Quest 64 (N64): uma pérola perdida de sua época

Um RPG ofuscado pelas superproduções de sua época, sem grandes anseios, mas com uma mecânica original e, no mínimo, interessante.

em 03/07/2018
O Nintendo 64 (N64) foi um console que recebeu pouquíssimos RPGs, e quando se trata de jogos com o sistema clássico de batalhas em turnos, temos um número ainda menor. Seus cartuchos com memória limitada não atraíam as grandes empresas produtoras do gênero, a exemplo da Squaresoft, que buscava uma capacidade cada vez maior das mídias a fim de trabalharem em jogos que consumiam dezenas de horas do jogador para ser zerado, além de trabalhos avançados de vídeos em CGI.

Por esse motivo, o N64 foi um console que contou com poucas produções do gênero. Quest 64 foi um desses jogos, que apesar de sua jogabilidade inusitada para a época, permaneceu no limbo do esquecimento, ofuscado pelas produções “gig
antescas” de empresas concorrentes em outros consoles.

Um clichê que vale a pena

Os RPGs do final da década de 90 buscavam inovação absoluta em seus enredose ambientações, como Final Fantasy VII (PS1), que se tornou um marco do gênero por revolucionar em todos os sentidos. Quest 64 caminhou na contramão dessa proposta, visando ter um enredo superficial e um sistema simples. Um RPG que parecia vir do NES, mas com gráficos em 3D.

O enredo é focado na missão do protagonista Brian, que ao buscar seu pai desaparecido, descobre que ele estava em busca do livro de Eletale. Para o livro ser recuperado, o jogador deve coletar todos os amuletos elementais e enfrentar o último chefe. Isso nos lembra outro jogo, não é verdade? Pois é. Quest 64 teve muita influência dos primeiros jogos da franquia Final Fantasy, o que trazia um clichê que era, acima de tudo, nostálgico em um período de inovações.

Sua versão do console de 64 bits é pouco focada em seu raso enredo, o que levou a Imagineer a investir na produção de um remake com um foco maior na imersão do jogador na história. Dessa forma, no ano 2000, dois anos após o lançamento de Quest 64, o remake Quest: Brian’s Journey foi lançado para o Game Boy Color (GBC).

Mecânica singular e velocidade ideal

O sistema de Quest 64 é algo único, sem ideias espetaculares, mas no mínimo interessante. Os cartuchos eram uma tecnologia que, apesar da pouca memória, dispunham de uma vantagem sobre os CDs: a ausência quase total de telas de carregamento. Aproveitando-se disso, Quest 64 foi desenvolvido para ser um jogo bastante dinâmico. Sem loadings entre uma área e outra ou em transições de batalhas.

Seu sistema de batalha, apesar de ser baseado em turnos, contava com uma proposta diferente de seus antecessores e clássicos do gênero. Durante o turno, o jogador pode movimentar-se livremente dentro de uma espécie de anel que limita sua locomoção. As arestas desse limitador podem ser usadas para atacar o inimigo quando o mesmo se aproxima do anel. Além de ataques físicos, Brian pode utilizar magias e defender-se.


Quest 64 também tinha uma mecânica de evolução pouco comum em jogos de seu gênero. Em vez do personagem subir um nível geral, suas habilidades evoluem separadamente conforme o jogador vai utilizando-as. Por exemplo: se Brian utiliza mais ataques físicos durante as batalhas, terá mais chances de elevar o nível de ataque e ficará mais forte com sua espada. Todavia, se ele se utiliza mais de magias à distância, terá um nível maior nos ataques mágicos, provocando danos maiores com eles do que com ataques físicos.

Outro ponto singular é a ausência total de um sistema monetário no jogo. Todos os itens presentes em Quest 64 só podem ser adquiridos pelo jogador por meio de baús encontrados no decorrer do jogo e de recompensas que caem dos inimigos derrotados.

Um mundo de fantasia completo

Quest 64 conta com uma boa diversidade de cenários, como castelos, cavernas, florestas, planícies, vilarejos etc. A quantidade de NPCs e detalhes, acompanhados de uma trilha sonora certeira, dá vida a um game que se recusa a ser visto como medíocre.


Apesar das notas baixas para medianas da mídia especializada na época (varia entre 3,0 e 6,0), Quest 64 é um clássico exclusivo da era 64 bits, injustiçado pelas comparações com outros RPGs advindos de superproduções.

Para os gamers “old school” que já tiveram seu contato com essa joia esquecida, revisitá-lo é mais do que uma obrigação. Uma boa experiência de nostalgia de um game único para o N64 que inspirou (e muito) o sistema do frustrante Aidyn Chronicles: The First Mage (N64), lançado em 2001..

Para aqueles que nunca jogaram ou até mesmo nunca tomaram conhecimento desse título, vale a experiência de uma das pérolas do subestimado meia-quatro.

Revisão: Gabriel Bonafé

Professor de História e Historiador
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