Análise: Super Sportmatchen (Switch) — esportes inusitados para despertar o seu espírito olímpico

Com foco no multiplayer, o jogo desperta o competidor que existe em cada um de nós.

em 04/06/2018

Super Sportmatchen é um jogo que foi produzido pelo pequeno grupo de desenvolvedores suecos do Kaj Forell Video Game e publicado pela DANGEN Entertainment. O visual retrô remete ao universo dos 8-bits e, em conjunto com o clima irreverente das atividades esportivas, traz para a tela do Switch boas surpresas, incluindo uma jogabilidade viciante. Você gosta de desafio? Então prepare os seus controles e entre nessa competição maluca (e extremamente divertida).

O fator nostalgia

Quando criança um dos jogos que eu mais gostava era Track & Field II, um game de esportes lançado pela Konami para o “Nintendinho” em 1989. Era um compilado de atividades olímpicas, com uma variedade grande de desafios e gráficos muito bons para a época. Lembro com carinho das tardes que passei disputando com meu irmão para ver quem quebrava mais recordes sem quebrar os controles (algo que aconteceu algumas vezes). Talvez por isso Super Sportmatchen tenha ativado em mim uma sensação nostálgica intensa, me fazendo ter uma conexão imediata desde o primeiro momento. A escolha do trabalho em pixel art e as músicas utilizadas reforçam essa sensação de jogo antigo, mas não é só pela nostalgia que a experiência agrada.

Os desenvolvedores fizeram um bom trabalho com a ambientação do game. Em Super Sportmatchen você deve escolher um entre seis atletas para participar das disputas. Cada competidor tem sua própria nacionalidade, características e personalidade. Ainda que nada disso interfira no desempenho, é interessante dar ao jogador a opção de escolher o atleta com quem tem mais afinidade, seja pelo gênero, cor da pele ou continente de origem. Os competidores são os seguintes:
Agneta (Suécia), Fernando (Bolívia) e Maimai (Vietnã)

Lembit (Estônia), Claudetta (Serra Leoa)  e Johnny Top (Canadá)

Eles reagem de formas diferentes durante os jogos, comemorando ou demonstrando irritação de maneiras bem particulares. No final, acabamos desenvolvendo um certo carinho por nossos personagens favoritos. Pena que são poucos e não são customizáveis em nenhum aspecto.

Lutando pela vitória

O lema de Super Sportmatchen é “Winners have more fun!”, o que acaba se mostrando verdade, desde que você consiga vencer a maioria das partidas. A experiência da derrota é particularmente frustrante quando jogamos contra os competidores controlados pela inteligência artificial. Eles são mais rápidos e espertos do que você, tornando quase impossível a tarefa de vencê-los. Em alguns esportes (falarei ainda de cada um deles) a disputa é um pouco mais balanceada, mas quando a competição tem a ver com força e rapidez a frustração é quase certa.

Felizmente, o foco do game parece ser o multiplayer local e é justamente nesse formato que ele brilha. Jogando contra amigos e familiares, o engajamento promovido por Super Sportmatchen é gigantesco. Sim, como nas melhores disputas, é bem provável que alguém saia irritado no final, mas isso só dura até a próxima partida, quando as chances são renovadas e o desejo de vencer retorna. Outra coisa bacana é a possibilidade de formar times de dois contra dois (o jogo permite o máximo de quatro jogadores, incluindo a IA), dando novas cores e possibilidades à disputa.
Cuidado para não comemorar antes da hora.

Que comecem os jogos!

Super Sportmatchen traz alguns modos clássicos de jogos de esportes, mas insere em alguns deles elementos curiosos e até grotescos, aumentando o tamanho do riso no rosto de quem joga. São dez modalidades, divididas da seguinte forma:

100m Dash: o modo clássico de corrida. Jogamos alternando dois botões no controle. Quanto mais rápido você apertar no ritmo correto, mais rápido o seu personagem irá correr. No entanto, se errar o ritmo ele cai e se atrasa um pouco. Mas cuidado, essa modalidade traz risco sério de quebra de controle e desenvolvimento de lesão por esforço repetitivo.


Boll Toss: nesse game devemos lançar uma bola o mais perto possível de um muro que fica no final da pista. Quanto mais perto do fim, mais pontos. Vence quem alcançar a maior pontuação depois de quatro rodadas. Interessante é o uso do vento que interfere nos lançamentos.


Hoops: um jogo de basquete de todos contra todos ou dois contra dois. O que torna a disputa caótica é a possibilidade de empurrar os adversários e pular na cabeça deles para atrasá-los. Se conseguir marcar mais cestas que o adversário você vence, mas não conte com isso se estiver jogando contra a IA.


Capy Throw: lançamento de capivaras. Isso mesmo. Girando o analógico você insere força e soltando o botão, que serve para segurar a corda, você lança a capivara e depois ativa o paraquedas. Quem lançar a capivara mais longe em duas rodadas vence. Absurdo e difícil no mesmo nível.


180m Hopp-Boll: uma corrida em cima de uma bola saltitante. Usando o direcional para baixo você carrega impulso para pular mais longe, se cair na área de lama ocorre um atraso e é possível dar um boost estourando a bola no ar (mas isso deixa o competidor um pouco tonto depois). Vence quem passar primeiro na linha de chegada.

River Dodge: tente chegar o mais longe possível em cima de um caiaque, desviando de pedras, troncos, caranguejos e outros empecilhos. A jogabilidade é simples, basta usar o direcional para ir para um lado ou para outro.


Animal Feed: esqueça essa história de atirar em pratos ou, ainda pior, atirar em animais. A ideia aqui é alimentar os pássaros e capivaras com doces. Quem alimenta mais, ganha mais pontos. E dá para ganhar um pontinho alimentando o juiz.


Wall Climb: de longe a competição mais difícil. Para você ter uma ideia, no momento em que estou escrevendo, apenas nove pessoas conseguiram concluir o desafio registrando seus recordes no placar global (e um deles foi este redator que aqui escreve). O objetivo é escalar um muro até o topo, mas para segurar nas rochas é necessário pular e apertar a combinação indicada de botões. Além do desafio de escalar sem errar, ainda é preciso desviar de sacos de água que caem do céu e ter cuidado com as correntezas de vento. Irritação certa.

Pillow Push: uma luta de travesseiros. Quem tirar o adversário da área indicada duas vezes vence. Parece simples, mas envolve certa tática, principalmente considerando que a utilização do botão de defesa no tempo certo vale como um golpe mais forte. Se derrubar o adversário do tatame pro chão é vitória imediata.


250m Plint-Sprint: corrida com obstáculos. Assim como na disputa de 100 metros rasos é preciso velocidade e ritmo. Mas, além da rapidez, é necessário ter também o tempo certo para pular por cima de equipamentos de ginástica. Quem chegar primeiro vence.


Mais forte, mais alto, mais rápido

Super Sportmatchen está longe de ser um jogo inovador. Ele claramente bebe na fonte de games antigos inspirados em Olimpíadas, como Decathlon (Atari, 1983) e Track & Field (NES, 1983). Além disso, o estilo nonsense de algumas competições lembra Caveman Games (NES, 1988). Essas inspirações, contudo, não tiram o brilho do título desenvolvido pela Kaj Forell Video Game.

A diversão é um fator constante na experiência e, se temos algo a lamentar, é o fato de que o jogo é relativamente curto, com poucas modalidades e cada uma delas sendo concluída em poucos minutos, às vezes menos. No que se refere à jogabilidade, ela é fluída e intuitiva. No entanto, em alguns momentos, como na escalada, os controles não respondem tão bem, tornando a sensação de derrota ainda mais frustrante.
A alegria de estar entre os melhores.


Super Sportmatchen é uma aquisição recomendadíssima para quem possui um Switch. Na ausência de party games da própria Nintendo, como Wii Sports ou Mario Party, esse jogo de esportes esquisitos e disputas acirradas deixará você, seus amigos e familiares engajados por umas boas horas. E se o desafio lado a lado não for o suficiente, o game conta com uma lista de recordes mundiais. Só tenha cuidado para não ficar obcecado em ter o seu nome entre os dez primeiros (falo isso por experiência própria, sério). No mais, alongue os braços, aqueça os dedos e entre na disputa!

Prós

  • Partidas divertidas principalmente no multiplayer local;
  • Visual retrô bonito e bem humorado;
  • Fator replay gigantesco.

Contras

  • Poucas modalidades;
  • Frustração certa ao jogar contra a inteligência artificial.
Super Sportmatchen - Switch - Nota: 9.0
Revisão: Diogo Mendes
Análise produzida com cópia digital cedida pela Dangen Entertainment
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Pesquisador nas áreas de estética e cibercultura com Mestrado em Cultura e Sociedade (UFMA) e Doutorado em Comunicação (UnB). Além de escrever sobre jogos, produz o Podcast Ficções e tem um blog sobre literatura, filosofia e cotidiano.
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