Não sou muito chegado a jogos de basquete e, apesar de até gostar do esporte, não acompanho NBA e nada disso. Conheço alguns nomes de destaque do esporte e fica por aí também. Acho que o contato mais intensivo que eu tive com a modalidade até aqui foi com o filme Space Jam. Fora disso, talvez seja o minigame do Wii Sports Resort e uma rápida experiência com o primeiro NBA Playgrounds (Multi).
Pois bem, acabei me interessando quando descobri que aqui há a utilização do conceito de explorar o Basquete dessa forma lúdica. Evitando se propor como um simulador realista, NBA 2K Playgrounds 2 (Switch) retoma um conceito de Arcade que hoje é bem escasso na indústria atual. Trazer surrealismo ao esporte com power ups e visual caricato é algo que sempre vi com bons olhos — não no intuito de suprimir esses simuladores de alta verossimilhança, mas de criar diversidade a quem quer e valoriza mecânicas de jogo mais simples e rápidas.
Dentro desse espectro, podemos até tomar outros games de exemplo que o fazem muito bem. A maioria da série Mario dá certo, dando destaque a Mario Strikers Charged (Wii) e a série Mario Kart que conseguiram atrelar uma identidade própria ao esporte dessa forma. Outro que se destacou — inclusive numa plataforma Nintendo — foi o FIFA 09 All-Play (Wii), que, além dos modos principais, trouxe também um exclusivo onde os jogadores eram os Miis presentes no consoles, capitaneados por um jogador da vida real em uma versão caricata de si mesmo. Desde já, portanto, o mérito de NBA 2K Playgrounds 2, é se aventurar por esse mercado alternativo e trazer novas opções para o mercado, atraindo até mesmo aquele que não é tão ligado assim em Basquete.
Um novo jogo, mas não tão novo assim
O game tem como base as regras do basquete de rua. Dessa forma, faltas são inexistentes e consequentemente, empurrões e cotoveladas são um recurso do próprio jogo. As partidas são compostas em jogos de quatro jogadores, dois contra dois. Cada um deles tem seus próprios atributos e começam num nível bronze. Quanto mais ele é utilizado em partidas, mais experiência ele acumula e pode ir subindo de nível para o nível prata, ouro e, depois de realizar certos desafios estabelecidos pelo próprio título, diamante.Dentre os modos disponíveis, há o de partida simples de exibição e um modo de campanha principal aqui chamado de “temporada”. Reformulado em relação ao jogo anterior da série, ele agora simula o formato de um campeonato da NBA, dividido em dois grupos maiores em que os times são separados pela localização geográfica (costa leste e costa oeste), sendo que os oito melhores de cada grupo são classificados para o mata-mata — play-offs, em gringês. Vencer um campeonato com determinado time desbloqueia para uso um astro da equipe em questão.
Outra novidade disponível é um modo que é composto em uma espécie de um mini-game de disputa de cestas de três pontos. Na boca do garrafão, os jogadores arremessam séries de bolas em diversos pontos diferentes dentro de um período de tempo. Quem acertar mais vezes a cesta — em uma mecânica que depende do atributo individual de cada jogador — ganha. A modalidade em questão não era disponível de maneira off-line e singleplayer no primeiro game, tornando-se uma adição interessante nessa sequência, principalmente no Switch.
O modo online, por sua vez, conta com um campeonato em rankings, equilibrando as partidas e colocando os jogadores (não o esportista, mas aquele que está no comando dos Joy-Con) contra seus iguais. O principal problema é em relação ao fato de não haver jogadores conectados — o que, convenhamos, é até compreensível, uma vez que quem gasta uma grana no on-line vai preferir gastar seu tempo com Splatoon 2 (Switch) e Mario Kart 8 Deluxe (Switch). A sorte é que a diversão proporcionada pelos modos individuais e off-line acabam suprimindo esse revés completamente previsível.
Simplicidade é o caminho... mas não precisa ser tão cru assim, né?
Os controles do game são bem simples. O analógico controla o movimento dos jogadores e o ZR ativa a corrida. Os botões assumem determinadas funções dependendo se o momento do jogador é atacando o defendendo. No ataque, quando a bola está em nossa posse, Y, X, A e B correspondem, respectivamente, a arremessar a bola para a cesta; pular para o rebote (quando a bola é lançada para o alto ou bate na tabela, ainda em jogo); jogar sujo (utilizar uma cotovelada para empurrar jogadores incômodos que ameaçam roubar a bola); e realizar um passe. O ZL serve para fazer com que um companheiro pule para preparar uma enterrada — movimento chamado de ponte aérea — e o L faz com que o mesmo companheiro empurre um adversário.Na defesa, o X ainda funciona para dar disputa para uma bola alta e o B continua servindo para realizar o jogo sujo, mas agora diz respeito a empurrar o adversário com a bola no intuito de fazê-lo soltá-la. O Y serve para tentar efetuar uma roubada limpa da bola e o B serve para alternar entre os jogadores.
Dito isso, existem poucas combinações de botões possíveis que estão bem longe de serem complexos ou sequer se enquadram na categoria de o jogo exigir seu domínio para que seja possível avançar em categorias mais difíceis. De um modo geral, o manejo do jogo depende muito mais na atenção e timing do jogador do que na capacidade técnica em efetuar comandos complexos.
O principal problema é que o tutorial disponível é de uma precariedade que chega a ser ofensiva. Geralmente, quando um game separa uma seção inteira para tal, a nossa intenção é utilizá-la para aprender como se joga na prática. O que recebemos é apenas uma série de descrições escritas e ilustradas com uma imagem meramente ilustrativa a respeito de diversas situações de jogo. Não há um modo tutorial, de fato. A única forma de aprender é jogando. Considerando que NBA 2K Playgrounds 2 em si é bem convidativo e chega a ser bem simples na prática, esse primeiro momento causa bastante estranhamento num jogador novato.
De um modo geral, a jogabilidade bruta do game continua igual ao antecessor. As principais mudanças são nos power ups disponíveis e nas modalidades de jogo mesmo. A diferença principal é puramente estética — e não diz respeito nem à questão gráfica, mas mudanças leves na identidade visual, como o medidor que define qualidade do arremesso que antes era uma barra reta e agora é um semicírculo levemente mais agradável à vista e de assimilação ligeiramente mais prática por conta desse formato.
Elementos de... TCG?
Ao contrário dos games de esporte mais tradicionais, o jogador não tem acesso logo de cara a todos os times com seus respectivos elencos. Assim como no primeiro título, era necessário jogar para conseguir créditos e então liberar os principais craques da NBA, como Shaquille O’Neal, Michael Jordan e Kobe Bryant — assim como outros jogadores não tão memoráveis assim que estão lá para trazer mais volume e diversidade.
Tais astros vêm de forma aleatória, dentro de pacotinhos comprados com a moeda do jogo e representados por cartas. Dessa forma, é possível que venham jogadores repetidos e tornando, aos poucos, cada vez mais difícil completar todo o elenco do game, assim como um álbum de figurinhas. Para facilitar, é possível também comprar os jogadores individualmente, embora o preço de um simples possa equivaler a três vezes o de um pacotinho aleatório. Os cards que vêm repetidos, entretanto, não são inúteis, uma vez que eles servem como um boost de experiência para o jogador em questão para que ele suba de nível com mais facilidade.
Nota-se que, usando outro tipo de moeda que pode ser conseguida dentro dos pacotinhos dos jogadores, também é possível adquirir vários conjuntos de roupas para a personalização dos esportistas. Fazer isso traz alguma vantagem a nível de gameplay? Não, é só para fazer volume mesmo.
O principal incômodo desse sistema é a maneira como ele é atrelado a microtransações. O próprio formato de comprar jogadores desse jeito já é, hoje em dia, atrelado a essa ideia. É aquela sedução clássica que acaba convencendo o mais desavisado a pagar dinheiro de verdade para acelerar o desbloqueio de itens já presentes dentro do jogo. Só avisando, é uma estratégia de negócios realmente suja e que infelizmente só conseguiu se consolidar na indústria de games atual porque há quem paga.
Diversão multiplayer
A maior das estrelas aqui é o modo multiplayer. Sendo possível jogar com um único par de Joy-Cons, os controles simples do game acabam sendo assimilados aos diminutos controles com muito mais facilidade do que acontece com certos títulos mais elaborados, como é o caso dos FIFA para o Switch.
Entretanto, assim como toda qualidade de NBA 2K Playgrounds 2 até aqui tenha demonstrado um revés, o jogo na modalidade multiplayer não é diferente. Não é incomum, mesmo com o console no dock, que a taxa de quadros caia de maneira brusca a cada cesta feita. Às vezes, o próprio arremesso, se acompanhado de um power-up, já provoca tal problema. Aliás, deixando bem claro que essa queda de frames não é uma lentidão pontual na performance, mas um nítido travamento desses em que é possível perder a noção do que está acontecendo na tela.
No que é mais importante, NBA 2K Playgrounds 2 não faz feio!
NBA 2K Playgrounds 2 é o primeiro game do Switch que joguei e, particularmente, tive boas experiências no multiplayer local com um único par de Joy-Cons. Além disso, por mais imperfeito que seja, ele diverte. Isso é o mínimo que qualquer jogo desse estilo deveria fazer. No fim das contas, é uma baita experiência estilo Arcade que vai segurar um jogador que estiver atrás de um belo passatempo descompromissado e de diversão casual com os amigos.
Prós:
- Sistema de jogo simples;
- Boa variedade de jogadores;
- Decisão acertada em versões caricatas dos astros da NBA;
- Realiza a própria proposta com funcionalidade.
Contras:
- Sistema de microtransações;
- Queda de frames considerável no multiplayer;
- Para cada qualidade que o jogo tenta mostrar, um defeito se torna evidente.
NBA 2K PlayGrounds 2 — Switch — Nota: 7.5
Revisão: Pedro Franco
Análise produzida com cópia digital cedida pela 2K Games