O que significa o serviço cloud no Nintendo Switch?

A partir de setembro, jogadores que pagarem pelo Nintendo Switch Online terão acesso a algo que fãs pedem há anos: arquivos de save na nuvem.

em 01/06/2018


À medida que os jogos deixaram de ser luxo exclusivo das casas de arcades e conquistaram a sala de estar das pessoas, os títulos passaram de desafios curtos em busca da maior pontuação para aventuras mais complexas. E, desde então, sofremos com a mesma angústia: precisamos salvar nosso progresso.


Nos sistemas Nintendo, já usamos senhas, baterias internas de cartuchos e blocos de memory cards para não perdermos tudo o que conquistamos. Hoje, estamos mais acostumados às memórias internas dos consoles, HDs externos e cartões SD. Mas, a partir de setembro, uma maneira de salvar tão requisitada pelos fãs estará finalmente disponível: por meio de computação em nuvem.

Nas nuvens!

Desde que a Nintendo anunciou que os serviços online do Nintendo Switch seriam pagos, em janeiro do ano passado, muitos especularam quais benefícios a empresa ofereceria em contrapartida. Os primeiros planos para o programa, que seria lançado na primavera de 2017, causaram controvérsias e críticas ao serem comparados com os serviços fornecidos pela Microsoft e pela Sony.

Por causa disso, o serviço foi adiado para 2018 e, por um longo período, anúncios foram escassos. O presidente da Nintendo of America, Reggie Fils-Aime, justificou este adiamento dizendo que a empresa precisava levar seu ambiente digital a uma “classe global”. No início do ano, o produtor geral da Big N, Shinya Takahashi, afirmou que “o próximo anúncio [sobre o serviço] valeria a pena”.

Em maio, o Nintendo Switch Online teve seus detalhes definitivos divulgados. Planejado para setembro, ele permitirá que usuários joguem online, acessem conteúdo exclusivo e chat de voz pelo aplicativo para smartphones, aproveitem ofertas especiais e desfrutem de uma coletânea de games de NES. Mas uma novidade que não havia sido divulgada anteriormente era que aqueles que optassem pelo programa poderiam salvar o progresso de seus jogos na nuvem.
“Salve seus dados online para acesso fácil” é tudo que o site do Nintendo Switch Online confirma até então
Na prática, isso significa que, além de usar o armazenamento do console ou de um cartão SD, o jogador poderá fazer um backup de seu progresso nos servidores da Nintendo. Dessa forma, cria-se uma forma de proteção — acessível pela internet — daquelas preciosas horas de jogo. Em seu site oficial, a Nintendo afirma que fornecerá mais detalhes sobre o uso da nuvem no futuro. Mas, faltando somente três meses para o início do serviço, já é momento para pensarmos o que ele significa para o Switch e para a Nintendo.

Ouvindo os fãs

Quem acompanha Nintendo nos últimos anos sabe que essa conversa da nuvem já é antiga. Desde a época do NES, os fãs da produtora japonesa sempre estiveram rendidos a algum tipo de armazenamento local. Isso faz com que os jogadores se tornem muito dependentes do bom funcionamento dos aparelhos.

Não importa quanto tempo investe-se em um jogo. Se o cartucho/console/memory card/HD externo/cartão SD resolve quebrar, não há nada que se possa fazer além de dizer adeus aos saves. As únicas exceções são o Wii e o Nintendo 3DS, sobre os quais falaremos mais a frente.

Com Sony e Microsoft liberando o uso de armazenamento na nuvem no PlayStation 3 e no Xbox 360 em meados de 2011, todos queriam saber quando a Nintendo entraria na jogada. Nesses sete anos, entusiastas enchiam a internet com esta questão. A Big N lançou soluções paliativas, como a transferência de arquivos entre dois Wii U, e fez declarações evasivas, como o presidente da Nintendo of America, Reggie Fils-Aime, dizendo que a empresa estava “ciente da preocupação” de seus consumidores sobre este ponto, em entrevista dada em 2017.
Arquivos na nuvem eram tão requisitados que viraram até material para vazamentos falsos de uma suposta atualização de sistema do Switch


Portanto, mesmo seguindo o característico estilo “antes tarde do que nunca”, é bom ver a Nintendo reconhecendo o problema de seu produto e oferecendo uma solução esperada por muitos. Ainda é cedo para avaliarmos a qualidade do programa online pago, mas a liberação de saves na nuvem pode indicar uma Nintendo mais confiante em seu sistema digital e que pode oferecer um serviço melhor que o atual gratuito, em uma visão otimista.

Lendo as entrelinhas

Apesar de a Nintendo declarar que mais informações serão dadas no futuro, já temos uma ideia de como esse programa funcionará e suas consequências. Conforme noticiado aqui no Nintendo Blast, o site Eurogamer Portugal recebeu declarações que podem ser reveladoras.

Ao perguntar à empresa sobre a possibilidade de backups offline e gratuitos, a Big N afirma que é capaz de extrair os dados de um console com uma memória não danificada e transferi-los a um sistema novo. Mas somente em seu processo de reparação interno. Como bem aponta nosso redator Marcos Ramon na notícia, essa fala confirma que só a Nintendo pode fazer esse processo em sua assistência técnica. O usuário comum não pode fazer um backup de seus arquivos em outros hardwares, como um PC, por exemplo.

Isso se dá devido à formatação que a empresa aplica no armazenamento externo de seus consoles. Switch e Wii U obrigam que o usuário formate HDs e cartões SD para que os arquivos sejam lidos somente pelos consoles. Assim, podem ser exibidos em computadores comuns. Portanto, quem espera fazer uma cópia de segurança pessoal e offline para essas plataformas está sem sorte. Essa é uma prática comum que outras fabricantes de consoles também utilizam. Mas é interessante notar que, para o Wii e o Nintendo 3DS, o acesso aos arquivos em PCs é liberado. Por que não autorizar que jogadores façam seus próprios backups gratuitos no Switch também?
O Nintendo 3DS já possui um gerenciador de arquivos compatível com o PC. Por que não o Switch?


A nota da Nintendo também traz outra revelação interessante. Ela diz que o serviço “permite que os utilizadores façam uma cópia dos dados de gravação em jogos compatíveis”. Repare a expressão “jogos compatíveis”. Aparentemente, nem todos os jogos terão compatibilidade com a nuvem. O site oficial do Nintendo Switch Online no Japão também indica que esse será o caso. Temos também exemplos de produtoras que usam os próprios servidores para armazenar dados de seus jogos, como a Capcom, com Resident Evil 7: Cloud Edition. Ou seja, teremos nuvem, mas pode ser que não seja para todos os títulos.

Lembrando que a natureza portátil do Switch também faz com ele possa não estar conectado a todo o tempo, impedindo a sincronização constante com a nuvem. Todas essas informações faz com que a nuvem seja um enorme passo no caminho certo, mas um passo um pouco incerto no que tange a segurança de todos os games.

O preço está certo?

Outro ponto que causa certa discórdia é a cobrança pelo acesso à nuvem. A Nintendo nunca foi de cobrar por seus serviços online. Portanto, a ideia de pagar por funcionalidades na web já causa desconforto em quem estava acostumado a aproveitar tudo gratuitamente. Mas essa questão da nuvem vai mais a fundo, pois esbarra em comparações com políticas de outras empresas e até da própria Big N.

Se quisermos ver de maneira positiva, podemos dizer que a Sony também bloqueia sua nuvem para jogos PlayStation atrás de um pagamento, que é maior que o do Nintendo Switch Online. Mas donos de Xbox One podem usar os servidores da Microsoft livremente, sem a necessidade de uma assinatura Live Gold.

A própria Nintendo já vem guardando saves na nuvem de uma maneira discreta e gratuita: nos aplicativos mobile. Usuários que sincronizarem os apps com suas Contas Nintendo podem baixar seus arquivos da nuvem toda vez que precisarem. Isso levanta a dúvida sobre por que não manter a gratuidade no Switch também. Claro que as estruturas online de um console e de um game mobile são completamente diferentes. Mas a sensação de que a nuvem deveria ser um pressuposto do Switch, e não um benefício, se mantém para muitas pessoas devido aos exemplos em que ela é de graça.
Todos os aplicativos mobile da Nintendo são compatíveis com uma nuvem gratuita

Um passo de cada vez

O serviço cloud da Nintendo é um exemplo de como a empresa segue evoluindo no meio digital. Tornar este pedido tão aclamado pelos fãs em uma realidade significa que a empresa ouviu seu público, o que pode refletir em coisas boas para o Nintendo Switch Online em geral. Uma garantia extra para proteger progressos é sempre bem-vinda.

Críticas existem e são totalmente justas. Afinal, há possibilidades mais baratas e offline — as quais a própria Nintendo já utilizou — para guardarmos nossos saves e que seriam mais convenientes para algumas pessoas. Além disso, não temos segurança de que 100% dos nossos jogos serão protegidos digitalmente. Isso deixa alguns jogadores receosos.

Mas são estas críticas que poderão tornar o serviço mais útil e flexível para todos, se ouvidas por essa Nintendo disposta a atender as demandas dos fãs. O que resta agora é esperar mais informações oficiais e ver o quanto os jogadores estarão nas nuvens!

Revisão: Gabriel Bonafé

Jornalista, analista de mídias, PcD e entusiasta de games desde que jogou Pokémon Azul no Game Boy Color nos anos 90. De lá para cá, tenta aproveitar ao máximo todos os consoles no pouco tempo que a vida adulta permite. Se não está escrevendo para o Blast ou demorando anos para zerar um jogo, está no Twitter (@DanielMorbi) e no Instagram (@danielmorbi_)
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