Análise: Super Destronaut DX (Switch) se limita a um simples passatempo arcade

Apesar de sólida inspiração em shoot ‘em ups clássicos, longevidade do jogo é comprometida por modos curtos, desafios baseados em sorte e falhas sem explicação.

em 24/07/2018

Relembrar bons títulos do passado já virou algo comum no mercado de games atual. Grandes produtoras relançam seus clássicos dos anos 80 e 90 para plataformas modernas, versões em miniatura de consoles antigos vendem que nem água, desenvolvedores independentes se inspiram em jogos prestigiados para realizar suas próprias criações, homenageando a era dos sprites. A onda retrô nos games continua forte e é nesse cenário de reverência e nostalgia que Super Destronaut DX tenta pertencer.


Produzido pelo estúdio Petite Games e distribuído pela Ratalaika Games, o título é um shoot ‘em up com referências aos jogos de arcades ー em especial, Space Invaders. Sua proposta é simples: trazer, para 2018, a experiência das casas de fliperama, onde o objetivo era estar no ranking de melhores jogadores, alcançando a maior pontuação possível em sessões rápidas de games fáceis de compreender, mas difíceis de dominar.

Esta simplicidade, no entanto, restringe seu destaque entre demais games do gênero. Apesar de uma jogabilidade principal sólida, o jogo apresenta modos e desafios curtos. Além disso, bugs inexplicáveis e uma forte influência de sorte nas partidas são capazes de frustrar e de levantar dúvidas sobre a real capacidade do game em reproduzir um ambiente arcade fidedigno.

Atire sem parar

Mecanicamente, Super Destronaut DX é muito semelhante a Space Invaders. O jogador controla uma nave, na parte inferior da tela, que deve atirar em uma série de diferentes alienígenas na parte de cima, os quais se movem, atacam e se aproximam da embarcação com o tempo. O objetivo final é derrotar o maior número de aliens, sobreviver à maior quantidade de levas de inimigos possível e conseguir uma boa pontuação como recompensa.
Space Invaders versão 2018

Diferentemente do título de fliperama, cada extraterrestre possui um tipo de ataque diferente. Enquanto alguns possuem tiros comuns, outros lançam foguetes rastreadores, balas em zigue-zague, ou até mesmo dois a três projéteis de uma só vez. Não há aqui barreiras que contenham estas investidas, o que coloca a sobrevivência nas mãos do jogador e na sua habilidade de desviar delas.

No entanto, o jogo tenta igualar as condições oferecendo poderes especiais. Ao derrotar um tipo específico de ET, a nave ganha, por tempo limitado, um de quatro tipos de balas: mísseis, lasers, bombas e tiros triplos. A cada aquisição de power-up, a partida entra em câmera lenta por alguns segundos e uma narração (desentusiasmada e que está no jogo inteiro) anuncia o poder conquistado, o que facilita o desenvolvimento de estratégias. Desta forma, torna-se mais fácil abater alienígenas em uma menor quantidade de tempo.

Administrar tempo, aliás, também é uma característica importante do game. A cada alien explodido, soma-se 0,1 a um multiplicador de pontos, que retorna a 1 caso não haja outro inimigo derrotado em até três segundos. Assim, para conseguir um grande placar, é necessário encarar a linha de fogo e estar em constante investida para matar adversários rapidamente. Além disso, há outros aspectos a se considerar, como o valor em pontos diferente para cada alienígena, e as carcaças que alguns ETs destruídos deixam para trás, que fornecem 50 pontos a cada tiro acertado.
As carcaças dos inimigos caem em direção à nave, podendo ser atingidas enquanto for possível

Estas mecânicas, embora nem um pouco inovadoras, são bem implementadas. Como bons arcades, os controles são simples de entender, utilizando somente um botão e o direcional analógico, o que torna a curva de aprendizado tranquila para qualquer pessoa. A necessidade de desviar constantemente dos ataques, somado ao mecanismo do multiplicador, faz com que o jogador esteja sempre engajado, se arriscando e tendo que demonstrar destreza na busca por um high score. Os power-ups atuam como uma recompensa a estes riscos, permitindo táticas e se tornando bem satisfatórios em momentos de aperto.

O grosso do game é conservador, mas bastante funcional. Sua simplicidade é ótima para momentos curtos de jogo no dia a dia, o que combina muito com a natureza híbrida do Nintendo Switch. Aliás, preferi jogar em modo portátil justamente por esse motivo. É um vídeo game fácil de encaixar nos minutos livres. Porém, quanto mais joguei, mais percebi que tudo o que girava ao redor da jogabilidade principal, de uma forma ou de outra, prejudicava o título como um todo.

Luxo ou lixo?

Utilizado à exaustão ultimamente, o termo “DX” realmente significa uma versão “de luxo” para a franquia Super Destronaut. A série deu as caras duas vezes no Wii U, com Super Destronaut e Super Destronaut 2: Go Duck Yourself, e uma no New Nintendo 3DS, com Super Destronaut 3D. Ao comparar a versão DX com as anteriores, é nítida uma melhoria na qualidade da apresentação.

Desta vez, o game apresenta uma estética mais voltada aos anos 80, com artes reminiscentes ao que era considerado moderno naquela época. Imagine algo na linha de Tron, com cores vibrantes e texturas quadriculadas por todos os lados. Os efeitos utilizados também ajudam a criar esta aparência. É possível ativar aberração cromática, dando ao jogo um ar de ter sido gravado com uma câmera antiga, além de desfoque e tremor na tela a cada alien destruído. Juntos, estes efeitos dão mais acabamento ao game, que fica com uma apresentação mais profissional.

No entanto, os mesmos podem atrapalhar a jogabilidade. O primeiro sinal disso o próprio jogo já dá, ao avisar que algumas pessoas podem se sentir enjoadas ao jogar com a aberração cromática e o desfoque ligados. Inicialmente, são algo difíceis para os olhos, de fato, e é compreensível que alguns jogadores não consigam se acostumar com eles.
Efeitos são bonitos, mas podem trazer mal estar e falta de leitura de informações importantes

Porém, até mesmo para quem não se sentir nauseado, há malefícios em se usar os efeitos. Quando estão todos ativados ao mesmo tempo, pode não ser fácil de ver os tiros inimigos, o que, para um game que exige precisão, é uma falha. Também fica complicado de ler as informações da UI durante as partidas, já que elas ficam borradas a cada explosão.

Isso faz com que aquele que estiver jogando perca um pouco a noção do que está acontecendo na partida. Se o objetivo é sobreviver e alcançar pontuações altas, é necessário que o jogo não insira obstáculos desnecessários. Felizmente, o game permite que estes efeitos sejam ajustados à preferência de cada pessoa. Sem eles, o jogo se torna mais monitorável, mas menos refinado.

Infelizmente, algo dispensável que não é possível desativar são inimigos cinzas que vêm de encontro à nave a partir do horizonte. Similares às carcaças dos extraterrestres derrotados, estes aliens não podem ser atacados e servem unicamente como mais um empecilho que o jogador deve desviar. Como já há bastante ação acontecendo entre a nave e os ETs coloridos, ter que prestar atenção também neste outro aspecto é inconveniente. Além de que é fácil confundi-los com as carcaças. É como se este elemento tivesse sido desenvolvido para surpreender o jogador, mas, se ele não estiver acostumado, acaba desorientando-no e causando mortes injustas.
Três aliens cinzas vindo do horizonte. É fácil se esquecer deles ou confundi-los, o que resulta em mortes

A sorte está lançada

Outra característica que justifica a classificação “de luxo” do jogo é a presença do modo Challenges. Inédito na série, este modo possui 30 desafios com objetivos diferentes que variam de alcançar uma determinada pontuação em uma partida, ou matar uma quantidade específica de inimigos em menos de um minuto, até a atingir um certo número no multiplicador, ou sobreviver a ondas de aliens.

É uma quebra muito bem-vinda para quando se cansa de jogar somente por high scores. Mas é algo que dura muito pouco. É possível cumprir os desafios mais fáceis em menos de 30 minutos e os mais difíceis, em um par de horas. Para se ter uma noção, conquistei todos eles em um único fim de semana.

Mesmo sendo bastante curto, o game tenta estender artificialmente a duração deste modo nos desafios que possuem um limite de tempo para serem completados. A maioria deles oferece uma duração em que o usuário só conseguirá cumpri-los se utilizar poderes especiais. Porém, a natureza randômica das levas de inimigos presente no restante do título também está aqui. Isso significa que, ao invés do foco na habilidade, estes desafios dependem muito da sorte. O jogador precisa que o algoritmo do jogo seja benevolente e lhe dê a oportunidade de conseguir power-ups constantemente. Caso isso aconteça, o desafio se cumpre na hora. Mas, como esse não é o caso na maioria das partidas, gasta-se muito tempo, o que torna o processo cansativo e frustrante.
Desafio com limite de tempo: sem power-ups é praticamente impossível

Leaderboard questionável

Durante a produção desta análise, pensei que as críticas acima eram as únicas que teria para Super Destronaut DX e que terminaria o texto por aqui, sugerindo o jogo apenas para fãs de leaderboards. Porém, algo aconteceu que pode colocar toda essa experiência arcade a perder.

O jogo possui três modos focados em pontuações: Classic, uma partida comum de shoot ‘em up; Time Attack, uma corrida contra o relógio, em que se tem 1m30s para alcançar a maior quantidade de pontos possível; e Hardcore, em que os inimigos lançam mais tiros e o jogador tem apenas uma vida. Para cada um deles, há um ranking online com os high scores dos melhores jogadores do mundo.

Antes do lançamento, o game não apresentava dados nos leaderboards dos modos Time Attack e Hardcore. Nesse caso, a impressão que ficou foi de que os servidores só inaugurariam depois que o jogo estivesse disponível a todos. No momento em que escrevo esta análise, faz mais de uma semana que ele foi lançado e estes rankings ainda não estão disponíveis. Ou seja, ainda não há incentivo algum para se ter um bom desempenho nestes modos, a não ser por satisfação pessoal.
Até o dia 23 de julho, não havia dados nos leaderboards dos modos Time Attack e Hardcore
Para o modo Classic, as coisas são um pouco diferentes. A lista de classificação está aberta e aparentemente funcionando. No entanto, um glitch aconteceu comigo que levanta dúvidas sobre sua legitimidade. Uma de minhas maiores pontuações simplesmente não foi registrada pelo game. Por um tempo, fiquei em uma situação em que, offline, meu high score era maior que o apresentado no quadro online. Não sei o que provocou este erro, pois estava conectado com sinal forte à internet. Acredito que seja um bug incomum, mas só o fato de ele ter acontecido mostra a fragilidade do ranking. Em um jogo cujo principal atrativo são os leaderboards, saber que eles estão suscetíveis a erro é algo que desmonta a estrutura do design inteiro.
Acima, minha pontuação offline no modo Classic no dia 18 de julho. Abaixo, a pontuação registrada nos leaderboards no mesmo dia.

Simples passatempo

Super Destronaut DX tenta pertencer à onda retrô dos games, mas não tem força suficiente para isso. Sua jogabilidade, apesar de não ser inovadora, é boa para um breve momento de distração, algo perfeito para o modo portátil do Switch.

No entanto, quando tenta ir além disso, provoca uma série de falhas. Efeitos visuais capazes trazer enjoo e que podem atrapalhar as partidas, obstáculos desnecessários e um modo de desafios curto e que usa de aspectos randômicos para ter sua duração inflada são alguns dos pontos negativos do game. Isso que não entrei a fundo no modo multiplayer, uma disputa para ver quem alcança mais pontos, que poderia ser mais integrada com os demais modos.

Porém, o que prejudica completamente este jogo é a possibilidade de acontecerem erros nos leaderboards online. Quando o próprio objetivo principal, que é chegar o mais alto possível no ranking, pode estar comprometido, o game não consegue deixar de ser somente um simples passatempo descompromissado.

Prós

  • Boa jogabilidade inspirada nos clássicos shoot ‘em ups;
  • Bom nível de apresentação baseada nos anos 80, com efeitos gráficos profissionais;
  • Estrutura de jogo ótima para o modo portátil do Nintendo Switch

Contras

  • Efeitos gráficos podem causar náuseas e dificultar a visibilidade da UI e dos ataques inimigos;
  • Alguns inimigos desorientam e causam mortes injustas;
  • Modo de desafios curto;
  • Natureza randômica das ondas de inimigos tornam desafios com tempo limitado uma questão de sorte;
  • Alguns leaderboards online ainda não funcionam;
  • Glitches podem acontecer no momento de registrar uma pontuação ao ranking, comprometendo a classificação.
Super Destronaut DX - Switch/PS4/XBO/PC/PS Vita - Nota: 4.5
Versão utilizada para análise: Nintendo Switch

Revisão: Pedro Franco
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ratalaika Games


Jornalista, analista de mídias, PcD e entusiasta de games desde que jogou Pokémon Azul no Game Boy Color nos anos 90. De lá para cá, tenta aproveitar ao máximo todos os consoles no pouco tempo que a vida adulta permite. Se não está escrevendo para o Blast ou demorando anos para zerar um jogo, está no Twitter (@DanielMorbi) e no Instagram (@danielmorbi_)
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