Anteriormente estável e unido, o fantástico reino de Armello é agora ameaçado por um mal antigo que corrompeu seu rei, levando-o a executar ações cada vez mais cruéis. Com a nova situação, os principais clãs enviam seus heróis para uma estratégica aventura, objetivando a tomada do trono, e se possível, a salvação deste mágico reino
A desenvolvedora League of Geeks traz ao Nintendo Switch, com este game, uma mistura incrível e bem equilibrada de diversos gêneros: um jogo de tabuleiro em turnos, aprofundado estrategicamente por um sistema de cartas, combinado com influências de um RPG de interpretação de papéis, traduzido para jogabilidade digital. O resultado é um verdadeiro "jogo dos tronos" com animais antropomórficos.
Um reino ameaçado
A partir de suas características, é de se prever que o game tenha inúmeras mecânicas, e para que o jogador possa se familiarizar facilmente com cada uma delas, a jogatina já começa com um prólogo, que ao mesmo tempo ensina como jogar, e também apresenta a história de Armello.Basicamente, o rei (leão), que anteriormente uniu todos os clãs sob sua bandeira, está agora tomando decisões que vão contra os interesses dos habitantes, que por sua vez acabam descobrindo que ele se tornou possuído pela malevolência da podridão. O clã dos lobos é o primeiro a enviar um representante para entender a situação, mas ao iniciar suas investigações, Suserano é atacado pelos soldados do rei e acusado de traição. Agora não resta outra situação que não a batalha.
O clã dos ratos, representado por Mercúrio, aproveita a situação para praticar espionagem e aprender a usar a podridão ao seu favor, aumentando sua influência dentro do reino. Enquanto isso, o clã dos coelhos não está nada satisfeito ao ser afastado do conselho do reino, e por isso, convoca a aventureira Amber para recuperar o prestígio do clã. Por fim, o clã dos ursos deseja expurgar o mal trazido à tona pela podridão, e com isso, a irmã Sana fica encarregada de recolher as pedras do espírito e purificar o rei de sua maldição.
Cada um dos objetivos citados representa uma condição de vitória no jogo, que não precisam estar necessariamente atrelados a cada um dos clãs ou heróis. Acaba sendo uma escolha pessoal e estratégica de cada jogador, podendo inclusive ser alterada a qualquer momento, ao bem querer, e de acordo com o caminhar da partida. Não existe um “modo história” em Armello, e portanto, após o prólogo, as referências à narrativa aparecem apenas em formas de missões, pequenos eventos e cartas especiais que podem ser encontradas durante as partidas.
Em busca do trono de Armello
Falando em partidas, como um bom jogo de tabuleiro, cada uma delas é única. O game conta com oito heróis, divididos entre os quatro clãs, e cada um deles possui características próprias, além dos atributos diferenciados. Alguns serão mais indicados para jogadores que preferem batalhar bastante, outros focados na exploração, enquanto alguns facilitam a captação e aproveitamento de recursos. No modo portátil, é possível jogar apenas utilizando controles de toque, apesar de estarem muito bem adaptados os controles padrão.Ao iniciar um novo jogo, é possível escolher entre algumas opções de anéis e amuletos, que trarão algumas vantagens ao herói na determinada partida. Se trata de uma camada estratégica, que deve ser analisada antes mesmo de começar a jogar. Estes itens são desbloqueados aos poucos, contanto que o jogador cumpra algumas requisições predeterminadas. Além disso, as cartas também são descobertas gradualmente, criando um senso de progressão entre uma jogatina e outra que alivia a repetição de partidas. Cada uma termina com um número específico de rodadas, ou a chegada de um dos jogadores a uma das condições de vitória.
O tabuleiro de Armello segue algumas regras específicas. Ele pode ser encontrado nas formas verão e inverno, e é formado por um conjunto de hexágonos, como na série Civilization. O castelo do rei fica ao centro, cercado por quatro áreas dos clãs nas extremidades, que é onde os heróis começam e onde retornam quando morrem. Entre eles, há diversos tipos de terrenos, que podem ser alterados de posição entre uma partida e outra, e possuem diversas funções. Como exemplo, podemos citar os pântanos, que retiram um ponto de vida, aldeias, que geram ouro após serem reivindicadas, ou as masmorras, que podem surpreender com um bom prêmio ou uma nova ameaça.
Os dados no jogo não possuem faces numéricas, e portanto, não são usados para a locomoção. Para isso, cada personagem terá três pontos de ação por rodada, podendo movimentar-se em qualquer direção. Parece pouco, e muitas vezes realmente não dá pra chegar muito longe, mas há situações em que até isso pode surpreender, e descobrimos que em três espaços podem existir inúmeras possibilidades. Como um bom RPG, o uso dos dados é importante quando se entra em batalha, seja contra heróis adversários, ou contra as criaturas presentes no mapa. É possível tirar símbolos de ataque, de defesa, uma face que não vale nada, entre outras opções.
Além disso, uma das mecânicas do game envolve entrar em locais com armadilhas, e nesses casos, é necessário tirar nos dados faces equivalentes a exigência daquele perigo específico, para então se livrar de seus efeitos negativos. Um ponto interessante é que, nas batalhas, o valor de cada face pode mudar de acordo com as condições do combate. Isso varia por exemplo entre uma luta diurna ou noturna, ou baseado na quantidade de podridão a que os combatentes tenham sido anteriormente expostos. Vencer ou perder batalhas possui diversas implicações, em termos de movimentação ou até de uma virada no jogo.
Outro ponto importante em Armello são as cartas, existentes em diversos tipos e funções. Os principais tipos são: item, feitiço e trapaça. Porém, há cartas especiais relacionadas à história ou ao rei. Algumas delas são equipamentos ou seguidores, e por isso, podem ser equipadas no inventário — três de cada, para ser mais exato. Ao equipar por exemplo uma carta simples de escudo é possível receber um escudo adicional em cada batalha. Outras possuem uso instantâneo, e por isso devem ser jogadas em algum adversário, criatura, ponto do mapa ou em si mesmo.
Em momentos de batalha ou enfrentando perigos as cartas podem ser queimadas. Cada uma delas possui um símbolo com uma das faces dos dados, e queimando uma carta de determinada face, é possível manipular o resultado de um dos dados. Atributos específicos definem quantos pontos de vida, quantos pontos de ataque e até quantas cartas cada jogador pode sacar por rodada. Algumas cartas podem inclusive alterar esses atributos ou fornecer dados extras durante os momentos necessários, assim como aumentar temporariamente os pontos de ação, a fim de alcançar mais rapidamente ao local desejado.
Armello possui um número imenso de mecânicas e possibilidades, e por isso, foram citadas apenas as principais. Entretanto, jogá-lo de forma casual não é nenhum “bicho de sete cabeças”, e mesmo para quem desejar se aprofundar, basta algumas partidas para se acostumar melhor com as mecânicas — os textos em português devem facilitar o entendimento. Além do prólogo, existe um guia que pode ser consultado sempre que o jogador precisar, e detalha todas as regras do jogo. Fatores como sorte, estratégia e atenção podem fazer muita diferença, e o resultado nunca é previsível, sendo possível virar completamente o jogo em uma única rodada.
Aço, construções, beleza e magia
Ao abrir o jogo pela primeira vez, já é possível se deslumbrar com a primeira cutscene. A arte presente nos vídeos e nas cartas é incrível, e não deve nada a nenhum card game mais famoso do mercado. Entretanto, os modelos do tabuleiro são simples, apesar de belos, e até um pouco serrilhados. O game conta com boas animações, e efeitos de luz e transições de dia e noite, o que é bastante interessante. Porém, alguns dos efeitos de iluminação solar ou lunar diminuem a paleta de cores e acabam por destacar esses pequenos defeitos de modelagem.Não dá pra negar porém, que para um jogo de tabuleiro, o visual final é bastante atraente. Até o menu inicial parecendo um vitral combina bastante com a proposta do game, seguido por outros menus com bordas que simulam o papel usado em pergaminhos. Os símbolos dos clãs e de menus específicos ajudam a compor a temática medieval. Assim também é a trilha sonora, que segue um tom clássico lírico, épico, ou soturno, dependendo do momento em que esses sentimentos precisam vir à tona. Os efeitos sonoros acompanham a boa qualidade da trilha.
Conquistas e oportunidades
Apesar de ser um belo game para passar o tempo, principalmente com amigos amantes de um bom RPG, Armello não pode ser jogado localmente, a menos que cada pessoa tenha seu Switch com o jogo instalado. Isso até faz sentido, já que seria possível ver as cartas do adversário. Porém, a inteligência artificial do jogo não pode ter seu nível de dificuldade alterado, e por mais que dê algum trabalho em algumas partidas, não representa um grande desafio. Para variar um pouco, é possível alterar as regras do jogo, tornando-o maior aumentando a quantidade de turnos, apressando as coisas, ou alterando os atributos dos heróis, por exemplo.Existe também um modo online, em que é possível jogar com adversários aleatórios no modo padrão ou com regras disponíveis em horários limitados, ou então criar sua própria sala, e jogar com seus amigos de acordo com as regras que preferirem. Ao participar de partidas online, os jogadores vão ganhando estrelas de acordo com seu desempenho, que servem para subir no rank de classificação, como já é visto na maioria dos jogos multiplayer.
Melhorias para o avatar e sua moldura podem ser desbloqueados, assim como novos itens, que basicamente são dados diferentes. Tive dificuldades para conseguir acessar este modo no primeiro dia, mas após testá-lo, percebi que o desempenho da conexão está excelente. É necessário uma assinatura do Nintendo Switch Online para jogá-lo.
Apesar de ser um bom pacote de expansão, o valor cobrado é o mesmo do jogo base, o que deve dificultar que algumas pessoas se interessem pela “experiência completa” do game — é bom deixar claro que o jogo pode ser totalmente jogado sem a compra da DLC. Não existem modos adicionais nem nada do tipo, apenas as adições citadas acima.
De grandes horrores surgem grandes heróis
Como um jogo feito para um nicho específico de pessoas, conclui-se que Armello possui um charme bastante característico e consegue executar sua proposta de forma bastante capaz. O jogo realmente consegue equilibrar as suas inúmeras mecânicas, criando partidas únicas e divertidas. Como elas geralmente são rápidas, a experiência se mantém agradável e nada cansativa.O senso de progressão criado por itens desbloqueáveis instiga a curiosidade do jogador, e ajuda a criar a vontade de jogar novamente, descobrindo novos elementos desse incrível mundo de fantasia medieval. A crítica fica apenas por parte do conteúdo estar disponível apenas para aqueles dispostos a abrir a carteira, quando poderia ser liberada de outras formas também dentro do jogo. Porém, por se tratar de um game em constante expansão, é possível que algumas coisas mudem nas próximas atualizações.
“E assim clãs declaram, do urso ao lobo. É hora de tomar o trono de novo.
Ao mal calcinante, do bom e do belo. Heróis, vão avante e salvem Armello!”
Prós:
- Se tratando de um jogo de tabuleiro, possui uma boa história introdutória;
- Mecânicas diversas e quatro condições de vitória;
- Balanceamento de personagens muito bem feito;
- Itens e cartas descobertos aos poucos;
- Artisticamente incrível.
Contras:
- Pode demorar um pouco para encontrar partidas online, e não é possível voltar após uma desconexão;
- Conteúdo adicional por download custa o mesmo preço do jogo base, e não pode ser adquirido de outra forma.
Armello — PC/PS4/XBO/Switch/Android/IOS — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch
Análise produzida com cópia digital cedida pela League of Geeks