e modos, seja os que o jogo já possuía, seja os exclusivos da versão do Switch, são muito satisfatórios, com alguns fatores que devem ser levados em consideração: por exemplo, se dois a quatro personagens usam a mesma tela, quando um abre o inventário, outros terão que esperar, mas existe também uma opção de troca rápida. Ao usar um único Joy-Con, só é possível se esquivar para trás. Por falta de um segundo analógico, o controle de movimento fica com a função.
Por fim, o jogo funciona extremamente bem online, parecendo até que os amigos estão próximos, dado a resposta rápida, sem lag ou desconexões. Vale lembrar que é possível obter as recompensas de temporada sem a assinatura do Nintendo Switch Online, mas o serviço é necessário para se jogar com amigos.
É sempre bom reunir os amigos, seja online ou no clássico cooperativo de sofá. |
Um clássico artístico
Além de contar com uma boa quantidade de conteúdo, gameplay divertido e viciante e controles confortáveis, Diablo III ainda é, apesar de um clássico da geração anterior, um jogo de beleza incomum. Se existe um campo em que a Blizzard é especialista, é em fazer cinematics de qualidade impecável, e que sobrevivem ao desgaste do tempo e de novas tecnologias por bastante tempo. Cada vídeo presente no game, seja os de arte mais simples, simulando desenhos em papiros, ou nas cenas mais trabalhadas, é um deleite aos olhos.Já os gráficos in-game estão longe de parecerem um jogo lançado em 2018 — pois realmente não foi, e sim em 2012, e mesmo assim impressiona mais que alguns atuais —, mas ainda assim, o game conta com um número incrível de detalhes, seja em seus cenários, animações, criaturas, magias e efeitos de luz e sombras. A modelagem de todos os elementos é muito bem feita, e os pequenos serrilhados são visíveis apenas quando vistos de muito perto da tela. Cada peça de equipamento, por menor que seja, muda visivelmente a aparência do personagem, e até mesmo as tendas dos NPC’s são visualmente modificadas conforme evoluímos suas habilidades.
Um grande número de equipamentos, muito bem detalhados, ajudam-nos a ficar mais fortes, e ao mesmo tempo mais estilosos. Dá até pra virar o Ganondorf. |
O desempenho está excelente, conforme divulgado pela Digital Foundry, juntando-se a um seleto grupo de ports incríveis recebidos pelo Switch. Houve apenas um momento que eu vi a resolução cair, juntamente com uma pequena queda de FPS enquanto jogava online. A situação foi rapidamente normalizada, mas tinha tantos inimigos na tela ao mesmo tempo, que na verdade todo mundo que estava no grupo sentiu orgulho do pequeno guerreiro que o híbrido da Nintendo se apresentou.
A atmosfera sombria e desoladora, causada pelos ambientes que passamos e pela trilha sonora, é sempre quebrada por um diálogo engraçado, e às vezes repetitivo, de algum NPC, e como podemos levar companheiros na aventura, sejam reais ou controlados pelo computador, nunca nos sentimos realmente sozinhos. O áudio do jogo em inglês é perfeito, mas se você prefere ouvir tudo em português, é possível baixar um patch de atualização na eShop, com a dublagem em nosso idioma, mas nesse caso é bom preparar o cartão de memória para suportar mais 5GB de arquivos. A dublagem brasileira é bem feita, sem nenhuma grande gafe. Só existem algumas poucas frases em que a voz parece bastante diferente, mas talvez seja o tom usado pelo ator. A princípio, o jogo já se encontra com menus e legendas em português.
Através de incríveis cinematics, o conflito eterno toma proporções inimagináveis |
A batalha eterna
Assim como os anjos e demônios batalharam por uma eternidade na história do game, sua jogabilidade também tem potencial para ser eterna, dependendo do tipo de jogador que experimentá-la. Para muitos, o jogo pode ser repetitivo, e existem jogadores que vão se interessar apenas pela história, mas para quem é realmente fã de um bom RPG de ação, geralmente encontrado online, daquele tipo que o objetivo principal é de ficar mais e mais forte, superando seus próprios objetivos enquanto se diverte no processo, temos aqui uma opção que funciona bem tanto online, quanto offline, e pela primeira vez, onde o jogador quiser.Para confirmar a aposta de rejogabilidade infinita, resta saber se um sucessor estará a caminho em algum momento, e por quanto tempo existirá o suporte da produtora. Por enquanto, a experiência que o jogo me proporcionou, me diz que eu ainda não o joguei o bastante, e que ainda tenho muito a descobrir e explorar. Outro ponto que também deve ser levado em consideração é que eu posso não ter experimentado muitos "AAA" este ano, mas entre os games que eu tive a oportunidade de testar, até o momento, Diablo III: Eternal Collection, foi o melhor — do ano.
Prós:
- replay infinito;
- enorme quantidade de equipamentos e habilidades;
- ótima variação de classes e inimigos;
- cinematics incríveis;
- cenários, armaduras e inimigos bem detalhados e animados;
- gameplay divertido;
- online consistente.
Contras:
- Repetitivo;
- Viciante, e é realmente importante ter cuidado com isso.
Diablo III: Eternal Collection — PS4/XBO/Switch — Nota: 10
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Andre Carvalho
Análise produzida com cópia digital cedida pela Blizzard