Nintendo e a nostalgia como produto

Uma breve reflexão sobre nostalgia e como ela está presente nos serviços e jogos da Big N.

em 27/07/2018


Para tratar de nostalgia é preciso, primeiro, lembrar que estamos tratando de um sentimento, uma sensação, e por esse campo estar inserido na psique humana acaba o tornando bastante complexo, com múltiplas interpretações, sendo tão pessoal. Mas seguirei aqui o consenso de que nostalgia é a sensação, ou sentimento, evocada a partir do contato, seja ele qual for, com algo que remeta ao passado.


No caso do escritor francês Marcel Proust, as Madeleines (doces franceses) foram o seu gatilho para a produção de seu magnus opus, que desenterra e descreve anos e anos de memórias conservadas em sua mente.

No meu caso, um pouco mais simples, a minha primeira Madeleine gamer foi ao jogar Mario Kart Double Dash (NGC), quando descobri a pista Rainbow Road. Na época eu não imaginava que era uma pista recorrente, até porque só havia jogado o Mario Kart 64 (N64) até então.

Eu, não imagino o porquê, fiquei muito contente, pois gostava muito da pista no título anterior, e sem perceber, desenvolvi um gosto tão grande quanto pela versão para Game Cube.


Parece esquisito eu, aos 9 anos talvez, poder descrever nostalgia com um título que eu havia jogado também muito novo. Mas psicólogos já diagnosticaram nostalgia até em crianças de 7 anos, em lembranças marcantes como aniversários, por exemplo¹.

Mas então chegamos a um ponto interessante. Quando saiu o segundo trailer de Super Mario Odyssey (Switch) lembro de mostrá-lo a um colega de trabalho e ouvir:
“A Nintendo vive assim mesmo, né? Só fazendo jogo pra fã antigo, nada novo!”
Não quero causar polêmica, mas fiquei pensando o quanto isso era verdade. Não partilho de uma visão tão radical da Nintendo, mas como fã sei que ela opera por muitas vezes como uma fábrica de bolos:todos são ótimos e a cada geração os bolos ganham alguma coisa, a receita muda um pouco e ganha cobertura, recheio... enfim, aqui não é Cooking Mama (NDS), mas deu para entender.

Buscar nostalgia pode ser para uns uma viagem ao passado, revendo jogos clássicos em versões atualizadas em gráficos e design modernos, mas com a mesma sensação do passado. Bons exemplos disso são Super Mario 64 DS (NDS) e The Legend of Zelda Ocarina of Time 3D (3DS), dois títulos do 64 que sem sombra de dúvida, fizeram história. Suas novas versões receberam conteúdo novo, mas ainda assim se distanciavam bem pouco da versão original.


Essa é uma forma vista como “fácil” de atingir os jogadores, produzir um jogo que além de estar pronto se considerarmos as histórias, personagens, fases e seu conceito, mas também são consagrados por público e crítica e de quebra são vendidos ao preço cheio do mercado atual. 

Isso tudo usando de base que a ideia por trás dessas versões é de trazer boas lembranças e matar a saudade dos fãs, além de aproximar os novos jogadores.

Essa foi uma visão racional e levemente parcial para um realismo exagerado, mas não deixa de se aproximar da verdade. Claro que do ponto de vista de um jogador isso sequer passa pela cabeça, estamos preocupados demais em pôr a mão nos títulos que mesmo se pensarmos nisso, não será este o motivo que nos vai parar.

Também há os ports, como os que ainda temos disponíveis via eShop do Nintendo Wii U e 3DS, onde podemos matar a saudade por um preço mais barato. É uma pena que por hora a Nintendo esteja lavando as mãos para esse tipo de serviço, já que é uma forma ótima de coibir pirataria e dar a chance dos jogadores conhecerem ou revisitarem grandes títulos.

Mas, a minha opinião é que ultimamente a Nintendo tem buscado uma nostalgia mais sofisticada e mais bem trabalhada. 

Se sairmos brevemente da mídia videogames e entrarmos em literatura, podemos pensar em Jogador Nº 1, uma história com elementos modernos, se passando em um mundo futurístico com um game de realidade virtual que tomou conta do mundo. Mas o autor, Ernest Cline, usa os moldes modernos para apresentar toda uma cultura dos anos 80, balanceando muito bem o passado e o presente.

E é assim que eu vejo como a  Nintendo opera hoje com o Switch, o supracitado Super Mario Odyssey é uma obra original, incrivelmente bem-feita, mas que, ao mesmo tempo, traz conteúdo e referências aos títulos clássicos, sem pesar na dose.


E temos visto isso ocorrer com os últimos títulos, mesmo quebrando muitas barreiras e moldes que se firmaram ao longo das gerações, a Nintendo está superando suas criações... com elas mesmas.

Por fim, vimos que algumas séries, como Mario Party, vêm sofrendo com o que chamo de “a crise da inovação” em que cada título tem que apresentar algo novo, apenas para validar um título novo. Agora vemos que a Nintendo está buscando superar essa crise, dosando melhor como usar os moldes do passado com as inovações.

O que nos resta agora é ver como a Nintendo vai continuar se superando ou teremos outra crise antes da nova crista da onda.

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Estudante de Sistemas da Informação que gostaria de aprender todas as línguas existentes, mal sabendo lidar com as duas que já fala. Descobriu seu amor pela Nintendo ao conhecer Super Mario 64 e desde então nunca mais largou os cogumelos, karts e rúpias que encontrou em seu caminho.
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