Análise: Blade Strangers (Switch) aposta em um crossover sem muita ambição

O jogo de luta 2D é uma grande reunião dos personagens de franquias publicadas pela Nicalis, como Code of Princess Ex e Cave Story+, com alguns importantes convidados especiais.

em 05/09/2018

Quem não gosta de um bom crossover entre suas franquias favoritas, não é mesmo? Seja no cinema, ou em jogos, é sempre bom ver nossos heróis de diferentes universos reunidos, e geralmente isso significa um bom “quebra-pau”. A Nintendo há anos conquista seus fãs com a franquia Super Smash Bros., e no ano de lançamento do que promete ser sua versão definitiva, a Nicalis, em conjunto com o Studio Saizensen, resolveu entrar nesse universo, com o lançamento de Blade Strangers.

A devoradora de zeros e uns

E falando em universo, outra maneira comum de explicar heróis que nunca se viram finalmente se encontrando, é um grande perigo a existência de seus mundos. Blade Strangers aposta no seguro e segue esse clichê. Uma força maligna está devorando dados de uma rede interdimensional de servidores, que é controlada por computadores chamados de Motes.

Tentando evitar a perda total dos dados, os Motes recrutam heróis nos diversos mundos dos jogos, colocando-os em um torneio, no qual o vencedor será despertado como o Blade Stranger, o salvador que terá o poder de derrotar a vilã Lina e proteger o universo. A explicação para seus poderes estarem equivalentes é que o processo de trazer apressadamente todos os lutadores para o mesmo local, acaba deixando-os sem alma. Isso é explorado com piadas nos diálogos em que os heróis confundem suas motivações.

Infelizmente, a história é o maior ponto fraco do jogo e serve apenas como uma explicação para os heróis se reunirem e batalharem. Além disso, o final não é nada empolgante e, exceto por alguns diálogos engraçados que mudam entre uma campanha e outra, acaba se tornando uma experiência repetitiva e tediosa terminar com cada lutador diferente. A recompensa, uma cor extra para o personagem e uma foto nova para usar como avatar, também não empolgam.


Acessando o menu principal

O modo história começa com nove heróis disponíveis, dos quatorze presentes no jogo. É preciso terminar algumas campanhas para liberar os outros personagens. A dificuldade padrão da inteligência artificial não oferece desafio, e mesmo no difícil pode ser vencida facilmente. Então, para aqueles jogadores experientes em jogos de luta, talvez consigam se divertir na dificuldade expert — essa foi demais pra mim.

As outras opções de jogo consistem em:
  • Tutorial: é onde o jogador iniciante vai aprender todos os recursos do jogo, desde os ataques básicos, até combos e especiais. Vale a pena usar um bom tempo aqui antes de se aventurar nos outros modos.
  • Missions: subdividido em Challenge e Survival. O primeiro parece estar no lugar errado, pois as missões consistem em aprender combos poderosos dos personagens. Se encaixaria melhor no tutorial. Já em Survival vamos enfrentando oponentes seguidamente até perder. Para os jogadores com o treinamento em dia é uma boa oportunidade de testar até onde conseguem chegar, mas com o tempo acaba ficando cansativo, sendo mais fácil ser derrotado por fadiga do que por falta de habilidade.
  • Arcade: o modo tradicional que todo jogo de luta precisa ter. Para vencer, basta passar pelos sete adversários, sendo seis deles aleatórios, e depois enfrentar a chefe Lina.
  • Versus: a opção para tirar aquele contra no sofá com os amigos. Já vou adiantar que essa é a melhor forma de jogar esse game se você não for fã do online.
  • Training: não dá pra dizer que o game não dá chance para aprendermos seus macetes. Já passou pelos tutoriais, jogou um pouco e escolheu seu lutador preferido? É hora de treinar combos poderosos. O modo possui um contador de danos com histórico do combo mais devastador. Há diversas opções para personalizar as situações desejadas também.
  • Online: Stealth Match é o verdadeiro casual, onde é possível lutar com oponentes aleatórios sem ao mesmo revelar sua identidade. League Match é o tradicional ranqueado, no qual é possível lutar contra um oponente aleatório visando subir na classificação do jogo. Em Casual Match é possível criar ou acessar uma sala criada por alguém, podendo fechar a sala com senha para treinar com alguém em especial. Por fim, o Leaderboard mostra a classificação dos jogadores que chegaram a classificação Legend do modo League Match. É possível usar alguns filtros para restringir a classificação por personagem ou para seus amigos. O modo online está funcionando de forma bastante consistente, sem lags e encontrando partidas rapidamente nos testes realizados — apesar de que em muitas vezes eu acabei jogando contra o mesmo adversário seguidamente.
  • Profile: em profile é possível visualizar seus recordes e gerenciar desbloqueáveis, como foto de avatar e uma plaquinha que será mostrada junto ao nome do jogador, quando numa partida online.
  • Options: aqui será possível ajustar questões relacionadas ao display, som e customizar totalmente os controles do jogo. Qualquer botão de ação pode ser alterado. Por padrão algumas combinações de botões mais usadas vêm configuradas nos botões de ombro.

Descompactando arquivos

Para esta peleja foram convocados heróis dos principais jogos do Studio Saizensen e/ou Nicalis, além de convidados especiais, e até personagens criados especialmente para Blade Strangers. Podemos dizer que a Solange de Code of Princess Ex leva o título de protagonista, por conta de seu destaque na abertura e também por outros fatores que não citarei para evitar spoilers.

Posso falar pelos personagens que eu já conhecia, que seus ataques e poderes causam uma bela sensação de nostalgia, demonstrando carinho por parte dos desenvolvedores, pois remetem diretamente a seus ataques ou momentos em seus jogos principais. Além disso, é sempre bom poder ver lutas até então inimagináveis do universo indie, como Shovel Knight vs Isaac, por exemplo. No entanto, alguns tiveram o visual adaptado e talvez por escolha dos devs, possuem uma aparência mais adulta.

São eles:
  • Solange (Code of Princess Ex)
  • Ali (Code of Princess EX)
  • Liongate (Code of Princess EX)
  • Master T (Code of Princess EX)
  • Curly Brace (Cave Story+)
  • Quote (Cave Story+)
  • Kawase Umihara (Sayonara Umihara Kawase)
  • Noko (Sayonara Umihara Kawase)
  • Emiko (Sayonara Umihara Kawase)
  • Isaac (The Binding of Isaac)
  • Shovel Knight (Shovel Knight)
  • Gunvolt (Azure Striker Gunvolt)
  • Helen (Personagem original de Blade Strangers)
  • Lina (Personagem original de Blade Strangers)

Excluindo o estágio de treino, o game possui 14 no total, cada um representando um personagem. Infelizmente, eles sofrem com a falta de ambição do jogo. Não há exatamente um padrão de qualidade. Alguns são quase estáticos, com poucas animações até mesmo comparado a jogos antigos, enquanto outros cenários são mais detalhados e bem animados — meu favorito é o Ancient Tower Interior, com suas várias engrenagens.

Apesar de ser nitidamente serrilhado, exceto nos menus, os gráficos do jogo são bem bonitos. Os efeitos luminosos são muito bem feitos, e todos os personagens receberam atenção especial em sua movimentação e em suas roupas sempre esvoaçantes. Apesar dos menus e textos estarem em inglês, o game permanece com a dublagem original em japonês. Não há cutscenes além da abertura e os diálogos são feitos através de imagens estáticas desenhadas a mão. As músicas são agradáveis, mas pouco memoráveis, exceto pela trilha que acompanha a introdução do jogo.


Uma ameaça foi detectada, entrando em modo agressivo

Blade Strangers deixa de lado comandos complicados geralmente usados em jogos do gênero, em favor de um simplificado sistema de quatro botões. A mudança visa atrair os lutadores novatos, mas não dá pra dizer que o jogo é só para eles. A partir das combinações de soco fraco, soco forte, ataque único (realmente único para cada personagem), e Skill, combinados com os direcionais, é possível criar combos simples ou mais complexos. Para os mais experientes, é possível emendar um combo no outro, causando um grande estrago a barra de vida do adversário.

Outros recursos como defesa, rasteira, corrida, e até uma esquiva para trás também podem ser explorados pelos jogadores. A critério de comparação, o game é menos técnico que Street Fighter e apesar de ter especiais exagerados, é mais lento que Marvel vs. Capcom. Aqui os tradicionais “meia lua” ou controles com dois ou mais toques em direcionais também não são necessários. Porém, as partidas são rápidas e o game exige precisão nos controles, qualquer leve descuido pode deixar o adversário em grande vantagem.


Há também uma barra de três níveis no canto inferior da tela, que pode ser usada para realizar ataques especiais ou apenas mais fortes, além de servir para entrar em um modo em que o lutador fica mais forte quando está com pouca vida. Este recurso adiciona estratégia ao jogo e pode ajudar os mais experientes em sua junção de combos. Por fim, em Blade Strangers, quando o oponente cai, nem sempre é uma idéia boa estar perto dele, pois é possível com o apertar de um botão levantar já desferindo um golpe, ajudando na recuperação.

Não sou nenhum especialista em jogos de luta, mas algumas decisões do jogo me pareceram contraditórias. A principal delas é que o jogo visa atrair o público casual, mas seus tutoriais são mostrados com siglas para Light Attack, Heavy Attack, etc. Alguns comandos precisam ser realizados com dois ou três desses botões ao mesmo tempo, então a combinação L + E + H, por exemplo, se torna uma grande sopa de letrinhas. Seria muito mais fácil decorar os botões do controle, que já estão fixados na memória: Y + B + X. — a propósito, é bastante incômodo executar esse tipo de comando no Joy-Con, devido ao posicionamento do analógico direito.

Outro ponto é que alguns personagens aparentam estar bastante desbalanceados e algumas estratégias repetitivas são difíceis de serem contornadas, pelo menos por jogadores mais casuais. Em jogos de luta, a experiência e a versatilidade do jogador conta bastante em uma partida e muitos não terão dificuldade em se desvencilhar de certos tipos de adversários online. O jogo roda com framerate estável e não houveram problemas técnicos durante os testes.


Desligando o sistema

A sensação final de Blade Strangers é a de um bom jogo, feito com competência, e adequado ao seu público alvo. Pra mim, o mais divertido foi jogar um contra local, de forma descontraída, relembrando os velhos tempos de jogatinas no Super Nintendo, enquanto aproveitava o curioso time de lutadores indie, mas a experiência online também está bastante competente.

Entretanto, sua falta de ambição faz com que seja um produto apenas mediano. O time de personagens conta muito, mas mesmo assim o jogo não consegue ser memorável ou diferenciado. Desde os cenários simplistas, gráficos, que apesar de belos, são bastante serrilhados, uma história ruim até mesmo comparado às clichês de outros games do gênero. Ele cumpre sua proposta. É um bom jogo. Mas sinto que, por se simplificar demais, perdeu a oportunidade de ser ótimo.

Prós

  • Interessantes e variadas opções de lutadores;
  • Gameplay divertido e funcional;
  • Framerate estável;
  • Sistema de combos e especiais simplificado, visando atrair novatos do gênero;
  • Online funcionando perfeitamente.

Contras

  • História ruim;
  • Em sua dificuldade padrão, a inteligência artificial não oferece desafio;
  • Gráficos serrilhados;
  • Alguns cenários são simplistas demais.
Blade Strangers — PS4/PC/Switch — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Ana Krishna Peixoto
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nicalis

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