À medida que os jogos deixaram de ser luxo exclusivo das casas de
arcades e conquistaram a sala de estar das pessoas, os títulos passaram de desafios curtos em busca da maior pontuação para aventuras mais complexas. E, desde então, sofremos com a mesma angústia: precisamos salvar nosso progresso.
Nos sistemas Nintendo, já usamos senhas, baterias internas de cartuchos e blocos de
memory cards para não perdermos tudo o que conquistamos. Hoje, estamos mais acostumados às memórias internas dos consoles, HDs externos e cartões SD. Mas, a partir de setembro, uma maneira de salvar tão requisitada pelos fãs estará finalmente disponível: por meio de computação em nuvem.
Nas nuvens!
Desde que a Nintendo anunciou que os serviços
online do Nintendo Switch seriam pagos,
em janeiro do ano passado, muitos especularam quais benefícios a empresa ofereceria em contrapartida. Os primeiros planos para o programa, que seria lançado na primavera de 2017, causaram controvérsias e críticas ao serem comparados com os serviços fornecidos pela Microsoft e pela Sony.
Por causa disso, o serviço foi adiado para 2018 e, por um longo período, anúncios foram escassos. O presidente da Nintendo of America, Reggie Fils-Aime, justificou este adiamento dizendo que a empresa precisava levar seu ambiente digital a uma “classe global”. No início do ano, o produtor geral da Big N, Shinya Takahashi, afirmou que “o próximo anúncio [sobre o serviço] valeria a pena”.
Em maio,
o Nintendo Switch Online teve seus detalhes definitivos divulgados. Planejado para setembro, ele permitirá que usuários joguem
online, acessem conteúdo exclusivo e
chat de voz pelo aplicativo para
smartphones, aproveitem ofertas especiais e desfrutem de uma coletânea de
games de NES. Mas uma novidade que não havia sido divulgada anteriormente era que aqueles que optassem pelo programa poderiam salvar o progresso de seus jogos na nuvem.
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“Salve seus dados online para acesso fácil” é tudo que o site do Nintendo Switch Online confirma até então |
Na prática, isso significa que, além de usar o armazenamento do console ou de um cartão SD, o jogador poderá fazer um
backup de seu progresso nos servidores da Nintendo. Dessa forma, cria-se uma forma de proteção — acessível pela internet — daquelas preciosas horas de jogo. Em seu
site oficial, a Nintendo afirma que fornecerá mais detalhes sobre o uso da nuvem no futuro. Mas, faltando somente três meses para o início do serviço, já é momento para pensarmos o que ele significa para o Switch e para a Nintendo.
Ouvindo os fãs
Quem acompanha Nintendo nos últimos anos sabe que essa conversa da nuvem já é antiga. Desde a época do NES, os fãs da produtora japonesa sempre estiveram rendidos a algum tipo de armazenamento local. Isso faz com que os jogadores se tornem muito dependentes do bom funcionamento dos aparelhos.
Não importa quanto tempo investe-se em um jogo. Se o cartucho/console/
memory card/HD externo/cartão SD resolve quebrar, não há nada que se possa fazer além de dizer adeus aos
saves. As únicas exceções são o Wii e o Nintendo 3DS, sobre os quais falaremos mais a frente.
Com Sony e Microsoft liberando o uso de armazenamento na nuvem no PlayStation 3 e no Xbox 360 em meados de 2011, todos queriam saber quando a Nintendo entraria na jogada. Nesses sete anos, entusiastas enchiam a internet com esta questão. A Big N lançou soluções paliativas, como a transferência de arquivos entre dois Wii U, e fez declarações evasivas, como o presidente da Nintendo of America, Reggie Fils-Aime, dizendo que a empresa estava “ciente da preocupação” de seus consumidores sobre este ponto, em entrevista dada em 2017.
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Arquivos na nuvem eram tão requisitados que viraram até material para vazamentos falsos de uma suposta atualização de sistema do Switch |
Portanto, mesmo seguindo o característico estilo “antes tarde do que nunca”, é bom ver a Nintendo reconhecendo o problema de seu produto e oferecendo uma solução esperada por muitos. Ainda é cedo para avaliarmos a qualidade do programa
online pago, mas a liberação de
saves na nuvem pode indicar uma Nintendo mais confiante em seu sistema digital e que pode oferecer um serviço melhor que o atual gratuito, em uma visão otimista.
Lendo as entrelinhas
Apesar de a Nintendo declarar que mais informações serão dadas no futuro, já temos uma ideia de como esse programa funcionará e suas consequências. Conforme
noticiado aqui no Nintendo Blast, o site
Eurogamer Portugal recebeu declarações que podem ser reveladoras.
Ao perguntar à empresa sobre a possibilidade de
backups offline e gratuitos, a Big N afirma que é capaz de extrair os dados de um console com uma memória não danificada e transferi-los a um sistema novo. Mas somente em seu processo de reparação interno. Como bem aponta nosso redator Marcos Ramon na notícia, essa fala confirma que só a Nintendo pode fazer esse processo em sua assistência técnica. O usuário comum não pode fazer um
backup de seus arquivos em outros
hardwares, como um PC, por exemplo.
Isso se dá devido à formatação que a empresa aplica no armazenamento externo de seus consoles. Switch e Wii U obrigam que o usuário formate HDs e cartões SD para que os arquivos sejam lidos somente pelos consoles. Assim, podem ser exibidos em computadores comuns. Portanto, quem espera fazer uma cópia de segurança pessoal e
offline para essas plataformas está sem sorte. Essa é uma prática comum que outras fabricantes de consoles também utilizam. Mas é interessante notar que, para o Wii e o Nintendo 3DS, o acesso aos arquivos em PCs é liberado. Por que não autorizar que jogadores façam seus próprios
backups gratuitos no Switch também?
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O Nintendo 3DS já possui um gerenciador de arquivos compatível com o PC. Por que não o Switch? |
A nota da Nintendo também traz outra revelação interessante. Ela diz que o serviço “permite que os utilizadores façam uma cópia dos dados de gravação em jogos compatíveis”. Repare a expressão “jogos compatíveis”. Aparentemente, nem todos os jogos terão compatibilidade com a nuvem. O
site oficial do Nintendo Switch Online no Japão também indica que esse será o caso. Temos também exemplos de produtoras que usam os próprios servidores para armazenar dados de seus jogos, como a Capcom, com
Resident Evil 7: Cloud Edition. Ou seja, teremos nuvem, mas pode ser que não seja para todos os títulos.
Lembrando que a natureza portátil do Switch também faz com ele possa não estar conectado a todo o tempo, impedindo a sincronização constante com a nuvem. Todas essas informações faz com que a nuvem seja um enorme passo no caminho certo, mas um passo um pouco incerto no que tange a segurança de todos os
games.
O preço está certo?
Outro ponto que causa certa discórdia é a cobrança pelo acesso à nuvem. A Nintendo nunca foi de cobrar por seus serviços
online. Portanto, a ideia de pagar por funcionalidades na
web já causa desconforto em quem estava acostumado a aproveitar tudo gratuitamente. Mas essa questão da nuvem vai mais a fundo, pois esbarra em comparações com políticas de outras empresas e até da própria Big N.
Se quisermos ver de maneira positiva, podemos dizer que a Sony também bloqueia sua nuvem para jogos PlayStation atrás de um pagamento, que é maior que o do Nintendo Switch Online. Mas donos de Xbox One podem usar os servidores da Microsoft livremente, sem a necessidade de uma assinatura Live Gold.
A própria Nintendo já vem guardando
saves na nuvem de uma maneira discreta e gratuita: nos aplicativos
mobile. Usuários que sincronizarem os
apps com suas Contas Nintendo podem baixar seus arquivos da nuvem toda vez que precisarem. Isso levanta a dúvida sobre por que não manter a gratuidade no Switch também. Claro que as estruturas
online de um console e de um
game mobile são completamente diferentes. Mas a sensação de que a nuvem deveria ser um pressuposto do Switch, e não um benefício, se mantém para muitas pessoas devido aos exemplos em que ela é de graça.
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Todos os aplicativos mobile da Nintendo são compatíveis com uma nuvem gratuita |
Um passo de cada vez
O serviço
cloud da Nintendo é um exemplo de como a empresa segue evoluindo no meio digital. Tornar este pedido tão aclamado pelos fãs em uma realidade significa que a empresa ouviu seu público, o que pode refletir em coisas boas para o Nintendo Switch Online em geral. Uma garantia extra para proteger progressos é sempre bem-vinda.
Críticas existem e são totalmente justas. Afinal, há possibilidades mais baratas e
offline — as quais a própria Nintendo já utilizou — para guardarmos nossos
saves e que seriam mais convenientes para algumas pessoas. Além disso, não temos segurança de que 100% dos nossos jogos serão protegidos digitalmente. Isso deixa alguns jogadores receosos.
Mas são estas críticas que poderão tornar o serviço mais útil e flexível para todos, se ouvidas por essa Nintendo disposta a atender as demandas dos fãs. O que resta agora é esperar mais informações oficiais e ver o quanto os jogadores estarão nas nuvens!
Revisão: Gabriel Bonafé