1993 foi um ano recheado de clássicos, especialmente para os fãs da Nintendo. O saudoso game de Aladdin, as batalhas espaciais em três dimensões de Star Fox e a coletânea com games remasterizados do bigodudo, Super Mario All-Stars, são apenas alguns exemplos dos lançamentos daquele ano. Mas, para os fãs de JRPG, o ano foi marcado por um dos melhores títulos do gênero: Seiken Densetsu 2, ou, como o conhecemos por aqui, Secret of Mana. No dia 6 de agosto, o game está completando 25 anos. Portanto, nada mais justo do que um Blast from the Past especial sobre esta aventura.
De Final Fantasy IV a Secret of Mana
Tudo começou quando o então produtor da Square, Hiromichi Tanaka, havia terminado seu trabalho em Final Fantasy III e planejava o quarto título da franquia. Desta vez, ele queria se dar uma folga do estilo de batalhas tradicionais por turnos e tentar algo novo. Assim nasciam os primeiros esboços do que se tornaria o sistema de batalhas de Secret of Mana, um meio termo entre o RPG de ação e o tradicional.
Pode-se dizer que o sistema de batalha do título seja uma versão em tempo real de Final Fantasy. O jogador fica livre para ir aonde quiser durante uma batalha, porém, precisa respeitar uma barra de estamina. Essa barra se esvazia a cada ação e o jogador precisa esperar que ela recarregue para o seu próximo ataque surtir efeito ou causar mais danos.
O primeiro Seiken Densetsu, lançado para Game Boy, já possuía o conceito de estamina, mas era diferente. A barra era maior, e sua usabilidade era ser carregada para um golpe mais poderoso, não sendo necessária para golpes comuns. O gameplay podia ser comparado com Legend of Zelda.
Porém, após o projeto que abrigaria o novo estilo de batalha de Tanaka deixar de ser Final Fantasy IV – por ele acreditar que o sistema descaracterizaria a série – e ser chamado internamente de Chrono Trigger, Seiken Densetsu foi a série escolhida para recebê-lo.
O diretor Koichi Ishii buscou referência em livros infantis para dar vida ao mundo de Secret of Mana. Seu visual de cores vivas se tornou uma das principais características do game, porém, inicialmente o tom deveria ser mais obscuro.
O game foi planejado para o acessório de CD-ROM, que estava previsto para o SNES. Mas, como contam os livros de história dos videogames, o acessório foi cancelado – abrindo espaço para a Sony lançar o PlayStation. Por conta disso, os produtores de Secret of Mana tiveram de cortar uma boa parcela do game, custando a profundidade de seus personagens e consequentemente, sua obscuridade, para que o game coubesse em um cartucho.
Apesar deste infortúnio, o que foi cortado para esta versão não foi jogada fora. A equipe reaproveitou em outros títulos, como o Chrono Trigger que conhecemos e amamos.
O grande diferencial de Secret of Mana é ser um RPG com possibilidade de jogar em até três jogadores, utilizando o Multitap do SNES. Hoje temos outros games que possuem esta funcionalidade, mas para a época foi uma novidade muito bem-vinda.
A função foi a última a ser implementada e, segundo Ishii, só não recebeu um quarto personagem jogável por conta das limitações do hardware. Mesmo assim, ele acredita que seu objetivo foi cumprido, visto que pai, mãe e filho podiam jogar juntos.
A lenda da espada sagrada
Secret of Mana começa quando você, um garoto abandonado por sua mãe em um vilarejo, resolve passear com seus amigos pelos campos vizinhos. Só que, em um determinado momento, se desequilibra de um tronco, que serve como ponte entre uma cachoeira e a terra firme, e acaba caindo.
Ao procurar um caminho para voltar ao vilarejo, escuta uma voz chamando seu nome. Decide segui-la. Assim, você encontra uma espada presa em uma pedra em um lago.
“Retire a espada”, diz a voz misteriosa.
Sem opção, visto que o caminho estava cheio de arbustos e precisaria de um objeto cortante para voltar ao vilarejo, você a retira.
Em questão de segundos, uma forte luz ilumina todo seu campo de visão. Um espírito se apresenta diante de você e diz que foi ele quem lhe chamou. Mas vai embora. Quando a luz desaparece, sem perceber, você e seu mundo não são mais os mesmos.
Em busca do caminho do vilarejo, você se depara com monstros e precisa enfrentar-los com sua nova espada para prosseguir. Quando finalmente encontra seu lar, acaba descobrindo a besteira que fez.
O sábio do vilarejo explica que a espada em suas mãos é a Mana Sword, um artefato que por eras os protegia. Assim, a retirando da pedra, você trouxe a desgraça a todos, causando terremotos e fazendo com que os monstros ataquem as pessoas. Uma bomba para sua consciência, mas nem tudo está perdido.
Um viajante chamado Jema passa por ali e reconhece a espada. Ele conta que apenas um bravo guerreiro, em um momento de emergência, deveria ser capaz de retirar a espada.
“O problema é que você é muito jovem! Algo deve ter acontecido com a Mana Sword”, diz o viajante. Ele lhe confia a espada dizendo que a mesma está perdendo seu poder e precisa ser re-energizada. “Apenas quem libertou a espada pode fazer isso”. “Visite a sábia Luka no Water Palace. Ela vem protegendo estas terras por mais de 200 anos. Escute seus concelhos”.
Luka não aparenta a idade e sabe de tudo o que está acontecendo por meio das correntezas da água. Quando você a encontra ela explica: “O poder de Mana está enfraquecendo. É por isso que esse menino foi capaz de retirar a espada. Quando ele fez isso, o balanço de Mana nesta área foi afetado e os monstros reviveram. Existem monstros maus trabalhando para tomar para si o poder da Mana Sword! Derrotando esses monstros, você poderá restaurá-lo”.
Ela também diz que o poder está mantido em orbs escondidos e que será necessário encontrar alguém que forje a espada com os poderes coletados.
Para Jema, a sábia dá outro conselho. “Fique de olho no Império. Ele procura pela Mana Fortress”, uma arma de grandes proporções que pode acabar com o mundo.
Assim começam suas aventuras por Secret of Mana. Um game repleto de cor, fantasia e monstros bonitinhos, mas que guarda um pano de fundo sombrio em seu enredo.
Personagens jogáveis
The Boy
O primeiro personagem jogável é um menino de cabelos espetados, cuja missão é derrotar os monstros que ameaçam quebrar os selos que protegem as Mana Seeds e usar o poder de Mana para o mal.
Diferente dos outros protagonistas, ele não pode utilizar magias.
The Girl
A segunda personagem jogável é uma menina de cabelos loiros, filha de um dos moradores do Pandora’s Castle. Ela aparece pela primeira vez quando o protagonista está em apuros, pronto para virar o jantar de Goblins na floresta. Ela o salva e mais a frente, pede para que ele a ajude em seu objetivo: salvar seu amado Dyluck, que desapareceu após ser enviado para se infiltrar em Elinee’s Castle.
Seu foco são as magias de cura.
The Sprite
O terceiro e último personagem jogável é um duende, encontrado na Caverna dos Anões. É bastante travesso, porém, pode usar magias poderosas, como bolas de fogo e congelamento.
Ainda vale a pena jogar
Secret of Mana possui seus defeitos, especialmente no que tange à inteligência artificial dos protagonistas quando se joga sozinho. Mesmo com a possibilidade de pré-programar suas ações, é comum o computador levar o personagem para ataques inimigos.
A tradução americana também não é das melhores. De acordo com o tradutor Ted Woosley, o texto teve de ter vários cortes por limitações de espaço na tela e o prazo foi bem apertado.
A condensação do texto é visível, mas não interfere na experiência do game. Com poucas horas de jogo já é possível se apaixonar pelos personagens e pelo mundo de Secret of Mana.
Defeitos à parte, mesmo com seus 25 anos o game fascina. Seu mundo é repleto de vida e criatividade. Se você nunca foi lançado de um foguete para viagens rápidas, nem fez negócios com um gato cambista ou passeou em um dragão bonitinho, é hora de experimentar este clássico. Se você viveu essa aventura, deixe nos comentários suas lembranças!
Revisão: André Luís de Carvalho