Análise: Capcom Beat ’Em Up Bundle (Switch) celebra uma época de diversão descomplicada

Não vai faltar fichas nessa coletânea sem frescuras que reúne sete clássicos arcades de pancadaria da Capcom.

em 27/09/2018

Meu sonho quando garoto era ter “fichas infinitas” nos fliperamas. Hoje pode parecer uma bobagem, mas quem vivenciou aquela época consegue entender como era cruel morrer na última fichinha, quando aquele chefe difícil já estava com a barra de energia por um triz. Claro que existia a possibilidade de tentar chegar mais longe em uma das versões para consoles domésticos, mas nada se comparava aos gráficos e efeitos muito mais avançados dos arcades. Muito tempo passou e hoje as salas de arcades são raridades. Em contrapartida, cada vez mais somos agraciados com relançamentos e coleções que recuperam aqueles clássicos de antigamente. Capcom Beat ’Em Up Bundle é um perfeito exemplo disso.

Um pacote de respeito

A nova coleção da Capcom é um prato cheio para quem quer revisitar (ou conhecer) aqueles jogos de pancadaria do passado. O bundle reúne alguns dos maiores expoentes do estilo, além de outros bem obscuros que não tiveram tanta popularidade na época. Todos produzidos com a tecnologia das famosas placas CPS1 e CPS2, origem de dezenas de sucessos da empresa japonesa — incluindo Street Fighter 2.

São sete títulos no total: Final Fight (1989), Captain Commando (1991), Knights of the Round (1991), The King of Dragons (1991), Warriors of Fate (1992), Armored Warriors (1994) e Battle Circuit (1997). Os quatro primeiros fizeram sucesso no Brasil, tanto nos arcades como em suas versões para Super Nintendo. Já os três últimos são bem menos conhecidos, o que valoriza e diversifica consideravelmente o pacote.

Warriors of Fate, por exemplo, até contou com versões para Playstation e Sega Saturn na década de 90, mas estes ports nunca foram lançados fora do território nipônico. O título — baseado no mangá Tenchi wo Kurau — é o segundo de uma série que cobre o período das dinastias chinesas e conta com um visual bem particular, com foco em armas brancas e cavalos que servem como montaria nas batalhas. Armored Warrior e Battle Circuit, por outro lado, jamais saíram das salas de arcades e fazem suas estreias em consoles domésticos.
Warriors of Fate foca nas armas brancas e montarias.
Nas poucas oportunidades que tive para experimentar Armored Warriors, sempre me fascinou a capacidade do game — mesmo limitado pelo gênero — de apresentar um fantástico senso de proporção entre os enormes mechas e os pequenos humanos perambulando pelo solo. Sem dúvidas é um título que se destaca por apresentar essa perspectiva diferente, mas também por contar com elementos interessantes no gameplay, como a possibilidade de coletar partes dos inimigos derrotados para alterar os ataques e a mobilidade dos gigantes de ferro.

O outro estreante nos consoles, Battle Circuit, é o mais raro e desconhecido da lista. E também um dos mais intrigantes. Lançado já na placa CPS2 apenas no Japão e na Europa, se trata de um jogo com temática futurista e bem bizarro. Apesar de seguir um estilo parecido com o de Captain Commando — com personagens estranhíssimos, como uma garotinha montada em um avestruz rosa e uma planta carnívora gigante —, o título destaca-se por contar com um interessante sistema monetário: o jogador coleta dinheiro ao derrotar inimigos e pode comprar upgrades para seus ataques especiais nos intervalos das fases.
Battle Circuit é um show de bizarrices.
Entre clássicos e raridades, há pancadaria para todos os gostos. Entretanto, mesmo a coleção sendo extremamente generosa, não posso negar que senti falta de alguns dos games mais marcantes da empresa japonesa, como Cadillacs and Dinosaurs, The Punisher e Alien vs. Predator, por exemplo. Obviamente, essas ausências são totalmente perdoáveis, visto que a inclusão dos títulos em questão exigiria muito mais esforço por parte da Capcom devido aos direitos autorais envolvidos.

Andar, bater e repetir

Os beat’em ups dispensam apresentações, não é mesmo? Algumas pessoas podem até chamar de brawlers, mas se você já gastou fichas nos fliperamas em algum desses games, provavelmente conhece o gênero como “jogo de pancadaria” ou “briga de rua”. E a jogabilidade não poderia ser mais descomplicada: basta escolher o personagem preferido e sair derrotando os inimigos até que uma seta apareça na tela, indicando que está na hora de andar para a direita.
Final Fight é o nome mais famoso da coletânea.
Ao mesmo tempo que essa simplicidade é o grande destaque dos sete games do pacote, também é seu maior defeito. Por mais que tenham temáticas diferentes, os jogos são todos muito parecidos no que diz respeito ao gameplay, podendo tornar-se enjoativos rápido demais. Ainda mais por não contarem com aquela emoção de ter de tirar o máximo daquela última ficha que restou no bolso. O fato de haver créditos infinitos elimina por completo o senso de desafio das aventuras.

Desta forma, só depende do próprio jogador estipular seus limites para deixar a experiência um pouco mais desafiadora. Eu, por exemplo, dediquei-me a tentar finalizar Final Fight utilizando apenas três créditos extras. Falhei por pouco, mas a expectativa gerada pela simples tentativa fez a jogatina se tornar muito mais emocionante e duradoura. Melhor ainda se puder compartilhar esse tipo de desafio com os amigos!
Os mechas gigantes são o grande diferencial de Armored Warriors.
As diferenças entre os títulos disponíveis são muitos sutis. Alguns são levemente mais rápidos (Captain Commando, Armored Warriors e Battle Circuit, por exemplo), enquanto outros tem uma jogabilidade mais cadenciada (em especial Warriors of Fate). O melhor mesmo é escolher o game que mais se adapta ao seu estado de espírito no momento, apreciando a jogatina em doses curtas, um jogo por vez. Desta forma, evita-se permitir que a jogabilidade repetitiva enjoe mais rápido do que deveria.

Os clássicos no século 21

Logo de cara é possível perceber que esses clássicos — alguns com quase três décadas nas costas — estão mais bonitos do que nunca. Os sprites super detalhados das versões arcade brilham na telinha do Switch, todos com cores vibrantes e animações que continuam cheias de charme mesmo depois de tantos anos. O tratamento em HD é tão caprichado que a arte em pixels dos títulos segue fantástica mesmo na tela grande, com o console ligado à TV.
Knights of the Round é um exemplo de como os belos gráficos 2D brilham no Switch.
Se por um lado o visual continua estonteante, o mesmo não pode ser dito do som. Trilhas e efeitos sonoros parecem ter envelhecido demais e não receberam um maior cuidado por parte da Capcom. Por falar nisso, lembra daquela época em que os ports de arcades para consoles domésticos eram agraciados com opções de teste de som ou um jukebox virtual? Pois é, ficou no passado mesmo. Com tantas músicas e sons nostálgicos para ouvirmos, os extras ficaram limitados a uma pequena galeria de imagens apenas.

Ok, a galeria é bem interessante — conta com artes conceituais, documentos de design, adesivos originais das máquinas, etc. —, mas depois do tratamento caprichado que as séries Mega Man e Street Fighter receberam em suas coletâneas, confesso que esperava bem mais por aqui também. Com a exceção da possibilidade de alterar-se as dificuldades dos jogos, número de vidas e versões (Ocidental ou japonesa), não há qualquer modo extra.
A galeria de imagens conta com artes conceituais como essa, de Captain Commando.
Imagine como seria bacana um sistema de recompensas baseado nos high scores de cada título da lista, liberando outras imagens para a galeria, músicas para um jukebox, bordas diferentes, etc. Além de agregar valor replay ao pacote, adicionaria um novo grau de desafio e um “meta-jogo” envolvente. Ficamos só na vontade, infelizmente.

No final das contas, o grande destaque do Capcom Beat ’Em Up Bundle fica para o modo multiplayer, tanto local quanto online. Os momentos mais prazerosos que tive com a nova coleção da Capcom foi quando tirei os Joy-Con do meu Switch e liguei o modo para dois jogadores. Mesmo não sendo lá muito ergonômicos, os pequenos controles do console híbrido da Nintendo proporcionam esse multiplayer instantâneo, sem esforço.
Captain Commando fez muito sucesso nos fliperamas brasileiros.
A grande virtude dos beat ’em ups sempre foi a diversão de jogar cooperativamente com os amigos, e aqui não é diferente. Apenas Final Fight foi projetado para apenas dois jogadores, todos os outros títulos do pacote oferecem multiplayer para três jogadores simultâneos e, no caso de Captain Commando e Battle Circuit, até quatro pessoas podem se juntar à festa.

Se faltar controles (ou amigos) para jogar junto, o modo online oferece opções bem legais. Um exemplo é a possibilidade de ingressar em jogos que já estão em andamento, deixando tudo mais ágil. Na minha experiência com o modo online, não tive dificuldades em conectar aos servidores e encontrar partidas, mas infelizmente sofri com um pouco de lag durante a jogatina.
The King of Dragons possui elementos de RPG.

Vai encarar?

Foi extremamente prazeroso voltar no tempo por algumas horas e sentir de novo um pouco daquela mágica que só os arcades proporcionaram. Capcom Beat ’Em Up Bundle celebra aquela época fascinante ao reunir alguns dos melhores jogos de um gênero um pouco esquecido nos dias de hoje.

Mesmo pobre de conteúdo extra e contando com títulos que possuem jogabilidades extremamente parecidas (e repetitivas), a coletânea da Capcom entrega diversão instantânea e nostálgica. São sete ótimos jogos, com belíssimos gráficos remasterizados em HD e perfeitos para jogar com os amigos. Se você é fã de beat ’em ups, não tem erro!

Prós

  • Diversão descomplicada, como antigamente;
  • Multiplayer para até quatro pessoas, online e local;
  • Os gráficos em pixel art dos jogos do bundle ficam fantásticos na tela do Switch;
  • São sete ótimos títulos por um preço justo.

Contra

  • Conteúdo extra poderia ser mais caprichado;
  • Gameplay repetitivo e desafio mínimo devido aos créditos infinitos.
Capcom Beat ’Em Up Bundle — Switch/PS4/XBO/PC — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch
 Análise produzida com cópia digital cedida pela Capcom

Comunicador e colecionador. Já foi Sega kid e Nintendo kid, agora é retro "kid". Está no Twitter em @carloscirne e faz vídeos no YouTube no canal CirneStuff.
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