O Nintendo DS foi um fenômeno que serviu de precursor para todo o mercado de games para celular por popularizar a tela tátil como uma forma de jogar. Apesar de ter recebido uma quantidade sem igual de shovelware, aqueles jogos que só servem para fazer volume e conseguir alguns trocados de desavisados, é notável que foi também a plataforma de uma série de títulos instigantes que se destacaram no aparelho com sua proposta diferenciada e única, como Scribblenauts, Ghost Trick e Elite Beat Agents.
The World Ends With You também é um deles. Lançado originalmente em 2007, o game narra a saga de Neku Sakuraba em Tóquio, mais especificamente no bairro de Shibuya, lar da contracultura no Japão moderno. Recém-falecido, ele é participante de um jogo simplesmente conhecido como “The Game” e transita entre os mundos dos vivos — o RealGround — e dos mortos — o UnderGround — na realização de diferentes tarefas.
O jogo se passa durante um período de três semanas em que Sakuraba, nosso herói desajustado e antissocial, se une a um eventual parceiro no intuito de completar os desafios propostos pelo jogo e finalmente conquistar o prêmio que envolve fazer uma escolha a respeito de reencarnar ou transcender a humanidade.
Se um aparelho tem recursos, eles são para ser usados!
Como um RPG, The World Ends With You tem seus momentos de exploração, mas também oferece um sistema de combate diferenciado. Utilizando as capacidades técnicas do Nintendo DS da época, os ataques poderiam ser desferidos ao dilacerar os inimigos com movimentos da Stylus ou cutucar para disparar projéteis. Alguns podem ser ativados na base do som, visto que o microfone também era um recurso do aparelho.
Tais golpes são possíveis graças aos pins (ou broches). Eles são coletados ao longo do jogo e podem ser usados um número limitado de vezes dentro do combate. Mais broches equivalem a ataques mais fortes. Além disso, também podem ser usados como moeda de troca dentro do game.
As duas telas também são parte integrante do combate, visto que cabe ao jogador prestar atenção tanto na tela de baixo, onde Neku pode ter suas ações controladas, quanto na tela de cima, que é o palco do ocasional parceiro do protagonista — nós somos apresentados a um novo colega a cada semana que se passa no game. A grande ideia por trás disso é que o jogador controle em sincronia os dois personagens de maneira simbiótica, visto que ambos dividem a mesma barra de vida e a performance de um acaba afetando diretamente a desenvoltura de outro.
Trazendo um novo estilo para o Switch
Por conta de o Switch ser um aparelho diferente, obviamente o gameplay original do DS será outro. Antes de receber o Final Remix, nome dessa nova edição para o atual console da Nintendo, os aparelhos mobile tiveram um port chamado Solo Remix que adaptava o sistema de combate para apenas uma única tela, algo que será obviamente reproduzido em Final Remix.
Outra coisa do Solo Remix que se repetirá em Final Remix será o fato de o parceiro de Neku não ser mais controlado pelo jogador, ao contrário da versão original do Nintendo DS. O sistema que envolvia cartas e que antes era utilizado para controlar um dos três colegas agora se resume a um rápido mini-game durante a um golpe combinado dos dois protagonistas. O game se compromete a oferecer duas formas de gameplay: a tela tátil do aparelho, subutilizada até o presente momento, e uma forma mais tradicional de controle que envolverá a utilização dos Joy-Con. A única lamentação é que, infelizmente, o Pro Controller acabou ficando de fora da compatibilidade do port.
Como o Switch é um aparelho de maior potência em relação tanto ao DS quanto os celulares, é notável que o título recebeu uma recauchutada no visual. Uma nova trilha sonora rearranjada e um visual esplendoroso que salta aos olhos por conta do seu estilo urbano-moderno foram retrabalhados especialmente para essa versão que se propõe como a definitiva.
Além disso, um novo cenário chamado A New Day foi implementado no título e promete esclarecer a uma série de perguntas ainda sem respostas levantadas pela história principal. A história dessa nova campanha envolve um novo jogo que terá como protagonista uma misteriosa garota que até então apareceu apenas em um final secreto extra adicionado apenas no Solo Remix.
De quebra, apesar de não sabermos muito a respeito, The World Ends With You: Final Remix terá um modo multiplayer cooperativo. Acredita-se que será uma maneira de controlar os dois personagens em tela, mas é possível que novas surpresas nos aguardam a respeito do recurso.
Um produto feito com carinho
Responsáveis por Kingdom Hearts: Chain of Memories (GBA), a equipe responsável pelo título se preocupou com os mínimos detalhes no intuito de trazer ao público um produto de excelência. Eles se preocuparam em utilizar o aparelho de forma a não deixar que a tela de cima, sem qualidade do touch, fosse inutilizada para dar prioridade à inferior, como acontece, de fato, com uma série de outros títulos do aparelho.
Além disso, a escolha de um local real como cenário do jogo fez com que o estúdio Jupiter se preocupasse em não apenas reproduzir uma localidade com fidelidade na tela, mas também torná-la viva com muito estilo nas mãos de Tetsuya Nomura, o responsável pela arte de Kingdom Hearts e de vários games da série Final Fantasy.
O resultado de tamanha dedicação fez com que o game se tornasse um sucesso de público e vendas, tornando-se inclusive um produto cult, desses cultuados com fervor pela sua base de fãs. Mais do que apenas mais um port de um jogo já lançado anteriormente para o Switch, como tantos vários outros títulos recentes, The World Ends With You: Final Remix é um verdadeiro clássico cuja revisitação era estritamente necessária e que só adiciona à biblioteca do atual aparelho da Nintendo. Seja muito bem-vindo ao Switch.
The World Ends With You: Final Remix — Switch
Desevolvimento: Square Enix/Jupiter Corporation
Gênero: RPG
Lançamento: 12 de outubro de 2018
Expectativa: 4/5
Revisão: Vinícius Rutes