Análise: The Midnight Sanctuary (Switch) é ambicioso, mas não entrega muito

Além do visual único, a Visual Novel indie oferece uma trama interessante mas cheia de falhas.

em 18/10/2018


Uma Visual Novel indie com temática de religião e que apresenta visuais inspirados em pinturas de afrescos religiosos e arte surrealista. Só de pensar nesta proposta, se percebe que The Midnight Sanctuary (Switch) é um grande ponto fora da curva. O título desenvolvido pela Cavyhouse tenta apostar em visuais diferentes para se destacar, mas será que isso é o bastante para se equiparar às outras Visual Novels de sucesso?

Um conto de fadas ou de terror?

Hamomoru Tachibana é uma jovem pastora que está viajando por todo o Japão para pesquisar sobre a religião cristã e a história dos adeptos desta doutrina no país. No meio de sua jornada, ela foi convidada para visitar e testemunhar a fé dos moradores da aldeia de Daiusu, um pequeno vilarejo bem afastado do resto da população japonesa.

Ao chegar no local, Tachibana é recebida calorosamente pelos excêntricos moradores da vila e conhece Kurosu Okada e Jyuan Daiusu, os dois jovens padres responsáveis pelo convite que ela havia recebido. Enquanto pesquisa sobre a história cristã do local, a protagonista eventualmente acaba se envolvendo com os misteriosos acontecimentos que ocorrem na vila.

No geral, a campanha apresenta um ritmo bem lento e gasta muito tempo para desenvolver os personagens e o worldbuilding da aldeia. O desenvolvimento chega a funcionar, mas peca por não ter quase nenhum impacto na verdadeiro história do jogo. Certas vezes parece que as conversas com os moradores são apenas uma grande encheção de linguiça para aumentar a duração da trama.



Quando a narrativa engata de verdade, The Midnight Sanctuary até consegue prender e satisfazer o jogador, mas pouco demora para a situação voltar a esfriar de novo.

Curiosamente, esse problema contrasta com o principal defeito da parte final do jogo, que acontece quando a história se apressa e segue por caminhos que poderiam ser bem melhores se fossem trabalhados com mais calma. Comparado ao resto da trama, que apostava numa construção mais lenta e detalhada, o final é tão súbito que chega a ser desanimador.

Os personagens também não são grandes coisas. A maior parte do elenco principal é bastante raso e clichê, com exceções aqui e ali que se salvam. Eles funcionam muito bem como um mecanismo para a história, mas individualmente são bem desinteressantes.

Uma pintura surrealista

A bizarra temática visual de The Midnight Sanctuary é um caso à parte. Além dos cenários surrealistas, quase todos os moradores do vilarejo são caracterizados visualmente com um fundo estático. É algo diferente, mas atrapalha bastante quando mais de três ou quatro personagens com fundos iguais aparecem na visão do jogador.

A aparência dos fundos estáticos é inspirada nos vitrais coloridos encontrados na maioria das paredes de igrejas católicas. Cheios de simbolismos, eles acabam enjoando depois de um tempo por falta de variação. O mesmo também pode ser falado da paleta de cores quase incolor que se repete nos cenários.

Mesmo assim, o “clima” do jogo cumpre a sua missão e consegue ser bem macabro sem apelar para recursos explícitos. O mistério e a sensação de desconfiança sempre acompanham o jogador, até nas situações mais rotineiras. Essa vibe, porém, é completamente estragada pela utilização de alívios cômicos vergonhosos aliado a algumas das piores animações 3D presentes no Nintendo Switch.



O desperdício do coral da igreja

Sem dúvida nenhuma, os gráficos representam o pior que The Midnight Sanctuary tem a oferecer. O modelo 3D dos humanos normais é horroroso e as animações são ainda piores. Às vezes, a péssima qualidade aparenta ser proposital para criar um clima bizarro, mas se for assim, então a ideia foi levada longe demais. É simplesmente desconfortável e incondizente com a mensagem que o título quer passar. Encontrar qualquer semelhança com aquelas paródias 3D toscas vistas na internet não é mera coincidência.

Já a parte sonora do título é bem meia boca. Apesar de ter boas composições instrumentais e vocais, as poucas trilhas que existem se repetem exaustivamente em diversas cenas. Os efeitos sonoros são genéricos e irritam bastante por serem utilizados desnecessariamente a toda hora.

Se tem algum quesito técnico que The Midnight Sanctuary realmente se salva, com certeza é na dublagem. Contando com um elenco de ótimos profissionais, as vozes japonesas do título são muito bem interpretadas e ajudam a garantir a efetividade dos diálogos do jogo, que já não pode apostar em expressões ou movimentos por causa das péssimas animações.

A ambição tem limites

Dentro do gênero, é quase obrigatório que uma Visual Novel apresente a possibilidade de escolhas ou algo que possibilite algum tipo de interação do jogador. No entanto, The Midnight Sanctuary não conta com nenhuma dessas características. Simplesmente não há nada que o jogador possa fazer para alterar ou fazer qualquer coisa na história. Parece que o título ainda não sabe se quer ser um filme ou uma Visual Novel.



No fim, The Midnight Sanctuary é uma tentativa bem excêntrica de oferecer algo diferente, porém a qualidade do resultado é tão duvidosa quanto as animações 3D desengonçadas do título. Cheia de altos e baixos, a história da cidade de Daiusu definitivamente não é para qualquer pessoa, mas pode agradar um fã de Visual Novels ou narrativas no geral.

Prós:

  • Dublagem de alto nível;
  • Músicas boas, apesar de pouca variação;
  • Trama intrigante;
  • Estilo artístico único.

Contras:

  • Gráficos mal feitos
  • Personagens desinteressantes
  • Ritmo bipolar
  • Efeitos sonoros irritantes
  • Sem rotas alternativas ou possibilidades de escolha
  • Final decepcionante
The Midnight Sanctuary – Switch/PC – Nota: 6.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisor: Vinícius Fernandes
Análise produzida com cópia digital cedida pela Unties
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Estudante de jornalismo que não vê a hora de achar um estágio. Apaixonado por videogames e esperando o fim de Hunter x Hunter e Berserk desde que me entendo por gente.
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