O avanço da tecnologia deixou os jogos indies definitivamente em voga. Com ferramentas para desenvolvimento e distribuição digital, equipes e estúdios independentes, sem apoio financeiro de publicadoras, têm um meio mais acessível para criação e comercialização de seus games.
Foi em meados de 2010, aproximadamente, que o interesse do público começou a aumentar sobre a cena indie. Diversos fatores podem justificar tal crescimento, mas o principal consiste no método barato e fácil de adquirir os jogos online, via download.
Tudo isso graças a diversas plataformas digitais para jogos, como a Steam, da Valve, a Xbox Live, da Microsoft, a Playstation Network (PSN), da Sony, e a Nintendo eShop, da marca homônima.
No caso da Nintendo, os jogos ficam disponíveis para os consoles 3DS, Wii U e Switch, o qual já discutimos se é ou não o melhor videogame para games independentes. Nesta reportagem, conversamos com players hardcore para entender melhor os diferenciais, positivos e negativos, que o Switch apresenta para jogar indies.
Engenharia do Switch
Não há funcionalidades técnicas no Switch que torne o console superior ao PC, Playstation 4 ou Xbox One para rodar indies. “O único diferencial é o touchscreen, mas que ainda é pouco usado, salvo algumas exceções como o Severed”, pondera Leonardo Coimbra, gerente de contas, editor e fundador do Última Ficha.
Touchscreen do Switch não é muito explorado pelos jogos indies
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Porém, o Switch oferece aos desenvolvedores um suporte em game engine mais avançado em relação aos sistemas anteriores da Nintendo, permitindo ampliar o catálogo desse modelo de jogo. “Entre Unreal 4, Unity 3D e a vindoura Game Maker, é possível cobrir praticamente o cenário indie inteiro”, revela Hugo Pereira, coordenador da SCAD+, incubadora focada em Playful Tech, da Savannah College of Art and Design.
Pereira ainda ressalta que, por ser um console portátil, o Nintendo Switch facilita adaptações de jogos desenvolvidos inicialmente para outras plataformas (chamados de “ports”). A função touchscreen torna o console ainda mais vantajoso nesse mesmo aspecto, viabilizando jogos de mobiles, como Voez.
Portabilidade e multiplayer
Os principais pontos positivos do Switch para jogar indies estão relacionados às características do console. Uma delas é a portabilidade adequada ao estilo casual dos independentes — geralmente, são mais curtos e menos complexos. “Qualquer tempo livre é propício para uma jogatina rápida”, diz Bernardo Cortez, editor do Última Ficha.“Poder jogar onde quiser, deixar o jogo em modo standby e voltar mais tarde é uma possibilidade muito boa. Mesmo que um jogo esteja disponível para outras plataformas, essa opção me faz, muitas vezes, escolher comprar no Switch”, completa Fabrício Luz, assessor de imprensa da Theogames.
Outra característica do Switch que favorece a experiência com indies é o Joy-Con — dois controles em um só sistema. “Você leva o console para a casa de um amigo e consegue, também, levar toda a possibilidade de multiplayer”, explica Luz.
O duplo controle do Switch (Joy-Con) favorece jogos focados no multiplayer
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“Com um console extra, podemos ter diversas jogatinas de até quatro pessoas. Como muitos jogos indies oferecem essa possibilidade, a diversão em galera é sempre garantida”, acrescenta Coimbra.
O Joy-Con também atrai mais indies ao Switch, pois transforma o console em melhor candidato a multiplayer local, além de estimular esse estilo de jogo. “Acaba sendo, também, um diferencial para o consumidor na hora decidir em qual sistema comprar um jogo multiplayer, caso esse esteja disponível em múltiplos videogames”, finaliza Pereira.
Falta de potência
A falta de potência do hardware do Switch é um dos pontos negativos do console para rodar os indies. Por mais que eles não exijam um desempenho muito alto, há diversos casos de jogos que requerem atualizações para rodar sem travar ou que, então, atrasam no lançamento por problemas de otimização ou polimento.“Overcooked demorou tempo demais para funcionar liso. Rime é outro exemplo. Infelizmente, por mais que um jogo seja bem avaliado, sempre é preciso buscar avaliações extras para ver como está rodando no Switch”, conta o fundador do Última Ficha.
O indie Overcooked levou um tempo até "funcionar liso" no Nintendo Switch
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As adaptações de jogos indies lançados em outra plataforma para Switch também sofrem com isso, pois muitas vezes acabam utilizando ferramentas de produção rápida que apresentam bugs, slow down e outros problemas para a versão do console da Nintendo, independente da simplicidade gráfica. “Alguns ports das versões de PC não rodam muito bem, enquanto outros apresentam downgrades gráficos que incomodam”, constata Cortez.
Falhas da Nintendo eShop
Um dos calcanhares de Aquiles do Switch para jogar indies não se dá necessariamente pelo console em si, mas pelo descaso da Nintendo para com o mercado brasileiro, assim como a empresa faz com diversos outros países.Sem uma versão da loja virtual da Nintendo com a moeda brasileira, os preços dos jogos tendem a ser mais caros em relação a outras plataformas. “Enquanto um jogo na Steam custa menos de R$ 10, por exemplo, para o Switch isso vai para mais de R$ 30. Com certeza isso ajuda os desenvolvedores, mas fica difícil competir quando existe uma diferença tão grande”, compara o assessor da Theogames.
A estruturação da Nintendo eShop também é desvantajosa, pois dificulta a descoberta (discoverability) de jogos. “Ela só mostra algo novo, mais vendido ou em promoção. A única maneira de encontrar outros títulos é caso saiba o nome do mesmo”, critica Pereira.
O design da loja virutal Nintendo eShop não facilita a descoberta de novos indies
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O coordenador da SCAD+ prevê que, em breve, a loja virtual da marca irá se tornar um problema tanto para desenvolvedores quanto para consumidores de indies. “Discoverability é um problema de qualquer plataforma de venda online, mas devido às escolhas de design minimalistas, isso se torna exacerbado na Nintendo eShop”, alega.
Balanço final e expectativas
O Switch proporciona uma excelente experiência para jogadores indies, principalmente por facilitar o multiplayer por meio do Joy-Con e viabilizar jogatinas em qualquer lugar devido à portabilidade do console.No entanto, o alto custo dos games na Nintendo eShop, além de problemas para encontrar títulos, atualizações e correções para bugs podem fazer com que o consumidor prefira rodar os jogos independentes em outras plataformas.
“Por ainda não contar com muitos jogos de peso, principalmente de terceiras, os indies são atrativos para os consumidores, preenchendo as lacunas da biblioteca do Switch”, considera Farley Santos, redator e relações públicas da GameBlast.
Celeste, jogo indie com melhor avaliação na Metacritic (92) para Nintendo Switch
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Enquanto não existir outro console portátil capaz de rodar indies tão bem quanto o Switch, a Nintendo permanece com uma vantagem exclusiva para esse modelo de jogo, possibilitando que os desenvolvedores lancem seus jogos para uma plataforma com outro tipo de público-alvo.
De acordo com Pereira, um aspecto animador é que a maioria dos desenvolvedores indies já fez seu primeiro projeto para o Switch, o que os deixam mais familiarizados com as peculiaridades do console. “Finalmente vamos começar a ver jogos criados do zero, pensados de acordo com as capacidades do Switch”, anseia o coordenador da SCAD +.
Somado a isso, o recente Nintendo Labo, linha interativa para jogar e construir games, traz novos diferenciais para Switch, o que deve impactar positivamente no mercado de independentes.
Revisão: Vinícius Veloso