Analise: Titan Quest: Anniversary Edition (Switch) é edição remasterizada de clássico cult que não consegue esconder sua idade

Do co-criador de Age of Empires, Titan Quest chega aos consoles em edição remasterizada repetindo os erros e acertos de sua versão original.

em 08/08/2018

Em 1996 um jogo revolucionou o gênero de RPG nos vídeo games. Diablo chegava aprimorando e levando para grandes públicos o que chamamos de RPG de ação, que misturava exploração, evolução e batalhas em tempo real. Desde então inúmeros desenvolvedores tentavam replicar o fenômeno da Blizzard, que se tornou um dos mais influentes daquela década.

Dez anos depois, em 2006 Titan Quest chegou ao PC. O game foi desenvolvido pelo co-criador do aclamado Age of Empires, Brian Sullivan, e lançado pela THQ Nordic. A ideia era levar as mecânicas do sombrio e fantasioso Diablo para os ambientes “realistas” e mitológicos da Grécia, Egito e China.

O game não chegou a ser um grande sucesso devido o lançamento restrito aos jogadores de PC, porém, com boas avaliações e aceitação do público, Titan Quest é considerado um clássico cult e está chegando finalmente aos consoles, incluindo o Nintendo Switch. Além de ser uma versão remasterizada de aniversário, a edição possui não só o conteúdo principal, mas também a expansão Iron Throne lançada originalmente em 2007.

A batalha contra os titãs

Através de uma linda cena em computação gráfica, a narração conta que durante a era de trevas e sofrimento, os titãs dominavam a terra. Esse período teve fim após uma grande guerra que levou a prisão dos seres por Zeus e os deuses do Olimpo. Anos de paz se seguiram, mas a era de ouro estava prestes a acabar. Bestas e demônios passam a se tornar frequentes pelo mundo, ameaçando acabar com a tranquilidade da Grécia. O selo que prendia os poderosos vilões parecia ter sido rompido. Os deuses então buscam um herói ou heroína para descobrir o que está por trás do reaparecimento das bestas além de tentar por um fim na batalha de uma vez por todas. É aqui que nossa aventura começa.

Titan Quest, mesmo não sendo tão antigo assim, mostra todo o peso de sua idade já nos primeiros momentos. Customizar seus heróis parecia algo novo e ousado há uma década, mas com tantas novas possibilidades disponíveis atualmente, a percepção que temos é de poucas opções para escolher. Após selecionar o gênero, apenas o nome e a cor da túnica estão disponíveis. Durante o jogo é possível equipar itens e armas, que aparecem em tela no personagem, melhorando a customização e atributos, mas não resolve a limitação.


Narrativa burocrática 

Iniciando no vilarejo de Helos, onde monstros estão atacando com frequência, o jogador precisa explorar e avançar pelo mapa em busca de missões e melhores equipamentos, além de percorrer caminhos que levam a novas quests e masmorras. Os novos mapas são desbloqueados à medida que a história segue e acontecimentos da narrativa levam nosso herói ou heroína a visitar o Egito e a China.

Como todo bom RPG, conversar com todos ao redor é crucial para entender a narrativa e se sentir compelido a prosseguir. Mais uma vez carregando características da época de seu lançamento original, o game possui grandes falhas na forma de contar a sua história, onde tudo soa simples e sem vida. Alguns diálogos podem ser cortados apenas ao se afastar um pouco do npc, mesmo sem querer. Na maioria das vezes, as falas saem antes do texto apresentado na tela, que inclusive, é facilmente encoberto por elementos do hud. Algumas das frases não são repetidas ao acionar o portador, que diz outra coisa no lugar e a compreensão fica reduzida. Soma-se a isso os modelos genéricos dos habitantes do jogo e avançar se torna algo puramente burocrático, uma busca por números e pontos.


Explorar para avançar

Sem marcar no mapa os pontos estratégicos e objetivos de missão, Titan Quest preza pela exploração. Localizar novos ambientes requer apenas que o jogador os ache caminhando. As fontes de renascimento funcionam tanto para reabastecer a energia quanto para salvar o progresso. Viajar entre os vilarejos e centros de comandos já visitados é essencial para a busca de novos equipamentos. Ao ser derrotado o personagem deixa uma espécie de templo e alguns pontos de experiência no lugar que caiu. Alcançá-lo fará você recuperar os pontos, mas morrer antes disso causa perda definitiva, portanto, tenha cuidado ao tentar voltar ao local de morte.

O sistema de combate segue exatamente a fórmula vista no gênero. Direcione as armas para o botão de preferência e o mantenha pressionado em combate. É possível utilizar duas para atacar, sendo preciso alternar entre elas. Os inimigos variam de dificuldade à medida que se explora os cenários. Os mais simples estão geralmente no centro de onde iniciamos a aventura e conforme expandimos, vão ficando mais complexos e exigindo mais habilidade e bons equipamentos. Elementos de suporte, como vida e magia são ativados por botões de atalho e também pelo menu.


Paciência para lidar com inventários 

O confuso inventário pode ser acessado a qualquer momento e não pausa o jogo, então precisa ser utilizado com cautela, principalmente no início, por conta dos vários minutos que serão gastos tentando entender como equipar ou desequipar algum elemento. Os desenvolvedores não conseguiram portar com eficiência os comandos do PC para os controles, fazendo o jogador sentir a falta de um mouse já nos primeiros momentos. Se leva algumas horas até se acostumar.

A grade de itens precisa ser organizada, e com pouco espaço disponível, a mensagem de que os bolsos estão cheios aparece em minutos de jogo e é frustrante. Com o tempo nos acostumamos a gerir esses recursos e coletar apenas o que é necessário ou temos intenção de vender. Adquirir ou encontrar novas bolsas que aumentam o inventário para acomodar os itens é crucial.


Compartilhando a jornada

Titan Quest oferece uma jornada solitária, mas nem sempre precisa ser assim. A experiência é melhor aproveitada com outras pessoas nos modos de múltiplos jogadores. Infelizmente, por precisar da maior quantidade de botões disponíveis, não é possível jogar com os JoyCon separados, de lado, que faria o game ter opção de multiplayer local mais fácil e prática. Se a pessoa tem à disposição outros controles, a tela dividida funciona muito bem. Também é possível criar uma rede local para cada um jogar em seu próprio console. A opção que mais deve ser usada é a on-line, que permite jogar com até mais 5 amigos através da internet. Compartilhar a aventura deixa as coisas mais divertidas.


Visuais datados e genéricos...

Em 2006 Titan Quest era um dos jogos mais bonitos do estilo para os computadores. A ideia era trazer elementos mais realistas em contraste com outros do gênero, tudo baseado nas artes da Grécia. Com o avanço das tecnologias, artistas foram capazes de ousar mais em suas criações, o que deixou o game da THQ Nordic defasado e com um ar genérico se visto hoje em dia. A pouca variação nos cenários colabora para a ideia que estamos repetindo sempre os mesmos locais. Mesmo em ambientes mais avançados como o Egito e a China, o jogo oferece pequenas mudanças visuais para se adaptar a nova área, mas as paletas de cores e estilo simplificado permanecem inalterados.

E se existe algo que sofreu bastante envelhecimento foi a movimentação. Correr e andar é estranho, os amigos e inimigos se comportam de forma esquisita e muitas vezes parecem estar flutuando ao invés de caminhando. Um novo sistema de física poderia ter sido implementado para melhorar esses fatores, sem muito custo técnico, mas optaram por se manter fiel ao original, que pode agradar aos saudosistas mas afastar novos jogadores.


...remasterizados com carinho

Mesmo com esses problemas a remasterização fez um excelente trabalho. Visto na TV o jogo tem uma nitidez de imagem exemplar. Efeitos de sombra, luz, reflexo na água, tudo foi retrabalhado para funcionar bem nas telas atuais. Ciclos de dia e noite mudam elementos de iluminação e causam boa impressão. Uma pena que não adicionaram a possibilidade de ajustar o ângulo da câmera em diferentes posições. Com visão apenas isométrica, a única forma de alteração é na distância, que somente ajuda na hora dos combates. Poder ao menos rotacionar a imagem já seria interessante, até mesmo para curtir os novos detalhes gráficos.

O game se sai muito bem em modo portátil. Na tela menor do console os modelos com poucos polígonos incomodam menos do que nas televisões, o que deixa o jogo mais agradável. Infelizmente as letras não sofreram uma adaptação para funcionar dessa forma, o que deixa tudo minúsculo e trazem problemas para ler, principalmente se a pessoa possuir dificuldades de leitura por alguma deficiência na visão. 

Por conter gráficos mais simples é de se esperar uma performance mais caprichada nos novos sistemas, mas isso não acontece. O game possui muitas quedas de framerate, principalmente se o zoom para fora estiver todo aplicado, que implica em mais detalhes na tela. Já vimos games mais exigentes rodando a taxa de quadros maiores no console da Nintendo, portanto uma pequena otimização poderia ajustar esse defeito. Esperamos que a THQ corrija com atualizações. 


Repetindo variações musicais

As músicas de Titan Quest carregam o mesmo estilo genérico da maioria das produções inspiradas na Grécia. Temas orquestrados e alguns cantados por vozes femininas guiam o tom épico da jornada. Se não são grandes destaques, as composições não fazem feio e são muito bonitas. Uma das grandes novidades em 2006 era a rotação delas, que diferente de outros jogos, estavam sempre variando evitando repetições. O problema aqui é que como são parecidas, a sensação ainda é a que se ouve sempre a mesma coisa com algumas poucas modificações

A dublagem sofreu bastante com o tempo. Os diálogos soam fora de mixagem, destoando do restante do design de som. As atuações ajudam a ressaltar todo o clima genérico do game e muitas vezes passamos a acompanhar o que está escrito nas caixas de diálogo ao invés de ouvir os personagens. Como existem muitas falas e muita gente para conversar, é compreensível a decisão de não atualizar as vozes, mas uma melhor mixagem poderia ter sido feita. Pelo menos o efeito de multidão ouvido nas cidades e vilarejos funcionam bem. 


Titan Quest foi lançado em 2006 como uma alternativa mais pé no chão do estilo RPG de ação. Não conseguiu fazer frente ao sucesso de Diablo mas conquistou inúmeros fãs ao redor do mundo. Chegando aos consoles intacto em seus defeitos e qualidades, jogá-lo hoje em dia, com inúmeras outras opções no mercado, se torna um exercício de nostalgia para aqueles que gostariam de ter uma experiência retrô ou para os que querem reviver as aventuras que jogaram há alguns anos. Quem está em busca de uma jornada que exala a época que foi lançada, estará bem servido.

Prós 

  • Gráficos nítidos e bem remasterizado; 
  • Trilha sonora orquestrada;
  • Verdadeira experiência retrô. 

Contras 

  • Estilo artístico simples e genérico; 
  • Movimentação travada e esquisita; 
  • Letras muito pequenas em modo portátil; 
  • Narrativa que não impulsiona a continuar a jornada.
Titan Quest: Anniversary Edition — Switch/PC/PS4/Xbox ONE — Nota: 6
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Pedro Franco
Análise produzida com cópia digital cedida pela THQ Nordic

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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