Análise: Jotun Valhalla Edition traz os gigantes nórdicos para o Switch

O clássico indie da Thunder Lotus Games finalmente chega ao híbrido da Nintendo.

em 26/05/2018

O ano é 2014 e um grupo de amigos decide mudar de vida, largar os seus respectivos empregos e ir atrás de um sonho: criar jogos de videogame. Assim foi criada a Thunder Lotus Games, junto com a campanha do Kickstarter do seu primeiro jogo, Jotun — título de ação e exploração baseado na mitologia nórdica. Com a promessa de um mundo rico em detalhes e construído por lindos gráficos desenhados a mão, a campanha rapidamente resultou em sucesso, viabilizando a produção do jogo em menos de uma semana. Jotun foi então lançado para PC em Setembro de 2015, e só foi aparecer nos consoles (PS4, Xbox One e Wii U) um ano depois, com o subtítulo Valhalla Edition — que faz alusão ao novo modo boss rush exclusivo da versão. E agora, em 2018, chegou a hora da nova casa não oficial dos jogos indies (o nosso amado console híbrido da Big N) receber a sua própria versão da jornada da guerreira Thora pelo “purgatório” viking conhecido como Ginnungagap.

A guerreira Thora quer alcançar o Valhalla

A jovem Thora, que recebeu a sua alcunha em homenagem ao deus do trovão, morre afogada (o que é considerada uma morte sem glória) e perde a sua chance de perecer em batalha como uma boa viking — única forma de passar a eternidade no Valhalla junto ao grande Odin e aos heróis lendários. Perdida no purgatório, Thora recebe a permissão dos deuses de tentar conquistar o seu bilhete de entrada para o Valhalla. Tudo o que ela precisa fazer é derrotar cinco Jotun: gigantescos elementais nórdicos que protegem os seus respectivos reinos. Inicialmente, tudo o que a jovem viking possui para ajudá-la nessa árdua missão é o seu fiel machado de duas mãos (que possui um botão para o ataque forte e outro para o ataque fraco). No entanto, enquanto ela viaja entre cada área, diferentes deuses prestam auxílio a Thora na forma de poderes que suplementam as suas habilidades básicas.



Logo na parte inicial, você já tem a chance de adquirir o poder de curar alguns pontos de vida, cortesia da esposa de Odin, Frigg. Então, você escolhe a ordem em que vai enfrentar os outros quatro mundos, coletando habilidades como o martelo de Thor, por exemplo, que aumenta o dano do machado da viking, ou a lança de Odin, que desfere um poderoso ataque a longa distância. A progressão em Jotun pode ser facilmente comparada com a da série Megaman — o jogador decide o seu próprio caminho e pega distintos power-ups em cada área. Assim como no jogo do robô azul, existe sim uma ordem “correta”, sugerida pela Thunder Lotus, que facilitaria um pouco o progresso, mas isso não é indicado de forma alguma dentro do jogo. 

Na verdade, Jotun não fala quase nada ao jogador. O jogo é bastante quieto, com a única exceção das curtas (e belíssimas) narrações em Islandês da história de Thora. O mundo - ou melhor ainda, os mundos - também passam uma forte impressão de serem vazios demais. Cada reino conta com dois estágios e um batalha de chefe. Para abrir a porta do Jotun você sempre precisará encontrar duas runas, uma em cada estágio; e em pelo menos um desses estágios, você também poderá coletar um novo god power (os poderes citados anteriormente). Os estágios até que são consideravelmente criativos e todo o jogo é muito bonito, graças ao estilo gráfico desenhado à mão e a nostálgica animação frame a frame.



Você irá passar por situações como caminhar pela gigantesca árvore da vida, Yggdrasil, e ser caçado por um deus pássaro gigante; caminhar sobre gelo fino escapando de um deus enguia gigante; enfrentar hordas e hordas de anões não tão gigantes; e resolver alguns puzzles em florestas, cavernas e até nas nuvens, mas tudo isso, na maioria dos casos, pode ser completado em questão de minutos. O único real incentivo para exploração completa de cada estágio, além de simplesmente apreciar o visual, é encontrar a maçã dourada, que serve para aumentar a sua vida total permanentemente. Algumas vezes você vai encontrar a maçã no meio do caminho, e em outros momentos, a busca se apresenta como um intenso exercício de atenção, mas de qualquer maneira, essa parte da jornada é totalmente opcional, mesmo que o aumento da barra de vida seja uma ajuda substancial durante o verdadeiro desafio de Jotun: derrotar os… Jotun.

Incríveis batalhas de chefe... e algumas coisas no caminho

É uma pena, mas os estágios de cada reino muitas vezes assumem o papel de obstáculos chatos no caminho da real diversão do jogo, que é enfrentar os chefões. Essas batalhas não só representam o ponto alto do gameplay, como, na minha opinião, também demonstram o melhor no quesito sonoro e visual em Jotun. Cada luta é uma experiência única e incorpora muito bem a temática de determinado reino e as habilidades do Jotun, desde a dramática caminhada do início, até os momentos finais do elemental. O tamanho do adversário (e da barra de vida correspondente) é sempre assustador, e derrotá-lo parece impossível; no entanto, é apenas uma questão de paciência. Com atenção aos padrões de ataque e um bom uso dos poderes especiais você consegue “impressionar os deuses” (sinônimo de vitória nesse mundo) rapidinho - e se divertindo bastante no processo.



Os produtores do jogo comparam a experiência de Jotun com uma mistura de Journey e Shadow of the Colossus. Certas semelhanças entre os títulos com certeza podem ser traçadas, porém, eu não diria que o jogo da Thunder Lotus pode realmente ser comparado a esses dois clássicos absolutos. Os três jogos são “silenciosos” e contemplativos, mas de formas diferentes. Journey não é um jogo longo, o mundo não é vasto e as informações são ínfimas, só que a experiência é gigante; e Shadow of the Colossus faz um trabalho magistral em equilibrar a solidão do cenário, e da própria situação, com batalhas fantásticas e mecânicas incríveis. Esses jogos não parecem vazios e não parecem precisar de mais nenhum elemento; já Jotun, em comparação, embora inteligente, pode ser visto como simplório.

Jotun conta com o seu estilo de arte para sustentar o jogo, antes de acrescentar ao jogo. A Thunder Lotus precisava da coragem para seguir o caminho de Shadow of the Colossus e simplesmente dobrar as batalhas de chefe e eliminar, ou diminuir, a “exploração”; ou então repaginar e otimizar completamente esse aspecto. O visual de desenho faz sim com que o jogador queira explorar e aproveitar mais o mundo, só que é muito difícil “curtir” esse lado de Jotun em frente às complicações — Thora anda muito devagar, com quase nenhuma forma de acelerar esse movimento e os estágios são grandes e com objetos no background muito parecidos entre si. Para coroar a situação, o mapa não mostra a localização de nada, nem mesmo do jogador, não tendo utilidade alguma. O jogo tende a fazer você esperar, ou até se estressar um pouco, antes de poder, de fato, jogar o que importa — os seis confrontos com os Jotun.



A Valhalla Edition pega esse ponto forte de Jotun e expande um pouquinho. O Valhalla Mode funciona como um New Game Plus — após acabar o jogo, você habilita esse modo, no qual, desde o início, Thora possui todos os poderes dos deuses e vida máxima. Os estágios não existem mais (olha só) e as batalhas contra os Jotun são um pouquinho mais complicadas. O modo é uma adição interessante; no entanto, ainda é muito pouco para incitar a maioria das pessoas a querer jogar Jotun novamente. O título da Thunder Lotus Games não é muito mais do que ele tenta ser: uma aventura bonita esteticamente, de poucas horas, com alguns puzzles, nenhuma explicação de nada e algumas batalhas bem divertidas. Talvez já seja o bastante, mas poderia ser muito mais.

Prós

  • Lindos gráficos desenhados à mão;
  • Emocionantes batalhas de chefe.

Contras

  • Curta duração;
  • Exploração lenta.
Jotun Valhalla Edition - Switch - Nota: 7.0
Revisão: Diego Franco Gonçales
Análise produzida com cópia digital cedida pela Thunder Lotus Games

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