Pokémon Let’s Go Pikachu e Eevee (Switch): por que há tanta rejeição?

Os motivos podem ser mais profundos que você imaginava.

em 09/10/2018

É fácil apontar todo o hate gerado por algum jogo ou acontecimento relevante na internet. No entanto, compreender a origem desse discurso de repúdio é um pouco mais complicado, principalmente quando se trata de uma franquia renomada. Para isso, a Nintendo Blast decidiu abrir esta discussão sobre Pokémon Let’s Go Pikachu! e Pokémon Let’s Go Eevee! para entendermos de uma vez por todas se essa rejeição tem embasamento por parte dos jogadores.


A princípio, os títulos são um mix entre um remake de Pokémon Yellow (GC) e uma tentativa totalmente nova de integrar mecânicas de Pokémon GO (iOS/Android) para outros jogos da série. Mesmo com um notável esforço dos desenvolvedores em torná-los uma grande agregação à franquia, uma série de mudanças geraram, a princípio, um grande desconforto para muitos fãs que estão acostumados com mecânicas já consagradas nos jogos anteriores.

Apelo nostálgico… mais uma vez


Para começar, a série Pokémon tem mais de 20 anos de história com uma incrível contagem de 802 espécies existentes até o momento. No entanto, Let’s Go Pikachu! e Let’s Go Eevee! dá a sensação de um botão reset dos jogos, uma vez que apenas os primeiros 151 Pokémon de Kanto estarão presentes — sem contar o novo monstrinho descoberto em Pokémon GO.

Como não há muitas informações divulgadas para manter as novidades até o lançamento, a ideia de simplesmente “esquecer” os outros 651 monstrinhos não é facilmente aceita por muitos jogadores, mesmo que seja compreensível a dificuldade em dar um passo tão grande assim para uma próxima geração. Justamente por isso a GameFreak fez questão de esclarecer que um próximo jogo da série principal está agendado para o segundo semestre de 2019, acalmando os ânimos de uma oitava geração que aguardará por mais um ano.

Tudo bem que poder andar com seu Pokémon como em Pokémon Heart Gold & Pokémon Soul Silver (DS) e vesti-los como nos contests da quarta geração são voltas apreciáveis, mas não aparentam compensar as perdas ocorridas, que serão citadas durante o texto. Dessa forma, a concepção de que já vimos quase tudo isso não ajuda, principalmente porque essa região já esteve presente em pelo menos 8 jogos da série principal ao longo dos anos.


Além do mais, Kanto foi rebatida inúmeras vezes — e isso se torna exaustivo. Não é difícil encontrar o saudosismo em diversos jogos, como em Pokémon Ultra Sun e Pokémon Ultra Moon (3DS), principalmente com a reciclagem de diversos fatores, desde a Team Rocket em Alola até a existência de Alola forms apenas de espécies de Kanto. Os desenvolvedores entendem que muitos jogadores julgam a primeira geração como a melhor e, por isso, encontram nela o refúgio de sempre viver um pouco mais do mesmo — e Pokémon GO ajudou nesse aspecto.

Go por todos os lados

Falando em Pokémon GO, vários aspectos do jogo para dispositivos móveis foram absorvidos por Let’s Go. De fenômeno a esquecido, o jogo ficou, sem dúvidas, conhecido por todo o globo, com aparições em jornais nacionais e grandes eventos para a reunião de jogadores. Com isso, os desenvolvedores encontram em GO a galinha — ou Torchic — dos ovos de ouro, já que teria o potencial, em teoria, para atrair um público gigante para os outros jogos da franquia.

Digo ainda que o maior erro foi a afirmação de ser um jogo principal, não apenas um spin-off inspirado em Pokémon GO e Pokémon Yellow. A declaração de Tsunekazu Ishihara, o presidente da The Pokémon Company, durante o anúncio dos jogos de que eles fazem sim parte da série principal pode agravar a decisão de remover, aparentemente, tantas características únicas da série, mesmo que sejam exclusivas dessas versões.


Em primeiro lugar, a inexistência de batalhas com Pokémon selvagens para aderir às mecânicas de Pokémon GO é o que mais afeta a reputação prévia dos games. Além de retirar a fórmula usada há anos na série central, a aversão à popularidade de Pokémon GO, gerada após a queda do número de jogadores e as discussões sobre o futuro do jogo, é explicável e agrega o fator de repúdio a tudo relacionado ao jogo por muitos.

Ademais, como não é possível batalhar com Pokémon selvagens, também não é possível ganhar experiência como nos outros jogos. Para isso, a insistência em capturar Pokémon como a principal maneira de ganhar experiência é um grande incômodo para muitos jogadores. O que acontece é que tudo que tornou Pokémon GO um sucesso foi absorvido por esses games. Porém, o maior problema é que para Let’s Go Pikachu e Eevee não haverão interações com pessoas e com o mundo externo — mesmo jogando no modo portátil —, então valerá mesmo a pena investir tanto em uma nova forma de jogar Pokémon assim?

Muito casual?

Desde o início, Pokémon Let’s Go Pikachu e Eevee deixaram claro a proposta de serem os mais casuais possíveis. Afinal, o foco desses jogos é justamente atrair o público casual de Pokémon GO para o Switch, certo? O problema que isso gera é a sensação precoce de que tudo isso é exageradamente casual — mais do que estamos acostumados a ver.

O que aparenta ser um jogo da série “principal” sem GTS, Wonder Trade, Battlespot e breeding? Ao que tudo indica, tais extras podem ter sido removidos e não há como confirmar até o lançamento do jogo, deixando para muitos fãs a sensação, mais uma vez, de ser um jogo vazio de extras que poderão criar um colapso do pós game que conhecemos. Isso tudo é somado a uma provável remoção das habilidades e dos held items, que não são encontrados durante a gameplay mostrada na E3.
Sem Light Ball para você hoje, Pikachu
Justamente por isso tudo gerar uma amarga sensação de que Let’s Go não irá exigir estratégias de batalha por parte do jogador, a angústia gerada por tudo isso é um dos principais motivos encontrados para essa grande desaprovação. Como se já não bastasse, o rival genérico e amigável — totalmente diferente de Green ou Gary — contribui para esse entristecimento gerado.

Liberdade? Onde?


Após acompanhar a evolução dos games, a sensação de liberdade é indiscutivelmente um dos maiores destaques. É impossível falar desse assunto sem mencionar a imensidão de Hyrule em The Legend of Zelda: Breath of the Wild (Switch/Wii U) e a construção minimalista das explorações de Super Mario Odyssey (Switch). As limitações técnicas que impediam o desenvolvimento de jogos assim sempre foram barreiras para os desenvolvedores, mas o que a série Pokémon sempre conseguiu realizar com êxito foi justamente dar parte dessa liberdade ao jogador desde o Game Boy — com toda a independência para criar um time de seis monstrinhos como quiser. No entanto, parece que a série parou um pouco no tempo.

Montar sua equipe, treinar como e onde quiser até atingir o objetivo criado pelo próprio jogador. Tudo isso contribuiu para a febre mundial de Pokémon e tudo isso justificado pela autonomia dada ao jogador, motivo de satisfação ao poder jogar da forma que julgar melhor. Porém, Let’s Go Pikachu e Eevee parecem ter tirado um pouco dessa liberdade construída gradualmente com o passar dos anos.

Como mostrado na E3, além de haver uma facilitação do jogo, como o Pikachu poder aprender Double Kick no início do jogo para o ginásio de Pewter, o requerimento de ações obrigatórias no jogo, sendo possível desafiar o líder Brock apenas se você tiver um Pokémon tipo water ou grass, tira essa liberdade tão valorizada nos dias de hoje. Ainda, os Pokémon iniciais, Pikachu e Eevee, não poderão evoluir. É compreensível por serem os principais monstrinhos dos títulos, mas impedir que Eevee, o Pokémon símbolo das evoluções com oito evoluções até o momento, evolua é bastante contraditório, não?


O ponto é: talvez não seja necessário apagar grande parte do passado para fazer um bom remake. Pokémon Fire Red (GBA) e Pokémon Leaf Green (GBA) são provas disso, pois aproveitaram tudo de Pokémon Red (GB) e Pokémon Blue (GB) e conservaram as mecânicas da terceira geração, incluindo as habilidades e as inúmeras mudanças positivas — tudo isso em 2004. Então, se foi possível uma vez, talvez seja essa sensação de “por que não de novo?” que indaga muitos jogadores que acompanham a franquia há tantos anos.

Embora seja justificável a rejeição, é importante lembrar que essa necessidade de adicionar tudo que já conhecemos é tarefa da oitava geração, agendada para o segundo semestre de 2019. Logo o alarde é, de certa forma, amenizado por esse anúncio para o próximo ano, restando aos fãs a contemplação do salto gráfico e do esforço dos desenvolvedores em tornar Pokémon uma realidade para vários públicos do Switch — o que, apesar de tudo, é sim positivo.

Além do mais, uma entrevista recente com o diretor Junichi Masuda nos esclareceu algumas preocupações dos jogadores. Como de se esperar, podemos aguardar, além de uma nova espécie de Pokémon revelada, novidades após o jogador completar a Pokédex:
Só podemos imaginar o que nos aguarda - estaremos atentos para o conteúdo dos jogos!

M: Mais uma vez, eu não posso dizer muito, mas se você pegar todos os Pokémon na região de Kanto, algo bom acontecerá! (risos).
Também é importante citar que, apesar de tudo, o título de 2019 aparentemente seguirá os padrões já conhecidos pelos fãs:
Tudo bem, vamos mudar de assunto agora: sobre o jogo Pokémon 2019 - você pode nos dizer algo sobre o jogo em seu estágio atual?

M: Como já mencionei, Let’s Go foi bem desafiador para ser desenvolvido. O título de 2019 será realmente um jogo para aqueles que já são fãs da série principal de Pokémon. Expandir a série para o Nintendo Switch definitivamente apresentou novos desafios.
Portanto, Pokémon Let’s Go Pikachu! e Pokémon Let’s Go Eevee! possuem sim motivos plausíveis para tanta rejeição, mas no final das contas é fundamental aguardar os resultados finais da produção dos jogos para que, enfim, possamos concluir se serão títulos dignos de menção da franquia.
O que você pensa a respeito desses jogos e sobre o que foi apresentado? Não deixe de contribuir com sua opinião.


É estudante e apaixonado por games desde seu primeiro contato com Duck Hunt e Ice Climbers do nintendinho em 2002. Fanático por Pokémon e admirador de diversas franquias, reúne seu tempo livre para escrever e tentar colocar as matérias da faculdade em dia.
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