Análise: The Mooseman (Switch) é uma breve experiência de mitologia e arte

The Mooseman é uma aventura curta e com mecânicas limitadas, mas o espetáculo de sons e imagens fazem a jornada valer a pena.

em 19/07/2018

Sabe aquela velha discussão sobre os videogames serem uma forma de arte? Então, tem mais um pedaço de lenha para colocar nessa fogueira! Tá certo que “videogame” talvez não seja a melhor definição para The Mooseman, afinal este também é um conceito complexo quando nos deparamos com um título tão particular. Dito isso, não espere por um side-scroller aqui, você não vai correr ou pular plataformas, muito menos matar inimigos ou ganhar novas habilidades. O foco do trabalho do estúdio russo Morteshka é fazer o jogador imergir em uma atmosfera sombria enquanto desvenda, de forma lenta e cadenciada, os mistérios do folclore da região de Perm, na Rússia. Independente de ser jogo ou arte, o certo é que The Mooseman é, no mínimo, um game muito interessante para a já bastante eclética biblioteca do Nintendo Switch.

Uma caminhada pela mitologia eslava

Sem entregar muito, visto que a história é fundamental para a experiência, em The Mooseman você controla o “homem alce” do título — e da mitologia eslava — enquanto percorre os três mundos criados pelo deus Yen: os oceanos escuros do Mundo Inferior; o Mundo do Meio habitado pelos homens e o Mundo Superior, onde estão os antigos deuses. Apesar da grandiosidade dos temas abordados, absolutamente todas as outras características da obra são minimalistas.


Não há escolhas de modo de jogo, basta apertar start no menu inicial e a jornada começa com um breve prelúdio. Tutoriais também são dispensáveis, afinal o gameplay resume-se a andar lateralmente e usar dois botões para ações simples. Um dos comandos veste no protagonista um crânio de alce, ativando a habilidade de enxergar além do olho humano, um conceito que é bacana tanto para os puzzles quanto para o espetáculo visual proveniente dele. Entretanto, nada na jogabilidade é muito complexo ou exige habilidade do jogador, é apenas o suficiente para incentivar um pouco de interação.

Quando comecei a jogar, tive a impressão de se tratar de um game muito parecido com o clássico indie Limbo (que acaba de chegar ao Switch). Mas a comparação não é justa nem com um, nem com outro: enquanto Limbo é um jogo de plataforma com puzzles desafiantes, The Mooseman é quase um walking simulator em 2D, com poucos e descomplicados quebra-cabeças. A interação é tão simplificada que existe até a opção de andar automaticamente (basta apertar duas vezes no botão do direcional digital). Fica claríssimo que o foco aqui é outro.


Colecionando conhecimento

Mais que um game, The Mooseman é uma experiência audiovisual que percorre o nascimento de uma antiga civilização (Komi) da mitologia eslava — raramente explorada no mundo do entretenimento — através de imagens, sons, simbolismos e algumas poucas inserções de narrações. Para complementar e dar um pouco mais de contexto à complexa, e por vezes confusa, história do jogo, é possível encontrar colecionáveis (hieróglifos) que acrescentam alguns curiosos detalhes sobre as crenças desta civilização, ajudando a entender melhor as tradições abordadas.

Os colecionáveis incentivam a exploração dos cenários sombrios, embora as recompensas não sejam exatamente empolgantes. Definitivamente não espere sair um mestre em folclore russo ao terminar o jogo, afinal tudo em The Mooseman é muito sutil e abstrato. As narrações e textos entre os capítulos também são breves, deixando para o jogador a missão de buscar as informações extras e interpretar esta intrincada mitologia. Para dificultar um pouco mais as coisas, infelizmente o título não conta com legendas em português, impossibilitando o entendimento para quem não conhece uma língua estrangeira.


Espetáculo audiovisual

Uau! Aqui mora todo o charme de The Mooseman. O game pode até não impressionar quando controlamos o personagem principal, mas é um espetáculo quando o assunto é som e imagem. Não há excessos ou efeitos visuais complexos que exijam muito do processador gráfico do Switch, o jogo aposta suas fichas em um conceito de direção de arte minimalista. Pode-se fazer outro paralelo com o já mencionado Limbo: a estética é focada nas sombras e nos contrastes da limitada paleta de cores selecionada, deixando o resultado belíssimo!

As imagens ganham ainda mais poder quando associadas às músicas e efeitos sonoros, aplicados com muito capricho pelos designers. Além das representações simbólicas no visual, com os hieróglifos e as silhuetas das criaturas folclóricas da região, também foram reproduzidas músicas características e tradicionais daquele povo, dando um clima ainda mais imersivo para a experiência.


O pacote fica ainda mais completo com os efeitos sonoros discretos do game: na maior parte do tempo convivemos com o silêncio, mas quando o som aparece é potente e aterrorizante. Cada detalhe que surge na tela ou flui dos alto-falantes do Switch é pura arte, não há como negar. Em nenhum momento a obra peca pelo exagero, entregando uma aventura sutil, curta e coesa, que merece ser apreciada em sessão única e, de preferência, com fones de ouvido no volume máximo.

Já acabou?

The Mooseman é, como dito outras vezes, uma experiência. É quase como ler um daqueles livros “pop-up”, que saltam das páginas implorando por interação, mas pouco podem oferecer além de um toque ou uma visão tridimensional do todo. Enquanto dura, é uma jornada memorável, mas definitivamente é muito curto. Em cerca de uma hora é possível completar 100% do que o game tem para oferecer, e não há qualquer outra motivação para voltar além de apreciar novamente suas qualidades visuais e sonoras.


Soma-se a isso a simplicidade de suas mecânicas e falta de desafios, e se torna difícil imaginar o jogo destacando-se na disputadíssima eShop do Switch, que toda semana é recheada com excelentes títulos indie para todos os gostos. Por outro lado, se você, como eu, procura bons motivos para apimentar a discussão sobre videogames e arte, dê uma chance para The Mooseman. É uma obra extremamente efetiva no que se propõe. Pena que fica um gostinho de quero mais.

Prós

  • Direção de arte impecável;
  • Trilha e efeitos sonoros são de dar arrepios;
  • História e mitologia apresentadas com muito cuidado e sutileza.

Contras

  • Extremamente curto;
  • A interação é mínima e os poucos puzzles não são desafiantes.
The Mooseman — Switch/PC — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Vinícius Fernandes
Análise produzida com cópia digital cedida pela Sometimes You

Comunicador e colecionador. Já foi Sega kid e Nintendo kid, agora é retro "kid". Está no Twitter em @carloscirne e faz vídeos no YouTube no canal CirneStuff.
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