O posicionamento do Switch em um mercado de games que já se aproxima da próxima geração

Existem indícios de que a próxima geração de consoles está chegando. Com o Switch em seu segundo ano, qual será a estratégia da Nintendo em relação às mudanças que se aproximam?

em 27/06/2018

Quando o Wii U foi lançado, em 2012, o console deu início à oitava geração de consoles. Contudo, com as vendas em baixa e o pouco apoio das desenvolvedoras, a Nintendo se viu obrigada a colocar no mercado outro console bem próximo do anterior: o Switch, este sim um sucesso em ascensão. Na E3 deste ano tivemos indícios de que uma nova geração está se aproximando, talvez nos próximos dois anos. E como fica o Switch nesse contexto?

A validade do conceito de geração

 Ainda que a ideia de gerações de consoles seja maleável, ninguém desconsidera por completo o fato de que as empresas utilizam desse conceito para fortalecer o seu marketing. Afirmar que um console pertence a uma nova geração é vender a tese de que ele entrega algo que os outros não podem fazer. Além disso, existe um grande investimento dos envolvidos para conquistar o status de console que “venceu” a geração. Outro impacto ainda mais efetivo se dá no desenvolvimento dos jogos. Alguns games, justamente por estarem próximos da mudança de hardware, acabam sendo adiados ou lançados em mais de uma plataforma, tanto para aproveitar o novo público sedento por experiências no mais recente aparelho, como para utilizar features que o videogame anterior não possuía.

No caso do Switch, contudo, essa é uma situação complicada. Depois de alguns anos de maré baixa, a Nintendo se vê novamente abraçada pelo público e pela crítica. Mas uma nova geração pode afastar, senão os consumidores fiéis à marca, pelo menos as desenvolvedoras que veriam como algo menos atrativo investir em jogos para o console do período anterior. Para reforçar esse problema, basta ver que a Nintendo já não está conseguindo o apoio de parte significativa das empresas. Muitos títulos multiplataforma importantes não saem para o Switch ou, se chegam, aparecem com um delay significativo, como será o caso de Dragon Ball FighterZ, lançado em janeiro deste ano para os outros consoles, mas que chegará ao Switch apenas em Setembro.

O fim dos consoles?

Todo ano a mesma conversa volta à tona: a próxima será a última geração de consoles. Não parece provável vermos isso, dado o apelo que os videogames atuais possuem e o mercado que movimentam. Mas mudanças significativas estão ocorrendo na indústria dos games e a Nintendo precisa estar atenta a esses encaminhamentos para não ser pega de surpresa. Se, de fato, a próxima geração chegar daqui a dois anos, teremos o PS4 e o Xbox One com um ciclo de vida próximo de 7 anos. Perto disso, o Switch terá apenas apenas 3, o que não justificaria uma troca de console. No máximo, a empresa pode fazer o lançamento de uma nova versão do aparelho, algo já comum dentro do mercado. Mas o que exatamente faria a Nintendo ficar para trás nesse cenário de mudanças?

Poderio gráfico não é o foco da Nintendo já faz muito tempo, logo não seria esse o maior problema. Enquanto as outras empresas dedicam muito do seu hardware a entregar o console mais poderoso possível, a Big N mantém o foco nas experiências compartilhadas e na diversão. Claro que uma coisa não precisa estar desvinculada da outra, mas é uma opção feita e que, no geral, agrada os fãs de Mario e Zelda.


A coisa muda de figura, no entanto, quando falamos de serviços online. Estamos cada vez mais inseridos em um mundo que parece viável termos os games como um serviço prestado e não mais como um item para se colecionar. As experiências bem sucedidas da Microsoft nessa linha mostram que a ideia de se pagar pelo uso de determinados títulos por algum período é algo que agrada muita gente. Além disso, outra experiência que parece inevitável no futuro é a utilização de serviços de streaming de jogos. Se hoje a tecnologia e o barateamento da banda larga são os maiores inimigos para que esse caminho se torne possível, em menos de uma década é bem provável que já estaremos vendo isso acontecer.

Os dois exemplos citados vão na direção de um dos pontos fracos da Nintendo: os serviços online. É verdade que a rede do Switch é bem mais estável que a do Wii U, e a Big N tem feito um grande esforço para efetivar algo mais próximo do que os jogadores esperam no que se refere ao multiplayer online. No entanto, a maneira como a Nintendo apresentou o seu serviço online, que será cobrado a partir de Setembro, e a ausência de características básicas para o jogador como o backup offline de jogos, mostram que a empresa ainda cambaleia ao tentar fazer coisas que suas concorrentes já conseguem realizar muito bem.

O surgimento de uma nova geração em que a implementação desses serviços cresça de modo significativo pode colocar o Switch em uma situação desconfortável no mercado mais uma vez.

Carpe Diem


Diante desse cenário aparentemente preocupante a Nintendo não parece intimidada. A empresa tem feito anúncios constantes e prognósticos otimistas para os próximos meses. Além disso, ninguém parece duvidar do fato de que ela está com foco total no aprimoramento do ecossistema que envolve o Switch. É como se eles estivessem seguindo a inspiração do poeta romano Horácio que, em um de seus poemas, eternizou a expressão carpe diem (“colha o dia”), que significa que devemos aproveitar a vida a partir do presente sem nos preocuparmos de maneira demasiada com o futuro.

É um bom caminho, mas se é verdade que a preocupação exagerada com o porvir pode trazer grande sofrimento, é também verdade que a total ausência de preparo para os tempos que vão chegar pode trazer um desalento ainda maior. Nós, fãs da Nintendo, esperamos que a empresa esteja atenta aos movimentos dos concorrentes, só que sem abandonar os consumidores que estão agora apoiando seus produtos. Mas, sim, enquanto o futuro não chega, não custa nada aproveitar bem cada dia.

Revisão: Vinícius Rutes

Pesquisador nas áreas de estética e cibercultura com Mestrado em Cultura e Sociedade (UFMA) e Doutorado em Comunicação (UnB). Além de escrever sobre jogos, produz o Podcast Ficções e tem um blog sobre literatura, filosofia e cotidiano.
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