Yonder: The Cloud Catcher Chronicles (Multi) é um jogo curioso, marcado por alguns paradoxos. Ele te permite fazer milhares de coisas, mas não te motiva a fazer nada; traz cidades vivas e com um design bastante único, mas vazias em conteúdo; personagens amigáveis e carismáticos, mas que não falam mais do que cinco linhas de texto. Esse pode ser um jogo relaxante para quem se deixar levar por sua arte simpática e pelo seu potencial imenso, mas decepciona quem espera encontrar aqui uma aventura épica.
Bem-vindo à belíssima Gemea
A primeira coisa que vai te impressionar ao ligar esse jogo é a maravilhosa direção de arte. Yonder acerta ao apresentar um estilo cel shaded fortemente inspirado em The Legend of Zelda: The Wind Waker (GC/Wii U), e ao combinar a simplicidade dos traços cartunescos com uma iluminação dinâmica muito realista. A performance no Switch é bastante suave, com raras quedas de frame rate, mostrando todo potencial de um port bem feito. O resultado é muito agradável e ajuda a criar o clima relaxante que permeia todo jogo.Assim como os gráficos, a história do game é bem simples e não tem medo de abusar dos clichês. Como em centenas de outros jogos, o mundo está sendo tomado pelas trevas e você por alguma razão é o escolhido para lidar com isso. O enredo nunca se desenvolve além disso, mas também nunca faz muita falta. A história discreta permite que a jogabilidade fique no centro das atenções, o que acaba se mostrando ao mesmo tempo uma ótima escolha e um tiro no pé.
As belas paisagens são transformadas pela iluminação dinâmica no cair da noite |
Uma faca de dois gumes
A princípio, não há nada de errado com a jogabilidade de Yonder. O jogo flerta com vários gêneros e se esforça em trazer uma grande variedade de coisas para se fazer. Para a exploração, ele se inspira em The Legend of Zelda; o elemento social parece ter vindo de Animal Crossing com tarefas simples e pontuais; já cuidar da sua fazendo parece uma homenagem a Harvest Moon. O que todos esses grandes jogos têm em comum? Exatamente, quase nada. É aí que está o problema.Ao tentar agradar diferentes públicos, o game acaba trazendo elementos muito divergentes de jogabilidade e, no final, ele não sabe muito bem o que fazer com eles. Ao longo do jogo, nenhum desses elementos acaba se desenvolvendo de modo satisfatório e, mesmo assim, o game não se esforça em trazer qualquer estímulo para tais atividades. Quer gastar um tempo cuidando da sua fazenda? Fique a vontade, mas não espere conseguir nada em troca. O jogo não possui um sistema monetário então todo esse tempo gasto vai ser essencialmente desperdiçado.
Pescar não tem muito propósito, mas é bastante imersivo com o uso do HD Rumble |
A exploração também parece um pouco vazia. Mesmo com cidades um tanto criativas e paisagens belíssimas, a falta de interação com o mundo do jogo incomoda bastante. A ausência de alguma forma de combate ou algo similar transforma este jogo em um walking simulator mais elaborado. A impressão que fica é que os desenvolvedores da Prideful Sloth esperavam que as experiências fossem a sua própria recompensa, o que até poderia funcionar para alguns jogadores se elas fossem melhor desenvolvidas.
Para completar, o jogo traz uma infinidade de missões secundárias bem simplórias que nunca são muito mais complexas do que “pegue X de tal recurso” e enjoam bem fácil. O mais frustrante, porém, é que o game te dá um rápido vislumbre de como as coisas podiam ser diferentes na side quest “Casos de Família” em uma das primeiras cidades do jogo.
As missões principais vão te levar a conhecer as mais divertidas cidades |
Uma luz de esperança
Nela temos o pai de uma família de carpinteiros que quer que seus filhos disputem para decidir quem vai assumir os negócios da família. Como jogador, você pode escolher ajudar apenas um de seus filhos e, se o game parasse por aí, teríamos mais uma das inúmeras missões medíocres presentes no jogo. Explorando mais a cidade e falando com outros residentes você encontra Liora, uma simpática velhinha que propõe uma terceira opção para resolver o conflito familiar unindo ambos irmãos num projeto.
Neste momento eu já estava engajado em resolver aquele dilema e me bateu uma pontada de tristeza ao perceber que, se o jogo tivesse focado em trazer mais dessas micro-narrativas mais pessoais, a experiência geral seria muito mais memorável.
Por um jogo com mais Lioras! |
Ao invés disso, me vi abandonando completamente as side quests depois de um tempo e focando na missão principal que, apesar de seguir os mesmos moldes das demais missões do jogo, acabava se mostrando um verdadeiro incentivo para seguir em frente ao me permitir conhecer lugares interessantes. Mesmo que eu não ligasse para a história geral, quase inexistente, a missão principal me guiou a alguns raros momentos de brilhantismo que me incentivaram a continuar.
Seja com a peculiar rivalidade entre a guilda de relojoeiros e os padeiros, ou com criaturas estranhas como cachorrursos e raposas-unicórnio, Yonder: The Cloud Catcher Chronicles traz uma leveza que vale a pena experienciar por si próprio. Meu único conselho é manter as expectativas baixas para não se decepcionar, mas com certeza tem alguma coisa em Yonder que vai te surpreender.
O melhor e o pior amigo do homem juntos em uma só criatura |
Prós
- Visual impactante e bem polido;
- Cidades criativas com temáticas bem únicas;
- Utiliza bem os recursos do Nintendo Switch;
- Missões principais guiam o jogador pelos melhores momentos do jogo.
Contras
- Missões secundárias consistem de fetch quests;
- Variedade mal pensada na jogabilidade resulta em mecânicas rasas e subaproveitadas;
- Design dos NPCs é reciclado o tempo todo;
- Enredo fraco e preguiçoso.
Yonder: The Cloud Catcher Chronicles — Switch — Nota: 6.5
Revisão: Vinícius Rutes
Análise produzida com cópia digital cedida pela Prideful Sloth