Análise: Banner Saga 3 (Switch) fecha a trilogia com caos e melancolia

Capítulo final traz reflexões interessantes sobre suas ações ao longo da franquia sob um clima de fim de mundo.

em 28/07/2018

O final de uma saga é sempre um momento emocionante no mínimo. Ao longo dos últimos games da franquia, conhecemos personagens cativantes, vivenciamos relações improváveis e fizemos escolhas difíceis enquanto tentávamos lidar com o fim do mundo iminente. Nesse último jogo, ele chegou, e só você pode impedir. Banner Saga 3 aproveita todo esse clima cético e existencialista para mandar suas mensagens sobre um mundo de ódio e sem esperança.

A podridão dos homens

Se os títulos anteriores da franquia tinham uma pitada de esperança na busca por um lugar seguro, bastam poucos minutos no mundo de Banner Saga 3 para perceber que a esperança já morreu. Desta vez a história se divide entre o caçador que lidera seu clã na última cidade humana, Alberaang, e os destemidos Corvos que adentram a escuridão numa tentativa desesperada de pôr um fim na misteriosa escuridão que consome o mundo.

Como líder do clã, seja Arlette ou Rook, o enredo funciona como uma complicada trama política. As preocupações são golpes de estado, tensões raciais e o questionamento de sua autoridade. A trama explora o lado mais mesquinho dos humanos que se tornam extremamente racistas e xenofóbicos devido ao medo. Diferente dos outros jogos que sua caravana caminhava por diferentes paisagens estonteantes, aqui temos uma única cidade cada vez mais consumida pelo caos.
A política é interessante, mas a sua caravana se torna coadjuvante na história

Dentro da escuridão

Já do lado dos Corvos, você comanda Iver, que junto com Juno e Eyvind, procura um jeito de acabar com a escuridão. Eles caminham sob uma redoma de magia que os protege dos efeitos nefastos da névoa sombria e adentram cada vez mais a escuridão, revelando o contraste entre o mundo natural e vivo dos jogos anteriores com a nova realidade fria e corrompida. Com o prosseguir dos eventos, conseguimos respostas para a maioria das perguntas deixadas em aberto em jogos anteriores e mais detalhes subversivos da sua rica mitologia.

Este novo capítulo da história adora questionar tudo que você acha que sabe sobre o mundo do jogo, resultando em debates bastante profundos sobre extremismo político e até comentários mais meta sobre o valor do entretenimento. Isso acontece frequentemente graças a personagem Alfrun, introduzida no lado sombrio da história e que consegue compreender os dragadores, revelando a sua versão dos fatos.
Muitos brasileiros e americanos deveriam passar um tempinho com a Alfrun
Infelizmente, a localização do jogo deixa muito a desejar. A impressão que fica é que o jogo foi traduzido palavra por palavra, possivelmente direto do Google Tradutor. Com isso, ignora-se concordância nominal e o contexto das frases, além de traduzir erroneamente expressões específicas (como "bad blood" que ficou "sangue ruim" ao invés de "desavenças").

Os erros chegam a ser grotescos às vezes. Em certo momento, uma personagem pergunta "Você está bem?" e o outro responde "Eu queria ser", uma clara confusão entre os dois significados do verbo "to be". Os problemas são tão graves que chegam a influenciar na compreensão da história. Você acaba refletindo mais sobre como as frases deveriam estar escritas do que sobre o que elas queriam passar.
"Amigo, você ouviu minha pergunta?"

Corrompidos e sem esperança

Banner Saga 3 usa com bastante graça as suas próprias mecânicas para entregar sua mensagem. Além dos inimigos já presentes nos jogos anteriores no lado de Alberaang, o jogo introduz os Corrompidos do lado sombrio. Criaturas distorcidas pela escuridão, eles trazem novas dinâmicas para as batalhas. Também servem como uma analogia, mostrando como o medo e a “escuridão” pode corromper os corações das pessoas.

Outras mecânicas surgem como um resultado direto dessa era de desesperança. Na reta final do jogo, resolver conflitos na capital humana vai te render mais alguns dias resistindo à escuridão que serão gastos pelos Corvos em sua tentativa de restaurar a ordem. O gerenciamento de recursos também é afetado e se mostra bem menos proeminente nesse jogo, já que com um mundo em ruínas não há muitos mercados disponíveis para abastecer sua caravana.
Você precisa conseguir mais tempo para os Corvos resolverem esse conflito


Os poucos recursos conquistados são por meio de acordos. Com a escassez, sua moral está constantemente baixa, o que acaba fortalecendo esse ar de desespero. Sem os mercados, há uma nova maneira de se conseguir itens que concedem bônus consideráveis aos personagens.

Sem tempo para sofrer

No final de certas batalhas, você recebe a escolha de enfrentar novas ondas de inimigos para conseguir mais reputação e potencialmente um item poderoso. Apesar de a intenção ser introduzir uma dinâmica de risco e recompensa, na prática não funciona muito bem. As batalhas já são naturalmente longas, cansando rapidamente os jogadores. Os itens não compensam estender cada vez mais o seu tempo longe da história principal, que é o grande forte do jogo.

Ao evitar estender as batalhas, entretanto, fica evidente o maior problema de Banner Saga 3: ele é o jogo mais curto da série. Os eventos se desenvolvem muito rápido, com decisões importantes sendo tomadas a todo o momento, que podem custar a vida de algum personagem como em The Banner Saga (Multi). Dessa vez o jogador está tão calejado dos jogos anteriores que acaba não sendo algo ruim ou brusco. É simplesmente como esse jogo funciona.
Pra estender as batalhas tem que ter bastante coragem


Por outro lado, tantos eventos impactantes com pouco tempo para respirar entre eles só aumenta a sensação de um jogo curto. São tantas revelações e reviravoltas que sobra pouco tempo para refletir sobre o que elas realmente significam. Até o clímax da história acaba de maneira bastante abrupta. Aqui, as longas e pacíficas jornadas dos jogos anteriores fazem bastante falta.

Mesmo com seus problemas de ritmo, Banner Saga 3 é um final digno de uma série tão intensa que lidou com temas delicados com bastante maestria. Através de seus personagens e de suas disputas, pudemos refletir sobre assuntos como políticas de imigração, racismo, o papel da mulher na sociedade e até saúde mental. Este é o jogo mais obscuro da franquia, mas também é o que traz mais mensagens de otimismo. Acima de tudo, é um produto desse turvo momento político que vivemos e acaba sendo importante para lembrarmos de ter esperança mesmo quando parece que tudo está perdido.


Prós

  • Suas escolhas durante toda a saga mostram consequências interessantes;
  • Poucos personagens novos, mas bastante significativos;
  • Ganhar dias na cidade para a outra equipe adentrar a escuridão é tenso, mas recompensador;
  • Reviravoltas surpreendentes e história bem amarrada;
  • Temas relevantes e reflexões importantes.

Contras

  • Bastante curto, comparado aos jogos anteriores;
  • Batalhas longas que podem ser prolongadas artificialmente sem nenhuma relevância para a história;
  • Tradução para o português chega a ser grotesca em diversos momentos;
  • Final abrupto.
Banner Saga 3 — Switch/PS4/XBO/PC — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: André Carvalho
Análise produzida com cópia digital cedida pela Versus Evil
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Gabriel Mattos estuda Ciência da Computação e procura sempre estar em equilíbrio com a Força. Pode ser encontrado por aí especulando sobre os próximos lançamentos da Nintendo e da Playstation na GameBlast e no Twitter.
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