Foi aí que surgiu Mega Man X (SNES), pensado para continuar o legado da franquia original, mas expandindo para novos horizontes. O jogo foi lançado apenas um mês depois de Mega Man 6 (NES) e trouxe, junto de seu ar mais sério, tanta inovação que não é surpresa que tenha se tornado um imenso sucesso. Assim , Mega Man X foi aos poucos evoluindo em sua própria série aclamada de jogos, com seus altos e baixos, que marcaram a infância de muitos, incluindo este que vos escreve. Mega Man X Legacy Collection (Switch) honra esse legado e traz uma coletânea muito bem cuidada, só com os melhores jogos da franquia, para arrancar lágrimas de qualquer marmanjo.
Bem-vindo ao século XXII
Mega Man X se passa no ano de 20XX e traz uma nova história fortemente influenciada pela mitologia construída pela série clássica. Dr. Light cria um robô muito a frente do seu tempo, chamado de X, e o programa para despertar depois de 30 anos. X passa a ser o primeiro dos Reploids, uma raça de andróides capazes de sentir e fazer suas próprias escolhas, que servem os humanos. O primeiro jogo começa quando Sigma, o vilão de toda a série, começa uma revolução com oito Mavericks — Reploids renegados — e cabe ao X detê-los.Mesmo com uma premissa razoavelmente simples, que se aproveita de alguns clichês de sci-fi, a história de Mega Man X traz um tom muito mais sério a uma franquia até então voltada a crianças. Essa maturidade se reflete em diversos aspectos do primeiro jogo, seja no level design que ensina suas mecânicas sem ser intrusivo ou nas melhorias escondidas nas fases que permitem que os jogadores se preparem o quanto acharem necessário para os desafios ainda por vir.
O jogo não ousa muito na temática de suas fases, mas é bem-sucedido em estabelecer toda base para uma franquia. Todo arsenal de movimentos, visual icônico, estrutura de fases e até os segredos que fariam desses jogos tão especiais, começaram aqui e por isso Mega Man X é considerado por muitos o melhor jogo da franquia.
O bom, o mal...
A qualidade estabelecida no primeiro jogo é mantida por toda coletânea, sendo que até o mais fracos dos jogos trazidos aqui ainda é um ótimo jogo. Além de Mega Man X, temos também Mega Man X2 (SNES), Mega Man X3 (SNES) e o sensacional Mega Man X4 (PS1/Sega Saturn), praticamente intocados desde o seu lançamento original.Mega Man X2 e Mega Man X3 trazem uma evolução natural e bem gradativa para a franquia, introduzindo poucos elementos que apenas lapidam um pouco a fórmula do primeiro jogo. Mega Man X2 te leva a explorar lugares incríveis com visuais surpreendentes e temáticas bem inusitadas em relação à norma. Que tal uma caverna de cristais? E um ferro-velho que funciona como cemitério de robôs? Cruzar um deserto em uma moto, parece uma boa? O jogo exala criatividade não só nos mapas e nos chefes, que estão entre os melhores da série, mas também na jogabilidade. Uma verdadeira pedra preciosa entre os jogos da franquia.
Em seguida temos Mega Man X3, que traz uma história confusa e pouca novidade em geral. É peculiar como o jogo se mostra medíocre apenas por tentar ser grandioso demais. Analisando sua primeira fase, dá para ter um gostinho do que está por vir. Começamos no meio de uma invasão ao quartel general dos Maverick Hunters, a grande organização que X e Zero fazem parte. Tiro e explosão para todo lado, o jogo promete trazer bastante ação.
Seguindo na fase, podemos notar uma repetição de três tipos de inimigo, o que parece normal para uma fase introdutória. X é sequestrado e finalmente, depois de dois jogos, podemos jogar com Zero. O resultado é no mínimo frustrante, pois ele se mostra praticamente um clone de X e não o personagem único e interessante que merece ser. Essa frustração e falta de criatividade se repete durante todo o jogo. Tem inimigos que aparecem em quase todas as fases, as locações são em sua maioria genéricas e o jogo falha em introduzir algo de novo com êxito. Mega Man X3 é como comer o seu prato favorito, só que sem nenhum tempero.
... e o Mega Man X4
Por fim, temos o primoroso Mega Man X4. Este é o primeiro game da série a fugir dos 16-bits e a mudança no visual é, no mínimo, discutível. Entretanto, não deixe o estilo gráfico duvidoso te enganar: este é possivelmente o melhor jogo da série. Além de trazer mudanças cruciais na jogabilidade, X4 tem a história mais influente que molda os rumos dramáticos que a série iria tomar.
Antes de tudo, Mega Man X4 é uma tragédia e também a história de origem de Zero. Este é o primeiro Mega Man X que me fez sentir emoções legítimas apenas com a história. Ela consegue ser profunda e elegante, levantando questionamentos de moralidade, livre arbítrio e justiça. A forma como alguns personagens são apresentados como amigos de Zero, só para serem enfrentados mais tarde, muitas vezes sem terem feito nada errado, traz uma pontada de tristeza para confrontos épicos. O jogo até te dá a opção de jogar com X, para os mais saudosistas, mas fica bem claro que tudo no jogo foi feito para ressaltar o drama de Zero.
O próprio Keiji Inafune, cocriador de toda franquia, já revelou em diversas entrevistas seu desejo de que Zero fosse o protagonista da franquia desde o princípio e que isso só não aconteceu por medo da Capcom. Fica evidente que este é o Mega Man X que Inafune quis fazer desde o princípio.
Apesar de tornar o jogo como um todo mais difícil, jogar como Zero é muito gratificante. A cada novo chefe derrotado, ele ganha uma nova técnica com seu sabre. Diferente de X que precisa trocar entre suas armas especiais, Zero tem todo seu arsenal disponível a todo momento, sendo ativado por comandos especiais. As fases por si só contam uma história e não é difícil encontrar uma que comece com um cenário e termine em outro completamente diferente. Mega Man X4 é o que há de melhor na série fechando com chave de ouro os jogos dessa coleção.
É hora do duelo
Para fechar a coleção, a Capcom também trouxe alguns extras e dois novos modos. O extra mais interessante é a inclusão do curta The Day of Sigma, lançado originalmente com Maverick Hunter X (PSP), que funciona como uma prequel para a história. Infelizmente, há algumas contradições com os acontecimentos de alguns jogos, então não dá para ser considerado oficial. Ainda assim, dá uma boa ideia de como seria incrível um anime da série.
Temos também uma robusta galeria com artes conceituais dos quatro jogos, além de algumas informações adicionais, conquistas, uma coletânea com as músicas da franquia, entre outros bônus que agregam um valor sentimental ao jogo. Já entre os modos, a Capcom decidiu agradar a gregos e troianos. Para os novatos, temos o Rookie Hunter Mode — uma opção para facilitar os jogos da coletânea que pode ser ativada a qualquer momento. Infelizmente o modo acaba facilitando demais a ponto de tornar a experiência final tediosa, então recomendo apenas para novatos.
Prós
- Mega Man X4;
- Coletânea junta os melhores jogos da franquia;
- Gráficos pixelados envelheceram muito bem;
- Conquistas ajudam a explorar tudo que há de bom em cada jogo;
- X Challenge é divertido e os chefes formam pares que se complementam;
- Artes, músicas e todo conteúdo extra é muito bem curado e traz um conteúdo incrível para os fãs mais hardcore.
Contras
- Jogos praticamente intactos, com direito a queda de frame rate e qualquer problema presente no original;
- Ausência de opções mais variadas de dificuldade faz falta;
- Grande parte das combinações do X Challenge se repete entre as coletâneas.
Mega Man X Legacy Collection — Switch/PS4/XBO/PC — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: João Paulo Benevides
Análise produzida com cópia digital cedida pela Capcom