Análise: Pool Panic (Switch) é uma experiência absurda e divertida

Disfarçado na mecânica dos jogos de sinuca, o jogo oferece um estilo nonsense e bons desafios.

em 01/09/2018

Quando Alice caiu na toca do coelho, todo tipo de coisas estranhas começaram a acontecer. Apesar do absurdo instaurado em sua vida, ela se viu obrigada a aceitar a realidade da situação: estava no país das maravilhas e, se quisesse sair dali, era preciso primeiro se submeter às regras daquele mundo. Pool Panic, jogo desenvolvido pela Rekim e publicado pela Adult Swim, tenta fazer o mesmo. Sem muita explicação você se vê em um mundo habitado por bolas de sinuca. Sendo uma delas, é necessário encaçapar as outras para ir pulando de fase em fase. Parece pouco, mas nem tanto.

Uma tacada de carisma  

Em Pool Panic estamos em um mundo colorido e interessante desde o primeiro momento. Tudo começa em uma mesa em que você aprende as mecânicas básicas necessárias. É aí que você descobre que é a bola branca do jogo de sinuca. Por algum motivo inexplicável, você pode controlar um taco e deve lançar as outras bolas na direção dos buracos, sendo a preta a última que deve cair. Depois de acertá-la você deve entrar na mesma caçapa que ela para seguir até as outras fases.


Se o tutorial é feito a partir de uma mesa de bilhar, isso parece ser apenas para oferecer um contexto ao funcionamento do mundo em que estamos. Ao sair do tutorial o que encontramos é a reprodução de uma cidade — ou talvez até mesmo um país, dada a extensão e as variações de lugares e situações. É possível ir a um bosque, à praia, praticar esqui nas montanhas ou passear no subúrbio. Falando assim imagino que seja difícil de visualizar o absurdo que é o mundo de Pool Panic, mas basta pensar em uma sociedade habitada não por pessoas, mas por bolas de sinuca. E, sem motivo algum, você está lá para destruir suas casas, acabar com os churrascos, atrapalhar bandas de música, interromper uma partida de futebol. Tudo para lançar cada um dos habitantes em uma caçapa.

Como não existe uma sequência obrigatória para cumprir, nos sentimos convidados a explorar esse mundo fantástico (e quase fantasmagórico) que consegue ser ao mesmo tempo repleto de charme e ridiculamente psicodélico. Mas esse lugar não seria tão empolgante se os desafios não valessem a pena.

Puzzles em todas as direções

Apesar da máscara de jogo de sinuca, estamos mesmo diante de um game de puzzles. Cada fase oferece um desafio diferente, em que é necessário encaçapar um número mínimo de bolas antes de lançar a bola preta para o buraco. Mas, apesar disso, é importante dizer que quase nada se parece com uma partida tradicional de bilhar. E isso é muito bom.

A variedade de cenários e a criatividade dos puzzles mostra que houve uma grande preocupação em nos ambientar nessa experiência que não tem nenhum sentido. No entanto, nem tudo são maravilhas e em muitas fases você vai se pegar em dúvida sobre o que fazer. Em alguns casos, isso ocorre pela dificuldade de realizar as tarefas. Mas em outros o problema é não existir nenhuma explicação para como você deve proceder em determinados momentos.

Um exemplo: em uma fase que ocorre dentro de um camping, não era possível terminar o desafio porque o indicador do jogo dizia que faltava ainda encaçapar uma bola antes de empurrar a bola preta para o buraco. No entanto, não tinha bola alguma. Felizmente, é possível sair da fase em que se está e percorrer o mundo livremente enfrentando outros desafios. Voltando depois à fase travada, descobre-se completamente por acaso que era necessário acertar um poste para levantar uma bandeira que faria com que os escoteiros (na verdade, as bolas vermelhas) saíssem das cabanas podendo assim ser acertadas.
É bom perceber que o jogo não menospreza a nossa inteligência e nos força a pensar por conta própria. No entanto, em um mundo tão incoerente quanto este, fazer esforço para pensar logicamente parece até um contrassenso. Fora isso, existem também os problemas com a física do game e a precisão dos controles. As bolas interagem com tudo que está pelo cenário, o que é bom, pois tudo fica mais vivo e interessante de se ver. No entanto, em alguns momentos é praticamente impossível coordenar as ações para fazer a tacada certa. E a única solução parece ser dar tacadas a esmo e torcer para que as bolas caiam no lugar certo por puro acaso. Algo muito frustrante, principalmente quando você já entendeu o que precisa fazer mas não consegue os meios para isso.

O que frustra também é o multiplayer. Com as premissas apresentadas, Pool Panic tinha tudo para oferecer uma experiência de party game digna dos melhores do gênero. Contudo, os modos oferecidos não funcionam bem. Com muitos jogadores, ocorrem alguns travamentos e bugs. Além disso, a quantidade de bagunça na tela (que já é grande no singleplayer) transforma a experiência de jogar com outras pessoas em algo caótico, cansativo e pouco divertido. Uma pena, realmente.

Na caçapa do meio

Pool Panic oferece uma experiência única. É um jogo que não tem medo de soar absurdo e que prima pelo cuidado com a ambientação e com a variedade de desafios. Além disso, os puzzles são criativos e curiosos, deixando sempre um sorriso no rosto de quem joga. Mas nem tudo é bem executado, o que atrapalha a impressão geral. A péssima experiência do multiplayer e a dificuldade de se realizar algumas ações básicas em determinadas fases, acabam diminuindo o brilho do game. Ainda assim, é preciso insistir no fato de que Pool Panic é algo singular demais, o que faz valer cada momento. E se você se entregar ao jogo, é provável que, depois de tudo, você se sinta como Alice no final da história: terá sido mesmo tudo um sonho?

Prós

  • Visual bonito e cativante;
  • Variedade de cenários;
  • Puzzles criativos (e malucos).

Contras

  • Multiplayer travado e cansativo;
  • Imprecisão dos controles em alguns momentos.
Pool Panic - Switch - Nota: 7.5

Revisão: Diego Franco Gonçales
Análise produzida com cópia do game comprada pelo próprio redator
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Pesquisador nas áreas de estética e cibercultura com Mestrado em Cultura e Sociedade (UFMA) e Doutorado em Comunicação (UnB). Além de escrever sobre jogos, produz o Podcast Ficções e tem um blog sobre literatura, filosofia e cotidiano.
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