A SEGA fez uma verdadeira salada com a série Valkyria Chronicles até aqui: o primeiro jogo da franquia — lançado originalmente para PS3 em 2008 e a caminho do Nintendo Switch em uma versão remasterizada — apresentava uma história clássica de guerra com personagens cativantes e uma jogabilidade inovadora. Já o segundo, foi lançado apenas no PSP, agradando alguns fãs com seu estilo mais simulador e visual novel, mas repelindo outros tantos que esperavam simplesmente mais do mesmo. O terceiro sequer foi lançado no Ocidente e Valkyria Revolution é um spin-off com características bem diferentes. E quanto a Valkyria Chronicles 4? É exatamente o que os fãs de longa data esperavam! Uma volta às origens tão fiel que pode ser familiar até demais.
Mistura inusitada de conceitos
Se você conhece o primeiro jogo da série, sabe exatamente o que esperar de VC4. Mas se nunca aventurou-se pela Europa fictícia destes games da SEGA, Valkyria Chronicles é, provavelmente, uma das franquias mais difíceis de resumir em palavras. Mas vamos lá: se trata de uma mistura equilibrada de simulador/gerenciador militar, com combates em terceira pessoa que mesclam elementos de estratégia em tempo real e em turnos. Tudo isso recheado com uma história contada no melhor estilo novela visual e pitadas de J-RPG. Ufa!
Parece complicado porque realmente é. A melhor maneira de entender Valkyria Chronicles é pegando o controle e tendo um pouquinho de paciência para aprender seus sistemas nos diversos tutoriais durante a jogatina. Apesar do colorido visual estilo anime, a série se destaca justamente por seus alicerces firmados em mecânicas sólidas. E são muitas! São vários sistemas e técnicas para aprender, em diversos menus confusos e cheios de informações. Além de opções de todos os tipos e, como dito antes, muitos tutoriais.
Por outro lado, durante as batalhas tudo fica mais dinâmico e prático: imagine uma partida de XCOM ou Fire Emblem, mas sem o grid que limita o posicionamento dos personagens. Um mapa demonstra a distribuição dos aliados e dos inimigos que estão no seu campo de visão, desta forma você pode escolher com qual personagem quer jogar e o game viaja para o centro do conflito em uma visão em terceira pessoa.
Como não há grid, a movimentação é livre enquanto o seu soldado tiver AP (action points) disponível. Neste momento, os elementos de estratégia em tempo real entram em ação: durante o turno do personagem escolhido, os inimigos próximos podem dar tiros “preventivos” (mas não podem movimentar-se) até que o jogador decida passar o turno ou efetuar uma ação — que pode ser atirar de volta, jogar uma granada, usar um item de cura, etc. E tudo isso também é válido durante a fase de ação dos adversários.
Cada missão tem objetivos definidos que podem variar entre eliminar todos ou determinados inimigos, chegar em um ponto específico do mapa, sobreviver durante um número definido de turnos, etc. Já os cenários podem impor dificuldades, conforme a situação, e dão mais variedade aos combates com seus elementos de neblina, chuva, nevasca, ou até mesmo focados em determinado estilo de jogo — como tanques, por exemplo.
Por falar em tanques, este é mais um exemplo do quão familiar Valkyria Chronicles 4 é: controlar os gigantes de ferro continua uma tarefa irritante por conta da escolha bizarra de comandos de movimentação e câmera. Briguei constantemente com os Joy-Con ao tentar alinhar meus tanques da forma que eu queria ou simplesmente tentando fugir de um objeto invisível do cenário. É o quarto game da série, já estava mais do que na hora de haver uma melhora nesse elemento crucial, mas o problema continua. E, infelizmente, este não é o único defeito proveniente dos jogos anteriores que persiste nesta continuação.
De qualquer maneira, por mais que os problemas incomodem um pouco, não tenho como negar que essa mistura inusitada de estilos continua funcionando de maneira brilhante nos campos de batalha. Os embates são sempre emocionantes, diversificados e cheios de possibilidades táticas. A jogabilidade é tão fascinante que repeti diversas missões só para testar diferentes abordagens estratégicas. E, independentemente de sucesso ou fracasso, me diverti muito em todas as tentativas.
Por outro lado, durante as batalhas tudo fica mais dinâmico e prático: imagine uma partida de XCOM ou Fire Emblem, mas sem o grid que limita o posicionamento dos personagens. Um mapa demonstra a distribuição dos aliados e dos inimigos que estão no seu campo de visão, desta forma você pode escolher com qual personagem quer jogar e o game viaja para o centro do conflito em uma visão em terceira pessoa.
Como não há grid, a movimentação é livre enquanto o seu soldado tiver AP (action points) disponível. Neste momento, os elementos de estratégia em tempo real entram em ação: durante o turno do personagem escolhido, os inimigos próximos podem dar tiros “preventivos” (mas não podem movimentar-se) até que o jogador decida passar o turno ou efetuar uma ação — que pode ser atirar de volta, jogar uma granada, usar um item de cura, etc. E tudo isso também é válido durante a fase de ação dos adversários.
Cada missão tem objetivos definidos que podem variar entre eliminar todos ou determinados inimigos, chegar em um ponto específico do mapa, sobreviver durante um número definido de turnos, etc. Já os cenários podem impor dificuldades, conforme a situação, e dão mais variedade aos combates com seus elementos de neblina, chuva, nevasca, ou até mesmo focados em determinado estilo de jogo — como tanques, por exemplo.
De qualquer maneira, por mais que os problemas incomodem um pouco, não tenho como negar que essa mistura inusitada de estilos continua funcionando de maneira brilhante nos campos de batalha. Os embates são sempre emocionantes, diversificados e cheios de possibilidades táticas. A jogabilidade é tão fascinante que repeti diversas missões só para testar diferentes abordagens estratégicas. E, independentemente de sucesso ou fracasso, me diverti muito em todas as tentativas.
Gerenciando personagens e menus confusos
Cada personagem tem seu arco de história, com vantagens e desvantagens que afetam diretamente seus desempenhos durante os combates. Além disso, o game apresenta um sistema de empatia entre os heróis, detalhe importante na hora de escolher sua equipe para tirar o máximo de proveito possível dos relacionamentos e, consequentemente, das batalhas.O batalhão conta com dezenas de personagens, cada um com uma classe pré-definida de estatísticas que varia entre as já conhecidas Scout (batedor), Sniper (atirador de elite), engenheiro, etc., além da nova classe Granadier, que pode lançar granadas aéreas com um amplo alcance, adicionando mais uma camada de possibilidades estratégicas nos confrontos. Infelizmente, essa é uma das pouquíssimas novidades de Valkyria Chronicles 4. De resto, temos praticamente o mesmo gameplay conhecido, contando a história de novos personagens.
Como de costume na série, ao final de cada missão somos agraciados com pontos de experiência e créditos conforme o desempenho na batalha, que servem para comprar novos equipamentos e evoluir o esquadrão. Valkyria Chronicles 4 pode ser extremamente desafiador em alguns momentos, portanto repetir missões ou completar as batalhas opcionais e Skirmishes (conflitos) é uma boa ideia para angariar mais dinheiro e uns pontinhos extras de experiência.
Para gerenciar estas opções — e dezenas de outras — o título apresenta exatamente a mesma interface de usuário dos anteriores. Ao mesmo tempo que isso é reconfortante para quem já está acostumado com a franquia, é uma péssima notícia por se tratar de um sistema que desde o primeiro jogo merecia aprimoramentos e simplificação. O gerenciamento dos diversos menus e opções não é amigável, pelo contrário, é exageradamente distribuído em sub-menus e cheio de loadings, o que deixa a manutenção das tarefas lenta e cansativa.
Os dois lados da guerra
Diferentemente do título original, no qual o jogador controla uma milícia local defendendo-se dos ataques da vilanesca Aliança Imperial, em Valkyria Chronicles 4 é a vez de comandar um batalhão de soldados do exército da Atlantic Federation, infiltrados em pleno território inimigo. Ou seja, tudo é muito mais épico e grandioso, mas muito menos empático.
Quando joguei o primeiro Valkyria há alguns anos, me apaixonei pela saga daqueles civis comuns que se viram em uma situação terrível, sendo obrigados a vestir fardas para proteger sua nação invadida e seus familiares. Dessa vez, gostei de comandar soldados treinados em batalhas grandiosas e cruciais para o andamento da Grande Guerra, mas perdi consideravelmente a empatia pela história contada em comparação com o anterior.
Valkyria Chronicles 4 se passa na mesma guerra e no mesmo período do primeiro jogo, mas com uma perspectiva diferente. São histórias complementares, sim, mas não é necessário conhecer os anteriores para entender o que se passa neste aqui. A narrativa que rege os títulos da série é a Grande Guerra entre o Império e a Federação — claramente uma versão alternativa do conflito real entre o Eixo e os Aliados na Segunda Guerra Mundial. Ou seja, apesar da grandiosidade dos eventos, não há grandes novidades, e chega a ser até um pouco clichê. Por vezes, me vi passando os diálogos para frente por ter perdido o interesse nas intermináveis e previsíveis interações.
A história até tem elementos narrativos interessantes, com dramas pessoais, romances, inimizades, reviravoltas, traições, redenções, etc. Mas é inegável que a alma da franquia não está em seu grande plot, mas sim nos heróis que contam essa saga. Principais ou secundários, todos os personagens têm funções importantes na narrativa e esbanjam carisma e personalidade. Cada um deles também conta com sua própria linha de história (aqui chamadas de Squad Stories), que só surge quando são usados com frequência no esquadrão.
Um conto em cel-shading
A saga continua sendo contada na forma do diário do protagonista, em uma montagem de fotos espalhadas por páginas que representam os episódios e capítulos da aventura. Os personagens ganham ainda mais destaque por conta da excelente dublagem em inglês. No entanto, infelizmente o título não conta com legendas em português, o que pode ser um enorme problema para quem não conhece a língua estrangeira devido à quantidade gigantesca de informações e sistemas que o jogo apresenta.
Prepare-se para muitas cenas de interações entre os personagens. São horas e mais horas de animações entre as batalhas em um estilo anime que lembra um pouco a série Fire Emblem, da Nintendo. As cenas de história são apresentadas em quadrinhos animados, enquanto as mais importantes são animações muito caprichadas em tela cheia.
Além dos combates estratégicos, outra marca registrada de Valkyria Chronicles reside em seu visual em cel-shading, com texturas que simulam riscos a lápis. E aqui não é diferente. Tecnologicamente não há nada muito impressionante acontecendo na tela, mas o charme da direção de arte é estonteante, conferindo à franquia um estilo inconfundível e inigualável.
Valkyria Chronicles 4 não altera esse modelo consagrado, parece apenas refinar levemente o visual do primeiro jogo, deixando tudo um pouco mais cristalino. Soma-se ao visual belíssimo uma fantástica trilha sonora orquestrada e o show está completo no Switch. O game roda de forma suave no híbrido da Nintendo, tanto em modo portátil quando no dock, ligado à TV.
Uma afiadíssima faca de dois gumes
O gerenciamento de todos esses sistemas pode ser intimidante e até cansativo às vezes, mas quando as batalhas começam, todo esforço vale a pena. O título brilha quando o charme dos personagens está em destaque e quando a estratégia das batalhas começa. Não há nada como a série Valkyria Chronicles no mundo dos games, ela exala originalidade e carisma. Mas não tenho dúvidas de que ainda há muito a ser melhorado.
Valkyria Chronicles 4 é uma volta às origens, mas sem avanços. Por isso mesmo, acaba parecendo um excelente jogo de dez anos atrás. Definitivamente não inventa moda e aposta no modelo consagrado do primeiro título, adicionando uma ou outra novidade interessante na mistura, mas sem se comprometer em corrigir as falhas de outrora. No final das contas, esta nova entrada acerta muito mais do que erra, entregando uma experiência riquíssima de estratégia e simulação.
Prós
- Apresenta uma mistura única de estilos;
- Batalhas estratégicas e cheias de possibilidades;
- Missões com desafios e temáticas bem variadas;
- Personagens carismáticos;
- Conta com um visual que esbanja charme e uma bela trilha sonora orquestrada.
Contras
- Poucas novidades ou evolução em relação aos outros jogos da série;
- Interface de usuário extremamente confusa e pouco intuitiva;
- História principal arrastada e previsível.
Valkyria Chronicles 4 — Switch/PS4/XBO/PC — Nota: 8.5Versão utilizada para análise: Switch
Análise produzida com cópia digital cedida pela SEGA