Vigilante 8 (N64): Da época em que jogos se preocupavam apenas em ser divertidos

Vigilante 8 permanece vivo como o perfeito retrato de uma época em que a diversão ainda era o foco principal dos videogames.

em 03/05/2018
Vigilante 8 é um daqueles títulos que não se leva a sério. Mas, antes que você pense algo, é tudo por uma boa causa. Advindo de uma época em que a diversão proporcionada por um jogo ainda era a sua principal arma para se destacar entre os demais concorrentes, Vigilante 8 se preocupa apenas em ser extremamente animado do início ao fim. Entregando ao jogador um conjunto de elementos praticamente extintos atualmente, como multiplayer local e ação no melhor estilo arcade, o game cumpre com maestria o seu propósito, mesmo sem mostrar esforço no processo.


Lançado originalmente para PlayStation, em 1998, a versão para Nintendo 64 saiu quase um ano depois, sendo também sucedida por uma versão para Game Boy Color no mesmo ano. Visando aproveitar o sucesso do gênero Vehicular Combat e competir com séries já bem estabelecidas do gênero, como Twisted Metal e Destruction Derby, a Activision decidiu entrar em contato com uma produtora recém fundada e ainda desconhecida do grande público para desenvolver o jogo.

Apesar da decisão ousada, a Luxoflux, produtora escolhida pela Activision, que na época possuía apenas cinco programadores na equipe, não derrapou em seu primeiro grande projeto e mandou muito bem, tanto na versão original como também no subsequente port para a plataforma da Big N. Com diversos recursos adicionais, além de uma campanha publicitária polêmica para a época, Vigilante 8 compensou a demora de seu lançamento, marcando época no Nintendo 64 e se transformando na versão definitiva do jogo.

Revivendo o passado

Aquela artwork super inspirada nos seriados policiais norte-americanos, muito comuns nos anos 70.


Antes de tudo, é preciso dizer que Vigilante 8 se trata de spin-off de uma série conhecida como Interstate '76, também do gênero Vehicular Combat e lançada pela Activision exclusivamente para computadores, em 1997. Para explicar essa história, é preciso antes contar um pouco da trajetória da franquia original.

Interstate '76 aborda uma versão alternativa da crise do petróleo que assolou os EUA nos anos 70. Nesta nova realidade, todo o país está mergulhado em tamanha violência que a segurança nacional já não era capaz de resolver o problema. Aproveitando-se disso, surgiram grupos com seus próprios ideais que se enfrentavam em conflitos bélicos por diversas regiões dos EUA, sendo os Vigilantes e os Coyotes os principais.

Os ˜mocinhos˜ da série são conhecidos por integrarem o grupo Vigilantes, formado por caipiras do sul dos EUA e que visam restaurar a lei e a ordem que já se encontra fora de controle no país. Já os vilões, são os membros dos Coyotes. A equipe é formada por assassinos de aluguel recrutados para executarem o plano destrutivo da organização conhecida como OMAR, responsável por monopolizar todo o petróleo nos EUA.

O plano da corporação consistia em aterrorizar diversas instalações comerciais e petrolíferas, usando armas roubadas da ultrassecreta Site 4, localizada em Papoose Lake, em Nevada, fazendo referência a localização real da famosa Área 51, para continuar mantendo o seu monopólio de todo o petróleo nos EUA.

Os novos protagonistas

Um elenco de personagens completamente extravagantes estrela o game.


Vigilante 8 reutiliza o mesmo tema apresentado em Interstate '76, inclusive os grupos rivais originais. Mas, substitui os seus personagens por novos. O líder dos Vigilantes, desta vez, é um cowboy chamado Convoy. Ele é acompanhado por sua sobrinha Sheila, pelo viciado em jogos de azar John Torque, um hippie obcecado por aliens chamado Dave, o Super Choque caipira Slick Clyde e pela agente do FBI Chassey Blue, que foi designada em uma operação para investigar os diversos relatos de tiroteios recorrentes e acaba posteriormente se envolvendo com os Vigilantes.

O australiano Sid Burn é conhecido como o líder dos Coyotes. Seus companheiros são sua associada e dançarina de disco Boogie, o problemático Loki, o apicultor Beezwax e suas abelhas radioativas, uma mulher que após sofrer lavagem cerebral se tornou em um cyborg conhecida como Houston 3 e o delinquente juvenil Molo e seu icônico ônibus escolar.

Ao final do jogo, exclusivo na versão de Nintendo 64, é contada a história do Y The Alien, que coincidentemente sofreu um acidente na Terra no mesmo período em que as batalhas entre os Vigilantes e os Coyotes ocorriam.

Pontos positivos

Vigilante 8 se destaca não apenas pela sua temática trash, super inspirada na cultura Disco dos anos 70, mas especialmente pela sua jogabilidade extremamente confortável. É muito simples movimentar o veículo para se afastar de um combate que está fugindo do seu controle ou para se aproximar de algum inimigo e atacá-lo de surpresa. Como também é muito fácil escolher qual arma de seu arsenal, acumulado ao percorrer pelo cenário, você quer utilizar em cada momento.

O jogador que já experimentou a forma completamente absurda de dirigir os veículos em Twisted Metal, perceberá com facilidade o quão confortável são os comandos de Vigilante 8. Em pouco tempo, é possível dominar o sistema de combos do jogo: os WHAMMY e os TOTAL.

Outro detalhe que não foge aos olhos são os muitos cenários presentes no game, extremamente ricos em detalhes e que proporcionam diversas opções para transformar cada batalha em uma experiência sempre diferente da anterior.

É imensamente divertido pilotar entre os aviões pousando ou que lhe bombardeiam via ar em Aircraft Graveyard, desviar das rochas que despencam das montanhas e se teletransportar por portais em Canyonlands, viajar de zepelim e destruir cassinos em Casino City, pegar uma carona nos teleféricos e fugir das avalanches em Ski Resort, entre muitos outros mapas muito bem desenvolvidos.

É impossível não notar o esforço que a Luxoflux teve em criar arenas que se modificam pela destruição causada por você e seus oponentes ao longo das partidas, além de inserir nos campos de batalha diversos elementos aleatórios que são capazes de interferir diretamente a seu favor ou contra você durante os combates.

Todas essas diversas qualidades agregam muito tanto para o modo multiplayer, quanto para o envolvente modo singleplayer. Tornando o jogo em um pacote completo para ser desfrutado sozinho ou na companhia de amigos.

Compensando o atraso

Kit completo. Caixa, manual de instruções e cartucho do jogo para Nintendo 64.


A versão de Nintendo 64 possui recursos que compensam a diferença de tempo entre o seu lançamento e o do original para PlayStation. Seja através da possibilidade de rodar o jogo em High Resolution (640x480) para quem tem um Expansion Pack — sendo um dos pouquíssimos jogos a atingirem a resolução máxima do Nintendo 64 — ou pelo cuidado da Luxoflux em adicionar uma trilha sonora nova que não deve em nada a original.

Houve ainda a inclusão de uma arena exclusiva e um modo história completamente novo na versão para a plataforma da Big N., além da maior adição de todas: multiplayer local com suporte para quatro controles simultaneamente. E é aí onde a magia desse port mora. Vigilante 8 para Nintendo 64 brilha em seu modo multiplayer.

Eu poderia recontar diversas lembranças da minha infância, me reunindo na casa de amigos para passar uma tarde inteira jogando entre eles conjuntamente. Mas, resumirei essas lembranças afirmando que, seja no modo de combate entre quatro jogadores ou no co-op com apenas dois, Vigilante 8 se torna uma experiência extremamente especial. Algo que todo fã de multiplayer local deveria aproveitar até se enjoar. Se é que isso é possível.

Bom por natureza

Arte promocional incluída na revista
Nintendo Power.

Alguns jogos se esforçam para ser bons, outros são por natureza. Vigilante 8 é um perfeito exemplo para essa frase. Em uma época como a atual, em que muitos títulos passam anos em processo de desenvolvimento, buscando por novas e confusas mecânicas de jogabilidade ou se autopromovendo como o novo grande lançamento do gênero apenas para fracassarem ao finalmente chegarem nas mãos dos jogadores, Vigilante 8 reforça a filosofia de que um dos segredos para o sucesso é se manter simples, focando apenas em toda a diversão que o game será capaz de proporcionar.

Vigilante 8 entrega, logo de cara, uma história absurda mas intrigante, uma jogabilidade super simples, trilha sonora envolvente, modos singleplayer e multiplayer extraordinariamente cativantes, cenários muito bem planejados e vivos de interatividade, entre muitas outras características excepcionais. Tudo para provar que um jogo realmente bom, é um jogo divertido desde o seu início até o seu fim. Você não acha?

Revisão: Vinícius Veloso

Velha e rancorosa. Levado pela música. Infelizmente, publicitário. Guitarrista, compositor de canções tristes e escritor de poemas vagabundos nas horas vagas. Redator do site/revista Nintendo Blast. Diretor geral do coletivo Bolomofo. Fotógrafo e estilista por conveniência. Sommelier de vodka e latão por destino. Trilíngue; português, inglês e várias bobagens. Eventualmente menor do que você.
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