Análise: Fire Emblem Warriors (Switch/3DS) é um competente trabalho sobre uma IP da Nintendo

A burocrática série de jogos da Tecmo Koei aproveitou a repercussão positiva de Hyrule Warriors e nos trouxe mais um título do gênero para o Switch e para o New 3DS.

em 24/02/2018

Existe um ditado popular no âmbito dos jogos de azar que afirma “não pare enquanto estiver ganhando”. Apesar de ser um mantra recorrente entre apostadores, é notável que tal máxima acabou se disseminando para outros meandros da sociedade, como nos negócios. Dessa maneira, após a repercussão positiva de Hyrule Warriors (que já foi lançado duas vezes, no Wii U e 3DS, além de uma terceira a caminho no Switch), o próximo passo lógico é tentar estabelecer outra parceria com a Nintendo para conseguir o licenciamento de uma de suas propriedades intelectuais para continuar com essa maré de sucesso. Dessa maneira, surge Fire Emblem Warriors, lançado para o Switch e para o New Nintendo 3DS.


A um nível temático, é bem fácil adaptar Fire Emblem dentro do estilo da série Dynasty Warriors, visto que ambas as séries geralmente têm combates que envolvem vários reinos como plano principal de enredo. Dessa maneira, não deve ter sido difícil criar a história,  nos apresentando os protagonistas gêmeos Rowan e Lianna, que podem ser tranquilamente encarados como dois gijinkas — aquela tendência em pegar objetos, animais ou qualquer outra coisa ou criatura e ilustrá-lo em uma forma humana — dos Minions de Meu Malvado Favorito.


Rowan e Lianna são os sucessores do trono do reino de Aytolis que foi inesperadamente atacado. A rainha, mãe dos dois, foi levada em custódia e os gêmeos juntamente com Darius, amigo da dupla, conseguiram fugir, mas não sem antes levar consigo o Shield of Flames — uma das formas que o artefato Fire Emblem assumiu ao longo da franquia — no intuito de evitar a ressurreição do maligno dragão Velezark.

A aventura se dá, a partir daqui, com a dupla de heróis tentando resgatar a própria mãe e retomar o reino perdido. No caminho de tal objetivo, os gêmeos se deparam com uma série de conflitos que acabam envolvendo heróis de outro mundo que foram transportados para o universo onde se situa Aytolis. Tais personagens são, obviamente, os personagens de outros jogos da série, mais notoriamente dos que compõem a dobradinha Fire Emblem Fates (3DS), Conquest e Birthright, de Fire Emblem Awakening (3DS), além de Fire Emblem: Shadow Dragon (DS), que é um remake do primeiro game da série lançado para NES.


Nota-se que para compreender a história de Fire Emblem Warriors não é preciso ter noção alguma a respeito dos outros jogos da série Dynasty Warriors. É possível dizer até que também não é necessário conhecer os enredos dos quais os diversos personagens vieram para conseguir se divertir com o título, embora esse desconhecimento dificilmente irá acontecer, considerando que muitos desses games são justamente um fanservice para os fãs da franquia licenciada. É errado pensar, contudo, que eles são feitos sem qualquer trabalho ou adaptação por parte da Tecmo Koei — ao menos nas duas vezes que se utilizaram das franquias da Nintendo, visto que Hokuto no Ken: Ken’s Rage (PS3/X360) ficou sofrível.

No caso de Fire Emblem, a preocupação foi adaptar alguns sistemas icônicos para a jogabilidade de ação característica da série Warriors. Assim, o gameplay característico da série da Koei Tecmo, que envolve diversos mapas com objetivos a serem cumpridos pelo jogador, enquanto ele enfrenta hordas de inimigos em um estilo hack and slash, se uniu a elementos específicos de Fire Emblem, como o triângulo de fraqueza entre as armas.




No primeiro caso, é notável que, assim como na série original desenvolvida pela Intelligent Systems, as fraquezas e vantagens dos inimigos e do jogador se alteram de acordo com a arma empunhada pelo personagem num sistema de triângulo, similar ao jogo pedra-papel-tesoura. De tal forma, lanças têm vantagem sobre as espadas, espadas têm vantagem sobre os machados e os machados têm vantagem sobre as lanças. Isso é reproduzido no game fazendo com que seja bem mais complicado ou mais fácil derrotar certos inimigos, que têm um indicador sobre a cabeça que deixa claro se a arma do jogador está em vantagem ou desvantagem.

O sistema de duplas foi introduzido originalmente em Fire Emblem Awakening e também foi transportado para Fire Emblem Warriors. Ao unir duas unidades, o jogador pode alterná-las a qualquer momento e usá-las estrategicamente para enfrentar determinados inimigos cuja arma que esteja empunhando seja desfavorável no triângulo já citado anteriormente. Além disso, os golpes especiais, capazes de erradicar um grande número de unidades simultaneamente, além de causar danos devastadores, podem ser combinados para provocar ainda mais estrago.



A evolução por nível das classes dos personagens também foi cuidadosamente implementada de modo a simular os Fire Emblem originais mais modernos e mesclada ao formato tradicional de Dynasty Warriors com as árvores de habilidades que liberam novos combos e técnicas para serem usadas em campo de batalha. Até mesmo o sistema de morte eterna da série original foi incluído aqui, caso o jogador queira: isto é, caso um aliado seja derrotado em batalha, ele permanece indisponível até ser ressuscitado no menu em troca de uma quantia considerável de dinheiro e itens.

Isso é interessante porque eleva a necessidade de estratégia a um novo nível incomum para a série Warriors. Apesar de a maioria das fases ser fácil o suficiente para serem batidas praticamente pelo jogador sozinho, em vários momentos, principalmente nas dificuldades mais elevadas, é necessário comandar os aliados de uma forma objetiva para que elas sejam concluídas, como deixar alguém defendendo determinado forte ou dando ordens para atacar certos inimigos específicos que podem causar problemas posteriormente. Isso dá mais dinamismo para os combates e consegue imergir o jogador com maior facilidade no intuito de dar a impressão de que aquele campo de batalha realmente tem exércitos se digladiando com inteligência e estratégia próprias, e não um bando de inteligências artificiais de baixo nível que estão lá apenas para fazer volume e exigir processamento do console.



É muito importante ressaltar, no entanto, que a série Dynasty Warriors por si só já não agrada a todos. Considerando que os jogos prezam pela repetição de uma ideia básica ao longo de todas as fases, é notável que sua base de jogadores é um nicho específico que não se importa com isso e consegue angariar centenas de horas de gameplay em seus saves, em contrapartida a outra parcela que provavelmente vai perder a paciência depois de umas quinze ou vinte horas depois de completar o modo da campanha principal e se arriscar um pouco no History Mode, que são uma série de mapas inspirados em games de Fire Emblem, cada um com uma variedade de missões diferentes a serem cumpridas.

Além disso, chega a ser um pouco frustrante o fato de que a Tecmo Koei se apegou somente aos jogos mais recentes de Fire Emblem — justamente os que fizeram mais sucesso e trouxeram maior projeção à série que antes ostentava um patamar inferior no critério de popularidade. É compreensível que eles tenham que chamar atenção através de personagens mais conhecidos, mas promover uma mescla com outros mais obscuros poderia fazer com que os jogadores se interessassem por eles.



Apesar dos méritos individuais de Fire Emblem Warriors — afinal, é um jogo bem competente e que, apesar de não ser um título essencial, serve como um reforço interessante para compor a biblioteca de games do Switch — chega a ser interessante que ele serve para trazer à tona toda uma discussão a respeito de uma nova política da Nintendo em relação às próprias séries. Há alguns anos, parecia bem mais complicada a cessão de direitos para a produção de material de crossover desse tipo.

Produções bem-acabadas, como nesse caso, que conta com uma jogabilidade competente em combates fluidos, gráficos eficientes e música exemplar, ajudam a empresa a criar mais confiança na cessão dos direitos para que outros estúdios e empresas produzam conteúdo exclusivo com suas propriedades intelectuais. Dynasty Warriors acaba sendo um modelo perfeito para tal, considerando que ver outras séries no mesmo sistema de gameplay é muito mais legal do que saber a enrolada história de algum herói mitológico japonês do século XI que pouco chama atenção do público ocidental. Agora eu quero de verdade um Pokémon Warriors.

Prós:

  • Adaptou bem as mecânicas características de Fire Emblem;
  • Provavelmente uma das melhores jogabilidades da série Warriors;
  • Exige alguma estratégia para ser completado em dificuldades mais altas;
  • A forma como é repetitivo pode tornar o jogo viciante.

Contras:

  • Poderiam ter usado outros jogos além dos títulos recentes mais populares;
  • Justificativa barata para promover o encontro entre os heróis no modo história;
  • A forma como é repetitivo pode tornar o jogo cansativo;

Fire Emblem Warriors — New 3DS/Switch — Nota: 8,0
Versão utilizada para análise: Switch
 Revisão: Diogo Mendes
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É jornalista formado pelo Mackenzie e pós-graduado em teoria da comunicação (como se isso significasse alguma coisa) pela Cásper Líbero. Tem um blog particular onde escreve um monte de groselha e também é autor de Comunicação Eletrônica, (mais um) livro que aborda história dos games, mas sob a perspectiva da cultura e da comunicação.
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