Uma viagem ao passado dos party games: conhecendo as raízes e influencias do gênero

Que tal olharmos para trás e observarmos o longo caminho que os party games fizeram até então?

em 06/05/2018

Jogos party vêm e vão, certamente passando batido para a maioria das pessoas. Esse tipo de game pode ser diversão garantida quando experimentado em grupos, enquanto tendem a ser ignorados pelo jogador mais solitário. Você não os vê concorrendo ao prêmio de título do ano e, pouco a pouco, o gênero vai perdendo parte de sua popularidade, com menos projetos sendo desenvolvidos enquanto o mercado se infla com games de ação, aventura e mapas abertos.


Vamos nos transportar até um tempo diferente então, quando as coisas eram mais simples. Incluindo, especialmente, os jogos. Hoje em dia, esse pode ser um conceito muito assustador para o jogador moderno, mas os donos de um Nintendo Entertainment System (NES) tinham um cartucho inteiro preenchido com apenas um único jogo do tipo party. Esse pode ser o primeiro paralelo traçado entre as duas épocas para o estilo: qualquer jogo party envolve uma coleção grande de minigames, enquanto, na época do querido Nintendinho, apenas um deles já serviria como jogo completo.

Imagine um cartucho de Game & Wario (Wii U), em que o único jogo seria Fruit ou Sketch. Anticipation (NES) é um exemplo perfeito de como isso funcionava. Era um título no estilo "Imagem & Ação", que consistia em um desenho sendo feito no monitor pela IA, enquanto os jogadores deviam adivinhar o que a imagem representava, soletrando o nome do objeto. É um game extremamente primitivo em comparação aos atuais, afinal tratava-se simplesmente de pontos e linhas sendo traçados para formar o objeto, muitas vezes nada claros.
Difícil acreditar que esse cara foi feito pela Rare
Durante a última semana de abril, conduzi um pequeno experimento entre várias turmas em uma escola de inglês. Com o propósito de analisar como diferentes faixas etárias reagiriam principalmente aos jogos mais antigos, e a esse tipo de jogo em si, atestando se havia uma falta de interesse no gênero ou se ele simplesmente não apelava em nada para os consumidores mais jovens, eu fiquei surpreso de ver a própria pesquisa, com um objetivo simples, evoluir a medida que os alunos reagiam. Como eu sempre fui um ávido colecionador de videogames, não foi a primeira vez em que eu havia levado um dos consoles para meus alunos. As reações são variadas, principalmente ao verem um NES. Era divertido observar as reações de surpresa, principalmente quando o assunto era o funcionamento do console.

Decidi por usar ambos os jogos já citados pela similaridades que eles compartilham. Começando pelo veterano do gênero, a decisão foi unânime. Dos dez participantes, nenhum deles deixou de participar e se divertir, mostrando que, mesmo sendo um jogo anterior ao nascimento de muitos deles, ainda diverte igual. O título do Wii U surpreendeu igualmente aos mesmos, já que, embora um console de uma geração mais recente, nenhum deles tinha tido contato com este. Ele foi um objeto de curiosidade ainda maior, especialmente pela estranheza do Gamepad ante aos controles mais convencionais dos consoles da concorrência.

Devo apontar que os participantes com idade acima de 22 anos não conseguem escolher um título entre os dois como seu favorito, enquanto os mais novos, embora também tenham gostado — e muito — do dinossauro dos party games, tiveram mais afinidade com Game & Wario. Isso pode ser um indício bem claro de como as gerações mais atuais de jogadores acabam por ter um carinho maior com jogos mais recentes, já que nunca tiveram contato com consoles antigos, enquanto gerações anteriores mostram-se mais compreensivas com jogos já de datas mais avançadas. Ainda assim Anticipation não fica muito atrás de Game & Wario (apenas o minijogo Sketch, para dar uma área de comparação mais justa entre os títulos) no quesito entretenimento.
Quem disse que você precisa ser um dinossauro para aproveitar um NES?
Por fim, é válido apontar como os jogos party, mesmo para pessoas que possuem contato direto com games, é um gênero esquecido. Pelo menos metade dos participantes possuem consoles, geralmente das marcas concorrentes, mas foi fácil para eles responderem quando que tiveram contato com um jogo desse estilo: nunca. Um problema que acaba distanciando pessoas desse tipo de jogo é justamente a falta de um certo carinho para o multiplayer local, cada dia mais escasso nos jogos mais atuais. Jogos party online certamente matariam o propósito do gênero, que seria o de reunir o pessoal e aproveitar a jogatina lado a lado.

Com o multiplayer online se fortalecendo e o incentivo ao local cada vez mais escasso, o futuro não parece ser muito brilhante para esse gênero. No entanto, o conteúdo não parece ser a causa disso, já que independentemente da geração, as pessoas conseguem desfrutar do tipo de experiência que os jogos party oferecem. Podemos apontar fatores como marketing e talvez uma certa variedade na jogabilidade oferecida pelos títulos. Um número grande de minigames não adianta de nada se eles não explorarem tudo que o console pode oferecer. A popularidade dos jogos party para os consoles Nintendo parecem vir dessa variedade de experiências em um único título, com seus sensores de movimento e telas tátil levando o jogador mais e mais além do simples conceito de videogame.

Como conclusão ao experimento, pude observar que não há nada de errado com o estilo de jogo em si. Anticipation e Sketch apresentam uma forma de gameplay muito similar mas divertem de formas diferentes. O último até mesmo despertou uma certa curiosidade quanto ao console para os jogadores, e pelo menos três deles me fizeram perguntas ante ao valor do Wii U e mostraram um certo interesse em ter esse tipo de videogame.
A tela de título (Sketch, de Game & Wario) despertou tanta curiosidade quanto o console em si

Máquina do tempo

E os jogos party de antigamente? Para fazer jus ao título da matéria, é de suma importância saber como isso funcionava na época do NES e SNES, bem antes de franquias do gênero serem consolidadas. Muitos dos jogos party não eram tão originais quanto os mais contemporâneos. Atualmente, podemos citar franquias como Mario Party e jogos individuais como Nintendoland (Wii U) e 1, 2, Switch! (Switch). Apesar do fim ser o mesmo, a diversão em grupo, esses jogos são distintos o suficiente para vermos suas diferenças facilmente e entendermos cada uma de suas premissas.

Vários grandes desse gênero nas gerações mais antigas eram simplesmente adaptações de jogos de tabuleiro ou programas de auditório famosos do momento, os quais é possível citar Monopoly (NES), Jeopardy! (SNES) e Family Feud (NES). Claro que aqui a quantidade reinava sobre a qualidade, com um número massivo de títulos e adaptações não tão fiéis a experiência real. Poucos games se sobressaíam como verdadeiras obras da diversão em grupo, como o já citado Anticipation (curiosamente conhecido como o primeiro "jogo de tabuleiro do NES", antes mesmo de termos o termo "party" aplicado como gênero de jogo).

Muito provavelmente, a parte mais difícil de visualizar disso tudo seria como esses jogos funcionavam em um grupo. Tanto o NES e o SNES são muito famosos entre todas as gerações, dispensando explicações e apresentações, e uma coisa que todos devem se lembrar muito bem é que ambos os consoles possuíam apenas duas entradas de controle. Como encaixar quatro jogadores na equação? Os add-ons entram em cena nessa parte da história. Ambos contavam com adaptadores, vendidos separadamente, que transformavam as duas entradas de controle em quatro, permitindo jogatinas em grupo.

Já imaginou ter que comprar um trambolho desses toda geração?
Eram raros os games que davam suporte para esses apetrechos, no entanto. O Four Score, do NES, permitia a ação em quatro jogadores em uma série de jogos de esporte e corrida e apenas um ou dois títulos party, como Super Jeopardy. Anticipation forçava dois jogadores a dividirem um controle, convertendo dois controles em quatro (enquanto um usava os botões A e B o outro usava o direcional, quem apertasse primeiro, tinha a oportunidade de responder). Era uma solução criativa para esse gênero, enquanto outros jogos de tabuleiro não eram tão dinâmicos, já que contavam com um sistema de turnos.

O SNES contava com um add-on similar ao Four Score do NES, mas a lista de jogos é massivamente maior, embora isso se deva aos excessos da indústria naquela época, com uma dezena de games de esporte diferentes, embora da mesma modalidade (imagine hoje em dia, em que, geralmente, você escolhe entre FIFA e PES, só que multiplique por dez e reflita para outros cinco esportes. Uma bagunça, não é!?), e tantos jogos de corrida que fica difícil contar. O Multitap, como era chamado, teve uma versão licenciada pela Hudson Soft e uma centena de versões genéricas.

Consegue imaginar ter que comprar um adaptador para conseguir jogar com todos os amigos? Desde o Nintendo 64, a Big N tem tomado o cuidado de disponibilizar mais de duas entradas para controles, o que facilitou muito a vida de quem gostava de jogar com várias pessoas ao mesmo tempo. Ambos consoles posteriores ao SNES já possuíam quatro entradas para controle, com jogos muito mais interessantes e aproveitáveis — e então veio o Wii junto com a era moderna do wireless, onde conectar até oito jogadores não é uma coisa impossível, sendo até muito normal.
E então veio o N64 e com ele a comodidade.

Pensando fora da caixinha

Os jogos party também não são apenas títulos que parecem divertir os grupos de jogadores que fizeram parte do experimento. Eles são também poderosas ferramentas de aprendizado. Dependendo do estilo de jogatina, uma habilidade específica do grupo pode ser desenvolvida. A área explorada no estudo foi a melhoria do inglês, já que o mesmo foi conduzido em uma escola de idiomas. Tanto Game & Wario, com seu jogo Sketch, quanto Anticipation, provaram ser uma forma eficiente e divertida dos alunos desenvolverem seu vocabulário.

As palavras novas aprendidas durante o processo foram facilmente encaixadas em frases mais tarde — e as que eles já conheciam foram prazerosamente relembradas. Há uma troca de conhecimento entre eles e também a proximidade que o gênero acaba trazendo para a equação, já que a interação entre jogadores é seu maior chamariz.
Estimular a criatividade é o que esse carinha faz de melhor.
Ao fim do experimento, pudemos comprovar o que os jogos party representam em si: alunos que não costumam falar entre si finalmente começaram a interagir por intermédio deste e o aprendizado foi algo interessante, novo e refrescante. O professor sempre é bem-vindo à tentar algo novo e usar as ferramentas que ele pode para manter a classe interessada em sua aula — e inventar jogos e brincadeiras faz sempre parte deste processo. No entanto, com o jogo já pronto, muito do seu tempo pode ser usado para focar na otimização dessa ferramenta ante ao aprendizado dos alunos, não apenas para o seu desenvolvimento.

Há um longo caminho pela frente, certamente ninguém está na posição de dizer que os jogos party estão fadados ao desaparecimento. Existem empresas que ainda focam nessa experiência interativa entre os jogadores localmente e os jogos desse gênero costumam desenvolver habilidades variadas de seus usuários. Existe apenas uma questão de ajustar seu público-alvo e também o seu fim, explorando mais essas capacidades apresentadas pela sua variedade enorme.

Revisão: Vinícius Veloso

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