Originalmente lançado em setembro de 2017, A Robot Named Fight! finalmente chegou ao Nintendo Switch, após tanto tempo disponível apenas para PC e Mac. A aventura certamente possui o apelo estético e o estilo de um jogo que você simplesmente não consegue imaginar em outro console senão o híbrido da Big N.
Um dos aspectos mais incríveis do jogo em si talvez seja a história de como ele surgiu. O game inteiro é fruto da imaginação e dos esforços de um único desenvolvedor, Matt Bitner. Ele se formou em Língua Inglesa e Cinema, e, durante seu tempo livre, dedicou-se a aprender a arte de produzir jogos, tornando-se um desenvolvedor totalmente autodidata. Ele conseguiu trabalhar na indústria por quatro anos antes de finalmente se dedicar por inteiro à criação do game. Ele é o cérebro por trás de toda a programação, level design, música, arte e história dessa obra. Sua esposa, Kayla Dowdy, cuida de todas as ações de marketing relacionadas ao título.
Tudo no game começa de uma forma extremamente minimalista. A história é simples o suficiente, com uma narrativa contada através de cutscenes. Imagine-se numa sociedade totalmente utópica controlada por máquinas, num futuro distante. Repentinamente, uma atrocidade feita de carne, chamada simplesmente de Megabeast, desceu dos céus, acompanhado de um exército de outras monstruosidades, conquistando a Terra que, até então, era o lar da sociedade das máquinas.
A Robot Named Fight! pega um enredo como o de O Exterminador do Futuro e o inverte. |
Vivencie o fim
As imagens pixeladas nas cutscenes dão o tom principal do jogo: dramático na medida certa, mostrando ao jogador, em todas as suas cores e cenas fortes, a ruptura do paraíso que os robôs haviam criado para eles mesmos, deturpado pela invasão das criaturas monstruosas de carne e sangue. A criatura que cobre os céus traz destruição e os robôs precisam se esconder em suas próprias casas.O estilo pixelado extremamente retrô das cenas de introdução contínua durante o gameplay. Prestando uma bela homenagem aos precursores do gênero, A Robot Named Fight! apresenta um estilo artístico bem similar ao de grandes clássicos como Super Metroid (SNES), com personagens bem desenhados e cenários perfeitamente estruturados em toda a grandeza da era dos 16-bits.
Os gráficos são uma perfeita forma de situar a atmosfera do enredo. Você desce cada vez mais em direção ao interior do planeta. O visual dos personagens que você encontra no caminho, a evolução do cenário, principalmente das belas imagens que compõe o plano de fundo das localidades, tudo isso encaixa com perfeição no tom dramático que o game quer transparecer ao jogador, pintando tudo isso com o sangue de seus inimigos compostos de carne. Se você sempre desejou um Metroid preenchido com violência gráfica extrema, seu desejo foi realizado.
Os planos de fundo, com todos os detalhes, situam o jogador perfeitamente neste universo. |
Coletar, pular e atirar
Sendo principalmente um jogo de plataforma, o game é tudo que você pode esperar de um título Metroidvania. Existe um enorme foco na exploração do cenário e na necessidade constante de coletar os itens espalhados por aí, escondidos ou por trás das portas dos chefes. Ao jogador mais experiente, uma analogia imediata com a estrutura das fases de Super Metroid vêm à mente quase que de imediato.O jogo todo bebe dessa fonte com prazer. A movimentação do personagem, as portas que devem ser acionadas com um tiro específico, muitos dos itens encontrados e maioria dos obstáculos do cenário, como as plataformas que se desmancham quando tocadas, são tirados diretamente do clássico da Big N. Claro que ser uma perfeita cópia de outro game não é o suficiente para que o título se destaque entre tantos outros. Existe um grande número de itens e power-ups bastante originais do game.
Coletar itens acaba sendo uma parte extremamente essencial da experiência, já que existem muitas passagens que o jogador não vai conseguir abrir se não utilizar um tipo específico de disparo ou habilidade de movimentação. Há uma grande variação entre elas e todos os itens são acumuláveis, o que é bem interessante, já que você consegue ver o personagem evoluindo com clareza. Ainda existe a possibilidade de comprar itens dos mais diversos de vários robôs escondidos pelo cenário, assim como doar as diferentes moedas de troca para os deuses que compõe a constantemente evolutiva lore do título.
Doar aos deuses é sempre um mistério: combinações diferentes, resultados diversos. |
Um mundo em evolução
Bom, existe um grande porém envolvendo todas essas nuances do gameplay citadas até então. Provavelmente a característica mais original e o maior denominador da dificuldade do jogo, é o fator vitalidade. Enquanto você pode aumentar a sua barra de vida, não passa muito disso. Não existem vidas extras. Você morre, você volta para o começo de tudo, zerado. Existe a possibilidade de achar até duas câmaras no mapa onde é possível salvar, no entanto, caso o jogador morra, as câmaras quebram, sendo um recurso extremamente limitado.Isso acontece porque, ao contrário de qualquer outro jogo do gênero, todas as runs em A Robot Named Fight! são geradas aleatoriamente por um algoritmo que define o jogo. Isso significa que você nunca vai jogar a mesma coisa toda vez que morrer, enfrentando uma série totalmente diferente de plataformas, inimigos e chefes. Até mesmo os itens necessários para a progressão durante cada run são totalmente diferentes entre si.
Dito isso, é seguro dizer que o título possui um fator replay extremamente alto. Além de que toda morte significa um mapa diferente, o game ainda por cima presenteia o jogador com três finais distintos, que dependem das ações que o mesmo acumular entre as diferentes vidas que gastar durante sua progressão nessa aventura sem fim. As suas ações em si também vão influenciar o algoritmo que define os próximos playthroughs. O jogador pode destravar novos itens para as próximas jogatinas, o cenário é mutável, entre muitas surpresas escondidas nesse título em constante evolução.
O mapa: mutável e divertido de se explorar. |
Isso ainda aprofunda o jogador no enredo do game. Cada coisinha, por menor que seja, que você consegue mudar nas futuras jogatinas, vão desembrulhando cenários e pistas diferentes do que está acontecendo no planeta, principalmente em relação ao grande mistério que é o chefe final do título, a Megabeast.
Esses detalhes são todos embrulhados com uma trilha sonora composta na medida certa. Assim como Metroid, o game é um título de ficção científica que invoca temas sombrios, lugares apertados, o sentimento de solidão e claustrofobia. A trilha sonora possui linhas distintas de sintetizadores que imediatamente plantam a ideia do mistério do espaço e do futurismo na mente de quem ouve. A medida que o jogador desce no cenário, a trilha sonora se aprofunda, tornando-se até mesmo minimalista ao ponto de implantar uma atmosfera de suspense constante.
Os chefes: grandes, feios e, o melhor, feitos de carne! |
Posso concluir dizendo que A Robot Named Fight! é um título sólido de ficção científica que pode atrair pessoas diferentes por motivos diferentes. Se você é um grande fã de Metroid, certamente irá se agradar com todas as características que te fizeram amar a franquia da Big N. Se você é simplesmente uma pessoa que gosta de um bom desafio, não apenas as características aleatórias do jogo irão te atrair, como também a lista de conquistas, desafiadora na medida certa. Por fim, se você é um jogador que quer experimentar um título legítimo de ficção científica, não vai se desapontar com o enredo rico, cenário intrigante e monstros grotescos que compõe essa grande obra dos games indie.
Prós
- Um prato cheio de nostalgia;
- Progressão e evolução de personagem bem feitas;
- Trilha sonora totalmente ambiente;
- Gameplay fluído e consistente.
Contras
- Eventualmente o jogo foca muito em speedrunning;
- O começo pode ser um tanto difícil pela falta de itens desbloqueados.
A Robot Named Fight! - Switch/PC - Nota: 8.5Revisão: Vinícius VelosoAnálise produzida com cópia do game comprada pelo próprio redator