Consagrado como um
dos títulos mais desafiadores até os dias atuais, Dark Souls trabalha com mecânicas aclamadas — e complicadas para
muitos — pelos fãs e com a sutileza de
sempre apresentar inimigos cada vez mais dispostos a te matar. Conhecido pelo
público pela sua reiteração de You Died (Você
Morreu), o principal enfoque do game é a morte. Ela representa seu
progresso, aprendizado e te instiga a buscar uma nova forma de contornar a
situação — ou simplesmente encontrar uma entrada que não comporta o tamanho de
seu inimigo.
Mesmo com o adiamento do lançamento para o segundo semestre de 2018 para o Nintendo Switch, é extremamente pertinente analisar o quão importante esse jogo será para o sentido de dificuldade no console da Big N, tanto pela diversidade da biblioteca quanto na ampliação do apoio e da adoção da ideia portátil no mercado atual.
O estereótipo nintendista
Após um ano desde o seu lançamento mundial, o Switch quebrou diversas barreiras no que tange às vendas e ao agrado de diversos públicos ao redor do mundo. Entretanto, se tratando da Nintendo, o preconceito sobre a dificuldade e a ‘infantilidade’ de suas franquias ainda abrange certo nicho de jogadores que aclamam por jogos nomeados hardcore e que, normalmente, instigam a ira após incansáveis mortes durante a jogatina. Mesmo com os lançamentos de Outlast: Bundle of Terror, Outlast 2 (Red Barrels Studio) e Doom (Bethesda) já disponíveis na biblioteca do console, acredito que Dark Souls (FromSoftware) tem todo o potencial para, finalmente, oficializar mais uma diversidade de gêneros de jogos no console híbrido.
Não que eu esteja reclamando. Afinal, seria hipocrisia da minha parte dizer que não foi desafiador coletar as três estrelas em todas as Cups de 200cc em Mario Kart 8 Deluxe ou procurar as 900 Korok Seeds em The Legend of Zelda: Breath of the Wild. Porém, a dificuldade que Dark Souls tem a oferecer para o Switch é diferente.
Classificado como um dos 20 jogos mais difíceis do mundo pela Gamespot e pelo site The Guardian, o desafio começa ainda mesmo no tutorial, com jogadores inexperientes — como eu — sofrendo para entender todas as mecânicas de batalha, que o jogo te apresenta sem muitas explicações prévias, e enfrentando um demônio nada carismático que faz questão de te mostrar como nada nesse jogo será fácil.
"Bem vindo a Dark Souls, eu serei seu tutorial" — Asylum Demon |
Ao prosseguir com a história do jogo, que te amplia os horizontes e mostra uma configuração open world, cabe ao jogador a missão de escolher sabiamente todas as decisões, principalmente se você estará disposto a matar NPCs que poderão te ajudar no decorrer da exploração por fogueiras e no recolhimento de almas para futuros upgrades.
Em síntese, o jogo não funciona com metas sem recompensas nem se diverte com sua frustração — pelo contrário. Dark Souls é profundamente esperto e entende perfeitamente o que o jogador passará pela experiência, o que te dá a liberdade de explorar e aprender com seus erros, mas sempre de maneira que você complete um objetivo com a sensação de conquista após tanto tempo de dedicação.
Por que é tão diferente?
Uma das explicações que encontrei para essa pergunta vai para o lado psicológico do que é jogar videogame. O que buscamos ao comprar um console é simplesmente a sensação de satisfação pessoal e a fuga da nossa realidade tão conturbada de problemas sociais. Eu poderia ir mais profundo que isso e relacionar as relações hedonistas e a tentativa de supressão de uma modernidade líquida, consoante a Bauman, com os jogos, mas acredito que esse não é o foco da matéria.
Para tanto, Dark Souls faz o contrário com você. Ele não te incentiva a melhorar, apenas te larga em um vasto mundo e espera que você faça algo sobre isso. É justamente aí que se encontra o que realmente difere esse jogo dos demais, o que faz ele ser considerado difícil é te expor repetidamente a seus medos até que, sem perceber, você aprende a superá-los.
A proposta de Dark Souls é justamente você enfrentar seus medos |
Sendo uma antítese do que o mercado de jogos criou durante muito tempo, a FromSoftware desenvolveu o RPG para que você atinja as vitórias não de maneira imediata ou pelo caminho mais fácil, mas, sim, com a perspicácia de sempre cogitar usar uma segunda, terceira ou quarta opção. Por mais que em algumas partes o desenrolar da história pareça impossível, digo isso porque já passei por essa experiência, sempre há um jeito, e Dark Souls quer que você o encontre.
O que torna, portanto, o jogo hardcore e importante é a descoberta, não a conquista no final da jornada, e é isso que o sustenta em dose tão genial de desafio e consciência de que você pode aprender todas as mecânicas oferecidas que deve ser fortemente abraçada pelo Nintendo Switch.
Pode pedir bis?
Com pouco mais de um ano de vida, o híbrido ainda carrega marcas do passado da empresa, principalmente deixados pelo Wii U, que geram dúvidas sobre investimento e a possibilidade de grandes empresas portarem seus jogos. Dessa forma, Dark Souls, como um dos pioneiros e uma das franquias mais marcantes no gênero, seu sucesso de vendas será fundamental para a abertura de novas possibilidades futuras, uma vez que Dark Souls 2 e Dark Souls 3 podem dar as caras e franquias como Nioh (Team Ninja) recheariam a biblioteca do console.Não se vê monstros assim todos os dias na eShop |
Diferente da concorrência
A versão remasterizada para Nintendo Switch possuirá qualidade gráfica de 720p no modo
portátil e 1080p quando conectado na TV, ambas rodando a 30 fps, enquanto as
versões de PS4, Xbox One e PC atingirão a qualidade 4K e o framerate de 60 fps.
Apesar de ser a versão “inferior”, o salto de tecnologia das versões de Xbox
360 e Playstation 3 para o portátil é notável, uma vez que ambos rodam nas
mesmas configurações e o híbrido conseguirá levar para qualquer lugar o que custariam tomadas, tempo e espaço para carregar os consoles da geração passada.
Olhando pelo lado positivo: agora você poderá ser morto em qualquer lugar |
Dito isso, acredito que esta é a maior vantagem dessa versão: a capacidade de jogar e, quem sabe, fazer a Soul Farming — isto é, a acumulação de almas — enquanto você espera na fila da lotérica ou aguarda o metrô, supondo o proveito desses curtos períodos para quem possui a agenda cheia.
Praise the Sun... only in the next Summer
Mesmo com o adiamento do lançamento para o próximo verão americano, ou próximo inverno brasileiro, Dark Souls: Remastered promete ser mais um grande título vindo de parcerias third party com a Nintendo, dessa vez com a publisher Bandai Namco, e, por mais que seja um título lançado em 2011, sua marca histórica de um dos jogos mais difíceis já lançados somada ao modo portátil pode se tornar icônico nesse gênero e, portanto, indispensável para os jogadores que gostam de desafio.
Entretanto, com tantas turbulências a respeito da data de lançamento, ainda não é possível afirmar o futuro da franquia no Switch nem se o impacto realmente cativará os jogadores hardcore e os novatos nesse estilo de jogo.
Revisão: Vinicius Veloso