Análise: o FIFA 18 no Switch quase um ano depois — agora com conteúdo da Copa do Mundo

O título para Switch não deve quase nada em relação às versões para outras plataformas. O problema é mesmo com o jogo em si.

em 04/06/2018


FIFA 18 (Multi) foi lançado há quase um ano. FIFA 19 (Multi) já pode ser visto do horizonte e o Nintendo Blast não fez uma análise a respeito da versão 18 para o Switch. Isto é, pelo menos até agora, com a adição do DLC da Copa do Mundo recém-disponibilizado para download pelo aparelho. Antes tarde do que nunca!

A Electronic Arts até tenta, mas parece que nunca foi de verdade...

O relacionamento da Electronic Arts com a Nintendo nos últimos anos é certamente uma questão bem complicada. Para o FIFA, especificamente, o último a aparecer em um console da empresa foi o 15 (lançado no segundo semestre de 2014), para o Wii e o 3DS, mas em uma versão intitulada Legacy Edition, que não passava de uma reciclagem de uma edição anterior e apenas atualizava os times — prática que a empresa já vinha fazendo há anos.

O Wii U chegou a receber o FIFA 13 (Multi), mas foi o único desenvolvido para o aparelho — ou seja, até o Wii continuou recebendo os jogos da franquia, mas o Wii U, não — porque a EA decidiu que iria parar de fornecer suporte ao console com a alegação de que o mercado para ele era muito pequeno. Notadamente, isso é algo que pouco importou para a Big N, visto que sempre foi da filosofia da empresa que seus videogames apenas recebessem seus próprios jogos, com as third parties não passando de mero detalhe.



Console novo, FIFA novo, a EA decidiu, como de praxe, maximizar seu rendimento e apostou na nova plataforma. Previsivelmente, o que o Switch recebeu foi uma versão capada dos FIFA 18 para as plataformas mais graúdas, como o PlayStation 4 e o Xbox One. No entanto, é notável que o bruto do gameplay dentro das quatro linhas, aquele que realmente importa, está lá — e com os defeitos inclusos.

Dessa forma, o jogo disponibiliza os principais modos de jogo, como Partida Rápida, Carreira, Ultimate Team e o futebol feminino, deixando de fora o modo história que, convenhamos, não é lá grande coisa desde sua implementação na série. Além disso, essas mesmas modalidades presentes carecem de algumas mecânicas, como as negociações de transferência com cutscenes. Contudo, já que o que interessa mesmo são as partidas em si, o que veio no pacote já é suficiente.


Apita o árbitro e a bola rola no meio de campo!

Selecionado o time com sua formação, a partida tem início — detalhe para a narração forçada do Tiago Leifert com os comentários sem-sal do Caio Ribeiro (nesse caso é convincente porque as opiniões reais dele nas partidas de verdade são assim também) que, por algum motivo, persistem há anos na franquia sem ninguém realmente gostar — e é aí que o bicho pega. O game, apesar de rodar numa engine própria e dedicada, conseguiu reproduzir o gameplay de suas irmãs maiores, seja para o bem, seja para o mal.

Nisso, é válido ressaltar que o jogo por si só é abusivamente lento e os comandos defensivos são pavorosos, num sentido de bater o nervosismo no instante imediato em que o jogador perde a posse da bola. Não é incomum o computador começar a avançar contra o sistema defensivo e passar por ele como se fosse o Khedira ou o Müller passeando na zaga brasileira naquele fatídico dia da Copa passada. Ele simplesmente vai pelo meio desviando dos oponentes que tentam dar o bote em vão, sejam eles controlados pelo computador ou pelo próprio jogador.

Sobre a lentidão, chega a ser incômodo o tempo que os jogadores demoram para mudar de direção em uma corrida, além de ser notável um leve delay no tempo de resposta do jogo em relação aos comandos embutidos pelos botões. Ademais, os passes são muito pouco precisos — mesmo com a direção correta indicada — e a IA dos goleiros é medíocre, visto que deixam passar com muita facilidade qualquer chute de fora da área que não tenha resvalado em algum zagueiro. Em comparação, por mais forçada que seja, é possível pegar o Kritter de Super Mario Strikers Charged (Wii) e ver que um jogo com mais de dez anos nas costas já trouxe um goleiro mais capaz e realista do que os cones inúteis da EA.



Individualmente, os jogadores parecem todos iguais em campo, seja tanto na animação de movimento deles quanto no estilo de jogo dos caras. Mesmo com níveis e atributos diferentes claramente visíveis em suas atuações, dois futebolistas podem apresentar uma performance similar e realizar ações parecidas de uma maneira irreal pela diferença técnica que deveria existir entre eles. Chega a ser estranho falar isso de um programa virtual, mas falta alma nos jogadores.

Taticamente, FIFA 18 também é um desastre, visto que é limitado na organização do time e muitas vezes os jogadores vão se movimentar de uma forma completamente aleatória que não deveria fazer sentido para eles, como um lateral esquerdo aparecer na ponta direita. Mesmo que isso seja regulável no menu, chega a ser incômoda a falta de obediência tática dos jogadores. O título também carece de um bom número de opções de customização da formação, sendo que é chato tentar aproveitar do pouco que se tem por conta de seu sistema pouco dinâmico.

A questão é que, a despeito de todos os pesares, pelo fato de ainda haver ali um jogo de futebol minimamente competente (e não mais do que isso), ele consegue viciar os amantes do esporte no instante em que se pega jeito dessas mecânicas e aprende a lidar com todos esses empecilhos de gameplay — principalmente porque agora é possível levar o título da EA Sports para qualquer lugar.


E qual é a do Switch?

Olhando pelo lado bom, a portabilidade do aparelho é uma benção aos viciados, visto que agora conseguem jogar em absolutamente em qualquer lugar, mesmo que no começo seja necessário se habituar um pouco à tela diminuta em relação a um monitor ou uma televisão. Apesar de rodar em resoluções diferentes no dock e fora dele (1080p e 720p, respectivamente), a performance sentida em ambos os casos foi similar, senão a mesma.

Também há a possibilidade de jogar com outra pessoa usando um único controle, separando os Joy-Con e atribuindo cada um a um player. A questão é que, por mais bem-intencionado que isso seja, a ideia falha na execução porque o número de comandos possíveis caem pela metade por conta da ausência de certos botões e porque o Joy-Con na horizontal é simplesmente um horror de empunhadura quando utilizado por alguém que tenha mãos grandes.

No Switch, especificamente, há alguns problemas de lag ao jogar on-line que não estão presentes em outras versões. No mesmo modo, também é impossível disputar uma partida contra um amigo registrado no aparelho — apenas jogadores aleatórios, o que certamente é um vacilo bizarro por parte da EA.


O hexa já é realidade!

O DLC da Copa do Mundo é mais um mimo do que uma necessidade. Certamente também é uma questão de vantagem logística, visto que a EA não precisa se preocupar com a manufatura de mais um título no mercado e o público não vai se sentir enganado por pagar novamente pelo mesmo jogo com outra skin. Até parece piada: a Electronic Arts disponibilizou um DLC gratuito em vez de seguir pela rota do mercenarismo.

A questão é que não há nem o que falar direito a respeito do conteúdo. Ele, quando instalado, pode ser acessado em um novo botão que aparece no hub inicial e que leva o jogador a uma nova seção isolada do game. Nela, há um modo de simulação do torneio, um Ultimate Team exclusivo e o de Partida Rápida — basicamente todas as mesmas modalidades já disponíveis do formato normal do título, mas com a diferença de que elas são jogadas com seleções quase que completamente atualizadas da competição (e mais algumas que não se classificaram, como a Itália). Fala-se “quase” por ainda constarem jogadores que vão desde o Daniel Alves, nome que era certo da lista de Tite, mas que foi cortado por lesão, até outros nem sequer cogitados direito, como Hulk, Luiz Gustavo e surrealmente, Ricardo Oliveira. Rodriguinho, o mito dos mitos, injustamente ficou de fora, infelizmente, mesmo que ainda tivesse bem mais chances do que esses nomes presentes.

Apesar de estarmos elogiando a EA aqui pela atitude de disponibilizar o conteúdo de forma gratuita, é óbvio que ele não seria trazido sem eventuais problemas. O DLC, ao ser instalado, causou uma espécie de bug que impedia que as partidas começassem. Em vez disso, o jogo acabava provocando um erro que forçava o fechamento da aplicação no aparelho. Para resolver, a sugestão é deletar o perfil de utilizador no menu de preferências do próprio jogo. Isso excluirá apenas as opções do jogador e os resultados salvos dos desafios de habilidade, deixando intactos os saves de campanhas. 


Aquele tipo de vício que você sabe que não é bom, mas continua do mesmo jeito...

É interessante considerar que os defeitos do FIFA 18 valem para o jogo como um todo e não apenas para uma versão do Switch que eventualmente poderia valer menos do que as outras por ter menor conteúdo. Como já constatado, o game no console da Nintendo é extremamente similar às outras versões — o que, nesse aspecto, já rende pontos para a EA. Isto é, ela conseguiu reproduzir o título em outra engine; o problema é que ele mesmo já não é grande coisa. É capaz de viciar os habituados no esporte e na franquia — que irá jogá-lo mesmo consciente de todos os seus defeitos, como aqui foi o caso —, mas não passa disso.

O principal aqui é que o público nintendista já aprendeu a viver sem a série. Caberia à EA nos reeducar novamente a não conseguir viver sem um FIFA. Tentar-nos com a chance de jogá-los em qualquer lugar em uma qualidade minimamente aceitável é um bom começo para isso. Basta não abandonar o barco (de novo).

Prós

  • FIFA em qualquer lugar;
  • Performance que não deve em nada às versões mais graúdas;
  • DLC gratuito.

Contras

  • Jogabilidade truncada;
  • Sistema on-line precário;
  • Mais para os fãs de longa data do que para os não-iniciados;
  • Licenças brasileiras ainda são um problema;
  • Bug que veio com o DLC.
FIFA 18 — Switch — Nota 6.5
Revisão: Diego Franco Gonçales 
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É jornalista formado pelo Mackenzie e pós-graduado em teoria da comunicação (como se isso significasse alguma coisa) pela Cásper Líbero. Tem um blog particular onde escreve um monte de groselha e também é autor de Comunicação Eletrônica, (mais um) livro que aborda história dos games, mas sob a perspectiva da cultura e da comunicação.
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