A campanha principal do jogo conta a história de Slime-san, uma pequena e fofa gosminha que fora engolida por uma minhoca gigante e agora se encontra tentando fugir das estranhas do bichano com a ajuda de sua família e dos outros animais que também foram engolidos. A premissa é bem simples e abusa da inspiração na estética de jogos japoneses dos anos 1990 para compor os cenários excêntricos do jogo.
Uma aventura de quatro cores
Só de ver algumas imagens, já dá para notar que este não é um título de plataforma convencional. A primeira diferença que qualquer pessoa costuma perceber se dá nos primeiros minutos de interação com o estilo gráfico do jogo, que faz uso de apenas quatro cores. A atípica combinação de azul escuro, verde claro, vermelho e branco possibilita que os jogadores possam diferenciar todos os elementos da fase de forma intuitiva, ao mesmo tempo que cria uma identidade visual bem única e carismática.Uma hora você se acostuma. |
Durante a aventura, Slime-san passará por mais de 160 níveis na campanha principal e em suas expansões. Cada um deles contém quatro pequenos cenários recheados de desafios para serem ultrapassados, com exceção de algumas fases que optam por oferecer apenas um grande estágio. A curva de dificuldade dos obstáculos vai aumentando conforme o jogador avança, mas sempre de maneira justa e sem saltos de dificuldade enormes.
Os desafios do jogo não se focam exclusivamente em exigir pulos precisos e movimentos cirúrgicos, mas também em explorar e desenvolver as mecânicas únicas que os movimentos da gosminha oferecem. Transformar-se em “forma de gosma” para ultrapassar obstáculos com cores específicas e usar os dashes adicionais para reajustar seu movimento no meio do ar adicionam uma diversidade de possibilidades bem-vindas para a aventura, que a cada mundo novo costuma adicionar alguma ideia ou mecânica nova para apimentar ainda mais o gameplay.
Controlar Slime-san é assustadoramente satisfatório e a precisão cirúrgica que a movimentação do jogo apresenta apenas favorece este fator. É possível ultrapassar facilmente obstáculos que pareciam impossíveis à primeira vista apenas porque o level design do jogo premia a experimentação e oferece muitos recursos para o jogador fazer seu próprio caminho pela fase. Como já deu para notar, Slime-san é perfeito para realizar speedruns e reconhece isso ao oferecer modos específicos e rankings online apenas para promover a competição entre os jogadores.
Sentir raiva é normal, se divertir é mais normal ainda. |
Simples por fora, cheio de conteúdo por dentro
Todas as fases escondem colecionáveis opcionais e, ocasionalmente, até caminhos secretos que são de grande importância para comprar todos os extras na vila de Slumptown, uma espécie de cidade onde você pode conversar com todos os moradores do interior da minhoca. Os NPCs encontrados por lá têm uma aparência bem excêntrica e sempre estão fazendo piadinhas com um estilo de humor bem “galhofa japonesa”.Por falar em extras, Slime-san tem conteúdo adicional para dar e vender. Para se ter uma ideia, apenas na campanha principal, é possível liberar diversos personagens secundários, cada um com suas próprias características e habilidades; modos secretos depois de terminar o jogo; desbloquear inúmeras roupas, telas de fundo e filtros visuais que mudam completamente a estética do jogo, adicionando, por exemplo, visuais de Game Boy, Virtual Boy e fitas VHS. Se isso tudo não fosse o bastante, ainda dá para jogar minigames sensacionais que fazem paródia de clássicos como Doom (Multi), Super Mario Kart (SNES) e The legend of Zelda (NES).
As duas expansões extras, Blackbird Kraken e Sheeple in Sheeple’s, adicionam campanhas com fases inéditas e novas narrativas, além de expandir ainda mais o número de extras desbloqueáveis com a adição de novas cidades recheadas de coisas para comprar. O frescor que as expansões proporcionam são uma dádiva para o jogador, que agora pode experimentar fases com mecânicas e temáticas totalmente diferentes da primeira campanha.
A performance do título no modo portátil do Switch também não deixa nada a desejar e, definitivamente, prova-se como a melhor maneira de se jogar o jogo. A portabilidade faz mil maravilhas ao título e se adapta perfeitamente ao estilo de pequenos desafios que as fases oferecem. Além disso, a possibilidade de jogar os minigames multiplayer com dois Joy-Cons separados também é uma ótima funcionalidade que o port de Switch oferece para poupar os jogadores de ter que comprar outros controles apenas para experimentar uma das partes mais legais do jogo.
Até dá para tirar um racha com os amigos! |
Aquela meleca no sapato
Mesmo com tantas qualidades, nem todas as gosmas do jogo são “verdes” e muitos problemas ainda dão as caras. O principal defeito se dá pela falta de suporte para a resolução fullscreen, que acaba dificultando e tornando bastante frustrante a tarefa de enxergar os pequenos sprites do jogo, principalmente quando se está jogando na TV.A trilha sonora faz o básico do que se espera de um título indie 8-bits, oferecendo faixas empolgantes e viciantes por meio do saudoso e nostálgico estilo “chiptune”. Todas as músicas são acima da média, mas depois de um tempo costumam enjoar bem rapidamente pela falta de variedade. Ou seja, se você ficar empacado em alguma fase por muito tempo, prepare-se para desligar o som do jogo.
O estilo visual e humorístico de Slime-san também não são para qualquer pessoa e causam muita estranheza para jogadores com mente fechada. Muitas piadas e referências, por exemplo, são inspiradas no humor nonsense japonês, não muito popular por essas bandas. Por outro lado, a direção artística dos gráficos é criativa, mas não se pode negar que também é bem bizarra.
A utilização da combinação de cores gritantes nos menus e cenários pode causar dor de cabeça e enjoar facilmente com o tempo. Se você pensou que utilizar os filtros visuais presentes no jogo podia compensar, saiba que não é muito bem assim. Muitos filtros acabam dificultando ainda mais a visão do jogador, além de constantemente ocasionar glitches sonoros e transformar as músicas em versões alteradas sem muito charme.
Alguns filtros adicionam outro fator para a dificuldade: dor de cabeça. |
Um jogo verde em um mar azul
Confesso que não dava nenhuma bola para Slime-San Superslime Edition antes de jogá-lo com minhas próprias mãos. Que bom que eu estava errado! A cômica aventura da pequena gosminha é mais um daqueles títulos que nos fazem ficar cabisbaixos com a surpreendente qualidade que muitos jogos desconhecidos apresentam. Afinal, de onde saem tantos títulos bons assim?Desenvolvido com muito carinho pelos desenvolvedores, Slime-San Superslime Edition é com toda certeza um dos jogos de plataforma mais completos da vasta biblioteca de indies do Switch. Destacando-se principalmente por sua jogabilidade sólida, o jogo ainda apresenta uma identidade única, muito conteúdo extra e desafios arduamente difíceis, mas igualmente recompensadores.
Como toda obra humana, o título ainda peca em alguns aspectos, mas nenhuma de suas falhas são grotescas o bastante para afastar os jogadores que estão à procura de um bom desafio. Se você é fã de jogos de plataforma no mesmo estilo de Super Meat Boy, saiba que Slime-San Superslime Edition é definitivamente um título essencial na sua biblioteca.
Se até o Duck Norris foi "engolido" pelo jogo, quem sou eu pra falar. |
Prós:
- Muito conteúdo extra;
- Ótimo fator replay;
- Jogabilidade divertida e responsiva;
- Dificuldade justa e desafiante ao mesmo tempo;
- Apresenta um charme único para quem der uma chance.
Contras:
- Visuais podem ser meio desconfortáveis para os olhos;
- Não suportar a resolução de tela cheia é bem problemático;
- O humor e os visuais apresentados no jogo são direcionados a um nicho bem específico;
- Mesmo sendo bem-feitas, as músicas se repetem muito e podem enjoar.
Slime-san Superslime Edition — Switch/PS4/XONE/PC — Nota: 8.5
Versão utilizada para a análise: Switch
Revisão: Vitor Tibério
Análise produzida com cópia digital cedida pela Fabraz